Objetivo
Promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, por meio de ações integradas nas áreas da saúde física e mental, fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, educação em direitos humanos e cidadania, contribuindo para a prevenção de violências, o acesso qualificado a políticas públicas e a ampliação das condições de proteção e bem-estar.
Problema Solucionado
A EDISCA é uma organização da sociedade civil com 34 anos de atuação em Fortaleza–CE, dedicada à promoção do desenvolvimento humano de crianças e adolescentes oriundos, exclusivamente, de comunidades periféricas e em situação de vulnerabilidade social. Ao longo de sua trajetória, vem desenvolvendo metodologias próprias de formação e cuidado que associam arte, educação, cidadania e proteção social.
Essas comunidades enfrentam cotidianamente os efeitos da desigualdade estrutural, que se expressam na precariedade das moradias, na falta de acesso a serviços públicos essenciais, na presença da violência urbana e doméstica, e na fragilidade das redes formais de proteção. Crianças e adolescentes residentes em territórios como Vicente Pinzon, Bom Jardim, Dendê, Sapiranga e Conjunto Palmeiras têm suas trajetórias marcadas por graves desigualdades educacionais, insegurança alimentar, exclusão digital e cultural, além da negligência do poder público. Dados do IBGE, IPECE e Atlas da Violência evidenciam a persistência de índices alarmantes de pobreza e homicídios nessas regiões. A ausência de espaços de convivência seguros e de acesso à informação qualificada agrava a condição de vulnerabilidade, dificultando o exercício da cidadania e o conhecimento de direitos básicos, especialmente entre crianças e adolescentes.
Diante desse cenário, a EDISCA desenvolveu o Programa de Desenvolvimento Psicossocial e Saúde, como parte de um itinerário formativo integrado e contínuo. A tecnologia articula ações de educação em direitos, acompanhamento psicossocial, fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, promoção da saúde e da segurança alimentar, além de proporcionar espaços permanentes de escuta, convivência e protagonismo infantojuvenil. O programa parte de um diagnóstico inicial – a Avaliação de Saúde e Psicossocial (ASP) – para construir, em parceria com os educandos e suas famílias, um percurso de cuidado e desenvolvimento integral, sensível às realidades territoriais e identitárias do público atendido.
Por meio de parcerias com universidades, órgãos públicos e organizações da sociedade civil, o programa contribui para o acesso qualificado à rede de políticas públicas, promove a valorização das juventudes periféricas e combate os efeitos da exclusão, reconhecendo que o bem-estar e a dignidade das infâncias dependem de ações intersetoriais que unam formação, cuidado e garantia de direitos.
Ao reconhecer os sujeitos atendidos como portadores de direitos e de saberes, a metodologia rompe com lógicas assistencialistas e reafirma a potência das infâncias e juventudes periféricas como protagonistas de suas trajetórias.
Descrição
O Programa de Desenvolvimento Psicossocial e Saúde (PDPS) é uma tecnologia social desenvolvida pela EDISCA ao longo de mais de três décadas de atuação em comunidades periféricas de Fortaleza–CE. Estruturado para promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, o programa combina estratégias de educação em direitos, acompanhamento psicossocial, fortalecimento de vínculos familiares, promoção da saúde e segurança alimentar, com ações sistemáticas voltadas à cidadania ativa, ao bem-estar físico e emocional e à proteção social.
O eixo estruturante do programa são os grupos socioeducativos, realizados semanalmente com crianças e adolescentes. Esses encontros contínuos constituem espaços privilegiados de convivência, escuta, formação e construção de vínculos. Neles, são trabalhadas competências pessoais, sociais e relacionais, temas relevantes à saúde emocional, à cidadania e à proteção social. São nesses espaços que se operam os principais efeitos subjetivos, sociais e comunitários do programa.
Como subsídio ao planejamento e à personalização das intervenções, o programa realiza, no início de cada ano, uma Avaliação de Saúde e Psicossocial (ASP) com os educandos. A ASP levanta indicadores de risco e vulnerabilidade nas dimensões física, emocional, relacional e social, e orienta a construção de estratégias integradas de cuidado e promoção de direitos. As famílias são comunicadas e orientadas a buscar atendimento nos serviços públicos sempre que identificadas situações que demandem atenção especializada.
