Objetivo
Promover ampliação de conhecimentos favoráveis a prática docente, considerando o diálogo entre saberes científicos e populares, destacando a roda interativa, as cantigas tradicionais e elementos da cultura local como ponte para o ensino e a aprendizagem, de modo a contribuir para formação e aprimoramento de profissionais da área de educação.
Problema Solucionado
O analfabetismo infanto-juvenil percebido a partir das atividades desenvolvidas durante a execução do projeto Vamos Todos Cirandar, com estudantes de oito comunidades quilombolas, aos sábados, após acompanhamento/avaliação das práticas de aprendizagem de leitura e escrita para saber os níveis de competência (Se reconhece e escreve o próprio nome, se ler com fluência ou não, se compreende o que ler e descreve o mundo a sua volta, se associa texto ao contexto, se escreve de forma livre, etc).
Identificamos um número considerável de crianças e adolescentes, de 08 e 12 anos, em curso do 2º ao 6º ano de escolarização, sem domínio de leitura e escrita, evidenciando a fragilidade do ensino nas escolas públicas local e a necessidade de fazer do Instituto um espaço de maior contribuição. O analfabetismo preponderante nessa população específica se estende a tantas outras crianças e adolescentes das comunidades quilombolas do vale do Iguape e de outras localidades, deixando claro que a escola formal tem falhado nas suas práticas de ensino e aprendizagem e na garantia do direito a uma educação integral e de qualidade. Além da necessidade de domínio e utilização de novas metodologias de ensino para garantia de aprendizagens, que se faz urgente para esses estudantes que vivem em comunidades quilombolas, longe dos grandes centros, onde o direito a educação é negligenciado e o público mais vulnerabilizado.
Descrição
O Instituto Mãe Lalu, com sede em Santiago do Iguape/Cachoeira/Ba, iniciou suas atividades implementando o projeto Vamos Todos Cirandar, desenvolvendo práticas de leitura e escrita, de forma interdisciplinar, na tentativa de minimizar impactos causados pela pandemia. Desde então, aos sábados, realiza encontros denominados “cirandas”, onde cantigas e brincadeiras tradicionais, jogos e artes, integram o movimento de execução de sequência didática temática, iniciado numa grande roda interativa com exposição de palavras e expressões, elementos naturais/símbolos culturais e objetos, além da dança e música que servem de estímulo para iniciar o estudo de conteúdos, potencializando a construção e ampliação de conhecimentos em diferentes espaços.
Crianças e adolescentes, entre 4 e 18 anos, residentes em comunidades quilombolas do Vale do Iguape (Dendê, Engenho da Praia, Engenho da Ponte, Kalembá, Kaonge, Palmeiras, Santiago do Iguape e Tombo) circulam por espaços organizados para estimular a curiosidade, despertar potencial criativo, favorecer a aprendizagem de conteúdos, compreender e valorizar suas raízes e identidade cultural. São 131 estudantes oriundos de escola pública, dos quais 31, residentes em Santiago do Iguape, próximo à sede do Instituto, estão participando da iniciativa “Vamos dar a meia volta e Alfabetizar” visando vencer o analfabetismo.
A metodologia se utiliza da roda interativa, colocando os saberes científicos e populares, as cantigas de roda tradicionais e elementos da cultura local no centro do ensino e da aprendizagem, apresentando o conhecimento de forma contextualizada e interdisciplinar, visando favorecer a aquisição, consolidação e aprimoramento de habilidades e competências necessárias a formação e desenvolvimento humano. “Conhecedores do valor e da importância da cultura popular, as fundadoras do Instituto Mãe Lalu viram nas cantigas de roda a forma perfeita de desenvolver sua metodologia de aprendizagem, promovendo o resgate da cultura popular e a valorização de elementos pertencentes à sua comunidade local. O projeto pedagógico “Vamos todos Cirandar” do Instituto tem ajudado crianças e adolescentes de Santiago do Iguape, na Bahia, desenvolver a leitura e a escrita, compreendendo e valorizando suas raízes e identidade...” (Citação extraída do relatório do Fundo Global para Criança (GFC), financiador do projeto.
As práticas de ensino, tendo a roda interativa como ponto de partida/ponte para o desenvolvimento de aprendizagens tem chamado atenção de estudantes, professores e coordenadores que visitam o Instituto Mãe Lalu, que ao longo dos três anos vem promovendo rodas de conversa para troca de experiências com esses profissionais da educação, convidando-os a conhecer o material didático próprio e vivenciar nossas práticas de ensino e aprendizagem. Surgindo daí a possibilidade de convênio para estágio de estudantes de Pedagogia, Artes e Serviço Social de três universidades parceiras, ampliando o alcance da metodologia adotada no/pelo Instituto.
Então, temos pensado na possibilidade de contribuir mais amplamente com a formação e/ou aprimoramento profissional de profissionais da área de educação, promovendo compartilhamento e divulgação da metodologia, que tem se mostrado eficaz na alfabetização e na ampliação de saberes necessários a formação integral dos estudantes assistidos, por meio de uma tecnologia de fácil acesso e entendimento.
