Problema Solucionado
Cerca de 60% das doenças infecciosas circulam entre animais e pessoas, a maior parte entre animais silvestres, como Febre Amarela, Mayaro, doença de Chagas e outras, e seus efeitos crescentes ameaçam tanto as pessoas como os animais. A relação entre a transmissão de doenças e as mudanças ambientais é complexa e está embutida nas imbricadas teias que unem diversos hospedeiros, vetores e parasitos. O Brasil, por abrigar em seu território parte significativa da biodiversidade global, tem o compromisso de preservá-la para as futuras gerações e enfrenta o desafio de se desenvolver com base nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). No entanto, as estratégias para monitoramento e previsão de ocorrência de enfermidades advindas da biodiversidade, especialmente em locais onde habitam populações vulneráveis, com acesso limitado aos serviços de saúde, são incipientes. Neste sentido, a estratégia desenvolvida pela plataforma SISS-Geo, integra pessoas, a partir dos preceitos da ciência cidadã, ao conhecimento tecnológico e à inclusão digital, ao desafio da participação da sociedade no monitoramento da circulação de patógenos e na prevenção do surgimento de doenças.
Descrição
A plataforma SISS-Geo foi desenvolvida a partir da necessidade do monitoramento de doenças que circulam entre animais silvestres e humanos e que, com os impactos antrópicos crescentes, acometem pessoas sem que os sistemas de vigilância em saúde e ambientais sejam capazes de percebê-los em tempo e agir precocemente. Seu desenvolvimento foi concebido com a contribuição de especialistas das mais variadas formações, desde pesquisadores que se debruçam sobre estudos moleculares, taxonômicos, clínicos, ecológicos, conservacionistas de diversos grupos, até comunicadores e estudiosos de modelos computacionais sofisticados.
Computacionalmente, o SISS-Geo foi construído pela parceria da Fiocruz com o Laboratório Nacional de Computação Científica – LNCC e baseado em premissas para o uso nas comunidades mais distantes e acessível às pessoas de pouca escolaridade e com equipamentos simples. A estrutura do aplicativo móvel foi desenhada para o sistema operacional Android, para ser executado em “smartphones” de reduzida configuração, consumindo pouco espaço de memória e processamento e, em especial, permitindo seu uso “off-line”, o que possibilita ser utilizado em áreas distantes, sem conexão de rede, valendo-se de georreferenciamento por meio do GPS do próprio aparelho. Muito além da elaboração dos preceitos de qualidade, o SISS-Geo foi aperfeiçoado em oficinas, a partir do treinamento e seu uso por comunidades tradicionais na Amazônia, na Bahia e Rio de Janeiro. As adaptações foram realizadas por equipe multidisciplinar e pela interação direta dos desenvolvedores, em campo, com os colaboradores com real proximidade à observação de animais silvestres. Os ajustes incluíram não só a linguagem, a disposição e tamanho dos componentes visuais ao manuseio do aplicativo por mãos acometidas pelo trabalho manual pesado, mas também a automatização de formulários de informações obrigatórias, de modo que a coleta de dados sobre o animal e sua localização fosse intuitiva e suavizada.
Quanto ao desenvolvimento computacional do SISS-Geo, destaca-se também o predominante uso de ferramentas de códigos abertos, garantindo a qualidade, transparência e redução dos custos de sua implementação, além da elaboração de soluções inovadoras para os desafios de construção, divulgação e implantação de um sistema capaz de atender diferentes públicos e nos mais distintos ambientes de aplicação. Atualmente a plataforma do SISS-Geo compõe-se do aplicativo móvel para Android, um conjunto de “webservices” concebidos para a generalização dos meios de acesso ao sistema, uma interface de disponibilização de dados e administração por acesso “Web”, o sistema de tratamento de dados e modelagem computacional de oportunidades ecológicas para ocorrência de zoonoses, além da implantação de sua versão móvel para o sistema operacional iOS.
O SISS-Geo é produzido com diversas linguagens de programação, mas predominantemente estão implementados em Java, C++, Python e Swift. Valendo-se ainda de plataformas de persistência de dados, segurança de informação e sistemas de informações georreferenciadas.
O SISS-Geo tem caráter inovador quando comparado à maioria dos sistemas de informação por ter inerente à sua construção a participação cidadã, não só na entrada de dados, mas também em seu avanço e adaptação continuada a partir do uso da sociedade. Entretanto, apesar desse cerne de desenvolvimento voltado para participação cidadã, o SISS-Geo integra em sua plataforma os dados coletados por meio dos “smartphones”, dados de pesquisadores e milhares de informações oriundas de camadas ambientais e de saúde. O relacionamento dessa grande massa de dados é trabalhado por meio de métodos de aprendizagem de máquina, produzindo modelos computacionais que indicam fatores de favorabilidade de ocorrência de zoonoses. Portanto, visa não só o monitoramento da fauna silvestre, mas também na prevenção de doenças.
