Objetivo
Criar novas interações e arranjos entre pessoas e instituições, que possam resultar nos contextos necessários para as inovações socioambientais que visam diminuir a pressão ambiental causada pelo descarte das conchas do sururu, ao mesmo tempo que geram empregos por meio da empresa social, incrementam a remuneração das marisqueiras com a entrega das conchas para o beneficiamento, e propulsionam novos projetos através do fundo de gestão.
Problema Solucionado
Localizada ao longo da orla da Lagoa de Mundaú, em Maceió, os moradores do bairro Vergel encontram na extração do sururu uma das principais fontes de renda e sobrevivência. Muitas famílias da região ganham a vida com a venda da carne do molusco, atividade que envolve famílias inteiras e é passada de geração em geração. Os homens geralmente são responsáveis por recolher o sururu no fundo da lagoa, enquanto as mulheres ficam às margens recebendo os moluscos fazendo a etapa de “despinicagem” (a separação do sururu do cordão que os liga). Logo após, são cozidos e peneirados até que a carne seja separada de suas conchas, que são descartadas de forma irregular nas ruas e calçadas da comunidade.
A comunidade localizada no bairro do Vergel, na orla da lagoa Mundaú, encontra-se em uma das situações de vulnerabilidade social mais graves do país. Ali, mais de 1500 famílias vivem em situação de extrema pobreza e tiram seu principal sustento da coleta, processamento e comercialização de sururu, do fundo da lagoa. Apesar do trabalho árduo, o produto final dessa cadeia produtiva é vendido a preços muito baixos, sujeito inclusive a sazonalidade e turismo local, levando a população a condições injustas de moradia, escolaridade e oportunidades. Além disso, as conchas de sururu descartadas resultam no acúmulo de toneladas de resíduos por semana, o que significa um custo elevado de limpeza urbana para o poder público, uma série de riscos para a saúde da população local devido ao chorume e à atração de vetores de doenças, e um grave problema ambiental e estético ocasionado pela mistura destas conchas com os outros lixos domésticos.
Para contribuir com a mudança desse panorama, o Ecossistema de Inovação Social Lagoa Mundaú busca soluções viáveis para ressignificar os resíduos sólidos do sururu e valorizar o trabalho tradicional dos pescadores e marisqueiras da Lagoa do Mundaú. Ao estimular a valoração e o uso alternativo das conchas, gerar empregos na unidade fabril local, remunerar as marisqueiras pelos quilos de concha entregue, favorecer o comércio local com a moeda social, e subsidiar iniciativas locais, além de estimular a participação da comunidade na gestão do empreendimento e tomada de decisões, o nosso Ecossistema de Inovação dá alguns passos rumo à minimização das diversas desigualdades sociais existentes nesta comunidade de Maceió.
Descrição
As primeiras atividades realizadas tiveram como objetivo identificar os potenciais usos para os resíduos da cadeia produtiva do sururu, mais especificamente aqueles oriundos das margens da Lagoa Mundaú. Como resultado deste processo inicial, foram identificados diversos potenciais usos nos mais diferentes setores econômicos, bem como as limitações relacionadas ao valor de mercado de seu principal componente – o carbonato de cálcio. Em seguida, foram contratados reconhecidos designers e premiou-se iniciativas de organizações locais com alto potencial de replicação. Essas contratações tiveram a finalidade de desenvolver os produtos que utilizam as conchas de sururu, buscando agregar valor ao resíduo, aliviando o desafio do seu baixo valor de mercado.
Na etapa seguinte, os parceiros (entre eles especialistas em economia circular, designers, gestores sociais, artesãos locais) se uniram para criar e desenvolver
produtos de alto valor agregado, tal como o Cobogó Mundaú, e garantir a construção de uma unidade fabril para o beneficiamento das conchas e fabricação de tais produtos, iniciando assim o processo de validação do protótipo gerado.
