Objetivo
O objetivo da tecnologia IrrigaPote é apresentar uma solução tecnológica inovadora de irrigação de baixo custo, sustentável e de fácil adoção pelos agricultores. Essa tecnologia consiste em armazenar água da chuva em caixas d'água durante o período chuvoso e redistribuí-la para potes de argila, permitindo a irrigação de cultivos por meio do reuso de águas pluviais durante os períodos de escassez hídrica no solo. Além de garantir o fornecimento de alimentos ao longo do ano, essa tecnologia também contribui para indicadores de serviços ambientais alinhados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Sua replicabilidade visa atender às necessidades de cultivos que requerem um suprimento hídrico adicional durante períodos de escassez de água no solo para as plantas.
Problema Solucionado
A tecnologia de irrigação com potes de argila resolve diversos problemas, entre eles a necessidade de fornecer água controlada a cultivos que demandam uma maior quantidade de água durante períodos de escassez. Isso é fundamental para mitigar os riscos associados a variações climáticas, como secas e estiagens, permitindo que as culturas continuem a crescer mesmo em condições adversas.
Mesmo em regiões pluviais, como a Floresta Amazônica, existem áreas onde o regime de chuvas é irregular, com a maior parte da precipitação concentrada em um período do ano. Quando os estoques de água se esgotam, principalmente na zona onde as raízes das plantas estão mais concentradas, o solo entra em déficit hídrico, o que pode causar sérios prejuízos aos agricultores.
A tecnologia de irrigação com potes de argila se mostra eficaz ao fornecer água de forma controlada às plantas, sendo especialmente útil em locais com acesso limitado à água ou onde a irrigação convencional é desafiadora devido à falta de energia elétrica.
Essa abordagem contribui para eliminar possíveis conflitos entre irrigantes durante períodos de alta demanda e baixa disponibilidade hídrica, sem a necessidade de licenciamento ambiental.
A técnica também se destaca por sua eficiência na economia de água, pois fornece água diretamente às raízes das plantas, minimizando as perdas por evaporação e escoamento superficial. Esse processo ajuda a reduzir a umidade superficial, o que por sua vez pode contribuir para a diminuição do crescimento de ervas daninhas e a proliferação de pragas.
Descrição
A tecnologia do IrrigaPote foi instalada inicialmente na URT da Comunidade de Lavras. A seleção da propriedade rural, a partir da indicação de extensionistas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Santarém, localizada na comunidade de Lavras. O casal de agricultores de base familiar indicaram a área onde o projeto poderia ser instalado.
Posteriormente a tecnologia foi replicada na Fazenda Experimental da Ufopa, também no município de Santarém e no municipio de Antonina no Paraná. A replicação se dá pela pela instalação de nova unidade se valendo de adaptações locais, planejamento participativo do sistema de irrigação e aquisção de materiais para a instalação do sistema. Para esta replicação além da instalação da unidade fisica é imprescindivel a realização de conversas e troca de experiencias para o melhor entendimento do funcionamento e da operacionalização do sistema de irrigação.
Fases para implantação: todos os procedimentos listados abaixo devem ser realizados de modo a garantir que o suprimento de água esteja disponível ao iniciar o período de estiagem, visando a funcionalidade do sistema produtivo.
Fase 1. Identificação de parceiros e possibilidade de execução participativa
Fase 2. Identificação da área a ser cultivada ou plantio que demanda irrigação.
Fase 3. Seleção da infraestrutura de casa/galpão/edificação onde a água da chuva possa ser captada pelo telhado.
Fase 4. Instalação de calhas. Localizar telhados de casas ou galpões na propriedade e inserir calhas que poderão ser feitas com materiais que se façam disponíveis ou a ser adquiridos ocmo madeira, zinco, bambu, PVC, etc. Estas calhas irão canalizar até as caixas d’água.
Fase 5. Instalação de caixas d’água para armazenamento que tenham conexão com calhas para captação de água da chuva. Na URT, em função dos reduzidos recursos financeiros foi instada inicialmente uma caixa de mil litros, mas dois anos depois, foi possível dotar o sistema com capacidade para armazenar 3 mil litros de água. O conteúdo hídrico é canalizado por canos PVC (policloreto de vinila) até aos potes de argila que são instalados no solo. Como os potes são porosos, em períodos de escassez hídrica as plantas emitem raízes finas que atingem a parede dos potes e suprem a necessidade de água até atender as demandas evapotranspiratórias diárias
Fase 6. Compra ou confecção de potes de argila. Estes materiais deverão ser confeccionadas sem revestimento com verniz ou impermeabilizante com capacidade de armazenamento variável em função do tipo de cultivo (10 a 20 litros). As tampas devem ter bordas internas para maior estabilidade e serem confeccionas com um furo para a entrada da mangueira de abasteciemento.
