Problema Solucionado
Historicamente caracterizadas por um baixo nível de acesso a serviços básicos, as comunidades ribeirinhas localizadas nas margens do Rio Tocantins e de seus afluentes são dependentes do rio para a geração de renda e para a obtenção de sua alimentação, principalmente àgua potavel.
Nos municípios afetados pela construção da barragem de Tucuruí (Pará) a diminuição da velocidade do fluxo do rio Tocantins, juntamente com o aumento da população ribeirinha, tem determinado a diminuição da capacidade de absorção pelo ecossistema dos agentes patógenos veiculados pelos dejetos humanos e animais, causando surtos de doenças gastroenterológicas e infecciosas.
Diferentes iniciativas públicas e privadas têm tentado amenizar a situação importando nas comunidades tecnologías de saneamento e potabilização, registrando, porém, sucessos escassos, especialmente por causa da grande demanda em termos de gestão e manutenção que estas geram para as comunidades.
Este quadro é comum a inúmeras comunidades ribeirinhas na Amazônia, impulsionado pelos megaprojetos de aceleração do desenvolvimento econômico, tais como as usinas hidroelétricas de Belo Monte e Rio Madeira e a Hidrovia Araguaia-Tocantins.
Descrição
Entre 2011 e 2013 a UCODEP tem desenvolvido uma metodologia de identificação de soluções para o acesso à água potável e ao saneamento básico baseada num processo participativo de analise das condições de acesso aos recursos hídricos, da capacidade da comunidade de gestão e manutenção e dos recursos humanos e materiais disponíveis, que conduz à implantação de tecnologias especificas para cada comunidade.
A partir da apresentação de um leque de técnologias de baixo custo e de simples implantação e manutenção è iniciada uma discussão dentro da comunidade que visa identificar as soluções mais adequadas para a realidade local, buscando o direto envolvimento dos membros de grupos e associações na definição e, posteriormente, na implantação e manutenção. O processo, também graças ao direto envolvimento de pedreiros, carpinteiros e encanadores presentes na comunidade, leva à formatação de sistemas únicos, baseados na associação de diferentes tecnologias e à sua adaptação às exigencias e experiências locais.
Este processo de construção coletiva leva ao empoderamento das comunidades envolvidas, favorecendo não somente a posterior manutenção dos sistemas, mas também a reprodução autónoma em outras comunidades das tecnologias implantadas .
O processo de definição e implantação é acompanhado pela realização de palestras sobre higiene pessoal com foco no uso da àgua no preparo de alimentos e na saúde da mulher e da criança e pela distribuição de cartilhas didáticas desenvolvidas pela própria UCODEP.
O sistema é encentrado na tecnologia do filtro lento de areia, que constitui o coração de uma estrutura de purificação de água constituida por tres estágios de tratamento. O primeiro estágio, que constitui a maior invação introduzida na região pelo sistema, prevê a decantação da àgua sugada do rio através de uma bomba eletrica ou diesel por meio da utilização de sulfato de alumínio. O sulfato (atualmente utilizado pela maioria dos sistemas urbanos de tratamento) favorece a floculação da sujeira presente na água e elimina a terra nela suspensa que, caso contrário, determinaria o entupimento do filtro e a consequênte demanda de manutenção contínua. O sulfato não é soluvel em água, e não constitui perigo para a saúde humana.
No segundo estâgio, o filtro lento de areia (que utiliza somente materiais disponíveis localmente como areia, brita e carvão) purifica a água através de uma tríplice ação mecânica, biolôgica e térmica, garantindo a eliminação de 99,5% dos microorganismos presentes.
Enfim, no terceiro estágio a água e armazenada numa caixa de polietileno, onde a àgua pode ser ulteriormente tratada com hipoclorito de sodio (que, porém, na maioria dos casos, os comunitários recusam utilizar por causa da alteração do sabor da água).
A estrutura utiliza somente componentes disponíveis no mercado local e não precisa de peças de reposição de difícil aquisição. A manutenção é limitada a uma rápida limpeza diária da caixa de decantação e a uma periódica renovação do filtro de areia (rapida e sem custos de materiais).
Opcionalmente, a estrutura pode ser coberta com telhas plásticas e equipada com calhas para permitir a captação de àgua de chuva, garantindo quantidades adicionais para a comunidade.
A estrtura tem se demonstrado eficaz também para eliminar o excesso de ferro na água e, numa sua variante mais simples que não utiliza a caixa de decantação, tem sido adotada por algumas comunidades.
Considerando o fato que os dejetos humanos constituem a principal fonte de poluição da água do rio, o sistema é integrado por fossas sépticas adaptadas às regiões de várzea (semi inundadas) construidas com manilhas de cimento ou com ferro e tijolos (dependendo, principalmente, das condições de acesso à comunidade). As fossas são sigiladas na parte superior para evitar o vazamento de poluintes e possuem 3 secões de tratamento dos dejetos: uma caixa de gordura, um decantador e um filtro. Os liquidos são lançados no solo somente depois de passar por camadas de areia e carvão (eventualmente activado, produzido a partir de casca de coco), sendo que o proprio terreno garante uma ulterior filtragem dos liquidos antes da volta nas água dos rio.
