Problema Solucionado
Existem cerca de 25 milhões de cafeicultores no mundo, sendo a maior parte pequenos produtores que dependem do café como principal renda. Para suprir o aumento da demanda por café, os países produtores precisam aumentar sua produtividade utilizando práticas sustentáveis, adotar medidas que tornem a cafeicultura resiliente às mudanças climáticas , além de atender a uma demanda crescente por cafés de qualidade. Tais preocupações dizem respeito a toda cadeia do café e os produtores mais desassistidos precisam de condições que transformem a qualidade de vida no campo, promovam a equidade de gênero e gerem oportunidades. Nesse contexto, a ACOB capitaneou um projeto para capacitação, comunicação e disponibilização de tecnologias cujo sucesso é ofertar práticas agroecológicas, baratas, inovadoras e eficientes para que 2,5 mil pequenos e médios produtores de café das regiões do Sul de Minas e Mogiana Paulista possam impulsionar sua produtividade, tornar-se resiliente às mudanças climáticas, reduzir custos, agregar valor ao produto e melhorar a qualidade do café, num ambiente em que a equipe técnica da ACOB se identifica e se comunica de igual para igual com o produtor rural.
Descrição
A primeira etapa consistiu de uma série de reuniões preparatórias entre os implementadores do projeto, incluindo professores, pesquisadores, extensionistas, produtores, compradores de café e facilitadores para realizar:
(i) Troca de experiências em questões técnicas e metodologias de treinamento;
(ii) Identificação de problemas comuns aos produtores alvo do projeto e, principalmente;
(iii) Refinamento e definição do conteúdo dos treinamentos, materiais didáticos e de comunicação.
Ficou acordado que para transformar o presente projeto em uma tecnologia social transformadora e contemplar o maior número possível de produtores de café, os módulos de treinamento deveriam englobar quatro temas centrais, abordando:
(i) Manejo sustentável: práticas sustentáveis, eficientes e acessíveis para o manejo do solo e do cafeeiro, incluindo práticas agroecológicas para adubação, controle de invasoras, pragas e doenças, além de outras técnicas de condução da lavoura.
(ii) Clima & Água: práticas simples e acessíveis para aumentar a resistência e a adaptação dos cafeeiros à seca, frio, calor e outras variações climáticas desfavoráveis.
(iii) Qualidade: tecnologias de pós-colheita, qualidade dos grãos e melhores mercados;
(iv) Grupos: organização de grupos de produtores, suas características, vantagens e passos para se organizarem.
Numa segunda etapa, a ACOB visitou todos os parceiros do projeto e seus respectivos municípios e núcleos de atuação na Mogiana Paulista e Sul de Minas Gerais (duas das principais regiões produtoras de café no Brasil), para que de forma participativa, fosse possível refinar e adaptar ainda mais o conteúdo dos treinamentos de acordo com a realidade e demanda de cada grupo de produtores assistidos. Nessa etapa os produtores descreveram suas maiores dificuldades e carências, mas também contaram os casos de sucesso. Desse modo, o desenvolvimento da presente tecnologia social consistiu em envolver de forma dinâmica, trocar experiências, trazer inovações, discutir o conteúdo teórico junto aos produtores e realizar atividades de campo demonstrativas para incentivá-los por mudanças nas lavouras e na propriedade e, finalmente, monitorar as principais mudanças reais provocadas.
A partir de setembro de 2015, foi dado início as rodadas de treinamentos para os cafeicultores, em sua grande maioria pequenos produtores e agricultores familiares, observando-se que o módulo que estivesse sendo ministrado coincidisse com o ciclo do café, desde o preparo do solo, plantio até a colheita.
Vale ressaltar que alguns parceiros implementadores já se encontravam envolvidos em assistência técnica, extensão rural e capacitação individual de produtores, uma vez que o presente projeto conseguiu, em conjunto, complementar essas atividades, além de capacitar novos produtores.
Após a realização dos primeiros treinamentos cobrindo os módulos de Manejo Sustentável e Clima & Água, foi possível aprimorar e adaptar ainda mais os conteúdos teóricos e práticos e elaborar cartilhas instrutivas, em linguagem totalmente voltada aos produtores rurais, sobre “Manejo sustentável do cafeeiro” e “Clima e água para uma cafeicultura sustentável”. Esse material didático foi publicado, colocado em domínio público e amplamente divulgado e distribuído para além dos produtores que participaram das sessões de treinamento.