A partir disso, são mobilizadas ações contínuas e articuladas ao longo do ano: atendimentos psicológicos individuais, rodas de conversa e oficinas com famílias, palestras e formações para educandos e equipe, atendimentos ambulatoriais de saúde básica, campanhas de vacinação, distribuição de insumos de higiene e alimentos, entre outras.
A tecnologia pauta-se na escuta qualificada e no acolhimento de crianças e adolescentes marcados pelas desigualdades sociais, educativas e culturais. Em resposta à precariedade dos serviços públicos e às violações de direitos enfrentadas pelas comunidades atendidas, o programa oferece uma rede de proteção institucional sólida e contínua, em articulação com a rede pública e com outras organizações sociais. Sua execução mobiliza profissionais da psicologia, assistência social, enfermagem e nutrição, além de voluntários e instituições parceiras da área da saúde e educação.
A principal inovação do PDPS é sua capacidade de integrar formação crítica, cuidado psicossocial e mobilização comunitária em um processo pedagógico permanente. Ao mesmo tempo em que promove o acesso a direitos fundamentais, a tecnologia fortalece os laços familiares, estimula a autonomia dos sujeitos e amplia o repertório cultural e informacional de crianças, adolescentes e famílias.
A metodologia rompe com perspectivas assistencialistas e reconhece os sujeitos atendidos como portadores de saberes e agentes de transformação de suas realidades, reforçando a potência das juventudes periféricas e o compromisso com uma sociedade mais justa, equitativa e solidária.
Recursos Necessários
A realização do Programa de Desenvolvimento Psicossocial da EDISCA exige uma combinação articulada de recursos humanos especializados, infraestrutura adequada, materiais diversos e parcerias institucionais estratégicas, que garantem a continuidade, a qualidade e a efetividade das ações desenvolvidas.
Recursos Humanos
A equipe responsável pela execução do programa é composta por profissionais das áreas de serviço social, psicologia e enfermagem, além de educadores sociais e pessoal de apoio administrativo. Em 2024, o núcleo técnico da área social contou com psicóloga, assistente social e enfermeira, apoiadas por estagiários/as e voluntários/as, assegurando a execução de atendimentos individuais, atividades coletivas, articulações institucionais, registros e encaminhamentos à rede de proteção. O corpo técnico também é responsável pela condução dos Grupos de Convivência – eixo estruturante do programa –, que mobiliza semanalmente mais de 250 educandos/as em atividades planejadas de escuta, fortalecimento de vínculos e promoção de cidadania.
Recursos Materiais e Estruturais
A continuidade das ações exige salas adequadas para os atendimentos individuais e atividades grupais, com conforto, privacidade e acessibilidade. Também são necessários insumos para cuidados básicos de saúde (como máscaras, termômetros, oxímetros, luvas, materiais de curativo), material didático, itens de higiene e material de apoio pedagógico e audiovisual para realização de palestras, oficinas e atividades lúdico-formativas com crianças, adolescentes e famílias.
Além disso, o programa demanda acesso a tecnologias de comunicação (internet, computadores, impressoras, celulares institucionais) que viabilizem a comunicação com as famílias e os atendimentos remotos, quando necessário. Em 2024, por exemplo, foram realizados 761 atendimentos via WhatsApp com educandos/as, responsáveis e funcionários/as.
Parcerias Estratégicas
Parte significativa da sustentação do programa decorre da articulação com instituições públicas, privadas e do terceiro setor. Em 2024, foram fundamentais as parcerias com:
EPJ/UNIFOR, que contribuiu com ações formativas sobre direitos e cidadania;
Instituto Caviver e Fundação Leiria de Andrade, com realização de exames oftalmológicos e doação de óculos;
EIM Instalações Industriais, com atendimento odontológico gratuito;
UNICEF, com doação de absorventes e ações de combate à pobreza menstrual;
Emílio Ribas, com exames de mamografia para familiares dos educandos;
SESC/Mesa Brasil, Programa Mais Nutrição, PAA-Leite e Grupo M. Dias Branco, com a doação de alimentos e insumos nutricionais;
Esteticista Clara Boussaingault, com atendimentos terapêuticos voltados ao bem-estar dos colaboradores.