Nas areas de terra firme, o Sistema adota fossas ecológicas que, contrariamente às fossas convencionais construídas na região, são vedadas em sua parte inferior para evitar o vazamento de poluintes e a consequente contaminação do lençol freático. As fossas são compostas por uma estrutura interna em tijolos que retém os resíduos sólidos (caixa de gordura) e por um filtro de areia e carvão que abate a carga bacteriana antes que a parte líquida dos efluentes chegue em superficie, onde são plantadas especies vegetais a folha larga (bananeiras, aboboras e melancias).
Recursos Necessários
A descição dos materiais varia conforme definição comunitária das tecnologias a implantar. Basicamente, os materiais necessários são:
- Para montar uma estrutura de purificação de água com captação de água de chuva com capacidade de purificação de 1000 lts/dia: 50 ud. arruela lisa, 5 ud barra rosqueada zincada 3/8, 3 ud esteio de acapu quadrado 4 mt, 6 ud esteio de acapu quadrado 6 mt, 24 esteio acapu 3 mt, 2 frechal 4 mt, 3 pernamanca 3 mt, 50 porca porca 3/8x9/16, 2 kg prego 1/2x13, 4 kg prego 2x12, 5 kg prego 19x33, 4 dúzias tabua assoalho bruta, 4 dz ripa angelim 5 mt, 4 dz tabua parede bruta 3 mt 1, 4 dz tabua parede bruta 3 mt 2, 3 ud tubo hidraulico 25 mm, 2 ud caixa de agua 1000 lts, 1 ud aixa de agua 2000 lts, 10 ud frechal 4 mt, 6 ud frechal 8 mt, 30 ud telhas fibra 1,22x0,50, 20 ud joelhos, unioes, adaptaçoes 25 mm, 2 ud Boias 25 mm, 9 mt Tubo hidraulico 150 mm, 8 ud suporte calha,1 ud T 150 mm,2 ud joelhos 150 mm,1 ud registro 100 mm,1 ud bomba eletrica 3/4 CV, 20 mt mangueira,1 disjuntor, 25 mt fio eletrico, seixo carvão e areia.
- Para montar uma fossa séptica em área semi inundada (para uma ou duas habitações): 6 manilhas diametro 1X1 mt, 2 tampas de cimento 1,5 mt, 10 mt cano PVC 100 mm, 2 uniões 100 mm, 3 mt cano 50 mm, 1 saco de cimento, 1 metro de tela plástica, seixo carvão e areia.
- Para montar uma fossa ecológica (uma habitação): 500 tijolos furados, 1 saco de cimento, 3 mt cano 50 mm, seixo carvão e areia, mudas de plantas a folha larga.
Resultados Alcançados
Análises bacteriológicas realizadas sobre a água de rio antes e depois do tratamento têm evidenciato o desaparecimento total dos coliformes fecais e de Escherichia Coli, principais indicadores de contaminação das águas destinadas ao consumo humano. Segundo relatos dos agentes de saúde das comunidades beneficiadas pelos sistemas, depois de sua instalação tem se registrado uma sensivel diminuição de casos de doenças gastrointestinais e infecciosas como diarreias, hepatites e verminoses.
O sucesso do sistema é testemunhado, principalmente, por dois fatores. O primeiro é a permanência em funcionamento do mesmo nas comunidades onde foi implantado, garantida pela constante manutenção realizada localmente.(a falta da qual determinou a falência dos demais equipamentos implantados no passado).
O segundo é a reprodução de suas componentes em várias comunidades dos municípios de Igarapé Miri, Abaetetuba e Cametá (estado do Pará) com recursos próprios dos comunitários e, em alguns casos, com a assistència técnica da UCODEP. Neste caso, os sistemas variam em dimensão e componentes, conforme exigências e disponibilidades dos beneficiarios.
Atualmente, as estruturas de purificação de água, além de abastecer as famílias dos locais onde estão implantados, constituem uma referência para as comuidades localizadas nas proximidades, que, nos momentos mais criticos para a disponibilidade de água potável (como a estação seca, quando a diminuição do fluxo de água do rio aumenta a concentração de poluintes na água) se abastecem graças à água garantida pelo Sistema.
O sistema hoje, depois de mais de 4 anos de funcionamento e de adaptações, se encontra num estágio maturo, pronto para ser reproduzido nas demais comunidades da região.
Tecnologias Sociais Semelhantes
Adolescentes Protagonistas
Saneamento Básico Na Área Rural - Fossa Séptica Biodigestora
Secador Solar De Madeira
Resgatando Gerações: Medidas Socioeducativas Aos Adolescentes Infratores