Problema Solucionado
O que motivou a criação da tecnologia foram as situações problemáticas deste público historicamente subalternizado - indígenas, sem-terra, pescadores etc., expostos a graves problemas sociais como: violência intra e extra familiar; desemprego; gravidez na adolescência; preconceito; exploração sexual; uso de drogas lícitas e ilícitas; e difícil acesso aos meios educacionais formais e alternativos, dentre outros. Como um dos principais efeitos provocados por este cenário apresentado, encontra-se a dificuldade dos jovens destas comunidades ao acesso à sua inserção no mercado de trabalho, haja vista a sua baixa qualificação profissional e o consequente amadorismo no processo de produção e comercialização de seus produtos. Com as ações dos projetos, se atende às comunidades mais isoladas (aldeias, assentamentos etc.) do Território, de difícil acesso, onde há pouca ou nenhuma oferta de formação/qualificação. A ação é inovadora porque busca qualificar o território sem deixar qualquer comunidade excluída do processo de desenvolvimento.
Descrição
A ideia foi concretizada mediante o uso de uma metodologia eminentemente interativa e participativa, tendo por suporte o conhecimento da realidade, a reflexão e a ação. Estes três componentes do processo educativo estiveram presentes em todas as atividades de forma inter-relacionada, possibilitando o exercício da análise a partir de situações concretas do cotidiano dos jovens. O ponto crucial da proposta metodológica é o exercício do reconhecimento e a assunção da identidade cultural. Por isso, as atividades desenvolvidas tiveram como proposta promover o despertar da consciência étnico-cultural, buscando solidificar o sentimento de identidade e de pertencimento, da prática de se assumir. Foi empregada uma pedagogia na perspectiva da autonomia nas atividades didáticas dos projetos, sobretudo nas Oficinas de Formação de Agentes Promotores de Cidadania e Desenvolvimento Comunitário, para alcançar os objetivos propostos, especialmente no que diz respeito ao protagonismo social juvenil e empoderamento comunitário na busca de soluções para os problemas do cotidiano e sustentabilidade das comunidades do Território do Sul da Bahia.
I FASE – Articulação Político-Institucional, mobilização comunitária, cadastramento de beneficiários e seleção e treinamento da equipe técnica multidisciplinar: O primeiro passo para o desenvolvimento da proposta é inicialmente o trabalho de articulação político-institucional nos Municípios e Aldeias e Comunidades envolvidas, onde é apresentado a proposta e firmadas parcerias estratégicas (Lideranças Comunitárias, Poder Público, Sociedade Civil Organizada, Empresariado etc.), tudo isso visando a efetividade e sinergia da ação e a sua introdução nos municípios como uma política pública integrativa. No âmbito da proposta é instituído um Conselho Gestor Comunitário, que é o órgão responsável pelo acompanhamento, avaliação e monitoramento das ações e atividades previstas. Após o estabelecimento de contratos de cooperação técnica e institucional, são preparados os locais onde as atividades serão desenvolvidas, estruturando-os como espaços de formação e criação. Preliminarmente ao início das atividades com os jovens, é feito todo um trabalho de cadastramento dos potenciais beneficiários (que atendam a perfil da proposta), através de uma Pesquisa Social, com o objetivo de definir o perfil dos beneficiários e realizar a caracterização sócio-demográfica da população beneficiada. Antes ainda do atendimento aos jovens, é feito o recrutamento, seleção e treinamento da equipe técnica do Projeto.
II FASE – Oficinas de Formação Social de Agentes Multiplicadores Promotores de Cidadania e Cursos de Qualificação Profissional: As atividades ofertadas atendem a uma demanda real das comunidades, a partir de escuta prévia e acesso a relatórios de participação dos jovens. Para a realização das oficinas e cursos de qualificação profissional, a metodologia utilizada tem como base o aproveitamento das experiências comunitárias. A estrutura dos cursos/oficinas contempla dois planos: conteúdos específicos (80% da carga horária) e conteúdos transversais (20% da carga horária), sendo utilizados recursos audiovisuais, jogos e dinâmicas de grupo. Além das aulas teóricas, há “estudos do meio”, ou seja, aulas práticas em locais específicos como, por exemplos, Reservas de Ecoturismo, Glebas de Agricultura, Galpões de Artesanato, Escolas etc.
