Problema Solucionado
Em levantamento de campo realizado em 1997 foi detectada a seguinte situação:
-Camarões comercializados em tamanho muito pequeno (média de 4,5 cm);
-Grande número de armadilhas de captura (matapi) utilizadas pelas famílias (média de 140);
-Armadilhas predatórias;
-Preço pago pelo kg muito baixo (R$ 0,8/in natura e R$1/pré-cozido);
-Produção média/família/safra (120 dias de pesca/ano = 850 kg);
-Processo de beneficiamento inadequado;
-Desperdício de insumos (isca e sal);
-Migração para centros urbanos, principalmente de jovens;
-Ausência de organizações comunitárias;
-Educação básica precária (salas de aula na casa das professoras em turmas de várias séries);
-Ocorrência de doenças causadas pela água;
-O sistema de comércio predominante era o "aviamento", pelo qual o comprador do produto local também é o vendedor de gêneros de primeira necessidade, estabelecendo uma relação social de produção não muito justa, o que deixava as famílias sob sua dependência ano após ano. As armadilhas eram confeccionadas em fibras vegetais, que têm a forma cilíndrica, com funis internos, permitiam a entrada, mas não a saída dos camarões pequenos.
Descrição
Discutiu-se e implantou-se um sistema de produção pelo qual se pretendia melhorar a qualidade do produto a partir da adaptação das armadilhas, introdução de viveiros para estocagem in natura, capacitação das famílias em produção, gestão ambiental e gestão de organizações associativas. Isso pode ser traduzido da seguinte forma:
-As armadilhas eram confeccionadas em fibras vegetais, que têm a forma cilíndrica, com funis internos, e permitem a entrada, mas não a saída dos camarões. Os espaços entre as fibras não deixavam que os camarões pequenos saíssem da armadilha, por isso seu caráter predatório. Propôs-se então que as famílias passassem a confeccionar suas próprias armadilhas (em geral trazidas para as comunidades pelos atravessadores), adaptadas ao livre acesso dos camarões pequenos, deixando aprisionados apenas os maiores (o espaço entre as fibras foi estabelecido em 1 cm);
-Introdução de viveiros flutuantes para estocagem dos camarões capturados, de modo que o produtor acumulasse uma quantidade razoável para fazer o beneficiamento e posterior comercialização (os viveiros também são adaptados para fazer uma nova seleção);
-Promover eventos de capacitação (cursos, oficinas, palestras), tanto na área da produção (captura, armazenamento, beneficiamento e comercialização) quanto em gestão ambiental e gestão participativa de empreendimentos associativos;
-Implantação de estrutura mínima adequada ao processamento do produto, conferindo-lhe melhor qualidade;
-Implantação de um sistema de monitoramento, no qual jovens comunitários são capacitados para coletar dados, orientar produtores, auxiliar na implantação do sistema e corrigir possíveis distorções;
-Introdução de sistema de comercialização via cooperativa, com bases mais justas de troca.
Recursos Necessários
O patrimônio físico é composto de 1 centro de formação, 1 barco, 1 lancha, 5 rádio-amadores, 1 gerador de energia elétrica, 1 miniestação digital com 5 computadores, espaço de trabalho para o Grupo de Mulheres, equipamentos de audiovisual, escola, posto de saúde.
O apoio ao custeio da produção é peça fundamental no desenvolvimento da tecnologia, pois sem o aporte de recursos que possibilitem a produção de forma independente, os pescadores e pescadoras podem continuar dependendo dos ditames dos atravessadores, atendendo suas necessidades de mercado sem dar importância às questões ambientais, sociais e econômicas que envolvem as comunidades. Com esse propósito, o projeto prevê a implantação de Unidades Coletivas de Processamento de Camarão, bem como viveiros e outros apetrechos usados na atividade.
Canoas, matapis, viveiros e outros apetrechos e insumos, bem como estruturas como unidades de beneficiamento e equipamentos para armazenamento de gelo e transporte da produção podem colaborar para que os produtores possam aplicar práticas ecologicamente corretas e tenham maior poder de barganha na hora de comercializar seus produtos.
Resultados Alcançados
Ambientais: • Redução no número de armadilhas por família (de 120 para 750). • Redução no número de camarões por kg comercializado (de 400 para 205). • Aumento no tamanho dos camarões comercializados (de 4,5 para 9,2 cm). • Estabelecimento de áreas para "descanso". Econômicos: • Aumento do preço recebido pelos produtores (de R$ 0,80 para R$ 2,5). • Aumento da renda familiar mensal oriunda do camarão (de 1/2 para 1,2 salário mínimo). • Estabilização da produção e da renda anual proveniente do camarão. • Garantia de mercado para o produto com preço justo, mesmo em época de pico de produção. • Aumento do poder de barganha dos produtores. Sociais: • Redução em 20% da jornada de trabalho. • Relações comerciais mais justas (redução do aviamento). • Aumento no número de pessoas da comunidade com documentação pessoal. • Ensino regulamentar até 8ª série (mais de 150 crianças frequentam a escola). • Redução de doenças transmitidas por água contaminada. • Redução na migração de jovens (há casos de retorno para a comunidade). • Realização anual do Festival do Camarão. Organização comunitária: • Criação da Associação Comunitária – ATAIC. • Criação do Grupo de Mulheres em Ação da Ilha das Cinzas. • Implantação de delegacia sindical (STR) • Filiação da Associação ao GTA. • Participação da Associação nos Conselhos Municipais de Saúde e Assistência Social. Outros ganhos comunitários: • Reestruturação do espaço comunitário com reforma da sede, biblioteca, energia elétrica, de água, aquisição de barco comunitário e instalação de cozinha e refeitório e posto de saúde. Manejo comunitário da floresta, para uso dos recursos. • Grupo de Mulheres em Ação encampou a produção de matapis, adaptados ao sistema de manejo de forma a viabilizar a manutenção dos estoques e também gerar emprego e renda.Projeto de Assentamento da ilha das Cinzas; Construído o prédio escolar; jovens da comunidade cursando ensino superior na modalidade a Distância – EAD; projeto de abastecimento de água; miniestação digital da Ilha das Cinzas, primeiro ponto de internet na zona rural do município de Gurupá-PA (parceria com a FBB).
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