Problema Solucionado
No ano 2000, a comercialização de produtos orgânicos no Rio de Janeiro ocorria principalmente através de supermercados, que compravam os produtos a grandes empresas que, incapazes de satisfazer essa demanda, se tornaram atravessadores da produção orgânica da agricultura familiar. A demanda das grandes superfícies permitiu uma rápida expansão da agricultura orgânica no estado, embora de curta duração: a concorrência com produtores de outros estados colocou essas empresas em situação de falência e provocou uma crise na agricultura orgânica familiar. A maior parte destes agricultores familiares são associados da ABIO – Associação de Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro. Em 2007, esta realizou um seminário para buscar soluções para o escoamento dos seus produtos. O seminário recomendou que a ABIO concentrasse esforços na venda direta, generalizando a experiência da Feira Cultural e Orgânica da Glória, uma feira de bairro que sustentava alguns agricultores nessa crise. Em 2009, a ABIO estabeleceu uma parceria com a SEDES – Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e Solidário / Prefeitura do Rio de Janeiro e juntas criaram o Circuito Carioca de Feiras Orgânica - CCFO.
Descrição
Concepção da ideia. A ideia de um circuito de feiras surgiu da constatação da resiliência da Feira Cultural e Orgânica da Glória e da vontade de multiplicar essa experiência. Contudo, a necessidade de negociar com o poder local e as associações de moradores a implementação desse circuito acarretou ajustes. As feiras necessitavam de ser o oposto das demais feiras livres convencionais. Não perturbam o silêncio do bairro, porque têm apenas até 32 barracas e, como tal, a sua instalação começa às 6h e não às 4h; igualmente, são barracas de madeira e não de ferro. Não perturbam a mobilidade, pois são feiras pequenas e obrigatoriamente localizadas em praças. Finalmente, assumem o compromisso de não deixar lixo. Estes traços também visam passar a mensagem que ali se vende um produto diferenciado, um produto orgânico. Aliás, a imagem das feiras foi pensada com cuidado e incluiu, além do anterior, a escolha de cores claras dos toldos e saias das barracas; o uso de avental padronizado por parte dos feirantes; a colocação obrigatória, em lugar visível, do certificado de produtor orgânico e da tabela de preços; e, finalmente, o uso da logomarca da CCFO. Metodologia, procedimentos e fases de implantação. A implementação de um circuito de feiras implica definir regras e procedimentos a dois níveis: do enquadramento legal do circuito e da implementação de cada uma das feiras. O enquadramento legal foi dado por um Decreto do Prefeito que criou o CCFO e por uma resolução da SEDES que definiu as regras básicas de funcionamento do Circuito. A resolução previu que a criação de cada uma das feiras era da responsabilidade de uma organização da sociedade civil e que o circuito seria coordenado por um Conselho Gestor presidido por ela e com a participação de todas as organizações gestoras de feiras. Além disso, as feiras geridas pela ABIO são regidas por um Acordo de Funcionamento que detalha os requisitos mínimos exigidos aos produtores-feirantes. Cada feira deve atender às exigências previstas em lei: ter até 32 barracas de madeira, com toldos e saias de cor de areia, logomarca do CCFO, colocando em lugar visível o certificado de produtor orgânico do feirante, o local de proveniência dos produtos e a tabela de preços. Da feira podem participar produtores orgânicos certificados, organizados em grupo ou individualmente. Podem ser destinadas até 30 barracas a produtores (máx. 5 por produtor/grupo). Podem participar também comerciantes, ocupando até duas barracas, que importam produtos de outros estados e/ou países, desde que estes não sejam ofertados pelos feirantes-produtores. Uma barraca é destinada a ABIO para distribuição de materiais de divulgação da agricultura orgânica, da economia solidária e do CCFO. A ABIO está representada em cada feira por um Gerente que, além de prestar todos os esclarecimentos solicitados pelos consumidores, zela pelo cumprimento das normas que regem o funcionamento da feira, recolhe os formulários de rastreabilidade dos produtos, mantém o cadastro de feirantes atualizado e se responsabiliza pela logística da feira e dos eventos que nela venham a ocorrer. Cada feira possui também um Coletivo de Feira, que tem o papel de administrar, de forma participativa a feira, e uma Comissão de Ética composta por 3 membros para assessorar o Gerente nas decisões sobre a qualidade orgânica. Para a implementação de cada uma das feiras é necessário: 1. Escolher um lugar de fácil acesso e circulação de pessoas com perfil de consumidor de orgânicos. Muitas vezes são associações ou grupos de moradores dos bairros que solicitam as feiras; 2. Escolher o melhor dia de funcionamento de uma feira regular; 3. Consultar o Conselho Gestor do CCFO e a associação de moradores do bairro ou equivalente acerca da sua pertinência; 4. Fazer uma chamada a produtores orgânicos potencialmente interessados em vender os seus produtos na feira; 5. Selecionar agricultores e comerciantes; 6. Contratar as barracas; 7. Instalar o Coletivo de Feiras e definir o seu Acordo de Funcionamento; 8. Contratar o gerente; 9. Definir estratégias de comunicação e divulgação da feira; e 10. Organizar o evento de inauguração. Envolvimento da comunidade: Todo o processo é realizado com o objetivo de garantir a participação os interessados (agricultores, produtores, processadores, comerciantes, Abio, Prefeitura, associação de bairro, etc.). Os princípios que norteiam as feiras são da economia solidária, aproximação produtor-consumidor, da sustentabilidade, da qualidade dos alimentos e da vida saudável.
