Problema Solucionado
As mídias sociais criaram novos espaços de compartilhamento de conhecimentos e estimularam a Embrapa a refletir sobre a forma com que suas tecnologias agropecuárias – geradas a partir da pesquisa científica-, são “entregues” à sociedade. Já não é mais concebível que uma tecnologia seja gerada em laboratório e depois “transferida” para o agricultor, sem interação entre conhecimentos científico e tradicional e valorização dos contextos locais. No campo da Comunicação, a Empresa também avalia sua atuação para que aconteça de forma mais conectada com a sociedade. Desde 2014, Unidades de Pesquisa do Nordeste e a Embrapa Informação Tecnológica vem construindo nova metodologia de comunicação, baseada nas premissas da comunicação comunitária e da educação popular. A metodologia surgiu em um contexto de política pública - o Plano Brasil Sem Miséria, onde a Empresa atuou nos últimos anos com agricultores e extensão rural, em 14 territórios da cidadania. Assim como aconteceu com as tecnologias agrícolas adotadas nos territórios, a Comunicação deve ser um processo de construção coletiva, onde a participação das organizações e dos agricultores é fundamental para o protagonismo comunitário.
Descrição
No período de 2012 a 2016, a Embrapa atuou em 14 territórios da cidadania, no Plano Brasil Sem Miséria (PBSM). Para a população rural, o PBSM criou o eixo de inclusão produtiva rural que proporcionou o uso e o aprimoramento de tecnologias agropecuárias que pudessem contribuir com a melhoria da renda dos agricultores. A partir do desenvolvimento dessa política pública, percebeu-se a necessidade de se ter um programa de formação continuada em comunicação que fortalecesse as ações de inclusão produtiva rural que aconteciam nos territórios. De 2015 a 2016, foram realizadas 4 oficinas de comunicação – Módulos I e II – nos municípios de Igaci (Território Agreste Alagoano) e Canindé de São Francisco (Território Alto Sertão Sergipano), carga horária de 24 horas, 8 horas/dia, cada. Os dois territórios foram considerados piloto para a aplicação da metodologia, uma vez que os pesquisadores da Embrapa na região são profissionais que já atuam no campo da Agroecologia. Dinâmica das oficinas:
1)Mística de abertura, de encerramento e de início das sessões com a presença do lúdico, como cirandas, cantigas de roda, danças circulares, teatro, cordel, poesias e músicas
2)Diagnóstico Rápido Participativo aplicado de forma colaborativa, com reflexões sobre como a comunidade está organizada e o papel da agricultura
3)Rodas de Diálogos sobre direito à comunicação, direito à água, a relação da agroecologia com o território, e o papel das políticas públicas.
4)Painel sobre o processo de sistematizar experiências, referenciados nas premissas da educação popular
5)Uso da instalação pedagógica no ambiente da oficina - espaço onde cada participante deposita um objeto (livro, cartilha, vídeo, áudio, fotografia, instrumento musical, banner, sementes, plantas que simbolize a forma com que atua no seu território)
6)Oficinas sobre ferramentas de comunicação (técnicas de produção de vídeo; programa de rádio; fotografia; banner; boletim)
7)Visitas a propriedades agroecológicas para vivência de 6 horas - oportunidade de vivenciar o dia a dia dos agricultores e seus desafios, entre eles a luta pela soberania alimentar e a importância da preservação de suas sementes nativas
8)Devolução – momento de apresentação dos produtos de comunicação
9)Pactuação - encerramento
10) Encontros virtuais
Fases da construção da metodologia:
2014 – execução de 3 encontros com radialistas dos Territórios Agreste Alagoano, Alto Sertão Sergipano, Cariri, Serra Geral e Alto Oeste Potiguar. Percepção sobre a necessidade de ampliar o público e incluir novos elementos teóricos e práticos no processo de formação
2015 - I Fórum presencial de comunicação comunitária com os movimentos sociais e a Embrapa - negociação dos conteúdos do ciclo de formação. Elementos propostos: Semiárido, água, democratização da mídia, comunicação popular, comunicação para o desenvolvimento, agroecologia, Diagnóstico Rápido Participativo, Plano Brasil Sem Miséria, Agroecologia
13 a 15 de julho 2015 - I modulo do ciclo de formação em Comunicação Comunitária para a Convivência com o Semiárido, em Igaci, Território Agreste Alagoano, 50 participantes selecionados a partir da indicação dos movimentos sociais. (https://www.embrapa.br/informacao-tecnologica/busca-de-noticias/-/noticia/3827418/embrapa-realiza-oficina-de-comunicacao-para-publico-do-plano-brasil-sem-miseria)
04 a 06 de novembro de 2015 - I módulo do ciclo de formação em Comunicação Comunitária para a Convivência com o Semiárido, em Canindé de São Francisco, Território Alto Sertão Sergipano. (https://www.embrapa.br/informacao-tecnologica/busca-de-noticias/-/noticia/6856029/publico-do-plano-brasil-sem-miseria-participa-de-oficina-de-comunicacao-em-sergipe)