III FASE – Desenvolvimento Comunitário – Estágio Social: mobilização comunitária, elaboração e execução dos planos de ação e avaliação: O primeiro passo para o desenvolvimento do plano de intervenção comunitária é o de mobilização e realização de um Diagnóstico Social Participativo, onde é feito o levantamento de dados sobre a caracterização geral das comunidades e de seus principais problemas, nas mais diversas áreas, como saúde, educação, meio ambiente etc. Este diagnóstico é realizado pelos próprios jovens dos projetos, com o suporte da equipe técnica, fazendo uso de metodologias participativas e não convencionais, a exemplo, da Árvore dos Problemas – um jeito simples e eficiente de levantar demandas comunitárias. De posse destes dados parte-se para a elaboração sistemática de um plano de ação comunitário com ênfase nas principais demandas encontradas, entre outras: ações educativas e de promoção para prevenção de riscos relacionados à sexualidade, saúde reprodutiva, violência intra e extra-familiar, desemprego, abuso e exploração sexual, uso de álcool e drogas, falta de lazer e cultura, educação formal, dentre outras. Por fim, visando a integração e a convivência dos participantes, a confraternização dos jovens, o intercâmbio multicultural e étnico e a avaliação do impacto dos projetos nas comunidades, na vida dos jovens e na sua inserção no mundo do trabalho, é promovido um evento de culminância/encerramento dos projetos.
A aplicação prática das metodologias integrativas pode ser identificada no detalhamento de resultados, sobretudo qualitativos, dos dois projetos sociais que compõem a tecnologia. Na condução das atividades formativas, os jovens eram instigados a aplicarem, na prática, os conteúdos apreendidos em seus momentos de interação com jovens de outras comunidades. A cada módulo ministrado, o jovem tinha o compromisso de multiplicar a informação e de empreender ações em seu espaço de vivência.
No módulo “Projeto de Vida e Identidade”, por exemplo, em que foram trabalhados os conceitos de identidade, cultura, identidade de gênero, identidade social, grupo e interação, autoestima e saúdes (física, espiritual, intelectual, familiar etc.), o jovem era convidado a construir o seu projeto de vida, através dos exercícios de: compreender sua história, olhar para a situação onde vive, sonhar um mundo possível, refletir sobre sua atuação, rever sua vida pessoal/profissional/social, assumir decisões e abrir e/ou construir novos caminhos.
Já no módulo “Educação”, em que foi debatido o papel social da escola como instituição de referência no contexto local, ao voltarem para suas comunidades, os jovens foram estimulados a reunirem as famílias, funcionários da escola e a comunidade escolar (crianças, adolescentes e jovens) para debater os problemas e desafios da escola; pensar, de forma coletiva, estratégias de atuação e; buscar alternativas de melhorias, oficializando, sempre que necessário, demandas ao Poder Público e demais parceiros institucionais.
No último módulo da formação social básica, “Desenvolvimento Comunitário”, foi aprofundada a compreensão sobre os conceitos de desenvolvimento comunitário, território, políticas públicas, participação e protagonismo juvenil. A partir daí, os jovens foram convocados a: a) reunir um grupo para atualizar as informações existentes sobre sua comunidade – levantamento de ativos e passivos comunitários, ou seja, o que temos e o que não temos na comunidade; b) aplicar a metodologia de diagnóstico participativo “A árvore dos problemas”, a fim de levantar as principais necessidades e demandas da comunidade em áreas específicas como: saúde, educação, moradia etc.; c) elaborar um plano de ação de intervenção comunitária, com divisão de tarefas; d) elaborar um projeto comunitário, a partir da priorização dos problemas existentes na comunidade, com o intuito de mobilizar parcerias e; e) discutir e buscar estratégias de fortalecimento da associação representativa local.
