Problema Solucionado
Os fatores que motivaram a implementação da tecnologia social estão relacionados principalmente à perda da biodiversidade pelo atual modelo de uso da Floresta com Araucárias, bem como pelos problemas econômicos e sociais resultantes da atividade madeireira no século XX - uma vez que findo o ciclo de exploração, o capital investidor desloca-se para outras regiões. Os municípios abrangidos pela atuação do Araucária+, no Planalto Serrano catarinense, outrora marcados pela importância econômica do setor madeireiro, hoje padecem entre os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. Essa intensa exploração madeireira resultou em uma diminuição drástica da área originalmente ocupada pelo ecossistema Floresta com Araucárias - do qual restam atualmente entre 1% a 3%. Além disso, levou a araucária ao status atual de espécie ameaçada de extinção. Com base nesse panorama, a tecnologia social foi concebida voltada para conservação da biodiversidade associada ao fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade, com a inclusão das comunidades nos benefícios gerados pela inovação e seus negócios.
Descrição
O modelo proposto de estratégia de valorização da Floresta com Araucárias ajusta a lógica para um Ecossistema de Inovação para a Criação de Valor Compartilhado. Neste, o que se pretende é a conservação da biodiversidade nos remanescentes de Floresta com Araucárias, associada ao fortalecimento das cadeias produtivas da erva-mate e do pinhão com critérios de sustentabilidade, promoção da inovação, agregação de valor, acesso a mercados diferenciados e inclusão das comunidades nos benefícios gerados.
Uma das peças-chave no conceito de Ecossistema de Inovação é a presença de um agente articulador, que atua na facilitação do processo para a criação de um ambiente favorável a negócios e inovação. Este Ecossistema é estruturado como uma plataforma de negócios sustentáveis, no qual o Agente Articulador (HUB) atua ativamente integrando produtores rurais; indústrias locais e/ou varejistas com atuação nacional e/ou internacional; redes de P&D; start-ups tecnológicas; investidores (seed capital, venture capital, investimentos de impacto); governos (locais, estaduais e federal); e outras organizações sinérgicas. Em uma ponta são organizados os produtores rurais, que passam a receber orientação e apoio para adotarem práticas sustentáveis de produção. A adesão dessas práticas permite acesso a um mercado diferenciado - formado por empresas compradoras interessadas em insumos sustentáveis e com rastreabilidade, sem a presença de atravessadores. Os dois volumes gerados no estudo de 2012 estão contidos no anexo.
O modelo Ecossistema de Inovação para a Criação de Valor Compartilhado pode ser replicado para cadeias da sociobiodiversidade de qualquer bioma brasileiro, sendo o Araucária+ sua primeira aplicação. Iniciado em março de 2013, o Araucária+ atuou inicialmente no Planalto Serrano catarinense, sendo executado em parceria entre a Fundação CERTI e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
O Araucária+ foi estruturado para um período piloto de três anos, visando consolidar a tecnologia social no território proposto. A metodologia empregada para definição das dimensões-chave a serem desenvolvidas para implementação desse Ecossistema de Inovação foi baseada numa abordagem que utiliza o gráfico radar como ferramenta de planejamento. O número de dimensões-chave determina o número de eixos e vértices do diagrama. Os eixos dimensionais evoluem ao longo de níveis de maturidade, formando anéis concêntricos que correspondem ao estágio evolutivo. A intersecção entre os anéis (estágios) e os eixos (dimensões-chave) é marcada por metas ou marcos, permitindo não apenas planejar, mas também monitorar a evolução do processo como um todo, incluindo o equilíbrio entre as dimensões. Cada meta ou marco, por sua vez, é desdobrado em indicadores e sub-indicadores.
No caso do Araucária+, as dimensões-chave são: Padrão Sustentável de Produção; Mecanismo de Externalidades Ambientais Positivas; Inovação em Negócios, Mercados e Produtos; Governança do Sistema; Articulação e Fluxo na Base de Fornecedores; Monitoramento, Gestão da Informação e Comunicação; Articulação de Políticas Públicas, Redes de Ciência & Tecnologia e Investidores; Estruturação & Fortalecimento do Agente Articulador (HUB). A concepção do Araucária+ envolveu a incubação da equipe que compõe o Agente Articulador (HUB) durante o período de implementação do projeto piloto com o objetivo de prepará-la para dar continuidade à Iniciativa. Faz parte da incubação definir o Modelo de Negócios e a estratégia de sustentabilidade econômica do HUB. Após o piloto, essa equipe se transforma em uma organização independente, sem fins lucrativos com a missão de expandir a Iniciativa, tanto geograficamente quanto para outras cadeias produtivas da Floresta com Araucárias.
