Problema Solucionado
Na nossa sociedade, a mulher está associada aos cuidados da casa e dos filhos, enquanto o marido é considerado o provedor do lar. De acordo com a publicação “Retrato das Desigualdades”, IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2011), elas dedicam 25 horas semanais ao trabalho doméstico, enquanto os homens, 10 horas. Por outro lado, as mulheres também trabalham, e cada vez mais, fora de casa, e são muitas vezes as mantenedoras da família.
Elas representam hoje quase a metade da força produtiva do país e já são responsáveis por 45% da renda familiar. Chefiam 35% dos lares no Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2009), mas fazem isso com salários menores e desvantagens no acesso a cargos de chefia.
Sendo assim, buscamos mudar esta realidade, dando visibilidade ao trabalho produtivo das mulheres na economia solidária, valorizando sua capacidade de gestão para superar a dispersão e a fragilidade por meio da articulação dos empreendimentos em redes.
Descrição
Partindo-se do reconhecimento da desigualdade nas relações de gênero em nossa sociedade e em como isso impacta a vida das mulheres em situação de vulnerabilidade social, trabalhar com elas coloca na roda a necessidade do tecer coletivamente uma identidade que permita às mulheres se afirmarem como sujeito, a partir do reconhecimento e da valorização de sua contribuição para a sociedade.
Para isso, trabalhamos com três referências metodológicas básicas:
1. Criar com as mulheres a possibilidade de uma reflexão sobre o trabalho e a vida, se entendendo como protagonistas e sujeitos de direitos, como base para a construção coletiva de identidade como um dos elementos de sustentação de um empreendimento econômico solidário. Este processo foi tecido de muitas formas e com o colorido de todas as mulheres que passaram por ele, com oficinas nos empreendimentos, as “Linhas da Vida” e as “Rodas de Conversa” sobre o trabalho doméstico e o trabalho produtivo, os testemunhos e a construção de “Narrativas”, como parte integrante da ação pedagógica que, em conjunto com as integrantes dos empreendimentos e com as “bases” do projeto, passamos a desenvolver. Assim se teceu a sustentabilidade subjetiva como uma grande força da nossa rede.
2. Passo-a-passo metodológico que, trabalhando com instrumentos que permitam uma mensuração desta realidade. Assim, trabalhamos com o Diagnóstico Produtivo dos Empreendimentos e a Ficha de Informação da Trabalhadora (FIT) como insumos desta construção, e fizemos um Estudo de Viabilidade de cada uma das redes, realizamos uma discussão sobre Indicadores Feministas e a construção de um instrumento de pesquisa com este objetivo, e finalizamos o projeto com a elaboração de Planos de Sustentabilidade de cada rede e da RESF Nacional.
3. Por fim, a construção de possibilidades e avanços concretos para os empreendimentos e a vida das mulheres, com ações e oportunidades na construção de um novo patamar para seu trabalho produtivo e comercialização, com capacitação para qualificação dos processos de gestão e busca do acesso às políticas públicas.
Passo-a-passo:
1. O primeiro passo para implantação do projeto foi a constituição da equipe, com critérios técnicos além do conhecimento e a adesão à economia solidária, e a constituição das bases nos estados, com uma articuladora institucional, uma técnica e uma agente de mobilização com enraizamento comunitário, além de parcerias diversas que qualificaram estas bases. Capacitação da equipe e das bases, e planejamento das ações, discussão da metodologia, dos processos de monitoramento e avaliação.
2. Desenvolvimento da metodologia, elaboração dos instrumentos (diagnóstico produtivo do empreendimento, ficha de informação da trabalhadora, estudo de viabilidade da rede, indicadores feministas e plano de sustentabilidade de cada rede e da Resf Nacional), discussão da metodologia de sistematização da experiência e organização do banco de dados da Resf.
3. Realização de Seminário Nacional da Rede para discussão dos objetivos, metodologia e plano de trabalho; constituição de um Conselho Gestor Nacional; elaboração de projeto de investimento para a Rede Nacional e suas 25 redes integrantes, discutido nos estados, no Conselho Gestor, no BNDES, e apresentado ao Banco.