Tais colaborações ampliam significativamente o alcance do programa, viabilizando atendimentos especializados, atividades formativas e o fortalecimento do cuidado com as famílias e com a equipe.
Recursos Financeiros
A manutenção do programa demanda recursos para pagamento de salários, bolsas para estagiários/as, aquisição de materiais, transporte institucional e alimentação dos educandos/as. A mobilização de recursos é realizada via editais públicos, doações de empresas parceiras, contribuições de pessoas físicas e apoio de fundações e organismos internacionais. A sustentabilidade financeira é constantemente monitorada para garantir a continuidade do programa com responsabilidade e qualidade.
Em síntese, o Programa de Desenvolvimento Psicossocial da EDISCA estrutura-se com base em uma rede integrada de recursos, cuja potência está na convergência entre equipe qualificada, infraestrutura funcional e parcerias comprometidas com a promoção dos direitos e do bem-estar de crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade.
Resultados Alcançados
Nossos melhores resultados estão relacionados ao acesso à Direitos e se refletem na permanência de 100% de nosso quadro de educandos na escola formal, com índice de promoção de série de 98% na educação básica, em contraponto aos índices de 81% no Ceará e 70% Brasil. Há pelo menos dois anos não registramos nenhum caso de gravidez na adolescência. Também comemoramos os 83% de resolução nos encaminhamentos realizados para as áreas de saúde e assistência social, decorrentes de vulnerabilidades apontadas pela avaliação inicial. Os responsáveis foram orientados e convocados a buscar atendimento nos equipamentos do SUS e SUAS e este resultado só foi possível pelo investimento em um processo educativo em Direitos Humanos.
Nos grupos psicoeducativos, a programação dos conteúdos é realizada com base nos resultados da Avaliação de Saúde e Psicossocial, realizada sempre no início do ano. Em 2016 foram formados 12 grupos, sendo 9 com crianças e 3 com a adolescentes, envolvendo 180 educandos. Foram realizadas 864 sessões. Os conteúdos abordados são separados em dois eixos: Desenvolvimento Pessoal e Direitos Humanos, com os temas: Identidade; Autoestima; Racismo; homofobia; Gênero e desigualdade social; Mídia e estereótipos sociais; O Direito de Brincar; Integração e Convivência. O segundo eixo é de educação para a saúde, onde abordamos: Conhecendo uma consulta médica; campanhas de prevenção do Ministério da Saúde: Influenza, dengue e viroses em geral. A metodologia utilizada com crianças inclui a mediação de filmes, músicas e literatura para, na sequência, tratar dos temas com debates, desenhos, dinâmicas e jogos.
Em 2024, o Programa de Desenvolvimento Psicossocial da EDISCA reafirmou sua relevância na proteção e no fortalecimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, por meio de ações integradas e contínuas que articularam atendimento individual, atividades coletivas, articulação comunitária e promoção de direitos.
Participação e engajamento
Ao longo do ano, 262 educandos e educandas participaram ativamente dos grupos de convivência semanais, distribuídos em 17 turmas. Foram realizadas 469 horas de atividades grupais, com frequência média de 72%, revelando o vínculo construído entre os educandos e o espaço institucional. Os grupos mantiveram-se como espaço privilegiado de escuta, formação cidadã e fortalecimento da autoestima, com efeitos visíveis no comportamento, nas relações interpessoais e na percepção dos participantes sobre si mesmos e sobre o mundo.
Promoção da saúde física e emocional
Foram realizados 218 atendimentos psicológicos individuais com crianças, adolescentes e familiares, respondendo a demandas espontâneas e identificadas por busca ativa. Os atendimentos priorizaram o acolhimento e o encaminhamento qualificado de situações de sofrimento psíquico relacionadas à condição socioeconômica precária, à insegurança alimentar, à violência e à ausência de redes de apoio.
