Objetivo
Qualificar jovens talentos em técnicas de ilustração para atuarem profissionalmente e como professores de arte nas escolas públicas, tendo como referência estética o patrimônio ambiental da região e numa perspectiva de qualificar a percepção que crianças e adolescentes têm do seu próprio lugar.
Problema Solucionado
Regiões como Santa Luzia do Itanhy, localizada no sul de Sergipe e um dos municípios mais pobres do Brasil (IDH: 0,545) estão submetidas a um ciclo de perpetuação da pobreza, instaurado há décadas. Nestas regiões, dois importantes ativos econômicos, capazes de reverter este quadro, são constantemente negligenciados, que são a criatividade e o patrimônio ambiental. Regra geral, as opções para jovens talentos nestas regiões é migrar para algum grande centro ou acabar substituindo suas habilidades criativas pelas opções de trabalho tradicionais, quase sempre de baixa renda, desperdiçando preciosa oportunidade de promover alguma transformação na realidade local. Alguns fatores que contribuem negativamente para que ações de valorização destes ativos sejam implantadas tais como o tempo necessário para tangibilizar os resultados, o acesso ao mercado, tanto para comercialização quanto para alinhamento dos produtos, e os custos para assegurar escala.
A Tecnologia Social Arte Naturalista foca em descobrir jovens talentos, dentre alunos do ensino fundamental II (11 a 15 anos de idade, em média), e dar oportunidade qualificada para que eles desenvolvam sua habilidades de desenho, com foco em técnicas de ilustração (aquarela, nanquim, grafite, pastel) e explorando de forma surpreendente os elementos que compõem o meio-ambiente local. Os alunos qualificados no Arte Naturalista são convidados e preparados para atuarem como instrutores de ilustração nas escolas dos seus respectivos povoados e comunidades e passam por processo de formação empreendedora, para que possam vislumbrar possibilidades de trabalho e renda associados à sua qualificação técnica. Quando estes instrutores e empreendedores trabalham a estética do patrimônio ambiental da região eles proporcionam às crianças e adolescentes do município a oportunidade de valorizar a riqueza imaterial ao mesmo tempo em que geram produtos e serviços com apelo global, a partir de sua própria identidade.
Descrição
A construção da Tecnologia Social Arte Naturalista teve início com um processo de seleção de jovens talentos em desenho (grafite e lápis de cor), de todos os povoados de Santa Luzia do Itanhy, com idade entre 11 e 15 anos. A divulgação deste processo de seleção contou com o apoio das escolas municipais, numa estratégia de articulação visando a re-aplicação futura da tecnologia. Um total de 97 alunos se candidataram para processo de seleção, que durou uma semana e selecionou os 20 adolescentes mais talentosos. Na primeira fase do projeto, estes 20 alunos receberam uma formação em técnicas de ilustração, tais como aquarela, pontilhismo e grafite, num total de 13 aulas, ao longo de 13 meses, e tiveram acesso a material de arte profissional, de alta qualidade. Estas aulas ocorriam na sede do IPTI, no povoado do Crasto, sempre aos finais de semana (sábado e domingo), ministradas por um experiente professor de ilustração e disponibilizando para os alunos os melhores materiais de arte disponíveis, na medida em que eles iam evoluindo no domínio das técnicas.
Paralelamente, o projeto tinha atividades de imersão nos manguezais, principal ecossistema local, coletando e registrando elementos iconográficos para posterior uso nas aulas de ilustração. Estas atividades também tinham por objetivo apresentar o ecossistema aos alunos a partir da perspectiva da beleza dos seus elementos, salientando que a maioria dos alunos vinha de famílias de pescadores, acostumados a ver o manguezal apenas como ambiente de onde eles extraem seus meios de sobrevivência e de renda. Em abril de 2013 os 24 melhores trabalhos foram expostos no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju, que foi para os alunos do Arte Naturalista a primeira experiência de frequentar um museu, juntamente com os seus familiares.
A fase seguinte da Tecnologia previa a construção do modelo de re-aplicação e consistiu na elaboração de cartilhas de apoio ao ensino de ilustração com grafite e lápis de cor, que são os recursos que os alunos das escolas municipais dispõem. Estas cartilhas foram elaboradas de forma participativa, envolvendo os alunos e o professor do Arte Naturalista, sob a supervisão da equipe de pesquisadores do IPTI. O objetivo era chegar num material simples e eficaz de apoio ao ensino de ilustração, levando em conta a inexperiência do grupo em lecionar. A cartilha de grafite ficou pronta no final de 2013 e no início de 2014 os alunos começaram a re-aplicar a tecnologia em 4 escolas municipais (sede e povoados Rua da Palha, Crasto e Pedra Furada). Em 2014 a cartilha de lápis de cor ficou pronta e ao longo deste ano foram beneficiadas mais de 500 adolescentes destas 4 escolas, sendo que 12 novos jovens com talento para ilustração foram identificados e integrados ao grupo principal, para aprenderem as técnicas mais sofisticadas. A partir de 2015 as experiências de re-aplicação foram ampliadas, incluindo as escolas dos povoados Taboa e Cajazeiras.