Em todas as etapas da iniciativa, desde a idealização da tecnologia, há a participação da academia, do setor empresarial e da comunidade local (produtores e associações/cooperativas). Esse envolvimento pode ser apontado como fator crítico de sucesso da iniciativa e pela sua aceitação nos diferentes setores da sociedade. Os esforços são sempre direcionados de maneira a se buscar soluções condizentes ao contexto da comunidade de produtores, fortalecendo-a. A contínua interação da equipe do Araucária+ com essas comunidades permite implementar a lógica de melhoria contínua das diversas ações empreendidas no projeto, testando e adequando-as à realidade na qual a tecnologia está sendo implementada.
Recursos Necessários
Conforme exposto anteriormente, o Ecossistema de Inovação Verde é uma tecnologia que articula e conecta diversos atores em um ambiente favorável para fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis. Como tal, é uma tecnologia que não necessita de intensos recursos materiais para ser estruturada. Possíveis infraestruturas necessárias para alavancar determinadas cadeias produtivas, como por exemplo a aquisição de algum imóvel ou equipamento para uma cooperativa, são desafios para os quais se busca alguma solução dento do próprio Ecossistema, seja por meio de alguma parceria com organizações integradas ao Ecossistema ou por meio de captação específica de recursos com auxílio do HUB. Os recursos materiais minimamente necessários para implantar uma unidade de Ecossistema de Inovação Verde estão relacionados a espaço de escritório e um carro para as visitas de campo e para a articulação de outros atores do Ecossistema.
Resultados Alcançados
Em 2019 o Araucária+ conta mais de 80 famílias de produtores interagindo com a Iniciativa. Até o momento a Iniciativa já efetivou transações que envolveram a comercialização de cerca de 100 toneladas de erva-mate processada, incluindo exportação, e cerca de 1,5 tonelada de pinhão para a indústria. Nessas transações os produtores receberam significativo sobre-preço em relação ao valor pago no mercado tradicional. No caso da erva-mate o sobre-preço ao produto superou 100%, enquanto no pinhão o sobre-preço ao produto superou 40%, adicionado de outros 100% em valor agregado por processamento (descascamento do pinhão) em uma cooperativa local. O total de áreas de floresta conservadas por meio da Iniciativa somam 660 hectares por meio da implementação do Padrão Sustentável de Produção do Araucária+ pelos produtores, além de mais de 11 hectares de Floresta com Araucárias preservados integralmente por meio do mecanismo de bonificação da iniciativa - que é um mecanismo privado de Pagamento por Serviços Ambientais. Além da conservação de remanescentes serão restaurados 262 hectares de floresta em um projeto com recursos do BNDES, envolvendo áreas de pequenas propriedades familiares e assentamentos da reforma agrária. Atualmente, além dos produtores rurais, a iniciativa conta com cerca de 50 organizações em diferentes níveis de interação. Estas envolvem desde investidores, start-ups tecnológicas, empresas inovadoras, organizações governamentais e ONGs. As visitas mensais que a equipe do Araucária+ realiza aos produtores propiciam um envolvimento da comunidade que vai além da capacitação técnica para implementação do Padrão Sustentável. Possibilitam o empoderamento dos produtores, trazem inclusão social, maior visibilidade, conscientização ambiental, entre outros. A conexão direta que o Araucária+ propicia entre compradores e produtores estabelece um novo paradigma para as comunidades locais, que passam a se reconhecer como importantes atores da sociedade, identificando o valor do Araucária+ nesse processo. Exemplo disso são os vários retornos positivos recebidos dos produtores. Dentre estes, destaca-se o de um dos produtores que forneceu pinhão no âmbito da iniciativa Araucária+ para uma cervejaria artesanal: “Quando vi o projeto na televisão, me questionei porque estes projetos não vem ajudar quem verdadeiramente necessita da terra, como nós. Quando vocês vieram aqui fiquei muito surpresa e contente".
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