Para atender as demandas dos acessos dos colaboradores ao SISS-Geo, conta-se hoje com quatro servidores de aplicação, alocados no LNCC e na Fiocruz. Além disso, conta-se com os recursos computacionais de alto desempenho alocados no LNCC, necessários aos processos de modelagem computacional, os quais manipulam mais de 12GB de dados e demandam de uma capacidade de processamento de mais de 10 TFlops (10 trilhões de operações por segundo). Novamente, reforça-se que apesar da aplicação final contar com métodos computacionais avançados e equipe altamente qualificada e multidisciplinar, todo o processo é derivado da participação da sociedade e a ela cabe não só o retorno das soluções obtidas, mas também o reconhecimento de seu ativo papel no processo de geração do conhecimento.
Recursos Necessários
A implantação inicial da plataforma SISS-Geo demanda de ampla infraestrutura computacional, para a qual foram necessários servidores de aplicação, banco de dados e recursos de computação de alto desempenho. Os servidores necessitam de capacidade computacional mínima de 4 TB de armazenamento, 64GB de memória principal e 400 GFlops (400 bilhões de operações por segundo) de processamento, além de estrutura de rede capaz de suplantar as demandas por conexões simultâneas e o acesso e armazenamento de dados e fotos. Nesse sentido, foram necessários os esforços da FIOCRUZ e do LNCC, e evidentemente das instituições financiadoras, para sua viabilização, especialmente para a geração dos modelos matemáticos de favorabilidade e previsão de doenças. Entretanto, após sua instalação, hoje em pleno funcionamento, a utilização do SISS-Geo em qualquer região do país demanda apenas de um “smartphone” com sistema operacional Android ou, ainda, acesso à página do projeto na Internet. Desta forma, o uso e a implantação em novas áreas limita-se apenas ao interesse de uso e da existência de uma conexão de Internet, um “smartphone” ou um computador.
Resultados Alcançados
Atuando em todo o Brasil, especialmente na Amazônia e Mata Atlântica o projeto inclui treinamentos para a utilização do aplicativo em 31 oficinas em comunidades indígenas e tradicionais e 6 cursos que contemplaram 1611 pessoas, homens e mulheres de todas as faixas etárias, entre estes: profissionais da saúde; profissionais da área ambiental e turismo, estudantes de diversos níveis; agricultores familiares; policiais do batalhão florestal, montanhistas, pesquisadores e interessados de modo geral. As atividades geram o aperfeiçoamento do sistema para melhor entendimento das telas, disposição de cores, botões e textos, a facilitação da navegação para pessoas com deficiência de leitura e pouca habilidade tecnológica e obtenção de versão mais leve e estável, garantindo assim a usabilidade por diferentes perfis de usuários. O resultado desta participação inclui 166 melhorias realizadas em 28 versões lançadas até maio de 2017. Atualmente o SISS-Geo conta com 1974 registros de animais, enviados por usuários de 19 estados brasileiros, a maior parte por colaboradores do Rio de Janeiro (67.2%), Bahia (12.4%), Pará (8.6%) e Minas Gerais (3.5%). A capacidade de alerta do SISS-Geo, em tempo real, permite a notificação de casos suspeitos de febre amarela em primatas à diversas secretarias de saúde estaduais, o que hoje se consolida com a parceria em andamento com o Ministério da Saúde para a utilização do SISS-Geo como ferramenta oficial para o registro de animais mortos e doentes de interesse da saúde humana. Os 10 mais colaboradores do SISS-Geo são premiados anualmente, dando visibilidade e a importância da participação de cada um, que se fortalece no contato pessoal, por meio do Fale Conosco no aplicativo e do Facebook Saúde Silvestre. O SISS-Geo nasceu como ferramenta integrada ao Centro de Informação em Saúde Silvestre - CISS, iniciativa coletiva e virtual, parte do Portal Fiocruz, para o aprofundamento da temática que envolve as relações da perda da biodiversidade com a saúde humana e o desenvolvimento sustentável. Atividades subsidiárias incluem materiais educativos, guias de boas práticas, vídeos, bibliografia selecionada e acessível, além de Boletim Informativo. O CISS registra 15.720 usuários, com 81.674 visualizações, de 1719 cidades de 104 países, com a participação de 33,9% de usuários do sexo feminino e 66,1% do sexo masculino e com a participação majoritária de adultos jovens de 18–34 anos (45,01%).
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