Objetivo
Promover o desenvolvimento das capacidades de lideranças comunitárias com a finalidade de garantir a proteção de crianças e adolescentes, através do engajamento de voluntários na organização de suas comunidades e nas lutas dos movimentos sociais, com o propósito de fortalecer a cidadania e a participação popular no campo das políticas públicas e da proteção infantil.
Problema Solucionado
A origem do Animador Comunitário foi no final dos anos 90, frente a necessidade de combater a desnutrição e a mortalidade infantil, problemas de saúde pública recorrentes no Brasil. Nas décadas posteriores, ocorreram mudanças em relação a essa problemática decorrentes de avanços no combate à pobreza e erradicação da fome. Contudo, ao longo dos anos a realidade da infância tem sido marcada por violações que impactam o destino de crianças e adolescentes. Elas podem ser vítimas de violências, estando expostas a vulnerabilidades como o trabalho infantil, o abuso e a exploração sexual, a castigos físicos e negligência, dentre outras. Em 2018, foram feitas 76 mil denúncias de violações de direitos de crianças e adolescentes, de acordo com o “Disque 100”, canal de denúncias do Governo Federal, indicando que a violência infantil é uma realidade persistente. A tecnologia contribui para que voluntários possam desenvolver em suas comunidades uma atuação organizada e assumir a liderança de ações voltadas para a proteção infantil. Sua replicação é possibilitada em função de seus processos fortalecerem as capacidades de pessoas e a construção de alternativas para superar dificuldades comuns.
Descrição
A tecnologia considera as seguintes fases complementares:
I. Escolha de voluntários com base em um perfil básico: foram construídos com o envolvimento dos comunitários algumas características para auxiliar a identificação de Animadores Comunitários. São elas: comprometimento com o crescimento pessoal e o desenvolvimento da comunidade; pessoas que compreendem e valorizam a importância do ambiente familiar saudável para o desenvolvimento pleno das crianças; que desejam prestar serviço voluntário na comunidade; pessoas atenciosas, acolhedoras e solidárias, que gostam de conversar e sabem escutar; que adotam postura de respeito ao próximo. Baseado nessas características e outras que são levantadas em cada contexto, adotam-se três caminhos, citados a seguir, para definir o grupo de Animadores Comunitários.
a) Eleição: escolha via eleição direta envolvendo as famílias de cada comunidade em que as ações serão desenvolvidas. Este é um caminho que facilita a legitimação dos Animadores Comunitários pela comunidade, a aceitação de suas visitas e orientações e o fortalecimento dos vínculos de confiança entre os comunitários.
b) Adesão espontânea: pessoas engajadas comparecem nas organizações sociais implementadoras da tecnologia e manifestam a motivação para atuar como voluntárias se colocando disponível e, mediante a pré-disposição e o perfil aderente a proposta de trabalho, a pessoa pode integrar o grupo de uma comunidade específica.
c) Convite: cuidadores de crianças envolvidos nas atividades comunitárias, líderes comunitários e jovens atuantes são convidados para compor o grupo de Animadores Comunitários.
II. Formação de voluntários: os voluntários escolhidos na fase I são orientados para atuarem como Animadores Comunitários. Eles recebem as informações sobre a tecnologia para dar o início na organização e elaboração de um plano de trabalho voltado para responder as questões relacionadas a realidade de suas comunidades. Também são abordados temas destinados a formação sócio-política e a compreensão do funcionamento das políticas públicas, dentre eles: liderança; direitos da mulher, da criança, dos adolescentes e dos jovens; políticas públicas e controle social; comunicação não violenta; participação cidadã; Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); desenvolvimento infantil; técnicas e recursos para o trabalho voluntário (planejamento, mobilização, visitas domiciliares, etc.); proteção infantil; parentalidade positiva. As formações são planejadas para acontecer sistematicamente a cada 3 meses e novas temáticas são incluídas mediante demanda e/ou interesses específicos de cada grupo de voluntários.
III. Escuta e olhar sensível sobre a realidade local: esta fase ocorre integrada a formação do Animadores Comunitários, estabelecendo uma escuta dialogada com os voluntários, que valoriza a fala e vivência de cada um para promover a conexão da realidade pessoal e comunitária com as estratégias de trabalho a serem desenvolvidas nas comunidades.
