Programa Imagens Do Povo

por `Observatório de Favelas do Rio de Janeiro`

Vencedora 2013

Educação Renda

Resumo

O Imagens do Povo é um programa de documentação, difusão e formação em fotografia popular que alia a prática fotográfica à promoção de direitos à democratização da comunicação e a questões sociais, registrando o cotidiano das favelas e outros territórios periféricos e populares através de uma percepção crítica, que leve em conta o respeito aos direitos humanos e a cultura local. Fundado em 2004 pelo Observatório de Favelas em parceria com o fotógrafo documentarista João Roberto Ripper, o Programa realiza as seguintes ações: Escola de Fotografia Popular, Oficinas Livres, Acervo Digital de Fotografia Popular, Agência IP e Galeria 535.

Objetivo

O objetivo central do Imagens do Povo é criar novas representações sobre favelas e periferias contribuindo para desconstruir os estigmas relacionados a estes territórios.

Problema Solucionado

Sensacionalismo, pobreza e violência caracterizam o olhar tradicional sobre as favelas. Entretanto, isto está longe de dar conta da riqueza que é a experiência de vida posta em curso nestes espaços. Esta visão está ancorada numa representação hegemônica dos espaços populares como territórios sem vida, marcados pela ausência. Seriam espaços que se contrapõem a civilização. Esta representação não simplesmente recai sobre os territórios, mas também sobre seus moradores, que passam também a ser considerados como incapazes de gerir sua própria vida com dignidade. O Imagens do Povo atua exatamente para mostrar que estes territórios não são territórios da ausência, mas possuem enorme potência e que seus moradores construíram trajetórias de resiliência, demonstrando imensa capacidade de construir projetos de futuro. Assim, a formação de fotógrafos e documentaristas populares atua em dois horizontes distintos, porém articulados, ou seja, a contribuição para a construção de novas representações sobre os espaços populares da cidade e ao mesmo tempo para a qualificação profissional que favorece a uma inserção mais qualificada no mercado de trabalho de jovens de origem popular. A percepção da imagem como recurso de ratificação de discursos pejorativos sobre o território popular e seus habitantes têm dado lugar ao reconhecimento social da profissão, como ferramenta na garantia de direitos e um serviço a ser apropriado pela população na cobertura dos mais variados eventos e assim contribuindo para a salvaguarda do direito à memória

