Objetivo
Ampliar as possibilidades de aprendizado a partir de um canal que evidencia as demandas e potencialidades da comunidade escolar e usa estas informações para engajar pessoas e projetos em ações práticas.
Problema Solucionado
A criação de políticas públicas e o dia-a-dia das escolas têm tempos e diversidade de demandas distintas. Enquanto as redes públicas precisam se concentrar em problemas que afetam o conjunto das escolas, cada unidade escolar, com seus educadores, gestão escolar, estudantes, familiares e contexto específicos, constitui uma sociedade singular que tem suas necessidades específicas, mas também potencialidades. O problema é que muitas vezes estas necessidades e potencialidades não chegam a ser enfocadas, nomeadas e, muito menos, recebem apoios.
Diante do complexo funcionamento das escolas públicas - com burocracias, avaliações, questões humanas cotidianas, insuficiência de funcionários, processos de aprendizado em mudança, entre outras questões - as potencialidades das ações já existentes e das que poderiam ser iniciadas, caso a comunidade do entorno da escola conhecesse as demandas, são normalmente negligenciadas. Ou seja, saberes, conhecimentos, conexões e oportunidades se perdem por falta de articulação.
É diante deste problema que a Quero na Escola surge como uma tecnologia social que ajuda a escola a nomear demandas e encontrar possibilidades de atuação com parceiros do entorno.
Descrição
Nossa tecnologia social é centrada na criação de pontes entre demandas genuínas da comunidade escolar e outros setores da sociedade que contribuam com seus saberes para ampliar o potencial dos projetos escolares, as oportunidades de aprendizado e as conexões entre escola e território. Diante de diferentes contextos, criamos projetos que, embora distintos na temática, sempre funcionam a partir de um canal online em que educadores e estudantes possam evidenciar as necessidades e interesses reais da comunidade escolar naquele tema. Com as demandas específicas, engajamos pessoas ou coletivos e organizamos a realização de ações concretas nas escolas ou em benefício de sujeitos da comunidade escolar.
Em nosso primeiro projeto, criado em 2015, antes mesmo da institucionalização da Associação Quero na Escola, qualquer estudante de escola pública cadastra uma demanda no Quero na Escola! e um mapa dos pedidos, por assunto e/ou endereço da escola, fica disponível a voluntários. Ao longo dos anos conseguimos parceiros em todas as regiões do Brasil que, a partir de uma conversa mediada pela nossa equipe, se comprometeram com ações dentro das escolas em que havia os pedidos e das quais estavam próximos geograficamente.
Com o tempo, outros projetos foram surgindo aproveitando esta tecnologia social. O primeiro foi o Especial Professor (2016-2019) em que era a vez dos educadores pedirem um apoio em um de seus projetos com os estudantes ou com um assunto que gostariam de conhecer melhor. Mais uma vez, as demandas eram listadas e pessoas podiam se voluntariar para ajudar. Depois, nossa equipe mediava os encontros a partir das propostas e as ações ocorriam nas escolas.
Durante a pandemia de Covid, em 2020, a nossa tecnologia social foi posta a prova. Além do fechamento dos prédios das escolas, houve um quadro de medo e impotência por parte dos educadores que estavam em uma realidade totalmente nova, trabalhando à distância. Em poucas semanas, criamos o Apoio Emocional, um novo canal em que educadores e voluntários da área de saúde mental se inscreviam e organizamos “matchs” para atendimento online a educadores que nomeavam diferentes necessidades. O projeto teve uma segunda edição em 2022.
Devido ao sucesso da tecnologia de criação de pontes entre escola e outros setores da sociedade, ainda em 2021 fomos convidados pelo WWF-Brasil para criar um projeto em que a Restauração de Ecossistemas, tema da década da ONU, fosse protagonista de ações nas escolas de todo Brasil. Surgiu então, a Olimpíada Brasileira de Restauração de Ecossistemas, a Restaura Natureza em que o protagonismo das atividades práticas é todo de estudantes e, desta vez, os estudantes ficaram estimulados a buscar parceiros do entorno para suas ações a fim de criar projetos competitivos na olimpíada.
Já em 2023, por conta dos 20 anos da Lei 10.639 que institui o ensino de história e cultura afro nas escolas, lançamos a Pesquisa-Ação “Sua escola é (anti)racista?”. Mais uma vez, criamos um canal (iniciado por uma pesquisa) para os estudantes e educadores nomearem dificuldades em lidar com temas étnico-raciais e pontos a melhorar. Depois, com os resultados, sensibilizamos a sociedade para o tema (inclusive com matéria em veículos de comunicação) e engajamos pessoas a colaborarem com a temática nas escolas que solicitaram apoio.
