Problema Solucionado
No início do processo de construção das cisternas, com o objetivo de armazenar a água captada da chuva para o consumo humano, as primeiras orientações fornecidas às famílias beneficiárias foram de que elas deveriam desligar os canos nas primeiras chuvas, de modo que o telhado e a calha fossem lavados. Com essas orientações, só depois da primeira chuva é que os canos deveriam ser ligados para captar a água a ser armazenada nas cisternas. Com o passar do tempo e o acúmulo de experiências, foi possível avaliar que durante o intervalo de uma chuva para outra o telhado voltava a se contaminar por pássaros e pequenos lagartos e insetos que habitam os telhados das casas. Portanto, ficou evidente que a orientação de desligar os canos nas primeiras chuvas, embora tivesse sua importância, não era eficaz para assegurar a qualidade na água de beber, pois, o caminho da água em relação à cisterna, nos intervalos das chuvas, voltava a ser contaminado.
Descrição
Foi desenvolvida uma tecnologia social que possibilita maior potabilidade da água captada da chuva para consumo humano. A água utilizada para lavagem do telhado pode ser aproveitada para outras necessidades que não necessitem de uma excelente qualidade, em termos de potabilidade. A experiência consta de um reservatório, ao lado da cisterna, dimensionado, a partir da necessidade de água para lavagem do telhado. A necessidade de água para lavagem de um telhado é de dois litros por metro quadrado. Na parte inferior do reservatório, há um registro de passagem para possibilitar, após cada chuva, ser dada a descarga do líquido armazenado. Em um local nivelado a partir da altura da entrada da água na cisterna, é colocado um cano T, na descida do cano que está conectado na bica, de modo que uma parte é direcionada para o reservatório e outra para a cisterna. Na parte do T, que desce para o reservatório, é colocada uma garrafa PET de dois litros, aberta, com o bico para cima, encaixada no cano, bem próximo ao T, cortada 4,5 centímetros no bico e 8 centímetros a partir da parte inferior. No cano que desce para o reservatório, é colocada uma garrafa PET, de um litro, vazia e fechada, com o bico para cima, que funciona como uma espécie de válvula. Na parte de baixo do cano há um joelho que dá direção para o reservatório, de modo que a garrafa PET de um litro fica no pé do cano, na parte do joelho. Quando o reservatório atinge o limite a partir do nivelamento dimensionado a garrafa PET de um litro é acionada e, encontrando-se com a parte da garrafa de dois litros,veda a direção do T para o reservatório, permitindo que a água, com melhor qualidade em termos de portabilidade, tome a direção da cisterna. Com água armazenada no reservatório deve, após toda e qualquer chuva, ser feita a descarga, de modo que a garrafa de 1 litro, que funciona como válvula, volte para o seu lugar e o sistema possa funcionar bem na próxima chuva. A água da descarga pode servir para regar plantas, colocar na descarga dos banheiros, lavar roupas etc. Entende-se que inovações dessa natureza podem ser fundamentais, sobretudo, na atual conjuntura em que o meio ambiente começa a exigir um novo comportamento em relação ao uso sustentável dos recursos naturais. Nesse novo cenário, as famílias rurais precisam de ferramentas apropriadas, que permitam a otimização do uso dos recursos naturais, de modo a extrair deles o máximo para o atendimento de suas necessidades, de forma sustentável. A conjuntura ambiental que vive hoje a zona rural, sobretudo a região semiárida, impõe a necessidade de soluções ambientalmente sustentáveis que possam inspirar os agricultores e agricultoras a mergulharem num processo contínuo de inovação, buscando, sempre, o atendimento das necessidade, com sustabilidade ambiental. No processo de implantação da tecnologia social, as famílias que recebem apoio financeiro assumem o compromisso de devolver o apoio recebido para fortalecer um Fundo Rotativo Solidário existente na comunidade ou, quando ainda não existe, são estimuladas para a devolução que fará surgir um Fundo com a finalidade de que outras famílias possam, a partir da sensibilidade provocada pelo funcionamento da experiência, também ter acesso e oportunidade de instalar em sua cisterna uma tecnologia semelhante e, assim, ter acesso a uma água de melhor qualidade, sem contaminação, provocando impactos na saúde da família e, por conseguinte, na economia doméstica. Essa dinâmica permite o exercício da solidariedade e a co-responsabilidade dos participantes no processo de construção do desenvolvimento local. A gestão participativa permite outro olhar e um novo comportamento em relação aos recursos necessários a uma melhor e mais sustentável qualidade de vida. As famílias não são beneficiárias passivas, mas sujeitos que interagem entre si, na comunidade e para fora, na perspectiva de contribuir com a reaplicação da experiência, em outras comunidades, municípios e regiões.
