Problema Solucionado
A estrutura de produção de leite por pequenos produtores é um problema crônico no Brasil. Em alguns laticínios, na década de 90, verificou-se que a participação dos pequenos (até 50 litros) mostrava-se bastante reduzida. Existem dificuldades para introdução do conceito empresarial no setor produtivo e investimentos em tecnologia, o que dificulta assistência técnica, crédito orientado e impede associações fortes e representativas. Foram verificados dificuldades e problemas dos pequenos produtores leiteiros de baixa renda dos municípios de Londrina, Ibiporã, Cambé, Tamarana, Jandaia do Sul e Apucarana. Constatou-se que a baixa produtividade e má qualidade do leite decorrem da situação precária e empobrecimento dos pequenos produtores: 63,6% estavam produzindo abaixo dos 50 litros/leite/dia, e 91% vendiam o leite "in natura" em garrafas Pet. Essa condição estimulava o comércio do leite e queijo sem controle sanitário, expondo a população consumidora ao risco de infecção por zoonoses. A consequência desse processo é o êxodo rural, aumentando a concentração de renda no campo, criando uma massa de desempregados na zona urbana e outras mazelas sociais.
Descrição
Foi desenvolvido um trabalho visando o fomento à pecuária leiteira com transferência de tecnologia Universidade/Pequenos produtores de leite, otimizando a produção com minimização dos custos e agregação de valor. O programa abrangeu orientações higiênico-sanitárias para controle de zoonoses como brucelose e tuberculose, manejo reprodutivo dos rebanhos visando melhoramento genético e diminuição do intervalo entre partos das matrizes, manejo de pastagens, e melhoria da logística de armazenamento e transporte do leite. As atividades são desenvolvidas em Londrina, Ibiporã, Ortigueira, Arapongas e Tamarana, nos assentamentos Mundo Novo, Mandaçaia, Libertação Camponesa, Água da Prata, Serraria e União Camponesa, tendo como público alvo os pequenos produtores de leite que residem nas localidades rurais, em regiões com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH). Com participação de sociólogos, a primeira fase implicou pesquisa da realidade dos pequenos produtores, incluindo capitalismo, cooperativismo, economia solidária, desenvolvimento sustentável. Realização de trabalho de campo para compreender a realidade dos produtores. Foi feito mapeamento do perfil socioeconômico. Palestras e reuniões multidisciplinares, orientando os pequenos produtores para o desenvolvimento sustentável, gerar emprego e renda pela agregação de valor e comercialização do leite e seus derivados com responsabilidade social e ambiental.
A segunda fase consistiu em assistência médico-veterinária continuada com visitas diárias às propriedades cadastradas,com grupos desenvolvendo etapas de atividades:
1-Consciência Ambiental e Economia Solidária
- Cadastramento das propriedades
- Palestras periódicas- Reuniões técnicas e dias de campo
2-Sanidade animal, Saúde Pública- Exames para diagnóstico de Brucelose
- Tuberculinizações
- Vacinação- Eliminação da venda informal de leite e derivados
3- Qualidade do leite e Controle de Mastite- Monitoramento de células somáticas em latão ou tanque resfriador
- Contagem bacteriana total em latão ou tanque resfriador
- Avaliação de composição (sólidos totais, gordura)
- Exame das vacas com CMT
- Diagnóstico e tratamento de mastites clínicas
- Exame bacteriológico do leite de vacas com mastite clínica e subclínica
- Antibiogramas
- Tratamento de mastite em vacas secas
- Manejo e higiene de ordenha
- Limpeza e manutenção de equipamentos
- Programas de prevenção e controle de mastite
4- Manejo e Controle Reprodutivo; Melhoramento Genético
- Seleção de animais pelo perfil de produção leiteira
- Identificação e eliminação de animais subférteis
- Inseminação artificial e transferência de embriões
- Produção de matrizes e novilhas
- Controle de infecções do trato reprodutivo
5- Melhoramento de Pastagens
- Possibilidades de implantação de novas pastagens
- Reforma de pastagens- Pastagens alternativas de inverno
- Uso da cana/napier e ureia na alimentação
6- Aparelho Locomotor
- Avaliação clínica dos animais
- Casqueamento funcional e corretivo
- Terapia de patologias podais
- Uso de pedilúvios ou técnicas de aspersão
- Prevenção e controle das afecções dos cascos
7- Manejo de bezerros
- Cuidados neonatais, mochação e castração- Diarreias neonatais
- Alimentação e uso do colostro
- Infecções respiratórias
Palestras técnicas para transmissão de informações referentes à Pecuária de Leite, ministradas mensalmente em centros comunitários, associações de classes e órgãos públicos. Esse trabalho permitiu excelente integração Universidade/Campo, possibilitando que pequenos produtores produzam leite com maior valor agregado, melhorando a renda familiar. Produtores que não participavam do projeto, foram convencidos pela comunidade a participar, reconhecendo a importância do trabalho. As atividades são excelente campo de treinamento para graduandos de Medicina Veterinária e Sociologia, possibilitando prática clínica e de manejo de rebanhos a campo e reflexão social, transformando-os em profissionais conscientes da realidade do meio.
Recursos Necessários
(sem descrição)
Resultados Alcançados
No projeto foram beneficiadas diretamente, na primeira fase, mais de 90 famílias de pequenos produtores na região da Grande Londrina, das quais aproximadamente 57 famílias residem em dois diferentes assentamentos na cidade de Tamarana. Um dos mais importantes resultados desse projeto, foi o mapeamento epidemiológico desses rebanhos, com a identificação e eliminação de 3% do rebanho de animais portadores de tuberculose e brucelose, de uma população de produtores em que 86,4%, nunca haviam realizado exames para diagnosticar tuberculose e brucelose, em uma economia que vivia da venda informal do leite. Além disso, as atividades se tornaram um importante campo de aprendizado para estudantes de Medicina Veterinária e treinamento de profissionais recém-formados em Medicina Veterinária e Sociologia. Essa realidade estimulou os participantes do projeto a aceitar o desafio de atuar junto aos pequenos produtores, transferindo tecnologias e conhecimentos desenvolvidos na Universidade para a melhoria da produção e qualidade do leite, viabilizando assim a permanência do homem no campo. Com a participação da comunidade e do poder público, intermediados pelo projeto, está em fase de construção um Laticínio Municipal, na cidade de Ibiporã, que irá absorver 100% da produção desses pequenos pecuaristas, eliminando totalmente a comercialização informal de seus produtos na zona urbana do município. O Projeto Leite Bom vem se desenvolvendo e conquistando novos parceiros devido a dois fatores: a seriedade do trabalho desenvolvido pela equipe do projeto e a confiança e participação dos produtores envolvidos. Esse conjunto de fatores decorre da qualificação e união da equipe para trabalhar com as comunidades de modo aberto, ou seja, democratizando o conhecimento e a tecnologia produzida na Universidade e, ao mesmo tempo, aprendendo com a cultura das comunidades. Outro ponto importante é o envolvimento dos produtores de forma consciente, isto é, compreendendo que eles são os sujeitos da transformação, que a melhoria da qualidade e da produtividade do leite depende da disposição de querer mudar, de aderir a novos conhecimentos e a novas práticas. Entre o inicio do ano 2009 e final de 2010 foram realizadas mais de 5 mil visitas em mais de 100 propriedades cadastradas, o que representou aproximadamente 155 famílias atendidas, das quais 57 eram de assentados rurais. Isso significou em média, 2.670 pessoas que receberam benefícios diretos e indiretos pelas ações do projeto.
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