Fase 7. Inserção no solo do pote de argila, até o limite superior, permanecendo exposto ao ambiente a tampa do recipiente para que seja conectada a tubulação de distribuição de água
Fase 8. Sistema de captação de água deverá ser conectado aos potes usando canos de PVC e mangueiras que transportam a água, por força gravitacional, reabastecendo o estoque em cada pote de forma autônoma, controlado por boias instaladas dentro de cada pote.
Fase 9. Início do processo de irrigação observando se houve algum pote que porventura tenha secado rapidamente (indicando rachadura), se alguma boia não esteja funcionando e, portanto, não reabastecendo o pote, observar ainda se não houve rachadura de alguma tampa no processo de instalação para evitar que o pote fique aberto.
Fase 10. Nesta fase as plantas desenvolvem estratégias para buscarem água em períodos secos e por capacidade ao tocarem na parede externa dos potes sugam o conteúdo hídrico necessário para atender as demandas evapotranspiratórias.
Fase 11. Realização de vistoria periódica para observação de eventuais danos por animais ou pessoas a estrutura. Também se faz necessário observar se há necessidade de troca de boias ou conecções.
Foi realizada a elaboração de uma cartilha denominada Irrigaplus que detalhou os passos para a implantação do sistema IrrigaPote. A arquivo encontra-se anexado.
Recursos Necessários
Os materiais necessários para a implementação de uma unidade do projeto estão listados a seguir, sendo a quantidade requerida dependente da dimensão da área a ser atendida.
Lista de materiais: potes de barro 20L, Boia para filtro de água por gravidade, Mangueira trançada de pvc cristal 1/4 x 2,5 mm, Mangueira cristal 1/2 x 2,0 mm, Joelho 20x1/2, Tê 20x20x1/2, Tê 20mm, Adaptador 1/2 rosca azul irrig cipla, Tubo PVC 20mm (6m), Tubo PVC 100mm (3m) (proteger o vaso), Luva soldável 20mm, Registro de esfera soldável com união 20mm, Joelho soldável 20mm, Calha com suporte (3m), Caixa d’água (3000L), Suporte para caixa d'água, Adaptador flange 20mm para caixa d'água, Joelho 100mm , Tubo 100mm (6m), Cola para tubo pvc 175g, Lixa 100, Durepóxi 100g, Serra para metal 12 pol, Pá de bico com cano de madeira, Enxada canavieira, Picareta Alvião, Ancinho standart 14 dentes, Carro de mão hedlund
Além dos materiais previamente mencionados, é importante contratar profissionais como encanadores, carpinteiros e trabalhadores de apoio de campo, para a instalação dos canos de PVC e o plantio das mudas necessários para a implementação da unidade do projeto.
Resultados Alcançados
Nas duas unidades instaladas em Santarém, o registro de visitas é realizado através de diversas modalidades, incluindo o uso de um caderno de visitante, listas de frequência durante dias de campo, aulas práticas, visitas técnicas, bem como visitas de pesquisadores e jornalistas. Além disso, é feito um registro fotográfico das atividades.
Após a implementação da Unidade de Referência Tecnológica (URT), a coleta de dados envolveu diagnósticos participativos, dos quais foram extraídos indicadores de mudanças nas propriedades rurais de base familiar. A divulgação desses resultados em mídias nacionais e internacionais, bem como as publicações em periódicos de alto impacto, evidenciam o potencial de expansão dessa tecnologia.
Na URT, foram contabilizados 252 visitantes que registraram suas presenças em um livro de controle mantido pela produtora de base familiar na comunidade de Lavras, durante o período de 2016 a 2023, totalizando 24 visitas. Nessa mesma área, foram registradas 10 aulas de campo, com um total de 83 participantes. Na unidade experimental da UFOPA, foram registradas visitas técnicas e aulas práticas, somando 191 visitantes distribuídos em 7 eventos desde a instalação do sistema em 2021.