Recursos Necessários
Local de Fácil acesso: parceria prefeituras, clubes, parques, etc...; Produtos diversificados: responsabilidade de cada feirante ou grupo de comercialização
Logística de transporte: responsabilidade de cada feirante ou grupo de comercialização; Barracas (até 32); Divulgação (materiais impressos, digitais, áudios, aventais, tocas, placas, bandeiras, etc.) ; Formulários de controle e certificados: Impressão e plastificação.
Resultados Alcançados
Atualmente a ABIO conta com 12 Feiras Orgânicas distribuídas em diferentes bairros do Rio de Janeiro e Niterói, são elas: Feira Orgânica de Ipanema, na Praça Nossa Senhora da Paz; Feira Orgânica da Barra da Tijuca, na Praça do Ó; Feira Orgânica do Leblon, na Praça Antero de Quental; Feira Orgânica da Tijuca, na Praça Afonso Pena; Feira Orgânica de Ipanema-Arpoador, na Praça General Osório; Feira Orgânica da Barra II, no Parque das Rosas; Feira Orgânica de Copacabana, no Praça Edmundo Bittencourt - Bairro Peixoto; Feira Orgânica da Glória, na Praça Luiz de Camões; Feira Orgânica do Jardim Botânico, na Praça São José da Lagoa; Feira Orgânica de Olaria, na Praça Marechal Maurício Cardoso; Feira Orgânica de do Méier, no Clube Mackenzie; Feira Orgânica de Niterói, no Campo de São Bento – Icaraí. Todas as feiras funcionam no horário das 7:00 as 13:00 horas. Em 2010, quando foi criado o Circuito Carioca de Feiras Orgânicas, existiam 05 feiras, que envolviam 60 produtores e agricultores na comercialização de cerca de 100 toneladas de alimentos no ano. Esses produtores faturaram cerca de R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais). Em maio de 2017, existem 12 feiras orgânicas coordenadas pela ABIO. Essas feiras têm mais de 200 produtores e agricultores envolvidos, comercializando cerca de 1.200 toneladas de produtos orgânicos no ano. A expectativa de faturamento para 2017 é de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais). O sucesso das Feiras Orgânicas, também se deve ao aumento da consciência por uma alimentação saudável; dos riscos da ingestão de alimentos superprocessado e contendo altas quantias de agroquímicos que podem levar a diversas doenças, tais como: diabetes, pressão alta, problemas cardiológicos, câncer, entre outros; e pela busca pela boa gastronomia, que procura produtos mais frescos e saborosos. A Abio recebe convites frequentes para participar com seus produtores em eventos ligados a alimentação, nutrição, meio ambiente, esportes, entre outros. Os impactos também se dão no aumento da renda dos agricultores e produtores, e pela expansão da área cultivadas de forma sustentável e agroecológica. Os espaços das feiras tornaram-se também entrepostos de venda para outros canais de comercialização, como cestas em domicílio, restaurantes e lojas, que encontram na feira uma grande oferta de produtos de muitas regiões do estado facilitada pela redução dos custos de logística e pela oportunidade de negociação com os próprios agricultores e produtores.
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