Objetivo
O objetivo geral do projeto é demonstrar como a comunidade Quilombola Kalunga tem utilizado a Apicultura e a criação de abelhas como uma Tecnologia Social para promover o empoderamento econômico e a preservação da sociobiodiversidade.
Problema Solucionado
O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga (SHPCK) é o maior Quilombo do Brasil e abrange três municípios; Teresina, Cavalcante e Monte Alegre, no estado de Goiás. O SHPCK abriga uma das maiores áreas de Cerrado preservado no Brasil, fato que o levou a ser o primeiro território a ser reconhecido como um TICCAS: “Territórios e Áreas Conservadas por Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais e Locais”.
As comunidades quilombolas, incluindo a Kalunga, enfrentam desafios e dificuldades que podem impactar vários aspectos de sua vida. A comunidade Kalunga abrange regiões de difícil acesso, sendo necessários em maiorias das comunidades veículos de tração 4x4, tornando custosa a mobilidade, e, por consequência, o escoamento da produção local. A maior parte dessas comunidades são de habitadas por pessoas carentes que não possuem recurso para adquirem veículos desse porte, da mesma forma acontece para a aquisição dos equipamentos necessários na implementação de atividades escaláveis de criação de abelhas.
A comunidade Quilombola Kalunga é marcada por desafios diversos, que incluem a falta de acesso à serviços básicos, com saúde, educação e saneamento. A falta de infraestrutura adequada, estradas e eletricidade, somadas à falta de oportunidades de emprego e geração de renda, ocasionam uma grande migração na comunidade.
Descrição
A Associação Quilombo Kalunga reúne mais de 6.000 (seis mil) famílias e foi criada com o objetivo de apoiar o desenvolvimento da comunidade Quilombola Kalunga, a partir do desenvolvimento de projetos sociais e defesa de direitos, bem como na articulação para a demarcação das terras. Em parceria com o município de Cavalcante e o estado de Goiás, a AQK auxilia no repasse de cestas básicas para a comunidade. Durante as reuniões são apresentadas as pautas, que são discutidas junto à comunidade para a tomada de decisões, a partir de votações.
Em parceria com outras instituições, foram realizados projetos na área segurança alimentar, a partir da implantação de sistemas agroflorestais e apicultura, apoio à comercialização dos produtos da sociobiodiversidade do Cerrado, a partir de da estruturação das cadeias de produção e organização de pontos de comercialização. A AQK auxilia junto com o INCRA e EMATER na liberação de recursos de fomento à agricultura, além de fornecer sementes melhoradas para melhorar a produtividade. Além disto, a Associação possui uma secretária para auxiliar os membros na organização de documentos pessoais e aposentadoria.
A exploração do mel acontece há muitos anos pelos moradores da comunidade Kalunga. Porém, essa atividade sempre foi realizada de maneira informal e não sustentável, onde os moradores tiravam o mel da abelha e acabam destruindo a colmeia, por falta de conhecimentos. Além disto, era uma atividade perigosa, pois os extrativistas não usavam as vestimentas adequadas que protegem das ferroadas das abelhas. Nesse contexto, surgiu a necessidade de capacitações na área apícola, para que a extração dos produtos fabricados pelas abelhas acontecesse de maneira sustentável e segura, a fim de que os moradores pudessem obter renda da atividade com menor impacto ao meio ambiente e com menor periculosidade.
Para o fomento da atividade de Apicultura, a AQK propiciou capacitações gratuitas, nas seguintes áreas; Técnicas de segurança do trabalho para manejo das abelhas Apis melliferas; importância das abelhas na agricultura extrativista e convencional; implantação de apiários e manutenção; nutrição das abelhas; manejo apícola para produção de mel; técnicas de colheita de mel; boas práticas de processamento de mel; métodos de divisão de enxame e Cálculo de custo de produção e visita técnica na COOPERAPIS (fábrica de produção de mel e derivados). As capacitações foram realizadas para 16 jovens, sendo 8 homens e 8 mulheres. Os alunos (as) receberam todos os equipamentos necessários para montar seus apiários, incluindo ferramentas, caixas padrão langstroth e uma centrifuga profissional para a extração do mel.