Descrição

O programa desenvolve ações nas esferas da educação, comunicação e cultura apresentando a fotografia como técnica de expressão e visão autoral da sociedade. Busca-se, assim, materializar uma fotografia engajada e solidária, capaz de denunciar as dificuldades das populações economicamente excluídas, sem deixar de destacar sua altivez, sensualidade e beleza. Esperamos contribuir para o reconhecimento do talento de moradores de comunidades populares, auxiliando-os no auto-conhecimento, na inclusão social e na qualificação profissional. A escola obteve reconhecimento da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal do Rio de Janeiro que passou a conceder diplomas aos formandos. Como parte da política de formação continuada do Programa, aqueles que desejam ingressar no meio profissional da fotografia jornalística / documental contam com a intermediação da agência no que diz respeito a treinamento e contato com clientes externos, seja disponibilizando fotografias do Acervo Digital de Imagens Populares, seja na encomenda de serviços fotográficos. A Escola de Fotografia Popular se propõe a reunir um contingente de alunos oriundos de comunidades populares e capacitá-los a desenvolver, através da fotografia documental, um olhar crítico sobre seus territórios de origem. Ao longo do curso, cada aluno produz um ensaio fotográfico sobre aspectos pouco veiculados da vida nas favelas, em oposição à visão estigmatizante já sinalizada anteriormente. O espírito de descoberta que caracteriza o fazer fotográfico, marcado pelo reconhecimento de valores e pela identificação ideológica com o fotografado, também é contemplado ao longo do curso, através do registro fotográfico e de palestras com ?personagens? da comunidade, que detêm um saber diferenciado e se dispõem a dividi-lo com os alunos. Parte-se, aqui, do pressuposto que a identificação e a busca por uma sociedade plural, fraterna e solidária passa pelo ato de exercitar um olhar cúmplice sobre os que enfrentam dificuldades de toda ordem, imersos em um cotidiano marcado por adversidades, porém, rico em criatividade e ações solidárias. Dessa forma, acreditamos que a troca recíproca de conhecimentos se transforme em terreno fértil para a consolidação da autoestima de jovens de comunidades populares, potencializando seus talentos e auxiliando-os no seu autoconhecimento. A Agência Imagens do Povo é responsável pela difusão de imagens produzidas por alunos formados pela Escola de Fotografia Popular e outros fotógrafos vinculados à agência, assim como pela mediação entre clientes e fotógrafos prestadores de serviços. Por meio de uma estrutura administrativa, que inclui o empréstimo de equipamento fotográfico profissional, a agência dá suporte aos fotógrafos, permitindo que estes se dediquem exclusivamente à produção de imagens. A agência se configura como uma forma de geração de renda para os participantes, além de um meio de sustentabilidade para a sua própria estrutura. O material resultante dos projetos autorais das turmas da Escola é incorporado ao Banco Virtual, disponível no site: www.imagensdopovo.org.br, que, além do material produzido pelos alunos, possui também imagens de outros fotógrafos que comungam com a idéia do programa. O direito de utilização das imagens é licenciado como em qualquer agência de fotografia, recebendo o autor 50% do valor da venda. Os recursos financeiros se destinam à ampliação do acervo, à formação continuada dos fotógrafos formados pela Escola e à manutenção do programa. Os fotógrafos participantes cedem seus direitos e concordam com a doação ilimitada de fotografias às organizações sociais que não disponham de recursos para o pagamento de direito autoral. Além destes eixos fundamentais, o Imagens do Povo organiza periodicamente exposições de fotografia que dialogam com os conceitos e práticas mobilizados pelo programa. Essas exposições são abertas ao público por meio da Galeria 535, um espaço exclusivo para fotografia, gratuito, na sede do Observatório de Favelas, na Maré.

Recursos Necessários

1 sala de aula com, no mínimo, 60 lugares;1 projetor;1 notebook; 7 computadores (escritório);1 laboratório de informática com 25 computadores; 10 câmeras fotográficas profissionais; 5 câmeras fotográficas semi-profissionais. Estes são os equipamentos básicos para desenvolver a formação, garantindo articulação entre os conteúdos e as práticas previstas no projeto. Além disso, os equipamentos podem ser emprestados aos fotógrafos já formados. Certamente esta é uma referência genérica que deverá ser adequada a cada realidade, conforme o público a ser atendido e o desenho do projeto para atender à variáveis que só podem ser mensuradas no momento.

Resultados Alcançados

Desde sua criação, em 2004, o Imagens do Povo já realizou cinco edições da Escola de Fotógrafos Populares, que resultou em mais de 260 fotógrafos (as) formados pelo Programa. Destes (as), 66 compõem atualmente a equipe de fotógrafos do Imagens do Povo. Nossas ações somam, anualmente, uma média de 180 atendimentos diretos. O livro Imagens do Povo, publicado em setembro de 2012 e atualmente disponível para visualização e download gratuito na internet recebeu 4.272 visualizações desde sua publicação online. A Galeria 535 exibe, por ano, uma média de 5 exposições fotográficas, que recebem um público médio de 900 pessoas/mês. O Banco de Imagens possui um acervo de 7.700 imagens, sendo que atualmente disponibiliza cerca de 4.200 fotografias online através do banco virtual. O programa já recebeu importantes prêmios, como o prêmio Faz Diferença, concedido pelo jornal O Globo, e Cultura Nota 10, concedido pela Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. O material fotográfico produzido pelos fotógrafos do programa e a difusão dessas imagens colaboram no combate à estigmatização de pobreza, violência e carência dos espaços populares, difundida amplamente pela mídia tradicional.