Problema Solucionado
O problema que instigou a criação do Peads foi que os estudantes do campo não aprendiam na Escola a valorizar sua identidade, origem familiar, seu território, o trabalho da família. A escola preparava as crianças e adolescentes para sair do campo, como se promoção só acontecesse na cidade e o atraso estivesse no campo. O Serta passou a perguntar se existiria a possibilidade de uma outra escola, que fizesse o estudante descobrir e valorizar o mundo e o trabalho de sua família. Inspirado na educação popular, o Serta criou o Peads, com uma metodologia própria para resgatar a identidade das pessoas do campo, mediante pesquisa sobre a realidade das famílias e a análise dos dados da pesquisa nas disciplinas escolares.
Ao dar certo, passou a sistematizar a metodologia, publicar textos e livros e desenvolver um programa de formação para as professoras. Depois descobriu que esta mesma metodologia ultrapassava os muros da escolas e poderia ser aplicada em outros processos formativos, como na Educação Popular, de onde a mesma tinha se inspirado. O Serta passou a aplicar na formação de técnicos de nível médio em agroecologia e na execução de outros projetos de desenvolvimento local.
Descrição
A Tecnologia é formada por cinco elementos fundamentais:
1. Um conjunto de princípios filosóficos que lhe dão sustentação teórico-metodológica, que são as concepções sobre educação, pessoa, história, conhecimento, desenvolvimento sustentável, campo, cidade, território, arte, cultura, natureza, meio ambiente etc. Estes princípios dialogam com o cotidiano da realidade das pessoas.
2. Um conjunto de conhecimentos técnicos e científicos que são priorizados no ensino e aprendizagem, mais conhecimentos de outras naturezas, como o conhecimento prático, intuitivo, artístico, cultural, que dialogam com os princípios filosóficos.
3. Um conjunto de didáticas ou dinâmicas, técnicas que são aplicadas para desenvolver os conhecimentos e construir os valores entre os educadores e educandos.
4. Estes três elementos provocam ações transformadoras na vida das pessoas, nas relações com outras, com a natureza, com o trabalho, com a sociedade. Ou seja, o que se constrói como conhecimento e valor e é aprendido, não é neutro, nem indiferente. Provoca nas pessoas mudanças diante do que aprendeu.
5. Estes quatro elementos são articulados mediante uma tecnologia que transita, que faz o caminho entre os mesmos, ou seja, faz com que o princípio inspire ações no cotidiano da vida das pessoas, que o conhecimento seja incorporado a ações transformadoras.
A Metodologia por sua vez, se desenvolve em quatro etapas:
1. O educador sempre parte de um conhecimento prévio dos educandos ou uma pesquisa realizada pelos mesmos, valorizando assim seus conhecimentos, suas capacidades, vivências. Assim, o educando sente-se valorizado e importante, como também sua vida e seu cotidiano, que passa a ser currículo. O educador indica que seu educando é capaz, é importante, tem saberes e práticas que precisam serem levadas em conta na sala de aula. Esta pesquisa tem seus dados computados de forma pedagógica e científica, formando produtos de conhecimento.
2. Na etapa seguinte, os conhecimentos trabalhados na pesquisa passam a ser aprofundados pelo educador, elevando o patamar deste conhecimento, às vezes, frágil, parcial, fragmentado em um conhecimento mais amplo, sistematizado. No ensino formal, é através das próprias disciplinas, a linguagem, a escrita, a leitura passam a ser utilizadas sobre os assuntos pesquisados, sobre a vida dos próprios estudantes, criando uma forma mais fácil dos mesmos aprenderem, pois estão tratando de assuntos da vida. O mesmo acontece com a matemática, que deixa de ser meramente abstrata e universal e passa a ter conotações práticas, da vida cotidiana e assim com as demais disciplinas. Nesta etapa, os educandos constroem textos, planilhas, gráficos, maquetes, relatórios, registros fotográficos, vídeos, músicas, cantos, peças teatrais, crônicas, histórias etc.
3. Em seguida a escola presta conta à comunidade dos resultados obtidos a partir da pesquisa e da análise de seus dados. A escola promove oportunidades de reunir pais e colegas, lideranças locais e autoridades para uma assembleia, onde os educandos vão mostrar o que aprenderam, os produtos de conhecimento que construíram a partir das pesquisas. Para isso, utilizam recursos de outras linguagens, tais como, poesia, texto, canto, maquete, planilha, teatro, provocando sempre aos presentes assumirem novas posturas diante do problema que foi estudado, a não ficarem neutro diante de um novo conhecimento.Na educação popular, não formal, esta assembleia serve também de prestação de contas, de encaminhamentos de ações concretas a serem assumidas diante do conhecimento.
