Objetivo
Contribuir para a inclusão social e bem-estar de crianças, de 06 meses a 06 anos, em vulnerabilidade socioeconômica, que apresentam atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor e socioafetivo, fortalecendo autonomia, competências e habilidades.
Problema Solucionado
Na década de 90, o acompanhamento da AGACC junto às famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica identificou aspectos que comprometiam o desenvolvimento infantil: moradias precárias, sem saneamento básico; crianças sem andar, em redes ou carrinhos, sem espaço para brincar e se locomover; desinformação sobre desenvolvimento infantil e educação sanitária; crianças sem maturidade biológica apropriada à idade cronológica; desnutrição e doenças endêmicas; relações fragilizadas. As condições socioeconômicas, ambientais, sanitárias e afetivas observadas inviabilizam o desenvolvimento pleno de crianças.
Desde a Convenção sobre os Direitos da Criança, AGACC prioriza crianças mais vulneráveis, na primeira infância, com projeto Estimulação. Pois, em comunidades da periferia e do interior, ainda há muitas famílias com dificuldades de informação e acesso a serviços, que permitam identificar e reconhecer a condição de atrasos da criança.
Quando se compreende que a pobreza é multidimensional, as crianças e adolescentes têm privações diversas. Muitas têm dificuldade de acesso aos direitos básicos – saúde, educação, moradia... Dados do estudo Pobreza na Infância e na Adolescência- UNICEF/2019, registram que no Ceará 68,6% de crianças e adolescentes tinham ao menos um tipo de privação de direitos: 15% sem acesso à informação; 12% sem acesso à educação; 43% sem acesso a saneamento adequado; 18%sem acesso à água, 8% à moradia e 4% sem proteção contra o trabalho infantil. 67,3% dos cearenses de 0 a 5 anos vivem em famílias com percapta até ½ salário. E, dados do Censo 2010 indicam 3.459.401 crianças e adolescentes cearenses, de idade entre 01 a 14 anos, com ao menos uma deficiência severa.
O conjunto de constatações acima gerou e gera motivos para que o projeto exista, para prevenir atrasos no desenvolvimento infantil, trabalhar com crianças com deficiências, minimizar desvantagens decorrentes que comprometam a integridade física e mental das crianças, e interfiram no seu desenvolvimento biopsicossocial.
Dentre as 150 crianças que a AGACC atende atualmente, tem-se os seguintes diagnósticos:
- 95 têm atrasos neuropsicomotores diversos;
- 49 têm autismo;
- 02 têm transtorno do déficit de atenção com hiperatividade - TDAH;
- 01 com paralisia cerebral;
- 02 com síndrome de Down;
- 01 com catarata congênita.
Dentre os atrasos, 07 severos, 21 são moderados e 27 leves. E há 140 crianças esperando atendimento no projeto.
Descrição
A metodologia institucional pressupõe a participação de representantes das comunidades, lideranças, membros de instituições locais, desde o processo de pesquisa socioeconômica até a implantação do projeto. A AGACC identifica a necessidade dos serviços a serem oferecidos e os já existentes, bem como redes de instituições que podem dar suporte.
A tecnologia social Estimulação do Desenvolvimento Infantil está implantada em Fortaleza (bairros conj. Jardim União e Antônio Bezerra) e Granja, há cerca de 20 anos. Já foi desenvolvida em outros bairros da capital, replicada em Patos/PB e teve algumas ações adaptadas à realidade de países africanos, com apoio da ONG francesa ESSOR. A tecnologia social está sistematizada, traduzida para o francês, obteve certificação pela FBB em 2001 (mas não está no banco de tecnologias) e premiação Itaú/FIES nas edições 2007 e 2014.
O Projeto Estimulação se fundamenta em Piaget, Freud, Vygotsky, que valorizam a estimulação como potencializadora de experiências das crianças, especialmente nos três primeiros anos de vida com base nos aspectos do desenvolvimento físico motor, intelectual, afetivo emocional e social. Agregou-se Willian Frankenburg e J.B. Dobbs, com o Teste de Denver (aspectos pessoal, motor adaptativo, social, linguagem, de 0 a 6 anos) e Heloísa Marinho, educadora que criou a escala de avaliação para desenvolvimento da criança brasileira.
