Problema Solucionado
O Território da Cidadania do Baixo Tocantins, tem sua economia baseada no agroextrativismo e agricultura familiar, sendo os principais produtos açaí, pescado, farinha de mandioca e pimenta do reino,. Essa região vivenciou a crise dos ciclos econômicos de exploração da borracha, cacau e mais recentemente pimenta do reino, e a crise ambiental após a instalação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, que alterou o ecossistema, diminuindo o pescado.
A crise gerou reações da população local que buscou alternativas para melhorar as condições sociais, ambientais, econômicas e técnicas. A conquista do crédito e elaboração dos projetos pela assistência técnica estatal com introdução de pacotes tecnológicos implantados por muitas famílias como: projetos de monoculturas como a Pimenta do Reino, Coco, Muruci, Graviola, Acerola, Cupuaçu, associada à utilização de adubos químicos e defensivos agrícolas sem orientação técnica agravou a crise ambiental na região. A substituição da mata para introdução dos projetos de créditos aumentou ainda mais o desequilíbrio ecológico, agravado com derrubadas para exploração de madeira e plantio da lavoura branca no sistema de derruba e queima.
Descrição
1. Formação inicial em grupos nas comunidades rurais; 2. Formação de uma Rede de Agricultores/as Multiplicadores/as das inovações e discussões realizadas na formação inicial.
Os passos para estabelecer o programa de formação ocorreram inicialmente pela realização de diagnósticos (identificação de demandas, problemas, inovações já existentes nas práticas produtivas), resgate de conhecimentos locais que haviam sido deixados de lado em função da implementação dos projetos de crédito. A partir das demandas e problemas levantados pelos agricultores, agricultoras e agroextrativistas iniciou-se a organização de grupos de famílias que juntamente com os educadores técnicos/as passaram a discutir e buscar as soluções levantadas através de reflexões e inovações adaptáveis à realidade local; ao fim de cada momento de formação instala-se uma unidade experimental para que educadores técnicos e agricultores/as pudessem acompanhar e discutir sobre aquela produção, sua adaptação ou não ao ecossistema local. Essa primeira fase da formação permite que a comunidade e os educadores identifiquem sujeitos locais (agricultores/as e agroextrativistas) que desenvolvem habilidades técnicas e políticas para atuarem em suas comunidades como multiplicadores/as dos conhecimentos desenvolvidos na primeira fase de formação. Esses multiplicadores/as são escolhidos/as pela comunidade, a partir de uma série de critérios debatidos no grupo.
Os/as multiplicadores/as se organizam em rede municipal, com uma comissão coordenadora, que tem a assessoria da APACC. Os objetivos da rede são:
Formação continuada e multiplicação de conhecimentos e práticas produtivas, adaptáveis aos sistemas de produção;
Organização em rede para buscar apoio no desenvolvimento de ações na comunidade e sustentabilidade; participação nas políticas públicas e controle social dos serviços públicos voltados para a produção familiar do campo;
Comunicação/Mobilização nas comunidades e em nível municipal para o envolvimento de outros sujeitos nesse processo; divulgar as experiências como forma de buscar reconhecimento e visibilidade da rede dentro e fora do município.
No processo de formação com os/as multiplicadores/as, além da discussão das temáticas especificas inerentes aos sistemas de produção, também se discute os elementos que norteiam sua atuação metodológica, diferenciando-se da assistência técnica convencional, que se pautava na transmissão de conhecimentos acabados e acompanhamento e fiscalização de operações de crédito agrícola.
Nos projetos de assessoria técnica na região o que mais se observa é a dificuldade da adoção de práticas inovadoras a partir de capacitação/formação, mesmo relacionadas à produção agroecológica. A proposta de construção de parcelas/unidades experimentais no projeto de Formação de Multiplicadores/as como parte integrante da capacitação, pesquisa e reflexão por parte dos agricultores/as fez com que os mesmos participassem efetivamente da construção do conhecimento agroecológico. Este momento tornou-se muito importante na formação dos/as multiplicadores/as, pois despertou e amadureceu seu senso de pesquisa e inovação, além de aumentar sua autoestima por se sentirem responsáveis pela resolução de problemas coletivos a partir do saber tradicional acumulado ao longo dos anos.
Recursos Necessários
1 Barco (deslocamento) para áreas totalmente de ilhas que pode ser próprio,01 moto e 01 carro para áreas com acesso para áreas de várzeas altas e áreas de terra firme;
2 Computadores sendo 1 com impressora; materiais de escritório para monitoramento e arquivamento das avaliações das unidades de produção e acompanhamento e monitoramento das unidades produtivas nas comunidades;
- Cadernetas anuais de anotações;
- Material pedagógico para atividades de capacitação e formação;
- Materiais específicos para cada tipo de implantação de 1 unidade experimental de produção;
- Equipe técnica, coordenação e pessoal de apoio;
- Média de R$ 600.000,00 (Seiscentos Mil Reais) a R$ 800.000,00 (Oitocentos Mil Reais) levando em consideração as especificidades e região.
Resultados Alcançados
Diversificação da produção, através da gestão e planejamento das propriedades;
Transição para a Agroecologia em áreas de terra firme e maior consciência sobre preservação ambiental;
70% dos agricultores e agroextrativistas que participaram dos processos formativos fazem o aproveitamento de matéria orgânica para adubação;
Recuperação da fertilidade do solo com uso de leguminosas;
Implantação de consórcios e sistemas agroflorestais com sombreamento de pimentais;
Produção e plantio de mais de 500 mil mudas de frutíferas e essências florestais;
Aumento de 70% de áreas de açaizais nativos manejadas; Aumento em 275% da produtividade do açaí por hectare;
Aumento em 200% da renda na produção do açaí;
Criação de peixes em 300 tanques, alimentados com ração alternativa (produzida na propriedade);
Fabricação de rações alternativas com aproveitamento de produtos naturais da propriedade;
Mais de 80 apicultores e meliponicultores, média de 500 colmeias de abelhas;
Agricultores se organizam e com apoio da APACC e Cooperativas comercializam através do Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal , gerando renda familiar e processos organizativos.
APACC apoia a criação de associações comunitárias tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável e a organização comunitária;
Através de reivindicações a energia elétrica já chega a várias comunidades facilitando a conservação dos produtos produzidos;
APACC assessora organizações do território, entre elas organizações de mulheres para acesso a projetos de compra de equipamentos para facilitar o beneficiamento de produtos;
Constituição de novas parcerias para o fortalecimento da agricultura familiar;
Organização de feiras da produção familiar agroecológica e economia solidária com o intuito de divulgar e gerar renda;
Fortalecimento do debate de gênero na agricultura familiar;
Fortalecimento dos grupos comunitários para segurança alimentar;
Sistematização de experiências sobre multiplicação de conhecimentos;
Afirmação de parcerias com universidades refletindo sobre as práticas alternativas de produção e organização;
Agricultores multiplicadores multiplicam conhecimentos em outras regiões;
Os resultados da experiência provocam nas organizações e nos sujeitos locais maior conscientização ambiental no sentido de produzir e preservar para poder gerar processos organizativos e de geração de renda de forma sustentável;
A TS Redes Tecendo Saberes atualmente se articula a uma rede ainda maior chamada de Rede Jirau de Agroecologia fazendo a sinergia com várias organizações.
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