4. E por último, educadores e educandos vão trabalhar na avaliação e na sistematização dos conhecimentos que foram construídos ao longo de todo este processo. A avaliação é de forma ampla, não só dos resultados pedagógicos da ordem dos conhecimentos, como também, do processo, da participação das pessoas, das descobertas, dos impactos econômicos, ambientais, subjetivos, dos valores, da solidariedade.
Encerrando este ciclo das 4 etapas, a escola ou a instituição formadora seleciona um outro tema gerador, para seguir as mesmas etapas metodológicas.
Com esta metodologia as pessoas não tem como ficar de fora, sem se sentir protagonista. Desde o início ela sente se responsável, desenvolvendo sentimentos de pertencimento, autoria, corresponsabilidade pelo processo de aprendizagem.
Este Programa tem algumas exigências a fazer, ou seja, precisa ser planejado, com um instrumento chamado "Ficha Pedagógica" que estrutura e arruma o Tema Gerador para ser estudado, as perguntas para a pesquisa ou para um levantamento entre as pessoas envolvidas.
5. Sobre as mulheres, a tecnologia aborda sobretudo:
a) Promoção da dignidade e da qualidade de vida;
b) Elevação da renda e do trabalho;
c) Erradicação da pobreza a partir da realidade local, cujo é objeto de estudo.
Recursos Necessários
Livro sobre os princípios e fundamentos do Programa Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável. Disponibilidade e flexibilidade do currículo escolar, seja na educação formação ou informal.
O SERTA compreende que o PEADS é uma metodologia (Tecnologia Social) livre, na qual está disponível ao uso dos jovens, mulheres, professores, agricultores e agricultoras familiares, ou a qualquer outro público interessado. Visto como um patrimônio espiritual que está a serviço da vida e da educação contextualizada. Em vista as contribuições para a transformação das circunstâncias locais.
Resultados Alcançados
Os resultados alcançados são de várias ordens:
- Autoestima elevada dos educandos em serem ouvidos e valorizados pelo educador/a desde o início da relação pedagógica.
- O sentimento de autoria que passa a desenvolver sabendo que ele é autor desde os primeiros passos até a sistematização.
- A motivação para aprender, envolvendo a pessoa inteira, o afeto, a emoção e não só os elementos racionais.
- A subjetividade sendo trabalhada, pois envolve as pessoas, as famílias, o local, o trabalho, o cotidiano da vida e do trabalho.
- O compromisso ético em transformar o conhecimento em ação concreta, em repassar sua experiência e conhecimento para a família e a comunidade local.
- O conhecimento que é gerado entre as pessoas a partir das pesquisas ou levantamento de seus conhecimentos prévios. O educando sente que a escola está acreditando nele, desenvolvendo temáticas que lhe dizem respeito.
- Professores que tinham autoestima baixa em ser educadora do campo, como se não fossem importantes, índios, quilombolas, agricultores, mulheres, negros, todos se vêem no que é ensinado e aprendido.
- Parceria que passa a ser construída entre a escola e as famílias e comunidades, uma vez que a comunidade torna-se assunto da construção de conhecimento, do processo de ensino e aprendizagem.
- Um aprender de COR no seu sentido etimológico original "aprender com o coração", com afeto, emoção, e não um processo só de memorização de saberes.
- A transformação da realidade local estudada pelo Programa, seja na melhora da renda das pessoas que passaram a atuar em mutirão, de forma mais solidária, de normas de convivência criada a partir dos debates coletivos, da confiança na escola e nas instituições locais que de uma forma ou de outra participam de uma ou mais etapas da metodologia.
- As relações entre educadores e educandos que fogem da visão hierárquica e autoritária para uma relação de solidariedade, amizade, respeito.
- A valorização do cotidiano do trabalho, da vida no campo, que passa a ser conteúdo curricular junto com as disciplinas, dando valor às pessoas do lugar, aos fatos históricos das famílias.
- A produção de conhecimento que se gera sobre o lugar, sua história, seu potencial, suas riquezas e limites, uma vez que estes componentes passam a serem objeto de pesquisa e estudo, a escola se debruça sobre uma realidade antes desvalorizada e agora fazendo parte da escola, do saber, das produções de conhecimento.
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