Recursos Necessários
Cimento: 3 sacas; brita tipo cascalho: 7 latas; areia 18 latas, arame 12 1 Kg; ferro 5/16: 3 metros; registro de passagem de 25 milímetros 1, cano de 25 mm 0,5 metros: cano de 32 milímetros 0,5 metros; T de PVC 90 graus de 100 milímetros 1, joelho de PVC de noventa graus de 100mm 1: redução de 100X75mm: 3, joelho de 75mm: 6, cano de 75 milímetros, 3 metros; cano de 100 milímetros,: 3 metros; cola PVC grande: 1 tubo; T de 75mm, 01 e cal de pintura 5 Kg.
Resultados Alcançados
Esta Tecnologia Social foi também certificada pela Fundação Banco do Brasil na premiação de 2009; - Exercício de aprendizado permitindo a ampliação do saber e a construção de infraestruturas com condições de manejo adequado no processo de captação de água de chuva a ser armazenada em cisternas para o consumo humano, beneficiando 98 famílias e um total de 588 pessoas entre crianças, jovens, adultos e idosos; - Acesso a mecanismos adequados para 98 famílias captarem e armazenarem água de chuva, com qualidade para o consumo humano, elevando a autoestima e a confiança de que é possível mudar a realidade onde vivem sem agredir o meio ambiente; - Demonstração de eficiência, eficácia e efetividade no processo de captação de água de chuva através dos telhados das residências rurais, com aproveitamento otimizado para os diversos fins; - Exercício de inovação em uma tecnologia social, tornando-a instrumento eficiente e eficaz no atendimento das necessidades das famílias em relação ao processo de captação e manejo de água de chuva, através dos telhados das residências; - Fortalecimento de 30 Fundos Rotativos Solidários nas Comunidades Rurais, como espaços de emancipação e suporte para o desenvolvimento local, beneficiando aproximadamente 1.220 famílias participantes; - Difusão da experiência com jovens filhos de agricultores, alunos, professores e técnicos de ONGs e agricultores(as), somando um público total de 565 pessoas, sendo 306 mulheres e 259 homens; - Socialização da análise de água de cisternas com o sistema de boia e sem o sistema de boia com um público de 364 participantes, sendo: 179 homens e 185 mulheres; - Sistematização e produção de vídeos documentários sobre as experiências, como suporte para difusão e possibilidade de reaplicação , em escala, em outras comunidades, regiões e países; - Promoção do encontro de saberes com caminho inspirador para construção de tecnologias sociais adequadas com os potenciais e limites naturais de cada localidade; cada comunidade, cada propriedade, etc., está permitindo a adaptação às mudanças climáticas e convivência com a realidade semiárida. Evidentemente é uma estratégia que considera como relevante a transculturação no processo de diálogo, com vistas ao despertar dos integrantes das famílias e lideranças comunitárias como sujeitos sociais capazes de mudar a realidade onde estão inseridas; reaplicação das experiência no estado do Ceará, a partir de uma parceria com a ADEL e em Alagoas em Parceria com IABS.
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