Problema Solucionado
Almirante Tamandaré vive o fenômeno das “cidades dormitórios”. A baixa renda salarial e escolaridade dos munícipes, somadas a dezenas de outras questões estruturais complexas confluem em outra problemática: a violência interpessoal ocorrida nos âmbitos doméstico e escolar. Dados do Sistema de Informações para Infância e Adolescência (SIPIA), entre janeiro de 2016 e dezembro de 2017, revela o registro de 640 violações de direitos de crianças e adolescentes, sendo o abuso, a negligência e os castigo corporais as principais violações notificadas.
O Atlas da Violência de 2015 revelou uma taxa de 76,2 mortes a cada 100 mil habitantes em Almirante Tamandaré, listando-o como a 17ª cidade mais violenta do país. Inseridos neste contexto, meninos e meninas relatam e praticam comportamentos violentos nos espaços de socialização e aprendizado: a escola. Relatos e situações de bullying e outras formas de violência psicológica e agressões físicas integram o ambiente escolar assim como aulas de português e a matemática, requerendo ações concretas de enfrentamento e conscientização de que determinados comportamentos vivenciados e/ou praticados não são “brincadeiras”, mas atos de violência.
Descrição
A metodologia foi desenvolvida nesse processo:
1º diagnóstico do problema: Violências observadas e analisadas no território, através de sites, pesquisas e rodas de conversa com a comunidade educativa, essas violências se tornam cíclicas e culturais, os/as educandos/as passam a vivenciá-las em casa e no ambiente escolar, desse modo, sabemos que estão em situações de vulnerabilidades e de violações de direitos.
2º Escuta: Para dar início a esse processo, realizamos a escuta com os/as educandos/as, dessa forma, conseguimos trazer tanto a realidade do território, quanto a deles, a respeito das violências vivenciadas.
3º Ressignificação com a escuta dos/as educandos/as: A partir da escuta percebemos que as rodas de conversas, debates, seriam transformadoras e aliadas a prática tornariam essa aprendizagem significativa, dessa maneira, Com/para os/as educandos/as inserimos a prática dos Jogos Cooperativos, a construção de murais informativos e interativos e os fóruns Infanto Juvenis, como instrumentos pedagógicos e de aprendizagem.
4º Atividade: Temos uma hora/aula por semana com cada turma de 7º ano (Turmas: A, B e C) e de 8º ano (Turmas: A, B e C), num total de seis turmas e cada uma possui 25 educandos/as (total de 150 educandos/as), o planejamento das atividades (das rodas de conversas e das práticas) aconteceram da seguinte forma:
Planejamento- Foi inserido no planejamento uma violação de diretos ou uma violência por mês, para que pudesse ser trabalhado e aprofundado através de rodas de conversas, as varias maneiras de enfrentamentos e de denúncias. Vale destacar, que a prática fez parte dessas aulas, por meio do jogos cooperativos e da construção dos murais, cartazes e a construção dos fóruns Infanto juvenis.
As rodas de conversas: Essas tratavam sobre o tema (Mensal), através de slides, cartazes, informativos, estudo de casos, charges, ouvindo uma música, a turma sentava em círculo, poderia ser nas cadeiras ou em tatames, e desenvolvíamos o tema, o contexto daquela aula e partir desse momento, as turmas já interagiam, participavam e sensibilizavam, contavam seus depoimentos e outras histórias que contribuíram para o andamento daquela aula.
As práticas: Jogos cooperativos, foi uma forma de fazer o enfrentamento às violências que estavam acontecendo dentro da unidade, percebemos o quanto essa metodologia mudou a forma de enxergar e desenvolver o projeto, literalmente, deu vida a ele.
Os Murais: Em conjunto com os/as educandos/as construímos os murais, como prática de aprendizagem e para pesquisar sobre o assunto. A comunidade educativa passou a observar e acompanhar a construção desses murais.