Para avaliar o crescimento e estabelecimento das plantas, foram utilizadas medidas como diâmetro e altura das mudas. No caso das mudas de acerola, que foram monitoradas por um período de 15 meses, a taxa de sobrevivência foi ligeiramente inferior, alcançando 82%. Ao final desse período, foi possível identificar uma média de 17,01 ± 4,1 mm para o diâmetro do colo (DAC) e 96,9 ± 22,4 cm para a altura total (AT) das mudas de acerola.
Para avaliar a percepção do sistema, foram aplicadas perguntas abertas em dinâmicas de grupo durante as visitas. Essa metodologia revelou que as palavras mais frequentemente mencionadas pelos visitantes foram "água", "tecnologia", "projeto", "alimentar" e "ideia", representando um conjunto de 12,7% de todas as palavras analisadas e revelando as principais percepções do público visitante em relação à unidade demonstrativa.
Abaixo estão listadas as principais divulgações vinculadas na mídia sobre o projeto:
a) Pesquisadores visitam sistema 'Irrigapote' na Fazenda experimental da Ufopa, em Santarém: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2022/10/18/pesquisadores-visitam-sistema-irrigapote-na-fazenda-experimental-da-ufopa-em-santarem.ghtml
b) Live de Tecnologia Social do Inpa apresenta projeto de irrigação IrrigaPote. https://transforma.fbb.org.br/blog/live-de-tecnologia-social-do-inpa-apresenta-projeto-de-irrigacao-irrigapote que contabilizou 258 visualizações.
c) Globo Rural publica a primeira matéria sobre o projeto, enfantizando a proposta e seu cunho social. Disponível em https://globorural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2017/01/potes-de-argila-sao-usados-na-irrigacao.html);
d) Embrapa publicou a matéria: Potes de argila são alternativa de irrigação de baixo custo no Brasil e na África (https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/19749409/potes-de-argila-sao-alternativa-de-irrigacao-de-baixo-custo-no-brasil-e-na-africa).
e) Prosa Rural - Podcast da Embrapa no Instagran. https://www.instagram.com/p/C0cCS6DN6TS/?igshid=MTc4MmM1YmI2Ng%3D%3D
Projeto Irrigapote - Santarém/PA. 2021. (Programa de rádio ou TV/Entrevista). https://www.youtube.com/watch?v=KD3tnBhq7iI
https://www.youtube.com/watch?v=OPOg6EhFkFU
Tecnologia social de irrigação e produção sustentável. https://www.youtube.com/watc\h?v=scpvplHhbpA
No âmbito do Projeto IrrigaPote foram desenvolvidas três teses de doutorado na Etiópia (África) realizadas por Gebru (2018), Kebede (2013) e Wedajo (2016). Também na Amazônia Oriental (Brasil) foi concluída uma tese de doutorado (Florentino, 2020) e está em andamento uma em fase de conclusão por Dilma Azira Ismael Carlos (Carlos, 2023). Dois trabalhos de conclusão de cursos de graduação foram realizados por Lima (2018) que abordou o plano de negócios para tecnologia de irrigação de baixo custo no projeto irrigapote e Mello (2018) que abordou potencial de sementes cultivadas no sistema de irrigação. O trabalho de mestrado desenvolveu a modelagem de negócio do Irrigapote para transferência da tecnologia realizada por Silva (2022).
O projeto Irrigapote foi divulgado, por meio de resumos apresentados em Congressos cientificos em nível Nacional e internacional. Abaixo lista-se os eventos onde houve divulgação do projeto:
I Congresso Brasileiro de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia e 4 Workshop de interação ICTs Empresas Bionorte – 2019 - Manaus – AM
II Congresso Brasileiro de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia – 2022 - Belém, Pará.
I Encontro de Tecnologia Social da Amazônia - apresentação de relato técnico de experiência – 2023 - Belém – Pará
I Congresso Interinstitucional de Ensino e Extensão. 2017. Belém, Pará.
O projeto gerou diversos artigos cientificos e capítulos que estão anexo a esta proposta, sendo estes Araya et al., 2014; Carlos et al., 2021; Gebru et al., 2018; Carlos e Martorano, 2020; Martorano, 2020; Martonano et al., 2018 e Siqueira et al., 2018.
Público atendido
Alunos do Ensino Superior
Agricultores
Agricultores Familiares
Artesãos
Comentários