Cabe ressaltar, que o Instituto Mãe Lalu é a única organização sem fins lucrativos da região do Vale do Iguape, cujo foco é a educação cidadã, conexo a uma metodologia ativa que vem ajudando crianças e adolescentes a expandir habilidades interpessoais, a imaginação e a capacidade de praticar valores éticos e sociais. “...Olha o curso estendido pra Lina foi bom... Lina aprimorou mais nos estudo, aprendeu mais a ler, tá escrevendo melhor que antes. Ela não sabia...não conhecia letra nenhuma hoje pelo menos já conhece, já sabe ajuntar as letras e formar palavra e o comportamento dela tá melhorando bastante... que Lina sempre foi um pouco rebelde e tá melhorando bastante o comportamento dela, falta melhorar mais ainda...mais tá melhorando bastante e pra mim tá sendo ótimo esse curso viu. É um prazer ela tá no Instituto Mãe Lalu...” (Mãe de participante).
Além disso, estamos desenvolvendo e pretendemos utilizar em breve outras técnicas de ensino e aprendizagem considerando as tecnologias digitais de comunicação como possibilidade para promover a alfabetização e o letramento digital através de atividades e jogos interativos, tendo como recurso motivador o Alfabeto Cultural do Iguape e o boneco Melzinho, mascote do Instituto, como protagonista.
Recursos Necessários
Nossa proposta é de produção, organização e edição de um livro descrevendo a metodologia de forma teórica e prática, cuja escrita está em andamento. Sendo importante destacar que esta iniciativa converge com a formação de profissionais da área de educação e realização de eventos de integração e troca de saberes e experiências.
Acreditamos que nossa tecnologia possa impactar positivamente na vida das pessoas, principalmente profissionais da área de educação. Nossa metodologia possui embasamento teórico e material didático próprio que pode ser reproduzido, replicado. Permite, também, a promoção de encontros formativos para estudantes e professores, na sede do próprio instituto e em outros espaços; a realização de evento cultural interativo, a exemplo da LITERARTE, ponto de encontro que está na 2ª edição, que reúne oficinas, estações criativas, apresentação cultural, palestras, lançamento literário e gastronomia local; recepcionando estudantes, professores, coordenadores, representantes de associações parceiras, escritores, colaboradores e outros.
Para alcance de propósitos é necessário recurso para edição do livro, com aproximadamente 100 páginas; confeccionar material de divulgação e organizar evento para lançamento; dispor de um grupo de “cirandeiros” voluntários e ou contratados para promoção de rodas interativas de formação.
Resultados Alcançados
Consideramos fundamental a avaliação seja desenvolvida processualmente e ações, resultados e impactos sejam vistos, acompanhados, analisados e revistos, visando mudanças de estratégias e melhoria. Assim sendo, o processo de aprendizagem é acompanhado, com observação de avanços em ficha individual. A escuta e registro de ideias/opiniões são importantes para reconhecer forças e fraquezas, na perspectiva de validar, ampliar ou modificar ações.
O diálogo com a escola formal também é relevante. Foi numa visita que ouvimos a frase: “ninguém aguenta mais este menino”. A voz da professora marca um corpo franzino, de um garoto de 9 anos, 3º ano, agitado e desrespeitoso com colegas e profissionais, que veio nos abraçar. Ele e tantos outros não aprendeu a ler, nem escrever. A estimativa é que 45% dos assistidos pelo Instituto estão nessa condição. Enquanto outros tantos leem com pouca ou certa fluência, mas não conseguem compreender ou expor opinião. O chamado para se alfabetizar vem contribuindo para mudança de atitudes, elevação do nível de concentração e interesse. O estudante citado “deixou a fase pré-silábica avançando para silábica com valor sonoro. Já consegue reconhecer sons de letras, sílabas, e palavras simples e consegue lê com auxílio”.
Nesse giro para alfabetizar temos notícia dos avanços, ora por parte dos estudantes: “pró eu já tô aprendendo a ler”; ora por membros da família: “meu filho tá começando a ler agora...” e da gestão escolar que aponta reflexos positivos na frequência e participação, nas atitudes e no desempenho. O portfólio organizado anualmente, contendo objetivos e registro do desenvolvimento das atividades, com fotos, reúne evidências de que nossa iniciativa tem contribuído para que crianças e adolescentes quilombolas e vulnerabilizados tenham acesso ao mundo letrado, ajudando-os no desenvolvimento integral e autônomo.
A iniciativa tem sido apresentada a estudantes de diversas áreas e a professores da educação básica e universidades, que tem participado das cirandas e de rodas interativas de formação, sendo muitas as demonstrações de admiração pela metodologia e interesse por pesquisa. O público assistido e familiares, vem propagando o Instituto em outras localidades do Vale do Iguape, promovendo o aumento do número de comunidades, que em 2023 dobrou de 04 para 08, e de participantes que saltou de 88 para 131. Circulam comentários de que as crianças ficam “ansiosas” para chegar o dia para ir ao Instituto.
Público atendido
Adolescentes
Crianças
Alunos do Ensino Fundamental
Quilombolas
Alunos do Ensino Básico
Jovens
Povos Tradicionais
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