Problema Solucionado
A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) surge da necessidade de construção de uma escola de formação cidadã, voltada a organizações sociais, na qual os métodos adotados na construção do conhecimento fossem coerentes aos anseios dos trabalhadores organizados para transformação social.
Desde o canteiro de obras da escola percebeu-se a necessidade de uma pedagogia que atendesse à demanda de formação dos educandos. Inicia-se aí a construção do Projeto Político Pedagógico, no processo que iniciou-se no ano 2000 e foi finalizado em 2005, envolvendo cerca de 1.000 pessoas, entre homens e mulheres, organizados em 25 brigadas de trabalhadores/as voluntários/as, de 112 assentamentos e 230 acampamentos de diversos estados brasileiros. Ao aprender a técnica de construir com terra, fazendo cada tijolo com solo-cimento, os trabalhadores voluntários foram reconstruindo a si mesmos como cidadãos, através dos estudos, do exercício das técnicas de construção com terra, da troca de experiências e da solidariedade. O desafio da manutenção do espaço com baixo custo e da formação dos educandos se manteve presente, exigindo uma forma organizativa e pedagógica apropriada a realidade.
Descrição
A Escola Nacional Florestan Fernandes foi construída com recursos advindos da venda do livro-disco “Terra”, composto por fotos de Sebastião Salgado, texto de José Saramago e músicas de Chico Buarque.
Atualmente, os recursos para a sua manutenção e funcionamento são obtidos por meio de doações de organizações e movimentos sociais, além da colaboração individual voluntária de um número crescente de mulheres e homens que apoiam o projeto, vinculados à Associação de Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes - AAENFF. Os recursos são destinados à manutenção de um corpo mínimo de pessoas que contribuem com a manutenção (tarefas administrativas, pedagógicas, de serviço e produção) da escola.
O funcionamento da ENFF exige a contribuição dos educandos/as, pois não existem funcionários necessários para deixar tudo limpo e organizado. A ENFF procura trabalhar com sujeitos, não com indivíduos, pois a coletividade é responsável pela sua existência, manutenção e continuidade. Portanto na ENFF, o trabalho possui uma dimensão pedagógica e educativa fundamental. Todos/as participam dos Núcleos de Base - NBs, forma organizativa que propicia a divisão de tarefas e responsabilidades internas, o cumprimento das atividades práticas, de estudo, saúde e cultura. Essa organicidade é fundamental e constitui uma dimensão pedagógica da ENFF.
Os sujeitos assumem tarefas na manutenção da escola, limpeza, louças, produção de alimentos, programação artística e cultural, etc. Os processos de aprendizagem se consolidam no cotidiano do trabalho e da organicidade da ENFF. Essa organicidade marca desde o início o rompimento da estrutura social centrada no indivíduo, permitindo o aprendizado e a troca de experiências, fatores importantes no processo formativo dos educandos/as.
Um exemplo prático dessa divisão de tarefas se encontra na área de produção agrícola, onde há atividades que buscam promover a sua autossustentação através da produção agroecológica de alimentos e permite aos educandos/as terem uma alimentação saudável e diversificada.
O estudo, centro de todas as ações da ENFF ocorre, segundo as dimensões pedagógicas da escola, de três formas: individualmente, coletivamente e através de sistematizações. A primeira forma desafia o educando a seguir aprofundando os próprios estudos, ocupando bem as horas de estudos individuais e criando outros por necessidade própria. O estudo coletivo se desenvolve nos núcleos de base, através da exposição de ideias de cada membro e debate entre estes. As sistematizações são os registros de todo o conhecimento gerado no curso, desde os elementos expostos pelo professor/palestrante aos conhecimentos construídos pelos próprios educandos.
O trabalho voluntário é parte do processo de construção da ENFF desde sua primeira pedra e tijolo. Deve ter continuação com os cursos e é compromisso de todos os educandos que passam pela Escola, tanto no sentido pedagógico como de manutenção e continuação da construção da mesma. A ENFF é uma permanente obra coletiva em construção.
