Problema Solucionado
Inicialmente, o desemprego foi motivador da nossa ação. Em 1999, a Campanha da Fraternidade sob o tema “A fraternidade e os desempregados” e lema “Sem trabalho ... por quê?” provocava a(o)s trabalhadora(e)s a se organizarem em arranjos alternativos frente ao alto índice de desemprego da época e prognósticos desoladores. O problema era mais grave entre as pessoas de baixa (ou nenhuma) renda. O caminho encontrado foi o da organização de cooperativas para triagem de recicláveis, que se apresentou como o segundo problema a ser enfrentado que foi e tem sido a construção de empreendimentos econômicos auto-gestionários para um público com baixa escolaridade e pouca ou nenhuma experiência profissional. O terceiro problema a ser tratado veio das características da população que essa iniciativa atraiu: as mulheres. Ao longo desses anos o índice de mulheres nesses empreendimentos foi sempre superior a 70%. Atualmente, 80%. Na maioria, chefes de família e com idade superior a 30 anos. Oriundas de um ambiente hostil traziam a esperança de resgatar sua auto-estima e realizar-se em sua humanidade.
Descrição
Em função da complexidade da incubação e assessoria técnica de Cooperativas Populares, o CRCA procura manter uma equipe multidisciplinar com profissionais e estagiários de diferentes disciplinas. Essa equipe se divide entre as pessoas que atuam diretamente junto aos grupos (Equipe Executiva) no dia-a-dia das suas atividades e aqueles que atuam como especialistas (Núcleo Técnico), orientando tecnicamente a atuação da Equipe Executiva CRCA na respectiva área de
conhecimento. ATUAÇÃO MATRICIAL: os profissionais e estagiários da Equipe Executiva atuam junto aos grupos desempenhando dois papéis: (1) o de quem vive a história do grupo e busca a compreensão da sua dinâmica social, desempenhado pelo Agente de Campo – Referência. Essa pessoa tem a responsabilidade de construir o PSA (ver a seguir) com o grupo. Por outro lado, os mesmos profissionais se especializam num tema para o qual passam a ser referência para os demais.
Esse papel é desempenhado pelo Agente de Campo – Temático. Nesse papel o profissional atua no grupo focado exclusivamente no tema a ser desenvolvido. Temas: (1) Administração e Aspectos Legais, (2) Produção, Saúde e Segurança, (3) Finanças. Os temas Serviço Social e Cultura Solidária permeiam todas as ações do CRCA e não se constitui num espaço específico de atuação. Comitê Interdisciplinar: o Comitê Interdisciplinar é a instância interna do CRCA onde se valida e monitora
o Plano Singular de Atuação (PSA), processo liderado pelos Agentes de Campo – Referência. Outra responsabilidade do Comitê é refletir sobre a prática e propor alterações na Metodologia CRCA. É composto pelos Agentes de Campo, Coordenadores de Núcleo Técnico e liderado pelo Coordenador Geral do CRCA.
INSTRUMENTOS DE INCUBAÇÃO e ASSESSORIA PSA - Plano Singular de Atuação é um instrumento de planejamento. É construído com o grupo sob orientação do Agente de Campo - Referência. Nele, a cooperativa estabelece metas e ações a serem desenvolvidas especificamente para aquele grupo num período de seis meses.
KITs: o CRCA desenvolveu com as cooperativas um instrumento que concentra o conteúdo de um determinado tema de forma simplificada. A esse
instrumento denominamos KIT. Este deve atender às necessidades do negócio e da operação e as exigências legais. São três Kits: Tesouraria, Secretaria e Coordenação da Produção. A implantação dos kits se dá em três momentos: (1) formação geral sobre o instrumento em sala de aula; (2) implantação e acompanhamento na cooperativa. Inicialmente a atividade acontece semanalmente e vai se espaçando até o domínio pleno do instrumento pela cooperativa; (3) auditoria pelo CRCA. Para garantir a correta aplicação do kit na forma como foi concebido, foram elaborados dois manuais para cada Kit: um dedicado à Cooperativa e outro ao Agente de Campo. O primeiro contém informações passo-a-passo sobre a utilização do kit e foi construído para ajudar a cooperativa a manuseá-lo no dia-a-dia; o outro trata de como abordar seu uso junto às cooperativas e foi elaborado para dar suporte ao trabalho do Agente de Campo.
REUNIÕES DE TRABALHO EFORMAÇÃO (RTF). Os kits levaram à organização desta instância de formação temática continuada. Nelas se reúnem mensalmente a(o)s cooperada(o)s que exercem
as mesmas funções nas diferentes cooperativas para debater problemas enfrentados, encontrar soluções comuns, socializar boas práticas e receber formação sobre o tema.
ENCONTRO DOS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO DAS COOPERATIVAS INCUBADAS PELO CRCA (ECACC). Com o objetivo de integrar saberes e competências para construir coletivamente o futuro das cooperativas foi criado o ECACC. Trata-se de um espaço para discutir os desafios presentes e futuros das cooperativas e definir estratégias de enfrentamento. Outro objetivo é o de estimular a prática do planejamento e monitoramento, além da construção de uma visão de melhoria contínua dos processos na busca de elevados padrões de organização.
Recursos Necessários
A tecnologia não demanda recursos materiais de monta (material de escritório em pequena quantidade). O maior investimento é com profissionais responsáveis pela implantação. No desempenho da sua atividade serão necessários recursos para deslocamento e comunicação, além do apoio de um computador com impressora.
Resultados Alcançados
Atualmente as mulheres representam 80% da população total nas cooperativas. Das sete cooperativas incubadas e/ou assessoradas pelo CRCA, 5 presidentes são mulheres, 2 homens. Nos Conselhos de Administração são 21 mulheres e 3 homens. A taxa de rotatividade é bem menor entre as mulheres do que entre os homens.
Nossa avaliação é que as cooperativas se tornaram espaços de frustração para os homens e de realização para as mulheres. Isto porque as mulheres encontram nas cooperativas construídas por essa metodologia, espaços para expressão de suas opiniões, desejos e sonhos; para aplicação de seus conhecimentos e desenvolvimento de seu potencial; onde as condições de participação e remuneração são iguais aos dos homens; onde conseguem ter independência financeira e
sustentar suas famílias. Para os homens são espaços de frustração porque ainda a carteira assinada é referência de relação de trabalho e o homem ainda a tem por objetivo; porque trabalham com um material que ainda é estigmatizado pela sociedade que é o reciclável, ainda visto como lixo; e por fim, ainda têm de trabalhar sob a liderança das mulheres. Comparando o ano de 2006 com 2012 temos: a renda média saiu de R$ 442,24 para R$ 707,47, sendo que a maior renda média no segundo semestre de 2012 foi de R$ 1.630,25; a venda média de material saiu de R$ 71 mil/mês para R$ 129 mil/mês; chegaram ao final de 2012 com R$ 261 mil em fundos com diversas finalidades (férias, abono natal, capital de giro). Todas a(o)s cooperada(o)s recolhem INSS e as cooperativas completaram cinco anos com balanços anuais apresentados às autoridades fiscais.
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