Problema Solucionado
Matarandiba é uma comunidade de pescadores e marisqueiras localizada na contra costa da ilha de Itaparica, município de Vera Cruz Ba, com mais ou menos de 1000 habitantes. Situada na Baía de Todos os Santos e em uma área de manguezais, a comunidade tem a sua economia baseada na pesca e na mariscagem. No entanto, alguns fatores se colocam como obstáculos para o fortalecimento da economia e do incremento de renda de pescadores locais. São eles o caráter individualizado da pesca e da comercialização do pescado; e a diminuição observada na oferta de peixes e mariscos. Então, a implantação da Ostreicultura Solidária visa contribuir para superar principalmente dois problemas locais: a baixa renda e a degradação ambiental. Mesmo com esse cenário problemático, foi identificado também potenciais locais importantes, como as condições de água extremamente própria para a maricultura, devido ao baixo grau de poluição marinha, e a presença de associações e grupos comunitários locais.
Descrição
A reaplicação de um cultivo de ostreicultura solidária possui dois eixos principais. O primeiro tem relação com a gestão do “empreendimento”. Aqui em Matarandiba, o empreendimento criado foi o Ostramar. Iniciou com 12 famílias locais reunidas entorno da missão de experimentar a construção de um processo que viesse a contribuir para a complementação de renda, de modo sustentável e coletivo. Esse primeiro eixo diz respeito à autogestão de um empreendimento econômico solidário e abrange etapas como: formação do grupo; definição conjunta de acordos; realização de estudo de viabilidade econômica; planejamento e distribuição de tarefas. Essas etapas foram realizadas pelo Ostramar através de reuniões que contaram com a participação de pessoas da comunidade e de outras localidades. O Segundo eixo para a implantação da ostreicultura solidária está relacionado com a parte mais técnica do sistema de cultivo. Um cultivo de ostra é uma forma de produzir o molusco de modo mais eficiente, ágil e controlado. As ostras naturalmente crescem fixadas em pedras no mar, raízes e troncos de mangues. Tradicionalmente, as marisqueiras coletam as ostras retirando-as das raízes dos mangues, o que provoca quebra das plantas, além de ser muito mais trabalhoso. Um cultivo de ostras consiste na fixação de ostras filhas, as chamadas “sementes”, em algum tipo de material que facilite a remoção delas quando atingirem o tamanho adequado e que permita maior controle das condições em que as ostras serão relocadas ao mar. No entanto, uma das características de uma tecnologia social é a possibilidade de ser reaplicada em contextos empobrecidos e de serem implementadas pelas pessoas do local, tendo que ser, portanto, acessível. Por isso, a Ostreicultura Solidária utiliza a mesma ideia da tradicional, mas buscando ser mais módica, simples de fazer, mas sem deixar de ser eficiente e produtiva. Há duas principais formas de cultivo solidário de ostras: o de mesa e o de balsa. O cultivo sob a forma de mesa é o mais barato de ser construído. É uma estrutura de madeira colocada na maré, próxima a área de manguezal, fixada ao chão com um formato planejado para apoiar os chamados “travesseiros”. Eles têm esse nome porque têm o formato parecido com fronhas, mas são feitas de telas plásticas e preenchidas com as sementes de ostra. A tela faz com que a água passe por entre as sementes, ao mesmo tempo que impede que as ostras saiam de dentro do travesseiro. Assim, vários travesseiros são feitos, preenchidos e arrumados na mesa de cultivo, que deve ser construída em localidades onde haja pontos próximos ao manguezal onde a mesa fique totalmente submersa durante as cheias da maré e que não fique muito tempo exposta ao sol durante a vazante. Em uma mesa cabem 24 travesseiros e em cada travesseiro 20 dúzias de ostra. Os ostreicultores solidários vão de duas a três vezes no mês até a mesa realizar a manutenção com limpeza dos travesseiros e coletar sementes que se fixaram às ostras em crescimento.