12 e 13 de novembro de 2015 – Compartilhamento da experiência no Foro Regional Latino-americano de Desenvolvimento Territorial, Inovação e Comunicação Rural, do Programa das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em Brasília
22 e 23 de junho de 2016 – Oficina Comunicação, Desenvolvimento e extensão rural, no Crato (CE), com radialistas e técnicos da extensão rural. Inclusão de elementos metodológicos
30 de agosto a 1º de setembro de 2016 - II modulo do ciclo de formação em Comunicação Comunitária para a Convivência com o Semiárido, em Igaci, Território Agreste Alagoano
02 de setembro de 2016 - Criação da página no Facebook – Rede de Comunicadores e Comunicadoras de Alagoas e Sergipe (https://www.facebook.com/search/top/?q=rede%20de%20comunicadores%20e%20comunicadoras%20alagoas%20e%20sergipe)
28 a 30 de novembro de 2016 - II modulo do ciclo de formação em Comunicação Comunitária para a Convivência com o Semiárido, em Canindé de São Francisco, Território Alto Sertão Sergipano (https://www.embrapa.br/informacao-tecnologica/busca-de-noticias/-/noticia/18863672/oficina-discute-comunicacao-agroecologia-e-sistematizacao-de-experiencia)
18 a 20 de abril de 2017 – Metodologia replicada no projeto de produção de material multimídia por jovens rurais com vivência agroecológic
Recursos Necessários
Por se tratar de uma metodologia reaplicável, desenvolvida a partir da interação com a comunidade e que busca, embora de forma subjetiva, estimular o protagonismo comunicacional das comunidades e fazer com que sejam autoras de suas próprias histórias, a partir da valorização dos saberes locais, os recursos materiais necessários para a implementação de um ciclo de formação, com 2 módulos de 24 horas são:
- Sistema de som portátil com microfones
- Conjunto de celulares para gravação de entrevistas
- Notebook para uso em edição de programa de rádio
- Softwares de edição de vídeo e de áudio
- Softwares para edição de textos e publicações
- Câmeras de vídeo para captação de imagens
- Câmeras fotográficas
- Material cenográfico para as instalações pedagógicas e as oficinas de teatro, cordel, e de contação de histórias
- Instrumentos musicais para as atividades lúdicas (sanfona, viola etc)
Resultados Alcançados
. Construção de metodologia participativa de comunicação comunitária com foco no desenvolvimento local e no empoderamento das comunidades
. Formação de um público de 150 participantes, entre agricultores, extensionistas, educadores, jornalistas, pesquisadores, radialistas e comunicadores populares
.Valorização de estratégicas metodológicas de comunicação a partir do uso do lúdico nos processos formativos e da concepção construtivista de Paulo Freire, onde todos são educadores e educandos
. A presença do lúdico em cada processo vivenciado fez toda a diferença, pois despertou empatia e partilha de significados para além do conhecimento convencionalmente racionalizado e expresso de forma escrita e oral, fortalecendo o processo e consolidando relacionamentos
. As oficinas aconteceram em territórios onde a agroecologia é construída pelo povo, onde os participantes puderam vivenciar e ouvir também os relatos de quem vive e constrói a agroecologia enquanto produção agrícola, mas, sobretudo, como caminho de vida e resistência
. Construção de novas narrativas que valorizem as realidades locais e os espaços agroecológicos – as oficinas buscaram fortalecer o protagonismo dos agricultores e agricultoras, que encontraram nesses espaços condições de falar sobre a história de suas próprias vidas ou de suas comunidades. Perceber em seus depoimentos e em seus produtos de comunicação a vontade de produzir uma nova comunicação é um dos elementos fundamentais que nos instiga a permanecer nessa caminhada, na continuidade dessa proposta que consegue unir agricultura agroecológica, comunicação e educação popular, através da sistematização de experiências agroecológicas e do processo lúdico
. Inovação institucional – As oficinas de comunicação comunitária possibilitam articulações institucionais com organizações não governamentais locais, seu fortalecimento e maior mobilização dos atores locais com perfil para atuar com ações simples de comunicação
.Inovação social – A proposta metodológica definida pelo grupo permitiu a construção dialógica entre especialistas/pesquisadores e agricultores
. Retomada do boletim Caminho das águas, editado pelos comunicadores populares da Aagra. O boletim é considerado uma importante forma de comunicação com as comunidades que recebem orientações técnicas da Associação dos Agricultores Alternativos (AAGRA), com sede em Igaci (AL).
. Início da construção de um processo de empoderamento comunicacional (ver Seção Depoimento Livre)
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