Para que continue estudando, criando condições de manutenção da Escola e possibilidade para que outros educandos no futuro próximo a utilizem de maneira adequada, em boas condições para o estudo, para a convivência, todos devem dar uma quota de trabalho diário nos setores da escola.
As expressões culturais têm significado e importância no processo de formação dos educandos, sendo realizadas atividades semanais. O objetivo é socializar as diversas manifestações culturais e artísticas comprometidas em seus tempos históricos com a transformação social, buscando ampliar as possibilidades de linguagens para a elevação do nível cultural e de consciência cidadã dos que vivem na escola por um determinado período. Assim, cultura e arte fazem parte da proposta pedagógica da ENFF, quando os/as educandos/as são estimulados/as a ter contato com a ludicidade, humanizando-se em um mundo desumanizador e cada vez mais alienado ao contato interpessoal.
Recursos Necessários
A Tecnologia social aqui proposta trata-se de um método para garantir a sustentação de uma escola de formação em que o trabalho voluntário se torna também pedagógico, na medida em que o contato com a prática contribui para refletir, revisar e avigorar conceitos.
Os materiais necessários dependem de cada trabalho a ser realizado e dos recursos disponíveis no local.
Na construção da Casa das Artes Frida Kahlo, por exemplo, foram utilizados materiais de construção alternativos, inspirados em técnicas de construção permaculturais, aproveitando bambus, palha e barro já existentes no terreno construído. Os prédios de alojamento foram construídos com tijolo solo-cimento, técnica que contribui com a economia material e financeira em seu processo de construção. A horta, que abastece o restaurante existente na escola, é em formato mandala, fazendo melhor uso dos espaços e permitindo uso mais eficiente da água.
Os materiais a serem gastos na construção e manutenção de uma escola que deseja reaplicar a proposta organizativa e pedagógica da ENFF dependem dos objetivos da escola ao adotar a Tecnologia Social e da região onde será construída.
A Tecnologia Social aqui proposta se baseia em metodologias organizativas e de ensino, não sendo possível a quantificação material para sua implantação, pois este dependerá de cada realidade.
Resultados Alcançados
Desde a sua idealização a ENFF se constituiu com a responsabilidade de ser um modelo de escola gratuita e de qualidade, cuja construção foi regida por quatro pilares/valores fundamentais: o estudo, a solidariedade, trabalho voluntário e as formas alternativas de construção e produção. Estes pilares sustentaram e sustentam a estrutura física, política e pedagógica da ENFF.
A ENFF dispõe de espaços físicos adequados para diferentes atividades, encontros, seminários, cursos e atividades culturais, com recursos didáticos e audiovisuais. A estrutura total da escola conta com 4 edifícios para Alojamentos, com capacidade para 200 pessoas; edifício do Refeitório com capacidade para atender 300 pessoas; três Salas de Aula com capacidade para 210 pessoas; dois Anfiteatros, com capacidade para 110 pessoas cada; Auditório para 200 pessoas; Biblioteca com mais de 40.000 títulos, Espaço de leitura, Telecentro (computadores com acesso a internet), Casa de Artes Frida Kahlo, Ciranda Infantil Saci Pererê, ilha de edição da Rádio ENFF, Quadra Poliesportiva coberta, Campo de Futebol Dr. Sócrates Brasileiro e uma vila com moradias para os/as integrantes da Brigada Permanente Apolônio de Carvalho. Todas as dependências são adaptadas com acessibilidade para portadores/as de necessidades especiais
Ao longo de seus 11 anos, a Escola Nacional Florestan Fernandes realizou mais de 500 atividades, entre visitas, cursos nacionais, cursos internacionais, encontros e seminários. Beneficiando mais de 40 mil pessoas, entre educandos e educandas, educadores e educadoras, artistas, militantes de 70 países e de todos os estados do Brasil.
No ano de 2016, o conjunto de atividades contou com a participação total de 2728 pessoas, de 17 estados do Brasil e 36 países. Destes, 1474 eram mulheres e 1254 homens.
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