Problema Solucionado
Em nosso mundo os sentimentos e ações são permeados por uma ideia mercantilista de que tudo tem seu preço. Este preço é o que determina o valor das coisas: "Quanto mais caro melhor", "Você vale o que ganha" são frases comuns que expressam esta ideia. O agricultor familiar sofre com essa relação, pois representa uma ponta da cadeia produtiva que está longe do consumidor final, sofrendo ação de intermediários que encarecem o produto final para o consumidor e afastam estes da realidade do dia-a-dia no campo. Além disso, o agricultor sempre arca sozinho com as responsabilidades de produção, sofrendo com as intempéries e nuances mercadológicas. Outra problemática muito evidente é a falta de recursos para investimento em novas tecnologias para poder melhorar sua produtividade e manejo com a terra, afim de melhorar o uso dos recursos naturais disponíveis e também o esforço dispendido para a produção no dia-a-dia. E por fim, com a baixa disponibilidade de recursos financeiros, o próprio homem do campo vê seus filhos abandonarem a vida no campo para buscar condições de vida melhores em outras atividades e, muitas vezes, ele mesmo se vê obrigado a tomar o mesmo caminho.
Descrição
Concepção da idéia: O resgate da valorização do trabalho agrícola, como ofício imprescindível à existência saudável humana, ambiental e social. O trabalho natural agrícola, sem uso de agrotóxicos, apoiado pela comunidade, é base para a saúde, alimentação e manutenção dos recursos hídricos. Porém, existem hoje cada vez menos pessoas dispostas a trabalhar no campo, na agricultura. Assim, a TS busca estruturar um modelo para criação de uma CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura) em uma determinada localidade.
Detalhamento da implementação: Esse modelo é detalhado num curso de formação, no qual através de exercícios artísticos e reflexões, nos acercamos destes temas e buscamos traçar um caminho para criação de uma unidade de CSA.
No curso, estruturado em um módulo filosófico e um módulo prático é apresentado um passo-a-passo para formação de uma CSA através do qual se busca responder às seguintes questões:
• Como podemos desenvolver este nova cultura de relacionamento sem que eu abandone o desenvolvimento da minha própria personalidade, que reconheço necessário, sem ferir a igualdade do outro, e ao mesmo tempo agir fraternalmente?
• Quantas pessoas nós precisamos para começar um CSA?
• Onde nós encontramos membros para um CSA?
• Como preparar um primeiro encontro com os interessados?
• Como podemos divulgar a ideia do CSA?
• Como nós encontramos um agricultor?
• Qual perfil o agricultor precisa ter?
• Qual o tamanho da área necessária?
• Onde está o sitio hoje?
• Onde se pode desenvolver?
• Quais são os custos do sítio hoje?
• Qual seria o custo do sítio no futuro?
• O trabalho deve ser feito no sítio?
• O trabalho pode / deve ser feitos pelos consumidores?
• Como vamos coordenar grupos de trabalho para: contabilidade; logística; organização do trabalho; comunicação interna (jornal, festas); comunicações externas (website, blog, e-mails, mídias de redes sociais; relações públicas (imprensa, rádio, televisão)?
• Quais produtos o CSA pode oferecer?
• Como planejar a diversidade no campo?
• Qual a relação entre CSA e agricultura orgânica/biodinâmica?
• Como criar uma rede local para juntar vários agricultores?
• Como organizar o trabalho no campo com os membros?
• Como calcular os custos do projeto?
• Como dividir os custos entre os membros?
• Como nos podemos dividir o trabalho voluntario?
• Como criar uma contabilidade?
• Como criar uma coordenação?
• Como podemos administrar o projeto?
• Que formas legais nós precisamos?
• Como nós planejamos a abertura do projeto?
• Como criar os entrepostos?
• Quais contratos nós precisamos?
Findado o curso, o participante volta para a sua localidade e passa a buscar formas para implementar a TS seguindo basicamente os passos a seguir:
1 - Promoção de uma chamada pública entre amigos e conhecidos para formar uma CSA em sua localidade
2 - Organização de um encontro explicativo para os potenciais participantes da futura CSA - tanto agricultores, quanto consumidores (futuros co-responsáveis dentro da CSA)
3 - Encontro com os potenciais participantes para se estabelecer os acordos, necessidades, regras e valores da CSA
4 - Organização de um grupo gestor (ou núcleo gestor) para organizar os pontos definidos no encontro anterior (definição sobre qual agricultor será apoiado, local de plantio, papéis e responsabilidades dos membros, definição de orçamento anual a ser rateado entre os participantes, definição de política de adesões e formas de pagamento, definição de variedades e quantidade de alimentos que serão fornecidos)
5 - Recolhimento de adesões para a primeira temporada/colheita
6 - Assinatura dos contratos de compromisso entre os participantes para que o financiamento da produção agrícola seja iniciado
7 - Estabelecimento dos prazos para que as primeiras colheitas sejam entregues para os participantes, conforme acordos prévios discutidos
8 - Realização das entregas
Em paralelo aos 8 pontos descritos anteriormente busca-se o registro constante dos custos de produção para que seja possível realizar uma previsão orçamentária para o próximo período agrícola afim de definir o novo rateio financeiro entre os cotistas no próximo ano fiscal. Da mesma forma, busca-se constantemente manter viva entre os membros participantes a idéia da economia associativa na qual se prega que: “O bem estar de uma comunidade de pessoas que trabalham em conjunto é tanto maior quanto menos cada um reivindicar para si os frutos de seu trabalho, isto é, quanto mais ele der esses produtos aos seus colegas, e quanto mais suas próprias necessidades forem satisfeitas não pelo que ele produziu, mas pela produção dos outros”.
