Problema Solucionado
No Brasil o trabalho feminino em atividades agropecuárias ainda é repleto de invisibilidades, e estas mulheres trabalham na maioria das vezes sem renumeração. Sem contar que aproximadamente 40%, nem se quer usufruem de status de trabalhadoras, por terem jornadas de trabalho no campo, inferiores a 15 horas semanais.
As mulheres agricultoras acreditam que as atividades agropecuárias que desenvolvem, como por exemplo, o trato dos animais menores, a ordenha e o cuidado do quintal (que inclui horta/pomar/jardim) são como uma extensão de seu papel como mãe/esposa/dona de casa.
Elas não conseguem distinguir entre seus trabalhos agropecuários dos realizados no seu cotidiano como dona de casa, o que as sobrecarregam e ainda contribuem para invisibilidade. São mulheres que exercem múltiplas atividades, que não são reconhecidas como trabalho pela própria família, além de sofrerem preconceito e serem desvalorizadas.
Portanto, a tecnologia social proposta contribuirá para inclusão socioprodutiva e empoderamento destas mulheres, que se dará pelo acesso a informação, a capacitação sociotécnica e a geração de renda, com a comercialização das aves caipira.
Descrição
A ideia da tecnologia surgiu da necessidade das mulheres agricultoras do Assentamento Padre Assis, em Sossego/PB, de desenvolver uma atividade agrícola produtiva, que contribuísse com a renda familiar, sem ter que deixar suas obrigações domésticas, ou se afastarem de suas residências.
A tecnologia social que será descrita baseia-se na alternância das aves em diferentes galinheiros até a idade adequada para comercialização. Durante o manejo as agricultoras receberão um lote de aves caipira, que serão transferidas de galinheiro em galinheiro, a cada 28 dias, até completarem a idade de aproximadamente 84 dias, adequada ao consumo, gerando assim, um sentimento de pertence coletivo entre as mulheres.
A implantação desta tecnologia compreende a realização de algumas atividades, que são:
1. Sensibilização e Mobilização
As experiências demonstram que o sucesso de projetos sociais envolvendo comunidades se deve basicamente as relações de confiança que se constrói ao longo do desenvolvimento das atividades, logo, é de fundamental importância à realização de ações que visem à sensibilização/mobilização do grupo. Durante esta etapa será construída com as agricultoras, uma agenda de trabalho que permita a organização do tempo que irão dedicar as atividades de construção/implantação da tecnologia.
2. Formação Sociotécnica das Mulheres Agricultoras
As atividades anteriores contribuem também para identificação das habilidades das mulheres agricultoras, bem como das potencialidades do território. Com base nestas informações, é possível propor uma formação, que venha contribuir para o desenvolvimento da tecnologia social, no que se refere ao manejo de alternância das aves caipira e ao trabalho coletivo.
As formações acontecerão na comunidade, em dias e horários previamente combinados com as mulheres, respeitando sempre o tempo disponível e levando em consideração as atividades agrícolas e domésticas que já desenvolvem.
A metodologia utilizada será fundamentada na Educação Popular e na Pedagogia da Alternância e da Autogestão, que se traduzirá em: exposições dialógicas; dinâmicas de grupo; oficinas presenciais; palestras e visitas à comunidades com experiências exitosas. O material didático utilizado nas formações serão preparados considerando o nível de instrução das mulheres.
As temáticas abordadas serão: Criação de Aves Caipiras; Manejos de Aves; Higiene e Saúde de Aves; Construção e Manutenção dos Galinheiros; Economia Solidária e Autogestão; Associativismo e Cooperativismo; entre outros.
3. Construção dos Galinheiros e Piquetes
O projeto de construção dos galinheiros foi elaborado e discutido pelas mulheres agricultoras, por compreender que as mesmas já possuíam um conhecimento acumulado sobre criação de aves.
A unidade desta tecnologia social compreende 5 (cinco) galinheiros com piquetes, que deverão ser construídos nos quintais das casas das agricultoras participantes.
O galinheiros serão construídos em alvenaria, em forma de hexágono, com área de aproximadamente 12 m2, que acomodarão até 100 aves em idade adulta.
O uso de piquete é fundamental para sistemas semi-intensivo, além de oferecer um ambiente higiênico e protegido, que não permite a entrada de predadores, contribuindo para reduzir o custo com alimentação, pelo oferecimento de pastagens as aves, o que é de extrema importância, por caracterizar a criação de aves caipira. Estes piquetes deverão ter no mínimo 50m2 de área para cada 100 aves, e podem ser de faxina ou telas, o que for mais acessível a região.