O Fórum Infanto Juvenil- Aconteceu no final de cada semestre, os/as educandos/as decidiam os temas, palestrantes, oficinas e construíam todo o evento, teve apresentações culturais na abertura e no encerramento, para as apresentações culturais, muitos/as educandos/as criaram coreografias, poesias e teatros, em outras palavras, eles de fato se envolveram. Também construíram um cartaz com as informações do fórum, para convidar a comunidade educativa e escolas próximas à unidade. Os horários dos fóruns foram das 08h00min ás 17h30min com intervalo para o café da manhã, almoço e café da tarde.
5º Avaliação: No final de cada semestre, fazíamos uma reunião com cada turma sobre o andamento do projeto (dúvidas, críticas, sugestões, potencialidades e fragilidades).
Recursos Necessários
Trata- se de uma tecnologia social com foco nas crianças e adolescentes, e sua metodologia é voltado para jogos cooperativos e rodas de conversas, desta forma se faz necessário: Espaço físico: uma sala e um local aberto para as atividades; Equipamentos: Câmera fotográfica, notebook, projetor, extensões,cabos, multiplicador de tomadas, caixa de som, microfone, plastificador de A4; Materiais pedagógicos: Giz, canetinhas, lápis, canetas piloto, barbantes, giz de cera, cartolinas, papel criativo, sulfite, borrachas, plástico para plastificação de sulfite A4, tintas guache, pincéis; Materiais esportivos: Bolas, bambolês, cones, cordas, coletes, tecidos, venda (para tapar os olhos); Recursos: Impressões e materiais informativos; de atividades.Transporte: Para saídas de campo com os educandos/as e educadores/as; Recursos: Camisetas e materiais de divulgação; Recurso: Para participação em eventos (crianças, adolescentes e educadores); Recursos: para realização de eventos (Exemplo realizado: Fórum Infanto Juvenil com todos/as educandos/as da unidade).
Obs.: Nossa situação- A unidade disponibiliza alimentação para os/as educandos/as educadores/as. Em relação aos Recursos humanos, a unidade disponibiliza de quatro colaboradores que atuam neste projeto e em outros projetos da unidade, estes são colaboradores/as fixos e remunerados pela unidade social.
Resultados Alcançados
Desde 2016, os resultados que alcançamos foram mais de 300 educandos/as e famílias que se tornaram multiplicadores nos espaços onde eles estão inseridos, por exemplo, Igrejas, locais de organização na sociedade, grupos de jovens, debates, entre outros ambientes; 57 educadores/as sensibilizados tanto com a autonomia dos educandos/as, quanto com a proatividade dos mesmos; colégios próximos à unidade mobilizados sobre os temas propostos nos fóruns Infantos- Juvenis; Foram 6 Fóruns organizados pelos educandos/as, mais de 700 (crianças, adolescentes e jovens) participantes ao longo desses anos de construção, organização e participação; Campanhas informativas e demais ações organizadas pelos/as educandos/as ao decorrer do projeto.
Percebemos a diminuição da quantidade de brigas e discriminações dentro do ambiente escolar; também obtivemos maior participação dos/as educandos/as nos espaços de representatividade e de incidência politica no Município de Almirante Tamandaré no CMDCA (Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente) e CMJ (Conselho Municipal de Juventudes). O problema abordado foram às violências que esses educandos/as vivenciam no território, em suas casas e a reprodução dessa violência no ambiente escolar.
Para enfrentar essa situação as crianças e os adolescentes do ensino fundamental II foram convidados a participar desses espaços de emancipação. A metodologia adotada se desenvolveu por meio de rodas de conversas, debates e práticas de jogos cooperativos para fortalecer as relações interpessoais, a empatia, o respeito à diversidade, para aprender sobre os direitos humanos e os mecanismos de denúncias. Os/as educandos/as se envolveram com a proposta e através desse conhecimento construído, foram criados murais informativos e interativos, produzimos também, materiais de comunicação, como: Fotografias, panfletos e vídeos. Além disso, construímos um Fórum Infanto- juvenil com os/as educandos/as, envolvendo as escolas próximas à unidade e toda a comunidade educativa. Os/as educandos/as que passaram por esta metodologia, se tornaram multiplicadores em diferentes ambientes sociais, como por exemplo, nos meios de representatividade, nas oficinas, nos fóruns e de forma indireta com a família, que também foi impactada ao longo do processo.
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