4. Articulação de 220 empreendimentos em 25 redes, superando a meta inicial proposta, com a formação do conselho gestor de cada rede. Além de trabalho junto às mesmas com os instrumentos construídos, encontros e oficinas de capacitação.
5. Mapeamento do potencial comercial de cada rede; estudo e construção de experiências de compras públicas; participação no processo de constituição do CADSOL e inscrição dos empreendimentos no mesmo como forma de reconhecimento e de acesso às políticas públicas; participação em feiras de comercialização nacionais, estaduais e locais.
6. Formação da rede nos fundamentos da economia feminista a partir do trabalho com os indicadores feministas e publicação dos resultados; realização de Conferências Temáticas nos nove estados, preparatórias à III CONAES – Conferência Nacional de Economia Solidária (2014), apresentando propostas da rede que foram publicadas em um Boletim Especial; parcerias diversas com os demais projetos de fomento à economia solidária e políticas públicas, visando o fortalecimento de redes.
Assim, o que fizemos foi estabelecer uma interconexão entre diversos métodos e instrumentos para o conhecimento crítico e transformador da realidade, como base de uma prática que contribua com a superação da discriminação, fortalecendo econômica e socialmente seus empreendimentos. É o que buscamos construir com o projeto de articulação da Resf. O desafio que está posto é a continuidade deste processo, reforçando este “sujeito” mulher na economia solidária, na sua dimensão social, econômica e coletiva - que se expressa na Rede. Mas também na dimensão individual, da vida de cada uma, como mulheres protagonistas de sua própria história.
Recursos Necessários
Consideramos como Unidade de Tecnologia cada um dos estados, com sua Base de Apoio e suas Redes, com os custos elencados abaixo:
• Material de divulgação da rede: folders, boletins, faixas, banners, camisetas, sacolas, adesivos, cartões comerciais e etiquetas para os produtos;
• Recursos para seminários, oficinas de capacitação (alimentação e hospedagem);
• Despesa com transporte (VT, gasolina, passagens intermunicipais, passagens de avião);
• Material didático e de consumo;
• Telefone e internet;
• Apoio para reunião dos conselhos gestores das redes;
• Apoio para a realização de feiras e eventos;
• Custos de participação dos estados em reuniões do Conselho Gestor Nacional da RESF (estadia, alimentação, deslocamento, passagens terrestre e de avião).
• Custos de participação nas Feiras Nacionais e nos Seminários Nacionais de Comercialização;
• Recursos Humanos das Bases de Apoio: articuladora institucional, assessoria técnica e agende de mobilização;
• Horas técnicas de profissionais específicos (advogado, engenheiro de produção, técnico em agroecologia, técnico em autogestão, técnica em artesanato, etc.) para atividades específicas.
Os locais de funcionamento das Bases e de reuniões ordinárias cedidos por parceiros locais, bem como também contamos com parceiros nos eventos e em atividades de formação das redes nos estados e em nível nacional.
Resultados Alcançados
Resultado 1: Rede de Economia Solidária e Feminista articulada como rede nacional com 220 EES, envolvendo 2.418 mulheres e 407 homens, em 9 estados (RS,PR, SP, RJ, DF, GO, CE, PE, RN e PA), nas 5 regiões do país;
Resultado 2: 25 redes articuladas integrando os 220 empreendimentos, com experiência de conselhos gestores e com planos de sustentabilidade elaborados;
Resultado 3: 12 Bases de Economia Solidária articuladas sendo uma por estado e 4 no RS, para o apoio à articulação das redes, formação, articulação institucional e processos de comercialização;
Resultado 4: Sistematização da experiência e da metodologia do projeto da Rede de Economia Solidária e Feminista, visando à publicação para socialização da mesma;
Resultado 5: 220 Empreendimentos no CADSOL, planos básico de comercialização das redes, abertura de espaços de comercialização, participação em 8 Feiras Nacionais e 3 Seminários de Capacitação para Comercialização realizados;
Resultado 6: Publicação dos indicadores feministas como referência de base para a ação da rede; parcerias executadas com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, com a Secretaria Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres, com o Pronatec, com o Núcleo de Redes do CFES Nacional (Centro de Formação em Economia Solidária) e com a JUVESOL (articulação da Juventude da Economia Solidária), além de diversas parcerias locais e estaduais.
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