Nessa jornada de construção do conhecimento, os jovens reviram seus passados, firmaram o tempo presente e expandiram suas possibilidades de futuro, traçando, cada um, seus projetos de vida. Ainda, adquiriram novos conhecimentos e trocaram informações e experiências sobre cidadania e direitos humanos, educação, trabalho, meio ambiente e desenvolvimento comunitário. Coletivamente, descobriram-se e se assumiram como sujeitos autônomos, capazes de protagonizar suas próprias histórias de desenvolvimento, pessoal e social, sujeitos de ação e transformação em suas comunidades. “Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também de História” (FREIRE, 2007, p. 54).
Dessa forma, a tecnologia social visou permitir o delineamento da expectativa de devolução da dignidade do público-participante e da melhoria da sua qualidade de vida e de suas famílias, a partir de um novo olhar para a superação de desafios que permitam o seu desenvolvimento, seja em seus níveis pessoal, profissional e ou social.
Recursos Necessários
Recursos Humanos: R$ 195.877,69
Concessionárias, Aluguéis, Condomínio e Taxas Administrativas: R$32.646,28
Alimentação permanente: R$ 130.585,13
Transporte permanente: R$ 65.292,56
Materiais de limpeza/consumo: R$ 19.587,77
Material pedagógico/didático: R$ 163.231,41
Resultados Alcançados
O impacto social da primeira ação onde foi implantada a tecnologia (Projeto Avante Juventude Pataxó) pode ser traduzido nos seguintes números: 02 Municípios contemplados; 12 Aldeias beneficiadas; 23 Instituições envolvidas; Pesquisa social com 485 jovens; 489 jovens participantes; 320 horas de formação social em 15 disciplinas; 240 horas de qualificação profissional; 09 Cursos de capacitação nas mais diversas áreas; 360 jovens certificados; 47 Educadores sociais envolvidos; 26 Instrutores de curso; Geração de Ocupação e Renda a mais de 100 pessoas; Análise da potabilidade da água em 11 Aldeias; Ação social em saúde em 03 Aldeias; Educação ambiental em 12 escolas; Fortalecimento de 11 Associações; Intercâmbio de cultura e esporte em 03 Aldeias; Participação de jovens em 10 grandes eventos, dentre outros e, especialmente, a realização do 1º Encontro Territorial da Juventude Pataxó da Bahia - ETJP/BA.
Impacto Social em números da segunda ação onde foi implantada a tecnologia (Jovens ADC): 10 Municípios contemplados; 64 Comunidades beneficiadas; 05 Parcerias agregadas; 536 Jovens inscritos no processo seletivo; 153 Jovens participantes do programa, com 99 concluintes; 340h de Formação social na 1ª Turma e 100h nas demais; 10h de Formação complementar junto ao SEBRAE/SENAC; 12 Disciplinas ministradas na 1ª Turma e 06 nas demais; 12 Educadores sociais mobilizados; 42 Comunidades com análise da potabilidade da água; 26 Ações de educação ambiental realizadas com o jovem; 48 associações atendidas/fortalecidas institucionalmente.
Resultados qualitativos alcançados com a implantação da tecnologia: foram realizadas avaliações dos participantes e categorizadas as respostas considerando os diversos aspectos. Sobre as mudanças sociais percebidas pelos jovens: 63% dos jovens afirmou que houve expansão do conhecimento; 58% que aumentou o poder de articulação política e assumiu alguma posição de liderança; 46% aumentou a capacidade de mediar conflitos; 46% que houve diminuição da timidez/ansiedade; 42% afirmou que aumentou a capacidade de assumir responsabilidades e 38% que aumentou a capacidade de percepção das questões comunitárias. Desenvolvimento de iniciativas sociais na comunidade: 88% dos jovens desenvolveram algum tipo de ação e 13% não.
Para poder monitorar a implementação do programa e avaliar os seus resultados, cada projeto possui um sistema de medição de desempenho próprio, validado/atualizado periodicamente com a equipe técnica que atua nas atividades.
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