IV. Ação multiplicadora: munidos de informações sobre a dinâmica social e política, o funcionamento das políticas públicas e o conhecimento sobre o contexto local, os voluntários são estimulados a disseminar o conhecimento adquirido para famílias de sua comunidade, na perspectiva de fortalecer os sujeitos e encorajá-los para a busca da garantia de seus direitos. Voluntários capacitam os familiares e cuidadores de crianças e adolescentes para que eles sejam agentes de mudança para situações críticas por eles vivenciadas. Sugere-se que em média cada Animador Comunitário seja referência para acompanhar e orientar entre 10 e 20 famílias de sua própria comunidade para facilitar o acesso as pessoas e a atuação dos voluntários.
V. Atuação dos Animadores Comunitários: os voluntários organizam sua atuação conforme a realidade das comunidades, sendo apontadas as ações comuns a serem desenvolvidas:
Realizar de visitas regulares para disseminar junto as famílias o conhecimento adquirido nas capacitações, buscando a multiplicação de boas práticas e informações relevantes para o cotidiano das famílias;
Estabelecer diálogo constante com as famílias sobre questões voltadas para a melhoria da qualidade de vida e cuidados com as crianças. Exploração de temas diversos como: aleitamento materno, pré-natal, parto, alternativas alimentares, vacinação, soro caseiro, educação essencial, saneamento, geração de renda, saúde bucal, planejamento familiar, cidadania, etc.;
Promover encontros e participar de reuniões com mães, gestantes, famílias, jovens e outros grupos da comunidade para trocar ideias e experiências, refletir em grupo os problemas comuns e buscar alternativas para superação as adversidades;
Articular e mobilizar movimentos da comunidade e instituições para catalisar parcerias que possam criar condições para o atendimento das necessidades das crianças e seus familiares, criando rede de apoio com as unidades de saúde, escolas, igrejas, associações, organizações sociais, sindicatos, etc.
Recursos Necessários
Kit para atuação dos voluntários customizado conforme a realidade local (camisa, bolsa, boné/chapéu, caderno/ficha do Animador Comunitário, etc.); alimentação para encontros e reuniões; cartilhas, folders e panfletos educativos; guia metodológico e apostilas com conteúdo para o treinamento dos voluntários; equipe técnica (educador, assessor técnico, consultores temáticos).
Educador social: atua na mobilização, formação e acompanhamento dos Animadores Comunitários; orienta os Animadores Comunitários em casos especiais e na verificação de situações críticas que demandam acompanhamento diferenciado; estabelece articulação com a rede e profissionais da localidade.
Assessor técnico: Coordena as atividades de capacitação; Articula instituições diversas para o desenvolvimento de trabalhos em conjunto, voltados para o fortalecimento da formação e atuação dos Animadores Comunitários; Capacita, de forma continuada, a equipe técnica das organizações sociais implementadoras; Acompanha, supervisiona e avalia as ações pertinentes ao Animador Comunitário; Propõe alternativas e soluções, em conjunto com as organizações implementadoras, para superar as dificuldades identificadas em relação ao processo de formação e trabalho desenvolvido pelo Animador Comunitário.
Consultores temáticos: facilita processos de formação continuada e produz os conteúdos formativos.
Resultados Alcançados
A iniciativa piloto se deu na cidade de Araçuaí/MG nos anos 90 e dados de um levantamento feito pelo ChildFund Brasil em 2011, apontou a existência de 1.631 voluntários atuando como Animadores Comunitários em 455 comunidades dos estados do Ceará e de Minas Gerais, sendo que deste total 163 comunidades estavam localizadas em municípios do Vale do Jequitinhonha e da Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG. Os dados também evidenciaram que nas localidades de desenvolvimento da tecnologia ocorreram mudanças relacionadas à trajetória de vida das pessoas e também referentes à convivência e organização comunitária. Indivíduos que atuaram como Animadores Comunitários tiveram a oportunidade de desenvolver novas habilidades que lhes proporcionaram, dentre outras coisas, serem reconhecidos como lideranças em suas comunidades, a ocupação de cargos de direção em organizações sindicais e associativas, casos de retomada dos estudos na educação básica, superior e profissionalizante. Em algumas situações, oportunizou a inserção laboral de voluntários como Agente Comunitário de Saúde, Auxiliar de Enfermagem, Conselheiro Tutelar, dentre outras ocupações na administração pública e em organizações da sociedade civil. Também favoreceu, no nível local, a representação da população nos processos de controle social através da participação em audiências públicas, conselhos e conferências relacionadas às políticas públicas, sendo identificado na ocasião o número de 128 Animadores Comunitários atuando diretamente em conselhos gestores de suas cidades. Por fim, entre os anos 2018 e 2022 uma média de 1.200 voluntários atuaram como Animadores Comunitários, alcançando anualmente aproximadamente 4.679 pessoas.
Público atendido
Adolescentes
Adulto
Crianças
Famílias de baixa renda
Lideranças comunitarias
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