Problema Solucionado
O Vale do Jarí é uma região localizada na fronteira dos Estados do Pará e do Amapá com uma população total de 71.032 habitantes, segundo dados do IBGE, sendo que 14% vive na floresta, distribuídos em cerca de 180 comunidades rurais. Entre os diversos desafios sociais e ambientais existentes nessa região, observou-se um fosso entre a demanda de consumo de produtos de base agroextrativista e a capacidade de oferta desses produtos por parte dos agricultores e extrativistas da região, fato que leva as indústrias, as instituições e o empresariado a assimilarem a grande maioria desses produtos fora do mercado local/regional, além da deficiência de assistência técnica.
A superação desse quadro de distanciamento entre as demandas do mercado local e a capacidade de oferta dos produtores rurais da região passa necessariamente por um processo de formação e organização social e comunitária integrado a estratégias de estruturação e gestão de cadeias produtivas. Tudo isso baseado no potencial agrícola e extrativista da região, dentro de um escopo de ação que considera como princípio incondicional a conservação e o uso responsável dos recursos naturais.
Descrição
A Fundação Orsa, a partir do ano 2006, criou uma nova área de trabalho em sua estrutura organizacional voltada ao Fomento de Negócios Agrícolas e Florestais, formada por uma equipe composta por engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas, técnico ambiental, pedagogo e assistente social. O objetivo disso era prestar assistência técnica às comunidades rurais a fim de estimular de forma planejada o desenvolvimento das vocações e potenciais produtivos agrícolas e extrativistas por meio da interação do conhecimento técnico agroflorestal com os saberes tradicionais das comunidades. Na prática, a metodologia utilizada é a realização de visitas técnicas “in loco”, dias de campo, demonstrações práticas, intercâmbios de experiência, cursos de capacitações e treinamentos.
Os agricultores e extrativistas são orientados para o uso sustentável do solo e da floresta por meio da combinação de culturas agrícolas e florestais que tenham garantia de mercado e renda (a exemplo do plantio do curauá) com culturas tradicionais e de subsistência (arroz, milho, feijão e, principalmente, a mandioca, por sua importância nutricional e cultural para a região) e culturas permanentes, no âmbito da fruticultura, compondo, portanto, sistemas agroflorestais nas unidades de produção familiar. Tudo isso através de técnicas alternativas de melhor aproveitamento do solo, recuperação/utilização de áreas já degradadas, evitando o avanço sobre a floresta e garantindo, assim, a conservação ambiental.
De forma integrada ao trabalho de assistência técnica e extensão rural promovido pela área de negócios agroflorestais, agregam-se ações complementares no campo social e ambiental através da atuação de duas áreas de apoio:
1. Promoção dos direitos humanos e fortalecimento do capital social: realiza ações de educação para a promoção dos direitos humanos e para o fortalecimento organizacional das comunidades e organizações participantes dos projetos agroflorestais. Assim, estimula o envolvimento da comunidade em articulações intersetoriais para o acesso às políticas públicas básicas em termos de educação, saúde e assistência social junto aos conselhos intersetoriais e de direitos humanos e aos agentes públicos. Além disso, essa área realiza formação continuada nas comunidades através da metodologia Desenvolvimento Organizacional Participativo (DOP), desenvolvida a partir da parceria da Fundação Orsa com a Cooperação Internacional Alemã (GIZ ).
2. Combate ao desmatamento e à exploração ilegal dos recursos naturais: essa área atua por meio da formação continuada em educação e conservação ambiental nas comunidades participantes dos projetos, realizando ações de sensibilização e mobilização de lideranças comunitárias. Isso abarca desde questões básicas como a coleta e destinação adequada do lixo e a educação para os cuidados com a higiene e saúde das pessoas e do meio ambiente até a capacitação para a defesa e conservação dos recursos naturais, incluindo o conhecimento dos aspectos e instrumentos da legislação ambiental, a identificação e a denúncia de situações de exploração ilegal aos órgãos competentes.
Recursos Necessários
-Três caminhonetes não traçadas;
-Duas caminhonetes traçadas;
-Combustíveis;
-Cinco computadores;
-Uma impressora;
-Acesso à Internet;
-Três aparelhos de sistema de posicionamento global (GPS);
-Duas máquinas fotográficas;
-Equipamento de proteção individual (botas, perneiras, óculos, capas para chuva etc.);
-Materiais (sacos para mudas, cordas, tesouras de poda, trenas, canivete de enxertia etc);
-Recursos didáticos: (cavaletes, painéis, cartilhas, bloco flip shart, tarjetas, pinceis etc.);
-Alimentação de campo.
Resultados Alcançados
Na área de fomento agrícola e florestal destaca-se principalmente o cultivo do curauá consorciado com o eucalipto ou integrado a sistemas de produção tradicional como a mandioca, arroz, milho, feijão e a fruticultura, muito importantes na garantia da segurança alimentar e na geração de renda.
O cultivo do curauá gera uma renda de em média R$ 8.000,00 ao ano por hectare plantado. Em 2010, foram 72 famílias participantes do projeto, das quais 37 foram beneficiadas com financiamento do Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do Banco do Brasil, totalizando um incremento na economia local no valor de R$ 287.142,00. Outros 71 produtores participam do projeto de produção de hortaliças para comercialização ou para segurança alimentar. Dos 70 agricultores, 40 estão comercializando seus produtos para os restaurantes, supermercados e feiras locais, que gera uma renda mínima de R$ 3.600,00/ano, representando um incremento total superior a R$ 255.000,00. Além do curauá e hortaliças, a Fundação presta assessoria técnica para 250 agricultores da região no desenvolvimento de outros sistemas de produção tradicional principalmente a mandioca. A maioria dos produtores tem em média dois hectares plantados com culturas de subsistência (mandioca, arroz, milho e feijão) e fruticultura, gerando renda mínima anual de R$ 4.400,00, o que representou um incremento na economia local na ordem de R$ 1.404.000,00 em 2010.
Além dos sistemas de produção agrícola, a Fundação Orsa desenvolve há três anos o projeto de incentivo ao extrativismo sustentável da castanha-do-Brasil. O projeto "Boas Práticas da Cadeia de Valor da Castanha do Brasil" foi criado com o objetivo de promover a quebra gradativa do sistema de aviamento, forçando a transição dessas relações contratuais informais para o plano da formalização de compromissos de compra e venda. Isso garante tanto o cumprimento da responsabilidade fiscal quanto o acesso ao crédito rural e, sobretudo, o acesso à política de subvenção da castanha nos períodos em que os preços de mercado forem inferiores ao mínimo estabelecido pelo Governo Federal,artifício que só se consegue sob a condição da comprovação formal das vendas.
De 2006 a 2010, as atividades agroflorestais fomentadas pela Fundação Orsa repercutiram em um incremento na economia local e regional acima de R$ 7.600.000,00 beneficiando mais de 800 famílias de agricultores e extrativistas.
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