Problema Solucionado
Esta tecnologia nasceu a partir da constatação da invisibilidade das mulheres do rio Tupana, localizado no município do Careiro no Amazonas,frente à sociedade e à economia local,além da extrema vulnerabilidade socioeconômica a qual estavam sujeitas suas famílias.Careiro localiza-se na área de influência do trecho norte da Rodovia BR-319 que,segundo o IPEA, possui um IVS (0,543) muito alto e um IDH (0,557) baixo, apesar do PIB regional ter crescido aproximadamente 210% entre 2005 e 2014.A economia é baseada no emprego público 51% e em atividades ligadas à agricultura familiar e ao extrativismo florestal.A renda familiar costuma ser inferior a 50% do salário mínimo;60% da renda média familiar tem origem nos programas sociais governamentais.Quase não há atividades voltadas à saúde e bem estar da mulher,por exemplo,só há consulta com médico ginecologista a cada 15 dia em um município cuja população feminina adulta é de aproximadamente 8.000 mulheres,preventivos quando realizados são limitados,não atendendo parte da demanda.Não há um local específico e nem profissionais aptos para o atendimento em casos de violência contra a mulher, em um município que apresenta alto índice de viole
Descrição
As ações do projeto buscam sobretudo desconstruir valores que reforçam as desigualdades de gênero, salvaguardar os saberes e as tradições locais, proporcionar às mulheres que vivem na floresta amazônica uma vida mais digna, utilizando e conservando os recursos naturais da região em seu proveito e promovendo a geração de renda. Para iniciar o projeto, foi realizado um levantamento para identificar os problemas e potencialidades das comunidades situadas às margens da BR 319, resultando nos seguintes apontamentos: desvalorização da mulher como trabalhadora na unidade familiar, violência/abuso verbal, psicológico e sexual, incesto, êxodo dos jovens para os centros urbanos do entorno, diminuição da renda familiar, risco de extinção das manualidades tradicionais. Entre as potencialidades, a possibilidade de resgatar e salvaguardar os saberes manuais, a matéria-prima abundante, a demanda crescente do mercado de moda e design para produtos tradicionais, feitos à mão, com origem e propósito. E a construção de uma rede de atuação de distintos atores.Partindo dessas premissas, definiu-se a estratégia de ação em 4 processos, tendo como inspiração a metodologia de Paulo Freire para executá-las: Mobilização, Capacitação, Comercialização e transversalmente o Estabelecimento de Parcerias. (i) Mobilização: visando modificar o quadro de produção atual, que é apenas para a subsistência, propondo o resgate e a produção com vistas à manutenção das práticas e da tradição, permitindo que as mulheres trabalhem em suas próprias casas. O processo tem três etapas principais: promoção de encontros informais e visitas às comunidades para identificar o potencial da produção artesanal; diálogos entre as artesãs, sensibilizando-as para as potências da prática do trabalho artesanal e identificação dos objetos produzidos pelas artesãs, levando-se em conta, acima de tudo, sua identidade cultural; (ii) Capacitação: foram propostos vários cursos, oficinas e encontros para troca de saberes e experiências, com temas variados como: criação, produção de artesanato local atrelado ao design contemporâneo, acabamento com foco no beneficiamento e transformação dos produtos (visando sua adequação ao mercado, principalmente no que tange a tamanhos e padrões), desenvolvimento de novos produtos, criação de catálogo de produtos, criação de etiquetas que identificassem a origem e forma de produção dos produtos, associativismo, trabalho coletivo, gestão da produção, economia solidária, formação de preços, gênero e valorização da mulher, encontro de mulheres, formação de rede e alfabetização de mulheres, comunicação e marketing, fotografia, uso de redes sociais (iii) Comercialização: primeiramente houve uma escuta entre as mulheres para a escolha do nome da marca, que denominou-se “Teçume”. Em 2017, passou a se chamar ˜Teçume da Floresta˜, que também é usado para denominar o projeto e o coletivo formado por mulheres artesãs. Cabe destacar que uma parte delas não sabia ler e nem escrever; para cobrir esta demanda, foi executado um outro projeto voltado à alfabetização das mulheres adultas, chamado ROSAs (Regando os Saberes), propiciado pela venda de bolsas, a ação “Bolsa Escola”, um crowdfunding feito com a ajuda de influenciadores. Depois de um processo de alfabetização de aproximadamente 8 meses, elas sabiam finalmente escrever seus nomes e usar as operações matemáticas básicas para assumirem a comercialização de seus produtos. Inicialmente, elas comercializavam em feiras locais de Manaus, como a AGROUFAM - Feira de Agroecologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Posteriormente, vieram alguns pontos de venda, resultados de parcerias com marcas nacionais; (iv) Estabelecimento de parcerias: diferentemente dos demais processos, este não ocorre de forma isolada, ele transpassa por todos. Cada processo contou com a apoio de inúmeros atores governamentais, da sociedade civil e pessoas físicas, como: Prefeitura Municipal, movimento das PLPs Careiro (Promotoras Legais Populares), voluntários como a designer Luciana Viana e Jeff Ares, diretor da consultoria de Comunicação Pedra, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, SEBRAE, Secretaria de Estado do Trabalho – SETRAB e outros parceiros, partindo então, para parcerias com marcas importante para comercialização das peças foram estabelecidas. EM RESUMO, o projeto Teçume, é um processo conduzido por mulheres, que trabalha toda a cadeia do artesanato (da produção à venda final) de forma sustentável. Uma metodologia que pode ser aplicada para resolver: (i) vulnerabilidade socioeconômica; (ii) falta de oportunidade de trabalho e renda; (iii) invisibilidade sócio econômica da mulher; (iv) o risco de desaparecimento de tradições manuais e a necessidade de valorização da cultura local. Esta tecnologia se aplica a toda e qualquer comunidade rural ou urbana, comunidade ribeirinha, tradicional, indígena ou quilombola onde há reminiscências de artesanato tradicional e matéria-prima disponível.