O atendimento ambulatorial, por sua vez, totalizou 373 procedimentos, incluindo aferições de sinais vitais, curativos, massagens, nebulizações e orientações clínicas. A equipe acompanhou ativamente os sintomas gripais e viroses sazonais, liberando 227 educandos das atividades por motivos de saúde, com encaminhamentos e orientações às famílias.
Além disso, foram entregues 2.150 máscaras, distribuídas 80 unidades de preservativos e oferecidos 761 atendimentos remotos via WhatsApp, garantindo suporte contínuo e qualificado.
Acesso a direitos e fortalecimento familiar
A articulação com a rede de proteção resultou em 219 Avaliações em Saúde e Psicossociais (ASP), cujos resultados subsidiaram orientações às famílias e intervenções junto às escolas e serviços públicos. Foram realizados 116 atendimentos psicológicos com educandos e 92 com familiares, além de 175 orientações parentais, fortalecendo o papel da família no processo educativo e no cuidado integral.
As famílias participaram ativamente de 14 atividades formativas (rodas de conversa, oficinas etc.), três palestras voltadas especificamente para elas, e de encontros coletivos como o Outubro Rosa. Tais momentos aprofundaram o vínculo com a instituição e reforçaram a corresponsabilidade no cuidado com as crianças e adolescentes.
Formação cidadã e educação em direitos
Foram promovidas 14 palestras para educandos e três para profissionais da equipe, abordando temas como dignidade menstrual, primeiros socorros, redes de proteção, direitos sociais, enfrentamento da violência sexual e políticas públicas. As atividades, muitas delas em parceria com o Escritório de Práticas Jurídicas da UNIFOR, ampliaram o repertório dos participantes, incentivando o pensamento crítico e o protagonismo juvenil.
Ainda nesse eixo, realizou-se uma pesquisa institucional para avaliar o conhecimento de crianças e adolescentes sobre direitos humanos, cidadania, políticas públicas e redes de proteção. Os resultados demonstraram avanços significativos: 90% das crianças entre 7 e 10 anos compreendem que respeitar as diferenças significa tratar todos igualmente, e 85% sabem que o Conselho Tutelar atua na proteção da infância. Entre os adolescentes, 78,13% reconhecem que todos os direitos fundamentais são igualmente importantes, e 93,75% compreendem o papel do Conselho Tutelar. Os dados indicam que os educandos vêm construindo um repertório sólido sobre seus direitos e formas de participação social, refletindo a eficácia dos grupos de convivência como espaços permanentes de formação crítica e cidadã.
Ampliação de acesso a serviços especializados
Por meio das parcerias com instituições como Caviver, Fundação Leiria de Andrade, Óticas Visão e EIM, educandos e familiares acessaram atendimentos oftalmológicos, odontológicos e exames de mamografia. Foram doados 37 óculos de grau, realizados 52 atendimentos oftalmológicos, 71 atendimentos odontológicos, 70 exames de mamografia e distribuídos 955 pacotes de absorventes para adolescentes. Tais ações impactaram diretamente a saúde, o bem-estar e a permanência escolar dos beneficiários.
Segurança alimentar e bem-estar institucional
Foram distribuídas 15.619 refeições e 14.946 lanches para os educandos, com o apoio fundamental de doações de alimentos, que somaram mais de 21 toneladas. O recebimento de 5.770 litros de leite por meio do PAA-Leite e as parcerias com programas como Mesa Brasil, Mais Nutrição, M. Dias Branco e Granja Regina asseguraram o direito à alimentação saudável e regular, fortalecendo a permanência dos educandos e a qualidade das ações institucionais.
Público atendido
Adolescentes
Afrodescendentes
Alunos do Ensino Fundamental
Alunos do Ensino Médio
Alunos do Ensino Superior
Crianças
Famílias de Baixa Renda
Jovens
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