A metodologia para a implantação da Tecnologia Social de criação de abelhas, deve seguir alguns passos. A primeira coisa para a implantação de apiário, é se atentar para a distância que o apiário deve se situar da sede (400 metros). Após o planejamento do local, é necessário fazer o resgate das abelhas no mato. Para diminuir os custos, o apicultor pode resgatar as abelhas, sendo necessário preparar uma caixa denominada “caixa núcleo”. Para fazer o resgate e iniciar os seus apiários, os apicultores da comunidade (durante as capacitações), aprenderam a construir suas próprias caixas núcleos utilizando material reciclado, diminuindo os custos de implantação dos apiários na comunidade Kalunga. Foram construídas 23 caixas.
Para que a caixa fique atrativa para as abelhas, é necessário esfregar erva/capim cidreira nas paredes da caixa, a fim de disfarçar o cheiro de papelão. Após o preparo, a caixa é levada até o enxame que será resgatado e, aos poucos, com delicadeza, retira-se o favo, onde ficam as pupas, e coloca-se nos quadros vazios, dentro da caixa. Repete-se o processo até transferir completamente a cera para a caixa isca. Enquanto o procedimento for realizado, a abelha rainha perceberá que as crias foram transferidas e irá atrás destas. Quando a abelha rainha entrar na caixa isca, todas as outras abelhas a seguirão. Então, a caixa isca permanecerá por volta de 7 dias no mesmo local e depois, será transferida para o apiário, onde o apicultor fará a retirada dos quadros e colocará na caixa padrão. No Brasil, o modelo de caixa padrão de abelhas é o padrão Langstroth. Todos os demais implementos utilizados na extração dos produtos produzidos pelas abelhas seguem este padrão.
Após as capacitações e o recebimento dos equipamentos, os jovens realizaram a implantação de apiários na comunidade. Os apiários foram implantados em dupla, para que duas pessoas fossem responsáveis pela produção de mel e pelo manejo das abelhas. Os jovens receberam assistência técnica no primeiro ano de implantação, para que conseguissem consolidar seu negócio.
Recursos Necessários
Para a implantação da Tecnologia Social de criação de abelhas é necessário dos seguintes recursos materiais: 1 roupa completa com bota e luva, 1 caixa completa incluso melgueira/ninho/tampa e cera, 1 enxame de abelha, 1 suporte para caixa e 1 Fumegador. Para o processamento do mel fabricado é necessário: 1 decantador, 1 centrífuga, 1 garfo desoperculador e 1 balde com tampa.
Resultados Alcançados
A comunidade Kalunga possui 8 apiários, que são coordenados pelos membros da comunidade, sendo que em cada apiário existem 2 (dois) responsáveis, totalizando 16 pessoas envolvidas na produção. O principal produto produzido pelas abelhas, é o mel, comercializado em maior quantidade pelos Apicultores. Devido ao grande fluxo de turistas na comunidade, o mel é vendido na própria comunidade, por um valor de R$100,00 o Kg. O valor de venda é superior ao da média do mercado, que varia em torno de R$50,00 por Kg. Tal fato é atribuído ao que chamamos de valor agregado, dado que o mel é produzido pela comunidade Kalunga, e, a matéria-prima, que é o néctar das flores, é advindo de florada silvestres, de plantas nativas do Cerrado. O mel de mata nativa possui maior quantidade de propriedades medicinais, pois é feito a partir de flores com potenciais farmacológicos, como assa-peixe, aroeira, sucupira e outras plantas. Tal fato pode agregar maior valor ao mel, o qual pode ser vendido a um preço superior ao mel obtido em apiários de bordas de plantações convencionais.
Dado que a comunidade Quilombola Kalunga de Goiás abriga grande parte do Cerrado preservado, existe uma grande quantidade de biodiversidade de plantas com flores e néctar, característica essencial para a manutenção da vida das abelhas.
A Tecnologia Social de criação de abelhas na comunidade possibilita a geração de renda empoderamento feminino e protagonismo feminino, dado que 50% são apicultoras mulheres. A TS se destaca como uma alternativa sustentável de geração de renda que fortalece o permanência das comunidade em seu Território.
Público atendido
Quilombolas
Agricultores Familiares
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