A outra forma de cultivo da ostreicultura solidária é usando a forma de balsa. Como o nome sugere, a balsa é um tablado que fica flutuando no mar. Ela é feita com bobonas plásticas e madeira e fica ancorada por uma poita em um determinado ponto do mar, que dever ser permanentemente coberto de água, mesmo durante as marés baixas. Na parte inferior das balsas são colocadas espécies de gaiolas (“lanterna”) de três ou quatro andares, feitas de tela plástica pelos próprios ostreicultores, dentro das quais as sementes de ostras são colocadas. Elas permanecem ali submersas até atingirem o tamanho adequado para comercialização, que é de 7 a 12 centímetros. Em uma só balsa são colocadas 50 lanternas. Dentro de cada “lanterna” são inseridas 60 dúzias de ostra. Nos dois tipos de cultivo, de 8 a 10 meses após a inserção as ostras estão no tamanho adequado para serem extraídas e comercializadas. O que vai determinar qual tipo de cultivo deve ser empregado são as condições marinhas da localidade, tais como a altura das marés, a salinidade da água, a proximidade com manguezais, além da condição de investimento (a da balsa é mais cara e mais produtiva) e fatores como sabor e tamanho da ostra, que muda de acordo com o cultivo. A de mesa é mais salgada, mais resistente à intemperes, é mais escura e cresce menos. Aqui em Matarandiba temos os dois tipos de cultivo, pois a região proporciona condições ideais para a balsa e para a mesa. As sementes de ostras usadas para começar o processo produtivo tanto da balsa quanto da mesa são conseguidas confeccionando o chamado “coletor”, que é um conjunto de garrafas pet cortadas unidas por um fio ou corda que colocado no mar serve de ponto de sustentação de larvas de ostra. Elas se agarram nos plásticos até desenvolverem a casca, quando viram sementes. Após isso elas já podem ser coletadas e inseridas nos travesseiros/lanternas.
Recursos Necessários
A lista detalhada com as especificações dos materiais para implementação está em anexo. Em resumo, os materiais necessários são: Para cultivo de mesa – barrotes de madeira; uma verga de ferro; 2 sacos de cimento; 1 metro de gravilhão e areia; 1 rolo de corda 2mm; 1 sinalizador luminoso; tubos de esgoto; e 50 unidades de travesseiro de PVC. Para cultivo de balsa – peças de madeira de 6m; barrotes; 15 bombonas plásticas; tábuas agrestes; vergas de ferro; pregos; telhas de acrílico; 2 metros de mangueira; cordas; pedaço de cabos de aço; arruelas e porcas; 50 pratos para lanterna e 50 telas para lanterna, ambos em PVC. Com os materiais acima será possível confeccionar uma unidade de cada sistema de cultivo de ostras. Os materiais são facilmente encontrados em lojas para material para construção e madeireiras. Antes da implementação, como dito anteriormente, há de se observar as condições locais para só depois escolher o tipo de cultivo mais adequado. O cultivo de mesa é mais simples de construir, exige menor quantidade de material e é menos custoso, mas a sua capacidade de produção é menor. O de balsa produz mais, porém é um pouco mais caro e demanda mais materiais. Ambos, pelo potencial de produção e rentabilidade que têm, e por se tratarem de unidades produtivas coletivas, possuem um excelente custo-benefício.
Resultados Alcançados
Resultados de envolvimento – Ao longo dos 4 anos de início do processo de construção do Ostramar em Matarandiba, cerca de 16 representantes de família já passaram pelo empreendimento. Atualmente, são 8 representantes de famílias locais atuando nos cultivos.
Um dos resultados da Ostreicultura Solidária é ajudar a incrementar a renda das famílias, através dos ganhos adquiridos por meio da comercialização da produção. Um efeito importante provocado é a preservação do ofício da pesca artesanal, já que a ostreicultura é uma atividade adicional e não substituta da pesca e mariscagem tradicionais. A dedicação ao empreendimento de ostra se intensifica durante a confecção dos cultivos, de lanternas e travesseiros, na implantação de sementes. Depois dessa fase, a atuação dos membros se dá principalmente nos dias de manutenção, em reuniões do grupo e a ações que surgirem. Assim, o cultivo de ostra é uma atividade econômica que pretende incrementar a renda de famílias e não busca substituir os modos tradicionais de pesca e mariscagem. Resultados de produção – Uma balsa padrão de ostra pode produzir 3000 dúzias de ostra em 10 meses. Colocando uma taxa de perda de 20%, um cultivo consegue produzir aproximadamente 2400 dúzias de ostra em menos de um ano. Isso significa que pode se ter um montante de venda anual de R$ 48.000,00, valor que cobre todas as despesas da produção e comercialização do cultivo e as sobras são repartidas entre os maricultores.
Apenas um cultivo de mesa pequeno possui potencial de produção de 480 dúzias em 10 meses. Tendo potencial de venda de R$ 9.600,00 nesse período. Os principais compradores de ostra são restaurantes, bares, barracas de praia e hotéis. Uma dúzia de ostra é comercializada na região do recôncavo da Bahia por 20 reais, mas é possível que o próprio grupo de ostreicultores comercialize ao consumidor final. Outros Resultados Locais
• Articulação dos membros do Ostramar com o grupo local de Turismo Comunitário para a preparação de alimentação para os turistas;
• Retomada aos estudos por parte de membros do grupo em uma turma local de EJA (Educação de Jovens e Adultos);
• Domínio e reaplicação das técnicas de construção dos cultivos;
• Capacitação de grupo Ostramar para realizar Estudos de Viabilidade Econômica, tendo apoiado a realização do estudo em outras comunidades;
• Construção de dois sistemas de cultivo (balsa e mesa);
• Desenvolvimento de um modelo de balsa com dupla função (produção e trabalho)
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