Recursos Necessários
Um espaço de trabalho/aprendizado apropriado (igreja, sala de aula, chapéu de palha).O local deve ter espaço para servir alimentação (almoço e um pequeno lanche.As oficinas e encontros são realizados de 08h as 17h, com 1h de almoço.Equipamentos de som,notebook, data show, máquina fotográfica ou celular,flipchart ou quadro branco;Mat.de expediente e consumo: papel, caneta, lápis, cartolina, papel A4, pincel para quadro branco, cola branca, cola transparente, cola para artesanato,tesoura,canivete,estilete,fita crepe e fita para empacotamento, lixa de no.200 ou superior,barbante,mesas e cadeiras;Mat.prima local e ferramentas apropriadas (variando conforme o artesanato produzido e da necessidade para extração e manuseio da matéria prima).Deslocamentos,Hospedagem e alimentação,: passagem aérea (quando o instrutor vem de outros estados ou de cidades dentro do estado); deslocamento terrestre – aeroporto-hotel-comunidade-hotel-aeroporto; passagem terrestre e fluvial;Hospedagem e alimentação para instrutores, deslocamento terrestre e fluvial para as artesãs (quando necessário); alimentação para os dias eventos, em geral são 3 dias (almoço e lanche). Infraestrutura produtiva e de comercialização:cadeiras,bancadas de trabalho,embalagens adequadas;ferramentas de trabalho.RH:instrutores(designer),profissional da área de marketing,consultoria para desenvolver plano de negócios,auxiliar administrativo,cozinheira coordenador do projeto, assessoria aos grupos por 12 meses.
Resultados Alcançados
Em execução desde o ano de 2015, já foram capacitadas aproximadamente 30 mulheres para a produção de artesanato usando fibras naturais. Dessas, aproximadamente 11 formaram o Coletivo “Teçume da Floresta”, outras saíram e produzem quando possível seus próprios objetos. Os resultados são constatados por meio da amostra de 5 mulheres acompanhadas ao longo dos anos: aumento da renda das mulheres em mais de 200%; superação da extrema pobreza; 100% das mulheres tornaram-se a principal geradora de renda na família; iniciativas na tomada de decisões familiares; visibilidade nacional e internacional para as mulheres e o artesanato produzido; envolvimento de toda família na cadeia produtiva; técnicas manuais sendo passada de mãe para filha (envolvimento e participação das jovens). Parcerias com marcas importantes do mercado da moda nacional e internacional, como Diane Von Fustemberg, Yael Sonia, Cris Barros, FIT, Giuliana Romano, Rima Casa, etc; como Em 2018, o coletivo vendeu em torno de 70 mil reais e já nos primeiros meses de 2019, aproximadamente 60 mil reais. Muito mais que demonstrar números, a qualidade que se logrou na vida das participantes com a execução da tecnologia, saindo de uma visão estagnada para uma caminhada de crescimento pessoal, intelectual, social e econômico, tornando-se empreendedoras não só de um negócio social, mas também em suas vidas. Em 2015, recebemos o primeiro lugar no prêmio Professor Samuel Benchimol do Banco da Amazônia de Empreendedorismo Consciente. Em 2019, os produtos foram expostos no Salão Internacional do Móvel de Milão, que é referência mundial no setor de móveis domésticos e objetos de decorações.
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