Problema Solucionado
Os agricultores familiares do município de Remígio- Paraíba, grande produtor de algodão até meados da década de 80, sofreram com a praga do “bicudo” a partir de 1984 . Graças ao aparato tecnológico montado para o combate à praga, alguns agricultores continuam cultivando o algodão, utilizando agrotóxicos, enquanto muitos deixaram de plantar. Devido aos custos altos, o cultivo de algodão decaiu sensivelmente em Remígio. No ano de 2005, porém, surge uma iniciativa de produção de algodão sem o uso de veneno, experiência desenvolvida pelos agricultores do Assentamento Queimadas.
Descrição
Para que agricultores e agricultoras familiares participassem ativamente do processo e para envolver nisso a comunidade, foram organizados pelo projeto alguns eventos: intercâmbios, Dias de Campo sobre o Algodão Agroecológico e Seminário Regional sobre o Algodão. Os intercâmbios tiveram como objetivo levar agricultores familiares de uma região para conhecer novas experiências em outra, a fim de viabilizar a troca conhecimentos locais. O conhecimento repassado pelos próprios agricultores através das visitas contribuiu na formação continuada das famílias, uma vez que as visitas serviram para mostrar experiências de outros agricultores sobre o manejo agroecológico, convivência com as pragas, confecção de produtos naturais e a utilização de fertilizantes naturais. A realização de um Dia de Campo sobre Algodão Agroecológico, em que acontecem seminários e festas, foi estratégica, por exemplo, para validar e disseminar as práticas que estavam sendo utilizadas no Assentamento Queimadas na produção de Algodão Orgânico. As apresentações foram feitas pelos agricultores como forma de estimular o processo de apropriação do conhecimento inclusive para os visitantes do seminário. O processo de transição agroecológica das unidades de produção familiar vinha sendo trabalhada desde o ano de 2005, sendo alcançando resultados favoráveis nas áreas de produção de algodão orgânico a partir do ano de 2006. A transição agroecológica partiu de proposta baseada na adoção de um modo de produção que tem como princípio a preservação dos recursos naturais. A estratégia utilizada foi a realização de oficinas de capacitação em manejo agroecológico das unidades de produção, controle alternativo de pragas, uso de produtos naturais, plantio de mudas de árvores e discussão sobre o processo de certificação e comercialização do algodão orgânico. O I Seminário Regional do Algodão Orgânico foi realizado pela Embrapa Algodão em parceria com a ONG Arribaçã, aconteceu em Lagoa Seca – PB no mês de outubro de 2006 e contou com a presença de agricultores familiares, instituições dos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Paraíba. Nesse seminário, foi possível socializar as experiências realizadas pelos agricultores e pelas instituições presentes. Essa rede também teria o objetivo de gerar elementos que subsidiem a construção de canais de comercialização para o algodão orgânico (entre outros produtos da agricultura familiar) bem como fortalecer os canais de comercialização existentes. A Festa da Colheita do Algodão Agroecológico já foi realizada em duas edições nos anos de 2008 e 2009. O evento teve como principal objetivo resgatar os valores que constroem a identidade dos agricultores e agricultoras familiares do Território da Borborema, fortalecendo o sentimento de pertencimento. Sendo assim, os agricultores mostram a sua força cultural, proporcionando um engrandecimento sociocultural, que resgata valores e efetiva o protagonismo das populações rurais na difusão de sua cultura. Por outro lado, o evento veio divulgar as técnicas e práticas de cultivo de algodão agroecológico, buscando novas parcerias de mercado, além de difundir a produção para outros municípios a fim de possibilitar a novos agricultores e agricultoras familiares a inserção nesse novo modelo de produção.
Recursos Necessários
-Acompanhamento técnico (Reuniões comunitárias, visitas de campo, mobilização);
-Transporte (para o acompanhamento técnico) ;
-Realização de visitas de intercâmbios;
-Seminários regionais;
-Dias de campo;
-Mutirões(plantio, tratos culturais, colheita e beneficiamento);
-Capacitação (sobre a produção de produtos naturais, conservação de solo e águas, práticas agroecológicas);
-Equipamentos (pulverizadores, tambor plástico, trena, nível, luvas);
-Oficinas de Confecções de produtos naturais;
-Material didático (Cartolina, pincel atômico, papel 40kg, papel madeira);
-Materiais de divulgação (Boletins, Cartazes, Folder, Faixas, Banner).
Resultados Alcançados
Em 2006 o projeto teve a participação de 18 famílias de agricultores. Buscando um comércio justo, o projeto conseguiu negociar o algodão agroecológico por um valor de 25% acima do que é pago pelo algodão convencional. O processo de certificação aconteceu mediante inspeção do Instituto Biodinâmico (IBD), acompanhado pelas instituições proponentes e parceiras do projeto.
No ano de 2007, o projeto foi ampliado para novos municípios, com 50 famílias de agricultores, totalizando em média 100 hectares de algodão agroecológico. Nesse período, os agricultores resolveram comercializar o algodão orgânico em pluma. O descaroçamento foi realizado em uma mini-usina no Assentamento Margarida Alves localizado no município de Juarez Távora – PB. Nesse mesmo ano, os agricultores, além de plantar algodão branco para ser vendido a YD Confecções, cultivaram algodão colorido, para ser vendido à COOPNATURAL, com uma produção de 30 toneladas de algodão orgânico (branco e colorido) - vendidos a R$4,00 kg/pluma/algodão branco e R$5,00 kg/pluma/algodão colorido, enquanto o algodão convencional era comercializado na Paraíba por R$2,00 kg/pluma/algodão. No ano de 2008, foi criada a “Rede Paraíba de Algodão Agroecológico”, constituída por diversas instituições como: sindicatos de trabalhadores rurais das cidades de Remígio, Solânea, Casserengue e Areial, Pólo Sindical da Borborema, SEBRAE, Emater, Secretarias de Agricultura de Diversas Cidades, Embrapa Algodão, ONGs como Arribaçã, ASP-TA, PATAC, empresas compradoras de algodão, COOPNATURAL e COEXIS. Tal integração ampliou as discussões acerca das estratégias e experiências acumuladas por esses atores sociais. Neste ano, a produção de algodão agroecológico contou com a participação de 21 produtores, seguindo as mesmas demandas do ano anterior, em uma área total de 30 hectares. A produção em rama foi de 7.937 Kg de algodão branco e 1.363 Kg de algodão colorido. Em pluma foram produzidos 3.077 Kg de algodão branco e 458 Kg de algodão colorido.
No ano de 2009, houve uma produção de 9.900 Kg de algodão branco em rama e 2.932 Kg de algodão colorido. Em pluma a produção foi de 5.024 Kg de algodão branco e 1.126 Kg de algodão colorido, em uma área de 107 hectares com a participação de 38 agricultores.
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