Objetivo
Incubar, a partir de assessorias, formações e articulações setoriais e intersetoriais, empreendimentos econômicos inclusivos e solidários, em suas dimensões humana/associativa e técnica/empreendedora, até que suas lideranças tenham autonomia suficiente para coordenar sua gestão operacional, financeira, associativa, comercial e legal.
Problema Solucionado
No atual cenário de grave crise econômica e sanitária, nos deparamos com 19,1 milhões de pessoas em situação de fome e uma taxa média de desemprego de 13,5% em 2020, a maior da série iniciada em 2012, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e o IBGE, respectivamente. A economia solidária pode ser uma via fundamental de enfrentamento desta crise, através da construção de alternativas de inclusão social e geração de renda. Apesar de a manutenção dos programas da economia solidária nos últimos governos não ter sido prioridade, tramita hoje a nível nacional um Projeto de Lei que, se aprovado, concretiza a economia solidária como política de Estado, independentemente de governos. Os diversos atores envolvidos na manutenção da economia solidária são classificados como Empreendimentos Econômicos Solidários, como cooperativas, associações e outras formas de organizações coletivas e autogestionadas de trabalhadores. Nesse sentido, a Co-Labora ITES foi criada em 2014 por professoras e alunos da USP Ribeirão Preto, como uma entidade de apoio e fomento, associada ao Instituto Terroá desde 2015, para criar e executar estratégias de fortalecimento da economia solidária a nível regional. Ao longo dos anos, consolidou seu método de incubação como uma tecnologia social mais abrangente, e atua hoje em diversos territórios do país, com destaque para o Sudeste e a Amazônia.
Descrição
A implementação da tecnologia social Co-Labora compreende um total de quatro (4) etapas compostas, cada uma, por um conjunto específico de fases.
A primeira etapa, de “Pré-Incubação”, compreende fases de contato inicial com o grupo (formado por demanda espontânea ou proposta da incubadora); apresentação da proposta da incubadora e avaliação das demandas e expectativas do grupo; levantamento de atividades já realizadas pelos membros do grupo e possíveis interesses em outras atividades; definição do produto/serviço a ser trabalhado no caso de empreendimento inicial; apresentação do funcionamento da incubação e, por fim, a definição de acordos entre as partes para que o trabalho flua melhor. Além disso, a fase inicial prevê o alinhamento acerca da linha de trabalho da Co-labora em formato dinâmico; a apresentação de conceitos e valores fundamentais; discussão e assinatura do Acordo e Plano de Incubação, isto é, o termo de incubação, envolvendo os Objetivos e as Metas de Incubação, as formas de avaliação do processo, bem como os deveres e direitos das partes. Ainda nesta etapa inicial, realiza-se, para empreendimentos já existentes, um diagnóstico com a aplicação da tecnologia social Escala de Maturidade de Empreendimentos Solidários ou Negócios Inclusivos, também desenvolvida pelo Instituto Terroá; para empreendimentos nascentes, ocorre a facilitação da elaboração do modelo de negócios, seguindo a metodologia “lean startup”, com base no Canvas, adaptado ao contexto de negócios inclusivos/de impacto. A partir da versão inicial do modelo de negócios, desenvolvem-se mínimos produtos viáveis (MVP) como testes-piloto, capazes de validar ou refutar hipóteses do seu modelo de negócio. A última fase da primeira etapa, por fim, prevê o planejamento do caminho do empreendimento: para empreendimentos já existentes, a Escala de Maturidade aponta dimensões fundamentais para seguir com o trabalho de incubação, gerando um planejamento de evolução; para empreendimentos novos, a modelagem de negócios, a partir seus MVP testados.
Em uma segunda etapa, de “Estruturação”, realizam-se um estudo de viabilidade econômico-operacional do empreendimento, análises de custos e de potencial de mercado, bem como projeções financeiras de receitas e despesas. Esta etapa também inclui fases de desenvolvimento do regimento interno; mapeamento e implementação de processos e sistemas; definições sobre a cadeia de suprimentos/produtiva e de rotas logísticas eficientes; e criação de organograma, divisões de tarefas, entre outros. As duas fases conclusivas da segunda etapa correspondem, por fim, à definição dos canais de comercialização a serem explorados e ao planejamento participativo do empreendimento, por meio do qual membros são incentivados a atuarem de forma ativa, a analisarem a situação presente da organização, a ambicionarem o futuro que desejam e a traçarem um plano de ação para atingir seus objetivos.
Em seguida, a etapa de “Consolidação”, inclui a sistematização dos procedimentos administrativos de autogestão e controle; processos de melhoria contínua para materiais, operações e gestão administrativo-financeira; apoio na busca de alternativas para o crescimento e a expansão de mercado; integração sociocultural dos membros e destes com sua comunidade/território; apoio à auto-organização para atividades que celebrem os anseios culturais, educacionais e recreativos do grupo; acompanhamento da realização das ações planejadas, bem como avaliações e correções necessárias no apoio ao grupo.