Em todos os casos, antes da criação de um canal que atinja nossos objetivos - de um criar pontes a partir do protagonismo da comunidade escolar, com outros setores da sociedade que ampliem as oportunidades de aprendizagem - utilizamos ferramentas de escuta ao público educador e estudantil para entender qual formato de canal seria mais convidativo para esta ponte. Especificamente, adotamos o Mapa de Empatia, para que possamos enxergar mais a fundo como se sentem, suas necessidades, desejos e problemas mais íntimos. Desse processo, elaboramos uma persona que pode representar o público afetado e criamos estratégias para atendê-lo e apoiá-lo de maneira assertiva e moldada a objetivos do contexto social ou solicitações dos parceiros.
Após 8 anos e diferentes projetos com resultados efetivos e bastante quantitativos, podemos dizer que a tecnologia social funciona. É possível criar canais que sejam eficientes em convidar a comunidade escolar a nomear demandas que a sociedade possa atender. E, com estas necessidades mapeadas, organizar ações que aproveitem potenciais negligenciados das escolas e integrem as unidades escolares aos territórios em que estão inseridas, ampliando oportunidades de aprendizado para todos.
Recursos Necessários
Para a implementação de um projeto usando a tecnologia social da Quero na Escola é necessário primeiramente ao menos duas pessoas que se dediquem a investigação dos sentimentos dos estudantes e educadores em relação ao tema que se quer evidenciar (Mapa de Empatia). Em casos em que há um parceiro ou contexto específico que se quer abordar, também são realizados estudos do contexto. Depois, a equipe desenha um novo canal que seja convidativo para a comunidade escolar e resulte em demandas por participação social (ou seja, aplica a tecnologia social da Quero na Escola). A partir daí e é necessária a contratação de um serviço online, normalmente uma página (site) com formulários e que também sirva de provocação e estímulo para engajamento da sociedade como um todo e, especialmente, das pessoas que podem ajudar nas escolas que solicitaram. É recomendado também recurso para a elaboração da identidade visual do projeto e publicização, inclusive em redes sociais, a fim de impulsionar a participação do público alvo.
A partir de então, os recursos são de manutenção desta tecnologia, tanto da parte online (servidor e pessoa que faça atualizações necessárias) quanto da equipe que, a partir das demandas e ofertas registradas, irá organizar as atividades conversando com cada escola envolvida e cada voluntário ou colaborador disposto a ajudar. Os demais recursos já existem, pois as atividades são desenvolvidas no próprio espaço das escolas possibilitando o protagonismo da comunidade e que os visitantes entendam a dinâmica da escola e qualifiquem suas propostas de intervenção.
Resultados Alcançados
Os resultados são qualitativos e quantitativos. A principal mudança é a produzida nas escolas participantes em que os sujeitos passam a ter uma experiência concreta de parceria com pessoas do entorno e, assim, entender que as possibilidades de aprendizado se potencializam quando ampliam suas redes de apoio.
O nosso primeiro programa, em que estudantes dizem o que mais querem aprender além do currículo e voluntários se cadastram para atender, alcançou mais de 30 mil estudantes diretamente beneficiados. A partir das demandas e das propostas, nossa equipe organiza com a escola a melhor forma de incluir atividades que acabam sendo abertas a grupos de estudantes. (Vídeo sobre este projeto com depoimentos nos links).
No projeto Apoio Emocional para professores, que foi realizado durante a fase de fechamento dos prédios das escolas por conta da pandemia de Covid, atendemos 3.056 professores atendidos diretamente, 315 escolas participantes, 103 cidades em 23 estados de todas as regiões do território nacional. Como forma de coleta qualitativa dos sentimentos e avaliações dos participantes pedimos um feedback sobre o impacto das sessões com uso de um formulário alguns meses depois. Esta avaliação tinha como objetivo verificar quantitativamente quantos educadores seguiam sendo apoiados e qualitativamente a satisfação de atendidos e voluntários. Em uma escala de 0 a 5, sobre a influência do Apoio Emocional no trabalho do professor, sendo 0 “nada” e 5 “totalmente” a média foi de 4,57. Muitos relataram que voltaram a se relacionar com alunos e colegas, ou mesmo encontraram caminhos para continuar o trabalho. (site específico em links adicionais)
A pesquisa-ação “Sua Escola é (anti)racista?”, ainda em andamento, teve a participação de 624 educadores de 21 estados e do Distrito Federal na fase de nas questões sobre o racismo que percebem nas escolas, como reagem e suas dificuldades para lidar com temas étnico-raciais. A partir das respostas, iniciamos as conexões com pessoas que pudessem colaborar nas questões apontadas pelos educadores e foram realizadas 14 ações envolvendo 933 pessoas em 2023 (ver site específico nos links adicionais)
Em duas edições, a Olimpíada Brasileira de Restauração de Ecossistemas contou com 16.693, de todos os estados do país. Entre estas, 482 grupos de estudantes relataram suas ações práticas, envolvendo, cada uma delas, dezenas de outras pessoas da escola ou da comunidade externa (site específico nos links adicionais).
Público atendido
Alunos do ensino basico
Adolescentes
Professores do ensino basico
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