Resumo
A Tecnologia Social ‘Formação de Agentes Populares’ é uma tecnologia que, partindo da realidade e de demandas concretas, tem a finalidade de promover a formação para a organização, o engajamento e o protagonismo social a nível local bem como a autogestão dos moradores e moradoras de uma mesma comunidade para o enfrentamento de desafios que estão inerentes à realidade social da vida das pessoas e que são estruturais da sociedade brasileira, como por exemplo a fome ou a falta de acesso à saúde.
Os Agentes Populares são pessoas de uma mesma comunidade, trabalhando para costurar uma rede popular de solidariedade entre as/os moradores/as que ali vivem, se consolidando enquanto peças fundamentais para multiplicar conhecimentos e cuidados em saúde, alimentação, moradia, acesso à justiça e outros problemas estruturais da sociedade brasileira. Assim, é possível compreender a formação de Agentes Populares enquanto tecnologia social na medida em que é um método produtor de conhecimentos populares e científicos que, aplicado a determinadas situações, contribui para a construção de soluções efetivas para as realidades das comunidades, buscando viabilizar territórios saudáveis e sustentáveis a partir de ações comunitárias e políticas públicas.
A metodologia de trabalho de base dos agentes populares utiliza as bases da Educação Popular para enfrentar desafios concretos e promover a organização social. Além da formação, a tecnologia inclui a implantação de instrumentos fixos nas comunidades, como por exemplo: cozinhas populares ou centro de atendimento à saúde popular.
Assim, partindo das demandas concretas dos moradores e moradoras de uma comunidade, a tecnologia inclui tanto a formação política e técnica sobre temas geradores que são elencados a partir da realidade dos educandos e educandas, quanto a construção de aparatos fixos nas comunidades que sirvam de base para a continuação dos trabalhos. Neste sentido é possível utilizar a metodologia em diversos problemas sociais.
A Escola Nacional Paulo Freire, em conjunto com o Movimento Brasil Popular (MBP), Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais sem Terra (MST), FioCruz e outras organizações, realizou formações de Agentes Populares de Saúde (2020/2021) e Agentes Populares de Alimentação (2022/2023), nos estados de São Paulo, Paraíba, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
Objetivo
Formar agentes populares em territórios vulneráveis de modo a contribuir na mobilização e engajamento das comunidades em torno do enfrentamento a temas concretos e relevantes para a vida cotidiana dos moradores e moradoras da comunidade, como a fome e a saúde.
Problema Solucionado
O problema central a ser enfrentado pela Tecnologia Social ‘Agentes Populares’ é a necessidade de organização e protagonismo social a nível local para o enfrentamento de problemas estruturais da sociedade brasileira, que fazem parte da realidade de milhares de brasileiros e brasileiras que se encontram em situação de vulnerabilidade social, política e econômica. Por exemplo: os Agentes Populares de Saúde enfrentam o problema da organização e protagonismo social a partir das temáticas relacionadas ao acesso à saúde, enfrentando também estes problemas. Os Agentes Populares de Alimentação enfrentam a falta de organização e protagonismo social por meio do desafio da fome, através de formações técnicas e políticas com temáticas relacionadas ao direito à alimentação, bem como a construção de cozinhas populares nos territórios.
Descrição
A base para a efetivação dos Agentes Populares são: 1. Definição do tema gerador; 2. Formação a partir das metodologias da Educação Popular; 3. Construção de instrumentos fixos nos territórios.
O ‘tema gerador’ é uma metodologia desenvolvida por Paulo Freire onde busca-se compreender a realidade concreta dos indivíduos e, a partir dessa realidade, iniciar o processo de formação. Neste sentido, a Tecnologia Social dos Agentes Populares começa através de um trabalho de base no território para a compreensão das realidades da comunidade. Essa etapa é realizada por conversas com lideranças locais e construção de uma rede local. Nas experiências trazidas pela Escola Nacional Paulo Freire, essa primeira etapa ocorreu por meio de trabalho de base de doação de alimentos para as comunidades atingidas e conversas com as lideranças locais. Com o resultado das conversas é possível que os membros da própria comunidade elejam o tema central para a formação, a partir das demandas concretas do território.
Após a eleição do tema, inicia-se o processo de formação. Os módulos da formação são estruturados no método da educação popular que, como diz Paulo Freire, considera que: “ninguém educa ninguém e ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si”. Parte-se, então, da realidade concreta em que está inserida a comunidade, identificam-se as questões latentes buscando uma formação que contemple formas individuais e coletivas de resolução de problemas com base nos valores da solidariedade e coletividade. A Educação popular traz um esforço de mobilização, organização e capacitação das classes populares, buscando compreender o que está acontecendo (conjuntura), o que conduz a estes acontecimentos (estrutura), o que aconteceu antes que nos levou até o momento atual (história). E, a partir disso, ser capaz de propor ações para alterar, em parte, esta realidade (conquistar direitos). Neste sentido, o povo é o protagonista principal. A Educação Popular busca preparar o povo para ser o construtor de um processo coletivo de intervenção na realidade e de formação de sua consciência. É preciso um núcleo de educadores e educadoras populares que montem o programa político pedagógico da formação.
Por fim, o processo de estruturação do instrumento fixo é realizado ao longo do processo de formação. Parte-se das disponibilidades concretas do território, como por exemplo: espaço físico para reforma, ou outras variedades. O instrumento fixo serve como base para a continuação do engajamento social e autogestão a nível local. Com os instrumentos fixos os agentes populares terão uma base para a continuidade da atuação nos territórios.
A Escola Nacional Paulo Freire assume a função de sistematizar as experiências dos Agentes Populares para que a metodologia seja replicável. Neste sentido, a Tecnologia Social poderá servir de base para tratar de diversos problemas estruturais da nossa sociedade. A escolha desses temas provém de uma análise concreta e material da realidade da comunidade a qual a tecnologia social será aplicada.
Recursos Necessários
Espaços de formação com cadeiras e mesas;
Material de estudo (caderno, lápis, canetas, etc);
Publicação de textos e sistematização da experiência;
Recursos Materiais específicos do desafio assumido pela formação dos Agentes Populares (por exemplo: Agentes Populares de Alimentação: utensílios de cozinha);
Infraestrutura para a construção do instrumento fixo;
Resultados Alcançados
A metodologia de formação dos Agentes Populares está sendo replicada nos seguintes estados do Brasil: Ceará, São Paulo, Paraíba, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
Entre os anos de 2020 e 2023 foram construídas 48 cozinhas populares, 12 hortas comunitárias, 03 farmácias vivas, 22 bancos populares de alimentos, 40 turmas de formação de Agentes Populares (aproximadamente 1200 educandos em diversos estados e comunidades), 03 marmitaços, 20 toneladas de alimentos doados em 2020 (período de pandemia da Covid-19), com 500 famílias beneficiadas pelos alimentos e formação dos Agentes Populares de Saúde e de Alimentação.
Público atendido
Lideranças comunitarias
Adulto
Famílias de baixa renda
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