Com o sucesso desta etapa, hoje o ecossistema conta com uma operação viabilizada pela Empresa Social e pelos pedidos do nosso principal cliente, a empresa Portobello, garantindo a geração dos impactos socioambientais almejados por toda a rede de parceiros do ecossistema, tais como geração de renda extra para as marisqueiras e um direcionamento de alto valor para conchas.
Para garantir o envolvimento dos beneficiários na atividade, direcionar e manter os benefícios econômicos desse trabalho e promover o desenvolvimento local, foi criada e implementada uma moeda social, com as características da comunidade e da cadeia produtiva local, denominada “sururote”. Desta maneira, a comunidade passa a visualizar o valor do que antes era apenas resíduo e a se beneficiar com o uso da moeda social. A moeda pode ser utilizada no comércio local, o que também contribui com a economia local.
Em paralelo, o nosso ecossistema de inovação também está realizando estudos para melhorar a forma de cultivo e coleta do sururu. O objetivo é amenizar alguns dos principais desafios enfrentados como, por exemplo, problemas de saúde do mergulho em apneia, prática comum para as pessoas envolvidas nesta cadeia produtiva.
Todos esses processos demandam atividades de: mobilização dos parceiros para negócios sociais e de economia circular; mobilização da comunidade local (para transformar a percepção de relevância e expectativas dos beneficiários quanto as conchas e ao futuro dos negócios de economia circular na comunidade); implantação do modelo de gestão e operacionalização do equipamento social; incubação e aceleração de negócios a partir dos resíduos do sururu; difusão de resultados e materiais de conhecimento.
Recursos Necessários
Recursos materiais e equipamentos: cédulas desenhadas participativamente com os usuários, balcão de operação de troca da moeda, 3-4 computadores ou tablets, galpão para fabricação (custo de equipamentos depende do produto a ser fabricado a partir do resíduo - no caso específico da unidade física atual, betoneira, mesa vibratória, forrageira para trituração, peneiras, estantes para secagem e estocagem, EPIs, esponjas e escovas para acabamento, embalagens e pallets), materiais de escritório para equipe administrativa e de gestão da moeda e do fundo.
Recursos humanos (pessoal): 1 pessoa para gestão de emissão da moeda e pagamento aos estabelecimentos credenciados; 2 pessoas para administrar o ecossistema e a empresa; 3 pessoas para fabricação de cada linha de produtos a base dos resíduos das cadeias de valor envolvidas; 1 pessoa para gestão do fundo.
Resultados Alcançados
Resultados Quantitativos:
Quantidade de famílias beneficiárias cadastradas: Atualmente, temos 31 famílias
Toneladas de casca de sururu aproveitadas: Entre testes e produção, já foram reutilizadas cerca de 35 toneladas de conchas, sendo em média um uso de 6tn/mês.
Renda mensal extra por família que pode ser atingida com a entrega das conchas por família: S$ 150,00 Sururotes (o equivalente à 150,00 reais)
Número de colaboradores empregados na unidade da tecnologia social: 8
Número de colaboradores empregados na empresa social: 11
Quantidade de produtos de alto valor agregado produzidos: Até o momento já foram produzidas mais de 3 mil peças, sendo a média atual de 700 peças/mês.
Qualitativos
O produto Cobogó Mundaú está sendo vendido em todas as lojas Portobello Shop do Brasil. Os outros produtos desenvolvidos são comercializados em diversos estabelecimentos locais em Alagoas. Um resultado muito positivo, pois percebe-se mobilização de número significativo de estabelecimentos a nível regional e nacional para a comercialização dos produtos resultantes deste Ecossistema de Inovação Social. Importante ressaltar também que, pelos meios digitais, o Ecossistema tem tido um alcance ainda maior. Ademais, os produtos também contam com um selo de origem que atesta a procedência e os princípios socioambientais que o ecossistema de inovação social cultiva e fomenta.
Público atendido
Famílias de Baixa Renda
Lideranças Comunitárias
Mulheres
Pescadores
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