4. Aquisição de equipamentos, de aves, alimentação e vacinas
Os equipamentos necessários são: forrageira, balanças, caixas transportadoras, comedouros e bebedouros para diversas fases, círculo de proteção, lonas, campanulas, entre outros.
Para uma unidade de tecnologia será necessário adquirir um lote de 200 pintainhos para início do manejo, bem como alimentação adequada para cada fase das aves caipira (Inicial de 1 à 28 dias, Crescimento de 29 à 56 dias e Engorda de 57 à 84 dias), além das vacinas necessárias.
Serão escolhidos pintos caipiras de raças que apresentem boa aptidão para corte, e que sejam de fácil adaptação ao manejo no campo, além de apresentarem pele amarela e plumagem colorida.
5. Orientação e Acompanhamento
Durante a implantação da tecnologia, será realizado acompanhamento semanal às agricultoras, agregando práticas orientadoras para a geração de trabalho e renda, com assessoramento sociotécnico, mas considerando sempre o saber popular das mesmas, e fazendo com que reflitam sobre suas experiências acumuladas, bem como orientando sobre trabalho coletivo e a autogestão.
Serão desenvolvidas com as agricultoras, ferramentas de controle zootécnico, que permitam o acompanhamento e avaliação por elas mesmas da tecnologia de manejo das galinhas caipiras (alimentação, vacinação e ganho de peso). Além de outras ferramentas que possibilitarão realizar a gestão financeira da tecnologia, bem como avaliar a viabilidade socioeconômica
Recursos Necessários
Para a construção desta unidade de tecnologia social, que é constituída por 5 (cinco) galinheiros com piquetes, serão necessários: Materiais Permanentes (ferramentas agrícolas, forrageira, balanças e motocicleta com reboque) e Materiais de Consumo (material de construção para os galinheiros, telas para os piquetes, pintainhas, alimentação para as aves, vacinas, comedouros e bebedouros, campânulas, círculo de proteção, combustível, entre outros).
Serão indispensáveis para gestão sustentável da tecnologia, um investimento em formação para as mulheres agricultoras, que abordem temáticas voltadas ao processo produtivo e as questões do trabalho coletivo (cursos, oficinas, palestras e visitas técnicas); além da necessidade de assessoramento/acompanhamento semanal as mulheres agricultoras familiares durante a fase de implantação.
Serão desenvolvidas com as agricultoras, ferramentas de controle zootécnico, que permitam o acompanhamento e avaliação por elas mesmas da tecnologia de manejo das galinhas caipiras (alimentação, vacinação e ganho de peso). Além de outras ferramentas que possibilitarão realizar a gestão financeira da tecnologia, bem como avaliar a viabilidade socioeconômica (preços, receitas, despesas, sobras e fundo de reserva).
Para apoio a comercialização das galinhas caipira, deverão ser desenvolvidas mídias impressas e digitais para divulgação do produto junto aos potenciais consumidores.
Resultados Alcançados
Considerando as experiências já realizadas com o desenvolvimento e implantação desta tecnologia social, que tem por objetivo o manejo de alternância na criação de galinhas caipiras em quintais agrícolas, por mulheres agricultoras, nos municípios de Sossego (Comunidade do Assentamento Padre Assis) e Casserengue (Comunidade do Gameleiro), na Paraíba, é possível apresentar os seguintes resultados:
• Promoção de oportunidades de aprendizagem para 25 (vinte cinco) mulheres agricultoras, pela participação na formação sociotécnica para o manejo coletivo de aves caipira e para gestão do empreendimento coletivo.
• Apropriação da tecnologia por 25 mulheres agricultoras, no período de 2015 até 2018 (10 mulheres de Sossego/PB), e entre 2018 até 2019 (15 mulheres de Casserengue/PB);
• Estruturação de quintais agrícolas com a construção dos 25 galinheiros e piquetes, com ajuda da própria comunidade, além da aquisição de equipamentos e transportes, que permitirão um manejo adequado, e a promoção da agricultura sustentável.
• Criação e comercialização de aproximadamente 2.000 aves, o que possibilitou a consolidação e acreditação da tecnologia, com mortalidade de aves inferior a 3%.
• Geração de renda para as famílias envolvidas na produção coletiva de aves caipiras, e criação de fundo de reserva que permitiu a continuidade e sustentabilidade da tecnologia.
• Criação da Associação de Mulheres Produtoras de Aves do Assentamento Padre Assis, em 2017, e fortalecimento da Associações de Pequenos Agricultores do Gameleiro.
• Empoderamento e inclusão socioprodutiva das mulheres agricultoras, com geração de renda e garantia de segurança alimentar e nutricional das famílias envolvidas.
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