Envolvimento da comunidade: a comunidade é envolvida a partir da chamada pública organizada pelo participante do curso que almeja criar uma CSA em sua localidade. A partir da aceitação em atuar nessa comunidade, as pessoas deixam de ter um papel de mero consumidor e passam a ser co-responsáveis para que a TS aconteça plenamente no seu meio.
Recursos Necessários
1-Participação no curso de formação.
2-Confecção de material de divulgação para a chamada para reunião de membros potencialmente interessados em participar da unidade de CSA.
3-Salas para realização dos cursos e reuniões citados anteriormente, bem como palestras e eventos de divulgação.
4-Galpão ou salão para funcionar como ponto de entrega de produtos uma vez por semana.
5-Disponibilidade de pelo menos um agricultor em cada unidade de CSA.
6-Disponibilidade de terra para ser cultivada (própria do agricultor ou arrendada, alugada, emprestada).
7-Disponibilidade de trabalho voluntário entre os membros participantes para atuar nas atividades de: contabilidade; logística; organização do trabalho nos locais de entrega; comunicação interna (jornal, festas); comunicações externas (website, blog, e-mails, mídias de redes sociais e relações públicas (imprensa, rádio, televisão).
8-Administrador geral do grupo.
9-Eventual necessidade de apoio consultivo da equipe da CSA-Brasil para necessidades pontuais.
Resultados Alcançados
Desde a criação dessa TS, houve uma multiplicação das unidades de CSA pelo Brasil.
A partir de 2011, quando a primeira unidade de CSA foi fundada no bairro Demétria em Botucatu, essa TS foi desenvolvida e estruturada através desse modelo inicial. Com base na experiência da CSA no bairro Demétria, 4 novas unidades de CSA foram criadas no Brasil. Mas o processo de criação de novas unidades se mostrou lento, uma vez que não estava estruturado. Foi decidido em 2013 que a CSA Brasil criaria e estruturaria um curso de Formação em CSA para criar novas unidades de CSA. E tudo foi organizado no curso de formação citado na descrição da TS acima. Desde então outras 25 novas unidades de CSA foram criadas pelo Brasil e há 16 novas iniciativas em formação. Isso representa um crescimento de 480% apenas levando em conta o número de novas unidades, sem contar as iniciativas em implantação.
O número de membros participantes nas 5 unidades surgidas antes do desenvolvimento da TS era de aproximadamente 400 pessoas. A partir da criação da TS, com o incremento das novas unidades citadas, esse número saltou para cerca de 3000 pessoas.
Outros resultados alcançados são:
. Até o momento chegou-se a: 50% de aumento dos salários dos trabalhadores do campo, combinado entre os membros por meio de pequeno aumento na mensalidade.
. Redução do uso dos recursos hídricos em 80% por meio de troca da tecnologia de irrigação, substituindo métodos de aspersão aérea por sistema de gotejamento ou santemo, com base em iniciativas surgidas das sugestões da comunidade
. Diminuição de participação em feiras livres, diminuindo os prejuízos por meio de retorno de produtos, custos de transporte, alimentação, embalagens, transporte e pessoal.
. Garantia de uma entrada fixa anual, paga inclusive durante as férias pelos membros, mesmo que estes não retirem suas cotas de produtos.
. Acesso constante e frequente à horta por meio de atividades organizadas chamadas de "Dia de Campo".
. Acesso à horta pelas escolas, com apoio e organização dos membros.
. Parcerias com as universidades, por meio de estágios, elaboração de mestrados e doutorados nas áreas de nutrição, biologia, geografia, agroecologia, agronomia, economia, pedagogia e arte.
. Diminuição do impacto ambiental por meio da eliminação de embalagens e melhoria no sistema de uso dos recursos naturais.
O acompanhamento destes resultados é realizado em cada unidade de CSA pelos próprios membros, no mínimo anualmente.
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