Problema Solucionado
O alagamento de grandes áreas dos municípios da costa oeste do Paraná para a formação do reservatório da Usina de Itaipu, em 1982, ocasionou um acentuado decréscimo populacional, além de acarretar na perda de boa parte das referências culturais e históricas construídas até aquele momento.
Esse cenário gerou diferentes posicionamentos. Alguns municípios se limitaram a lamentar a situação, o que os impedia de vislumbrar novas possibilidades. Outros locais, envolvidos em sua própria reconstrução, relegavam a um segundo plano sua própria história. Mesmo hoje, 30 anos depois, nenhum dos municípios atendidos pelo projeto possuía um acervo de referências visíveis e reconhecidas pela própria comunidade.
Os artesãos dessas cidades utilizavam como referência para o desenvolvimento de seus produtos revistas de manualidades, utilizando frequentemente imagens de desenhos da Walt Disney ou flores europeias. Os produtos também apresentavam baixo nível de qualidade e adequação ao mercado.
Esses municípios apresentavam uma demanda por um artesanato com valor agregado e pautado em referências locais.
Descrição
O trabalho apresentado é parte integrante do Programa Tri-nacional de Artesanato Ñandeva, cuja principal missão é fortalecer a identidade regional através do enfoque no setor artesanal. Realizado entre os anos de 2009 e 2010 em cidades situadas no oeste do estado do Paraná, o projeto piloto compreendeu oito municípios situados às margens do rio Paraná e de colonização recente, após a implantação da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Todo o processo ocorre por meio de oficinas criativas, que têm como objetivo identificar, junto aos artesãos, elementos locais que podem ser aplicados em seus trabalhos, agregando identidade e valor às peças. As oficinas são sempre originadas por uma demanda do próprio município e, posteriormente, é realizado um primeiro diagnóstico sobre o setor artesanal na cidade.
Após a identificação do público-alvo e o resgate de fatos históricos, geográficos, arquitetônicos e naturais do município, é feita a definição de desenhos e padrões gráficos que serão posteriormente aplicados pelos artesãos nos primeiros protótipos desenvolvidos. Com a conclusão dessa etapa, os artesãos passam por oficinas de avaliação dos produtos, recebendo sugestões de melhoria e adequação.
A próxima etapa consiste na elaboração do material gráfico e de fichas técnicas de cada produto para o lançamento da coleção à sociedade local. Após seis meses do lançamento, é promovida uma reunião com os artesãos para avaliar o desempenho dos produtos junto ao mercado.
Para a realização desta metodologia são necessários os seguintes requisitos:
- Interesse do município e do setor artesanal em realizar o trabalho;
- Existência de uma liderança local que convoque e agregue os artesãos, possuidora de visão sobre o resultado final a ser atingido, facilitadora das ações e interlocutora perante a prefeitura municipal;
- Contratação de um designer que saiba respeitar o saber dos artesãos, construindo, de forma conjunta, um novo cenário no qual estes artesãos possam se identificar e sintam-se participantes;
- Local para realização dos encontros e, eventualmente, maquinário adequado (uma máquina de costura ou outros, conforme a característica das atividades desenvolvidas e do município).
O trabalho, coordenado pelo Programa Ñandeva e desenvolvido com o apoio de alguns parceiros – como o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o Conselho dos Municípios Lindeiros e Prefeituras locais – foi construído com base em pesquisas realizadas de forma participativa entre os artesãos e a designer. Este processo deu origem a um conjunto de informações que contribuíram fortemente para a construção de um sentimento de pertencimento às cidades, refletindo diretamente na economia gerada pela produção artesanal, além de fortalecer a autoestima e possibilitar a formação de um acervo importante de informações, que poderão também ser utilizadas em outras áreas, como educação, cultura, artes e história.
O resultado deste trabalho foi o estabelecimento de um acervo identitário próprio, que, embora tivesse apenas o objetivo inicial de ser aplicado ao artesanato, ultrapassou seus limites e refletiu diretamente sobre a cidadania de cada participante.
Recursos Necessários
- Local para o desenvolvimento das oficinas, com mesas, cadeiras e iluminação - após as oficinas, cada artesã poderá trabalhar na sua própria casa;
- Um computador com programa de desenho (Corel, Photoshop, etc.);
- Impressão de dois banners e etiquetas para os produtos;
- Espaço para a realização do evento de lançamento da coleção produzida pelos artesãos. Em geral, realiza-se o lançamento da coleção durante algum evento já consolidado no calendário municipal.
Resultados Alcançados
- Artesãos envolvidos: 95;
- Produtos desenvolvidos: 281 (iniciais);
- Oito coleções desenvolvidas.
O projeto reuniu diversos depoimentos muito significativos de artesãos que participaram das oficinas e que expressaram sua satisfação em relação à elevação da autoestima, valorização e crescimento pessoal. Além disso, está previsto para setembro de 2011 o lançamento do livro "O sol é lindeiro", com conceitos das coleções, história dos ícones e fotos dos produtos.
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