Objetivo
Reunir e capacitar mulheres para a independência de reformar e construir a própria casa.
Problema Solucionado
O Brasil é um dos países do mundo com maior desigualdade social, reproduzida diariamente a partir de mecanismos de exclusão que resultam na escassez de acesso a todo tipo de serviços por grande parte da população. Nesse cenário, muitas pessoas autoproduzem a moradia sem qualquer assessoria ou formação técnica, resultando em lares com recursos já escassos, desperdiçados. Além disso, problemas estruturais nas casas, umidade excessiva, falta de iluminação e ventilação ou mesmo ausência de banheiro são recorrentes nessas moradias.
A mulher que vive esse contexto é ainda mais vulnerável, pois além de sofrer os efeitos do machismo estrutural, são impedidas de decidirem sobra a construção da sua própria casa, uma vez que o campo da construção civil é tido como um espaço essencialmente masculino. Apesar de passarem a maior parte do tempo dentro de casa realizando os serviços domésticos e de cuidados com a família, são constantemente excluídas dos processos de decisões acerca da produção desse espaço e sobre como ele deve ser construído. Este fato agrava ainda mais a vida dessas mulheres pois traz consequências que impactam de forma negativa a sua rotina de afazeres dentro da casa.
Descrição
A tecnologia parte de uma revisão teórica de outros métodos de assessoria técnica existentes – como os Arquitetos da Família de Rodolfo Livingston (Argentina) e os métodos do Grupo de Pesquisa MOM-UFMG, além das formas de auxílio a população de baixíssima renda criadas pelo economista Muhamed Yunus em Bangladesh. O método Arquitetura na Periferia se baseia nos seguintes pilares conceituais:
Cooperação – todas as atividades são desenvolvidas em pequenos grupos, com o objetivo de fomentar a colaboração e incentivo, o estabelecimento de laços de confiança e o fortalecimento de vínculos comunitários entre as participantes;
Autonomia – ao invés de serem apenas beneficiárias, o método visa que as participantes sejam protagonistas do processo, de forma que possam decidirem e conduzirem os trabalhos de acordo com suas demandas específicas, fazendo com que cada grupo seja único, com dinâmicas diferentes entre si;
Sensibilidade – o método possui a flexibilidade necessária para se adaptar a diferentes contextos, para que seja possível alcançar a autonomia desejada e aquelas pessoas em situações de maior vulnerabilidade. O método se divide em três etapas:
Etapa 1 (Planejamento) – consiste em encontros regulares semanais com grupos de 3 a 6 mulheres, durante 4 a 6 meses, em que o planejamento das intervenções nas casas se transforma em um ciclo de aprendizado. É quando ocorrem as oficinas de levantamento onde as mulheres aprendem a medir e desenhar as casas. Oficina de Desenho onde aprendem a colocar o desenho na escala e aprendem sobre proporção. Oficina Kit Mobiliário em que exercitam o olhar sobre como utilizar melhor um espaço. Oficina de Finanças Pessoais em que aprendem a importância de terem controle sobre os gastos e como podem fazer isso. Jogo do Banco Comunitário em que negociam os valores que poderão pegar no microcrédito oferecido pelo projeto e definem quais os ofícios querem aprender nas oficinas de construção através da ótica dos custos de cada atividade. Oficina de quantitativos em que as mulheres aprendem noções básicas de cálculo de área e volume e a levantar a quantidade de materiais necessários para as obras. A ordem dessas oficinas e os seus desdobramentos varia de acordo com cada grupo, como descrito anteriormente, as definições de necessidades e demandas mais urgentes variam de acordo com a vontade das participantes envolvidas.
Na Etapa 2 (Oficinas de Construção) as mulheres aprendem os ofícios desejados, tais como levantar alvenaria, reboco, assentamento de piso, etc, executando tais serviços dentro da casa de uma delas, de acordo com o que foi planejado na etapa anterior. Dessa forma aprendem ao mesmo tempo em que já iniciam e colaboram com as obras umas das outras.
A Etapa 3 (Acompanhamento) começa quando as participantes iniciam as obras, recebem o microfinanciamento (caso queiram) e os encontros passam a ser pontuais afim de acompanhar o desenvolvimento das obras. Nesta etapa podem ocorrer também os “Mutirões”, onde a equipe, em conjunto com as participantes, organizam dias de trabalho coletivo nas obras de uma das mulheres que esteja mais necessitando deste apoio. Ao final do ciclo proposto pelo método, as participantes são incentivadas a serem multiplicadoras daquilo que aprenderam durante o processo e convidem outras mulheres a participarem. Desta forma, a partir da indicação das mulheres que já passaram pelo método, novas mulheres formam novos grupos.
Recursos Necessários
Como os encontros do método são realizados em casas nas comunidades, não são necessários recursos de infraestrutura. Os recursos materiais necessários para sua implantação são: pasta, papéis sulfite, papéis manteiga e vegetal, papel milimetrado, lápis, borracha, caneta, apontador, estojo, trena, prancheta e calculadora. Utilizamos também interfaces que auxiliam na compreensão das atividades propostas: Kit Mobiliário que consiste em peças de mobiliário cortadas em isopor prensado ou mdf, Jogo do Banco Comunitário que consiste em dois tabuleiros e cartas com os valores a serem negociados, a interface de estruturas que consiste em palitinhos com durepox para simularem o funcionamento das estruturas, entre outras interfaces que são desenvolvidas a partir das demandas de cada grupo que utilizam em geral papel, isopor prensado e canetas coloridas. Por fim, tem as cartilhas que são impressas em papel A4 e resumem as explicações e dicas de cada atividade desenvolvida.
Estima-se um valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para a reaplicação.
Resultados Alcançados
A aplicação do método Arquitetura na Periferia já beneficiou diretamente mais de 400 pessoas e realizou mais de 1.700 horas/aula de reuniões e oficinas com grupos de mulheres, com mais de 70 casas já reformadas. Em 2018 o projeto recebeu o “Marielle Franco Community-Design Award” como reconhecimento do método inovador e atuação transformadora do projeto. Já recebeu também os prêmios “Gentileza Urbana” do IAB –MG em 2016 e o Prêmio Arquiteta e Urbanista do Ano pela FNA em 2018. Já os resultados qualitativos, medidos por meio de questionários aplicados às participantes ao início e ao final do processo apontam uma melhora de 167% com relação à habilidade da participante em tocar a sua reforma, 83% de melhora na sua capacidade de resolver problemas cotidianos de manutenção do espaço, 122% de melhora na confiança das participantes em discutir com um pedreiro e 187% de melhora no nível de segurança das participantes para iniciarem as suas obras.
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