Em 2016 o IPTI estabeleceu uma parceria com a Morena Rosa, tradicional marca de roupa feminina, do Paraná, através da qual os ilustradores de Santa Luzia do Itanhy produziram uma série de desenhos inspirados no manguezal para uma coleção, mas a Morena Rosa ofertou uma formação em empreendedorismo no setor de moda e apoiou financeiramente a constituição da empresa deles, que ganhou o nome de CDC (Casa do Cacete). A CDC já estabeleceu diversas parcerias com outras empresas, além de lançar seus próprios produtos, e agora é a responsável por reaplicar a Tecnologia Social Arte Naturalista em outros municípios, algo que esperamos ocorra em breve, salientando que um dos alunos, Genisson Cardoso, é atualmente o coordenador do Arte Naturalista em Santa Luzia do Itanhy.
Recursos Necessários
A Tecnologia Arte Naturalista pode ser re-aplicada de 2 maneiras. Ou nas escolas, quando já há um núcleo de ilustração estruturado, ou em novos municípios, neste caso para estruturar um núcleo. No caso da re-aplicação nas escolas os recursos materiais se restringem a grafite, lápis de cor e papel sulfite, recursos usualmente já disponíveis para os alunos. No caso da re-aplicação da Tecnologia Social em municípios os recursos materiais se referem ao material de ilustração, composto por: 3 tipos de blocos de desenho, estojos de nanquim, aquarela e grafite e 4 tipos de pincéis para aquarela. O valor total deste material, por aluno, é de R$ 500,00, valor que permite adquirir um kit completo, semi profissional.
Resultados Alcançados
Em abril de 2013, os alunos da primeira turma do projeto realizaram uma exposição com 24 trabalhos de ilustração no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju. A partir desta exposição, conseguimos apoio financeiro para seguir adiante, com a fase de qualificação em ilustração digital e de preparação destes alunos para atuarem como professores de arte nas escolas dos seus respectivos povoados. Até 2019, os jovens artistas de Santa Luzia do Itanhy beneficiaram mais de 1.800 crianças e adolescentes das escolas dos povoados Rua da Palha, Pedra Furada, Crasto, Taboa, Cajazeiras e da sede do município, ao mesmo tempo em que ajudam a identificar e atrair novos alunos talentosos para o grupo principal de ilustração, que é responsável por ensinar as técnicas mais sofisticadas de ilustração.
Em 2015 o grupo original conclui um catálogo científico ilustrado, com textos em português e inglês e 32 ilustrações de elementos do manguezal de Santa Luzia do Itanhy, e o CNPq aprovou a impressão de 2.000 unidades deste catálogo, que foram distribuídas para bibliotecas públicas de todo o Brasil e para formadores de opinião, cuja versão digital pode ser acessada em:
https://www.ipti.org.br/app/uploads/documentos/catalogo-arte-naturalista1.pdf
Nos últimos anos alguns dos ilustradores de Santa Luzia do Itanhy se juntaram para criar a primeira empresa criativa do município, que ganhou o nome de Casa do Cacete (CDC – https://www.casadocacete.com/), que por sua vez estabeleceu parcerias com empresas como Morena Rosa, Osklen, Insecta Shoes para a elaboração de ilustrações para coleções destas marcas, ao mesmo tempo em que criou seus próprios produtos de moda e design, incluindo estampas, murais, entre outros. Os trabalhos dos ilustradores da CDC já foram expostos na West Elm, em Nova Iorque, e o principal líder da CDC, o Genisson Cardoso, foi um dos empreendedores sociais selecionados pela Red Bull Amaphiko Academy, em 2019: https://www.redbull.com/br-pt/red-bull-amaphiko-selecionados-2019
As atividades iniciais do projeto estão documentadas num blog: http://arte-naturalista.blogspot.com.br/
Público atendido
Adolescentes
Afrodescendentes
Alunos do Ensino Fundamental
Famílias de Baixa Renda
Jovens
População Ribeirinha
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