O Projeto ressalta a importância do brincar no estímulo ao desenvolvimento infantil. A relação com as crianças é de valorização das capacidades, estímulo ao desenvolvimento de habilidades e potencialidades, respeito, carinho e atenção; considerando-as sujeitos.
A metodologia propõe envolvimento comunitário, parceria com lideranças, agentes de estimulação (educadores), famílias e instituições. Os educadores residem na comunidade e participam de divulgação, planejamento, visitas e acompanhamento às crianças e famílias, e articulação com equipamentos sociais.
Formação pedagógica anual é realizada com equipes técnica e comunitária, sobre desenvolvimento infantil, direitos das crianças e adolescentes, contação de história, ludicidade; psicomotricidade; reabilitação cognitiva; e grupos de estudo sobre atividades e recursos terapêuticos, transtornos, e outros conteúdos para ampliar o conhecimento e melhorar a compreensão e prática da equipe.
A parceria com famílias é essencial, pois relações familiares e história de vida são importantes para o desenvolvimento integral e fortalecimento de vínculos. A cada ano, faz-se uma pesquisa da situação socioeconômica familiar, permitindo conhecimento da realidade familiar e possibilidade de encaminhamento das questões sociais que se apresentam.
A articulação com equipamentos sociais comunitários e instituições potencializam o atendimento às crianças, favorecendo tratamento integrado em casos de atrasos mais significativos e/ou atendimento às necessidades infantis e demandas familiares.
O projeto Estimulação tem 5 processos básicos, onde algumas etapas podem ocorrer paralelamente:
1.Avaliação diagnóstica da criança, anamnese com presença da família;
2.Elaboração e aplicação do plano de atendimento à criança (atividades individuais ou grupais);
3.Encaminhamento a serviços;
4.Integração e orientação à família;
5.Reavaliação da criança.
O plano de atendimento é voltado ao lúdico, pois o brincar é a principal atividade da criança, com a qual ela se desenvolve no âmbito cognitivo, físico, linguagem, sensorial, e atividades de vida diária (AVDs); aprende regras, valores, comunicação. Os exercícios e estímulos trabalham equilíbrio, andar, reconhecer a si próprio, corpo, rabiscar; memória; noções de cores, formas, tamanhos, sequência lógica, concentração e atenção; higiene, vestuário, alimentação; linguagem; incentivo à leitura. Trabalham a interação grupal atividades socio recreativas, estímulo à imaginação, criatividade, dedução, associação; noções numéricas. Atividades psicomotoras (circuitos, exercícios físicos, coordenação motora). Saúde bucal e nutricional; escovação, pesagem de crianças de até 3 anos.
As crianças são atendidas semanalmente. Cada atendimento individual tem duração de 40 minutos, e os atendimentos grupais 1hora. Ao final, há o lanche e orientação à saúde bucal. Em paralelo, ocorrem atividades de incentivo à leitura - projeto Tenda da Leitura (tecnologia certificada); recreativas; festividades e passeios.
Com as famílias, há encontros mensais sobre desenvolvimento infantil, cidadania, convivência familiar, valores, saúde preventiva e bucal, violência, paternidade positiva; oficinas produtivas -artesanato; e visitas domiciliares.