O que caracterizou o módulo de Manejo Sustentável são discussões teóricas e práticas nas lavouras sobre: saúde do solo, práticas que promovem a saúde do solo (ex: manejo do mato, plantas de cobertura e adubação verde), formas de adubação em função da análise de solo, foliar e produtividade esperada. Já o módulo de Clima & Água, abordou como as mudanças climáticas afetam a cafeicultura, a importância da conservação das microbacias, cumprimento das legislações ambientais, técnicas para retenção de água no solo e aprofundamento de raízes (ex: manejo do mato, plantas de cobertura e gessagem) e condicionamento climático (quebra-ventos, sombreamento e arborização de cafezais).
Os módulos de Qualidade abrangeram questões técnicas sobre como produzir cafés especiais de alta qualidade e valor de mercado agregado. As atividades práticas realizadas nas propriedades rurais proporcionaram aos produtores ensinamentos e técnicas sobre colheita, pós-colheita, beneficiamento e o armazenamento da produção.
No quesito Grupos, alguns núcleos já se encontravam de forma bastante organizada, seja em cooperativas, como a Coopfam e Coopervitae, ou associações, como a Agrifam, Acafeg, Assodantas e Afasa. Outros também já praticavam os preceitos da cafeicultura orgânica e/ou estavam no caminho para o sustentável, com vistas a reduzir sistematicamente o uso de agroquímicos. O papel da ACOB consistiu em dar suporte e orientação aos grupos, destacando, por exemplo, as vantagens de que se estiverem organizados coletivamente é possível comprar insumos agrícolas conjuntamente a preços mais baratos e vender o café a um preço mais rentável também.
Recursos Necessários
Por se tratar de uma abordagem que possui o intuito de reunir e envolver grupos de pequenos e médios produtores de café em sessões de treinamento, os recursos materiais necessários são:
(i) Equipamento completo de data-show
(ii) Flip-chart para atividades práticas e em grupo
(iii) Vídeos temáticos
(iv) Cartilhas instrutivas
(v) Deslocamento até a zona rural (média de 300km rodados por treinamento)
(vi) Eventual pernoite em hotel / pousada
(vii) Lanche aos produtores (média de 30 produtores por evento)
Resultados Alcançados
Ao longo dos últimos três anos, foram capacitados 2482 cafeicultores em 19 municípios paulistas e mineiros. Desse total, foi registrado um incremento significativo de 100% quanto à participação de mulheres entre os anos de 2015 e 2016, chegando-se a 455 cafeicultoras beneficiadas. A ACOB e demais parceiros conduziram 139 sessões de treinamentos.
O número de produtores que adotaram práticas de manejo de solo e de pragas e doenças para aumentar a produtividade e sustentabilidade, saltou de 100 no início do projeto para 907 ao final de 2016. Nesse período, saltou de 20 para 415 o número de produtores que utilizam práticas para aumentar a resiliência do cafeeiro contra severidades climáticas e de 15 para 66 os que utilizam alguma forma de sombreamento do cafezal.
A produtividade média nas propriedades com até 5 hectares de café, tamanho que representa mais de 80% do total de propriedades atendidas pelo projeto, era de 1.100 toneladas/ha e alcançou em 2016 o patamar de 1.700 toneladas/ha. A receita bruta por propriedade subiu em média 45,5%. Já a redução de 27% no custo médio por quilo de café produzido também foi significativa e serve como um indicador consistente de melhoria nas condições de vida dos pequenos produtores.
Outros pontos positivos refletem também na questão da qualidade do café. Por exemplo, os produtores familiares da Coopfam, melhoraram a qualidade de seus grãos após receberem capacitações sobre cafés especiais, obtendo pontuação média de 83 pontos comparada a uma média anterior de 80 pontos. Isto proporcionou um melhor preço no momento da comercialização do café.
A melhoria da qualidade de vida dos produtores constatada através dos ganhos em produtividade, uma produção mais limpa, redução dos custos e conquista de melhores mercados são a garantia de que a tecnologia social aplicada foi diferenciada, transformadora e provocou mudanças físicas no campo e na realidade de vida dos produtores. O empoderamento das mulheres também gera inúmeros benefícios as famílias e comunidades envolvidas.
No momento em que se sustenta o produtor na terra também provoca inúmeros ganhos ambientais por fortalecer a produção de café em bases sustentáveis.
Isso somente foi possível devido à mudança de percepção e atitude dos cafeicultores, propiciada pelos treinamentos. Até mesmo órgãos governamentais do setor rural como EMATER-MG e CATI-SP ficaram bastante interessados no alcance e visibilidade do projeto bem como no tipo de abordagem utilizada.
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