Problema Solucionado
O contexto social vivido pela população é de extrema pobreza, marginalização, falta de recursos básicos, baixo rendimento escolar e alto índice de desemprego. Trata-se de população com poucas possibilidades de trabalho digno, rompimento de laços solidários, o que favorece um número expressivo de pessoas sentindo-se incapazes, desvalorizadas, com baixa autoestima e pouco motivadas para buscar soluções e alternativas de vida, num processo de "internalização da pobreza".
O grande Bom Jardim na periferia de Fortaleza tem uma população de aproximadamente 200.000 habitantes, é conhecido pelo baixo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (0,37 Siqueira e 0,41 Bom Jardim). Cerca de 30% da população vivem abaixo da linha da pobreza. A pobreza internalizada, problema principal, possibilita o surgimento de doenças depressivas, falta de vontade de viver, sentimento de impotência e situação de dependência do outro. A violência e o uso abusivo de álcool e outras drogas são consequências da situação de pobreza e falta de expectativa para a realização de evolução pessoal. Esses fenômenos aumentam a vulnerabilidade vivenciada pela comunidade junto a carências de infraestrutura e investimentos.
Descrição
O Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim (MSMCBJ) criado informalmente em 1996 e constituído como organização não governamental em março de 1998, realizou inicialmente um trabalho voluntário com a criação de espaços de escuta e de acompanhamento terapêutico para famílias em situação de risco, especialmente as habitantes da favela do Pantanal, no Grande Bom Jardim. A experiência desenvolvida com a coordenação do professor de psiquiatria, padre Rino Bonvini, integrou a ação dos Missionários Combonianos do sagrado Coração de Jesus, presentes no bairro Bom Jardim desde 1986. Contou também com a participação de lideranças das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Sendo desde o início ecumênica e acolhedora de todas as pessoas, sem distinção por gênero. Como primeiro passo o MSMCBJ preparou pessoas voluntárias da comunidade para o atendimento de questões psicossociais surgidas no seio dessa mesma comunidade, e em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), com a participação dos professores de psiquiatria, Adalberto Barreto e Antonio Mourão Cavalcante desenvolveu grupos de autoestima, de terapia comunitária e ações de prevenção às drogas com crianças e adolescentes. Nas ações de promoção à saúde foram desenvolvidos grupos de teatro, biodança, musicalização e atividades profissionalizantes.
Ao longo dos anos o MSMCBJ desenvolveu a abordagem inovadora na comunidade. Hoje multiplica e difunde essa prática que revolucionou o Bom Jardim e bairros da periferia metropolitana e em La Paz, Bolívia.
A Abordagem Sistêmica Comunitária é fruto da experiência de trabalho de acolhimento, escuta e cuidado de pessoas que moram na periferia de Fortaleza. Um trabalho caracterizado pelas parcerias com a UFC (Universidade Federal do Ceara), através de projeto de extensão e da SMS (Secretaria Municipal de Saúde), na cogestão do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS Comunitário do Bom Jardim e de uma Residência Terapêutica.
Hoje, o CAPS Comunitário é reconhecido como uma conquista da comunidade, instalado no território por meio da articulação e da experiência desenvolvida pelo MSMCBJ na comunidade do grande Bom Jardim. É resultado de trabalho de luta e resistência de mais de 22 anos. Podemos perceber que a experiência da Abordagem Sistêmica Comunitária no Grande Bom Jardim representa uma mudança de paradigma. As pessoas que antes não tinham autoestima para viver, que se sentiam incapazes, com a pobreza internalizada; hoje, identificam e desenvolvem seus potenciai. O trabalho cuida das dimensões biopsicossocioespirituais, buscando a homeostase (equilíbrio), através das múltiplas ferramentas da Abordagem Sistêmica Comunitária. As pessoas são convidadas a olhar pra dentro de si e reconheceram que são capazes de reverter a pobreza internalizada por imposição do sistema capitalista segregador e excludente.
Como afirmou o padre Daniel Comboni, no século XIX, é preciso “Salvar a África com a África”, essa frase se traduz no MSMCBJ: “Salvar o Brasil com o Brasil”. Ou seja, ao ativar o protagonismo de cada pessoa para elevar sua condição existencial, familiar e comunitária, a Abordagem Sistêmica Comunitária, acolhe o ser humano para a promoção do dom da vida, possibilitando o olhar pra dentro de si e a visualização dos potenciais para a transformação do contexto em que vive. O desenvolvimento do Bom Jardim e periferia metropolitana de Fortaleza acontece a partir da ação socioterapêutica e da mobilização da comunidade para seu próprio desenvolvimento, com a participação em conselhos e redes comunitárias, fóruns de enfrentamento a violência, em atividades de promoção a saúde, da cultura, da educação e da cidadania.