Recursos Necessários
Para 01 sala de Estimulação é preciso: espaço físico – 01 sala de atendimento, com espaço para entrevista; 01 banheiro para crianças; 01 espaço para escovação de dentes (com 03 torneiras e espelho); mobiliário (03 mesas e 12 cadeiras infantis; 01 armário, 01 estante, 01 porta arquivos de aço; 01 birô e 03 cadeiras adultos) e equipamentos (notebook, prateleiras, tatame EVA, espelho de ambiente, balança, cadeira de mobilidade, escada/escorregador de madeira, microsistem, puffs, ventiladores, itens de suspensão sensorial); material didático e pedagógico (jogos educativos, brinquedos, livros infantis, bolas infláveis, cds, túnel, amarelinha EVA, piscina plástica, gangorra, estojos de pintura, kits fantoches e dedoches, quadro de grafismo, papéis madeira, crepom e sulfite; lápis de cor, canetinhas, fita gomada, tinta guache, tesoura sem ponta, cópias de fichas etc); utensílios para cozinha -preparação de lanches (fogão, bujão, liquidificador, bebedouro, panelas, talheres, pratos e copos); gêneros alimentícios (frutas, leite, farinha de aveia, biscoitos, conforme idade das crianças); material de higiene (escova e creme dental, sabonete líquido, shampoo, papel higiênico, algodão, cotonete, álcool gel, desinfetante, pano de limpeza, balde, vassoura, roldo); transporte - equipe, contatos e visitas, crianças encaminhadas aos serviços, passeios; salário de 01 terapeuta ocupacional, 01 educador, % coordenação e auxiliar administrativo; pesquisa; capacitação da equipe; divulgação.
Resultados Alcançados
O monitoramento -visitas técnicas mensais- acompanha o plano de atendimento à criança, registra no diário de bordo evoluções e fatos marcantes. Há análise trimestral de metas; avaliações semestrais com equipe e lideranças.
São resultados - 1993 a 2022:
- 9609 crianças atendidas em 197.602 sessões; 15% com necessidades especiais diversas; 2828 recuperadas dos atrasos diagnosticados;
- 8077 famílias beneficiadas; 178.782 visitas domiciliares; 26.389 participações em encontros temáticos.
Avaliações melhoraram e qualificaram o projeto: Metodológica - 2007 (Marilene Munguba-UNIFOR); Práticas Educativas desenvolvidas desde 1992 por Essor e parceiros no Brasil e Moçambique-2011 (Paul Hibon - Evaluation SUD); Sistematização do Projeto Estimulação– 2009 (Pablo Robles -Causas do Bem e Maguidarela Caldas - AGACC).
- Evolução de crianças por estímulos do brincar: 42% -linguagem, 38% -atividades lúdicas, 29% -socialização, 21% - aspecto motor, 17% - reabilitação funcional, 13% - aprendizagem cognitiva.
Depoimento de uma mãe aponta evolução na socialização e linguagem do filho: “Meu menino era atormentado, porque não tinha convivência com outras pessoas. Era só eu; meu marido trabalha e eu não tenho parentes aqui, ele vivia naquele mundo só. Então eu pude trazer ele pra cá, vi outro mundo, conheci pessoas, fiz amizades (...) meu filho se entende bem com os amiguinhos, na sala tem participação ... ele vem mudando na convivência e no jeito de falar.... ele pronuncia trocando as letras, mas estou vendo ele mudando.”
- Temas tratados na mídia trouxeram desafios: crianças com Síndrome de Down, Transtorno do Espectro Autista – TEA. Famílias têm enfrentado medos e preconceitos, buscam orientação e atendimento.
- Oficinas produtivas motivam mães a permanecerem no projeto. Quando a mãe, cuidadora, é acolhida com outras ações que ampliam renda familiar, ela se sente apoiada, fortalecida e vislumbra novas perspectivas de vida.
- Paternidade positiva – em 2022, 16% dos pais participaram.
- A família dá atenção e carinho à criança; vínculos afetivos revitalizados; o brincar é valorizado. Segundo depoimentos: “Se não fosse o Projeto, eu não iria aprender a amar meu filho.” (área Antônio Bezerra).
“A partir do momento que você relaxa, larga a pia cheia de louça e vai dar atenção ao seu filho, você tá valorizando tanto a criança quanto você, porque você também está relaxado e fazendo o que ela queria, tá brincando. Você está aprendendo e ele tá aprendendo também. Faz bem.” (área Jardim União).
Público atendido
Crianças
Portadores de deficiencia
Famílias de baixa renda
Tecnologias Sociais Semelhantes
Adolescentes Protagonistas
Saneamento Básico Na Área Rural - Fossa Séptica Biodigestora
Secador Solar De Madeira
Resgatando Gerações: Medidas Socioeducativas Aos Adolescentes Infratores