Por fim, a quarta e última etapa, “Desincubação”, inclui fases de acompanhamento a distância e assessorias pontuais; engajamento em redes setoriais e intersetoriais incentivando-se o envolvimento em movimentos de fomento e disseminação de práticas econômicas colaborativas e a participação ativa nos movimentos representativos da classe; e engajamento político, visando à promoção de um ambiente político e econômico favorável à criação e à manutenção de empreendimentos econômicos solidários.
Recursos Necessários
Recursos materiais necessários para a incubação de um empreendimento/ grupo econômico por um período médio estimado em três (3) anos, variável conforme o contexto territorial, capacidade local, formação e experiência dos envolvidos.
- Logística (variável conforme localização)
- Materiais/equipamentos: materiais básicos para a incubação/assessoria/formação: projetor, notebook, flipchart, folhas coloridas, canetões, entre outros;
materiais para o empreendimento/iniciativa, variável conforme o empreendimento e suas demandas. Por exemplo, uma cooperativa de açaí pode demandar barcos/ voadeiras para sua logística, ou até equipamentos para uma agroindústria quando em estágios de maturidade mais avançados; já uma cooperativa de reciclagem demanda galpão, prensa, esteira, entre outros equipamentos. A incubação pode já trazer recursos para tais demandas, ou pode apenas catalisar/buscar formas de captação de recursos.
Resultados Alcançados
Empreendimentos que foram incubados pela Co-Labora apresentam resultados significativos, como o crescimento de receita e retirada de sobras, o aumento de vendas, a redução de desperdício, bem como o incremento no número de clientes e de beneficiários ou cooperados. Representantes dos mais de 10 empreendimentos incubados desde 2015 relatam também a importância da presença dos membros da incubadora como parceiros, fortalecendo a confiança e apoiando de maneira técnica e humana o fortalecimento de suas iniciativas.
A título de exemplo, ressaltamos o caso da Associação dos Agentes Ambientais de Itaú de Minas – MG (AAGAIM), um grupo de catadoras beneficiado pela aplicação da tecnologia entre 2019 e 2020. Nos dois anos de atuação do Instituto Terroá junto à AAGAIM e à prefeitura da cidade, com o apoio da Votorantim Cimentos e do Instituto Votorantim, foram obtidos, de forma coletiva, os seguintes resultados: (1) Retomada da coleta seletiva e da triagem e comercialização de resíduos recicláveis na cidade – uma média de 20,5 toneladas/mês deixou de ir para o aterro municipal local, em um arranjo e articulação entre prefeitura e demais atores locais; (2) Educação ambiental ampliada – treinamento e apoio dos agentes de saúde locais e participação das escolas com campanhas em datas comemorativas, gincanas e demais atividades de conscientização; processos de diálogo estabelecidos com os grandes geradores e a associação comercial local; (3) Aumento da renda dos catadores e catadoras – a renda de 12 catadoras e catadores teve um crescimento médio de 287% (de R$200,00 para R$ 774,08 mensais). Os avanços vêm sendo significativos, conforme a coleta seletiva cresce e se qualifica. Além disso, hoje os associados trabalham com equipamentos de proteção individual (EPIs) e processos operacionais e atuam fixos no galpão da Usina de Triagem e Compostagem (UTC) – antes carregavam carrinhos pelas ladeiras da cidade o dia todo; (4) Gestão do empreendimento e trabalho em equipe – a maturidade do trabalho em equipe e da liderança, que no começo de 2019 havia se mostrado baixa segundo as ferramentas de mensuração Escala de Maturidade de Cooperativas de Catadores do Instituto Terroá e Régua de Maturidade do Instituto Votorantim, vem aumentando devido à concentração de trabalho na UTC e às atividades de mentoria e formação prestadas pelo Instituto Terroá junto às lideranças.
“O projeto para nós tem sido muito importante, porque a equipe está sempre disponível para nos auxiliar e ajudar. Além disso, todos saem ganhando no município com essa parceria. A cada dia aprendemos mais e mais com nossos parceiros Instituto Terroá, Instituto Votorantim e Votorantim Cimentos e esperamos continuar contando com eles, para melhorar a cada dia mais”. (Rita Reis, presidente da AAGAIM e catadora).
Público atendido
Adulto
Agricultores Familiares
Artesãos
Catadores de Material Reciclável
Empreendedores
Famílias de Baixa Renda
Lideranças Comunitárias
Mulheres
População Ribeirinha
Trabalhadores Rurais
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