Atualmente, o Movimento de Saúde Mental Comunitária, participa do Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente, do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas de Fortaleza, da Rede Local de Desenvolvimento Integrado e Sustentável. É chancelado pelo ministério do Trabalho e do Emprego e pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente para a realização do Programa Jovem Aprendiz.
Recursos Necessários
Hoje o MSMCBJ conta com 09 espaços:
1) sede administrativa;
2) palhoça circular e salas de atendimento, onde acontecem as terapias individuais e grupais (terapia comunitária, reiki, grupos de autoestima, massoterapia, acupuntura, entre outros);
3) Centro de Atenção Psicossocial Comunitário;
4) Casa AME (Arte-Música-Espetáculo) onde acontecem as oficinas de arte e arteterapia e sala de leitura;
5) Horta comunitária, funciona farmácias vivas;
6) Escola de Gastronomia Autossustentável;
7) Espaço Patativa do Assaré, onde se dá o acolhimento de crianças e adolescentes do Projeto Sim à Vida;
8) Espaço Daniel Comboni (também Projeto Sim à Vida); 8) Centro de Defesa da Vida (também Projeto Sim à Vida); e
9) Sítio Wopila, com ações do projeto Sim a Vida, ações de formação e sistema integrado de produção agroecológica.
Nesses espaços o MSMCBJ dispõe de computadores, impressoras, TV’s, sons, data-show, armários, mesas, cadeiras, ventiladores, instrumentos musicais, materiais de pintura e artesanato, bebedores, fogões, geladeiras e duas kombi.
Resultados Alcançados
Em 22 anos, foram atendidas cerca de 275 mil pessoas de Fortaleza e de outras localidades. As projeções dão conta de que 80% das pessoas atendidas são mulheres. Os grupos de autoestima, de arte-terapia, de terapia comunitária, e mais recentemente, os cursos de gastronomia e a Bodega das Artes (artesãs) envolvem quase 90% de mulheres.
Em 2017, as 10.248 pessoas atendidas estavam assim distribuídas: Projeto Sim à Vida, de prevenção às dependências químicas, 1.350; CAPS Comunitário, 8.000 prontuários abertos; Residência Terapêutica, 9; Práticas de Cuidados Socioterapêuticos, 480; Programa Jovem Aprendiz, 40; formações em Cuidando do Cuidador, 94; Juventude Indígena Realizando Sonhos, 12; Escola de Gastronomia Autossustentável, 150; e 113 colaboradores, entre contratados e voluntários.
As ação são realizadas através de parcerias e convênios que envolvem cogestão com Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, CBM da Alemanha, co-financiamento da União Europeia, Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Maracanaú, ChildFund, RB Distribuidora, SESC, Moinho Dias Branco, entre outros.
Desde o ano de 2012, os serviços do MSMC foram levados à Bolívia. Atualmente, é replicado na região metropolitana de La Paz.
São pessoas acolhidas nas várias serviços oferecidos pela instituição, que trabalha com a Abordagem Sistêmica Comunitária: Atividades de acolhimento como a terapia comunitária (Espaço de Escuta), grupos de autoestima, massoterapia e biodança. Atividades de arte e cultura como as oficinas de música, arte terapia, teatro, artesanato e pintura. Atividades com a horta comunitária e a biblioteca comunitária. Cursos profissionalizantes para jovens, formação em Abordagem Sistêmica Comunitária e o CAPS – Centro de Atenção Psicossocial - que acolhe usuários com transtornos mentais graves. Por meio dessas atividades, o MSMCBJ vem desenvolvendo um trabalho junto as pessoas de consciência de si para a transformação social do grande Bom Jardim, compreendendo que a pessoa precisa ser cuidada integralmente, levando-se em conta a abordagem sistêmica, ou seja, o contexto em que vive a família e a comunidade. O que percebemos ao longo desses anos é uma mudança de paradigma, as pessoas saindo da posição de pobreza internalizada e emergindo como sujeitos protagonistas da sua história e da história da comunidade. Pessoas que logo se sentem capazes de buscar seu próprio sustento, emprego, estudo dentre outros sonhos que a vida proporciona.
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