Objetivo
O objetivo é fortalecer os processos comunitários de resgate, seleção, melhoramento e produção de sementes de hortaliças de alta qualidade tecnológica, promovendo autonomia das famílias agroecológicas e o redesenho dos sistemas produtivos através da agrobiodiversidade, reforçando as redes sociais e sua sustentabilidade
Problema Solucionado
Preservação das sementes crioulas e orgânicas e disponibilização para os agricultores e agricultoras famliares:
As famílias agroecológicas são responsáveis pela produção da maioria dos alimentos da população, e de boas práticas tradicionais, como a separação anual das melhores sementes para a próxima safra –garantindo assim a existência das espécies, sua qualidade e produtividade–, ou a troca das sementes entre as famílias, o que permite a diversificação de culturas.
Mas nas últimas décadas, vêm perdendo autonomia para empresas de sementes transgênicas. O agronegócio baseado na exportação de apenas algumas commodities como soja, milho, trigo e café, impõe o pacote de insumos, transgênicos e agrotóxicos aos agricultores, colocando em risco a soberania e autonomia alimentar e nutricional, e o equilíbrio da agrobiodiversidade nacional e regional.
O movimento agroecológico defende a importância de reverter este processo. Além disso, a lei que rege a produção orgânica, exige o uso de sementes orgânicas a partir de 2013.
Diferentemente dos grãos, sementes de hortaliças requerem de alta tecnologia para manterem sua capacidade de germinação, por causa da sua fragilidade e diversidade. Isso faz do projeto dos Hortiguardiões das sementes crioulas uma iniciativa fundamental e urgente.
Descrição
O Projeto Sementes Para Todos da AOPA – Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia, começou em 2011, com apenas uma pessoa acompanhando grupos de agricultores da região na produção das suas sementes.
A escolha dos grupos de agricultores se deu em reunião bimensal da associação. Duas condições foram colocadas: regiões climáticas diferentes e compromisso do grupo com o trabalho. Feita a escolha, começamos as visitas para seleção das áreas e as variedades crioulas adaptadas. O entusiasmo com o projeto fez com que grupos não selecionados também participassem.
Muito do conhecimento tradicional já tinhamos perdido. Como a Aopa estava participando do projeto SEMECOL com a Embrapa, foi feito um curso de produção de sementes de hortaliças para os agricultores. Também contamos com o apoio do CPRA (Centro Paranaense de Referência em Agroecologia).
Com o tempo surgiu a necessidade de ter um espaço para centralizar o recebimento e fazer a análise de qualidade das sementes, e disponibiliza-las às famílias agricultoras. As hortaliças tem sementes que necessitam um cuidado especial, a fim de manter todo o seu vigor e poder de germinação.
Colocamos o desafio aos grupos de quem poderia acolher em seu município uma Casa de Semente. Mandirituba foi a escolhida, pelo compromisso dos grupos locais, e da entidade ABAI (Associação Brasileira de Amparo à Infância) que cedeu um espaço físico, e da prefeitura que ajudaria na reforma.
Assim nasceu a Casa da Semente. Da Alemanha (Foerderkreis Terra Nova Mondaí EV) veio o apoio para a câmara fria, a energia solar e alguns equipamentos. A Embrapa e CPRA também ajudaram com outros equipamentos.
Importante reforçar que as sementes não são compradas pela Casa nem pela AOPA. Elas são apenas depositadas e testadas. Cabe à AOPA apoio de divulgação e realização de feiras e festas de semente para que a comercialização aconteça.
Estávamos na preparação da oitava festa regional da semente crioula, que foi cancelada por causa da pandemia. A Casa da Semente participa da ReSA (Rede Sementes da Agroecologia), uma rede que começou articulando as festas e feiras de semente do Paraná e atualmente tem atuação importante na construção de políticas públicas para as sementes crioulas.
A falta de conhecimento da produção e armazenamento nos levou a fase seguinte – a qualidade das sementes. Começamos testando as sementes. Apesar do germinador, tinhamos dificuldades com os resultados. A mesma semente apresentava resultados diferentes em testes repetidos. Uma parceria com a PUC PR veio trazer a solução. Dois estagiários, para fazer seus TCCs, refizeram nos laboratórios da universidadeos testes.
Recebemos formações de como realizar os testes para as espécies diretentes. Também aprendemos a realizar testes e cuidados fitossanitários, uma vez que detectamos algumas sementes contaminadas. Desta parceria saiu uma cartilha simplificada sobre testes de germinação de sementes (em anexo).
Uma preocupação desde o início foi com a viabilidade econômica. Assim, os gastos da Casa da Semente com energia elétrica foram resolvidos com a implantação da energia solar. A assistência técnica, o gargalo que impediu incluírmos mais grupos, está sendo resolvido em parte com parceria com o IDR (Instituto de Desenvolvimento do Paraná, que engloba pesquisa e extensão). Também estamos começando uma parceria com a Embrapa Hortaliças para implantar campos de experimento, a fim de testarmos cultivares que não temos em nossa Casa e que podem produzir bem em sistemas agroecológicos.
O gargalo que pesa muito para quem produz em pequena escala é a comercialização. Diferente da produção de alimento, que tem um ciclo mais curto e comercialização imediata, quem produz semente precisa maior tempo para a planta chegar ao final do ciclo e na maturação da semente, e a venda se dá somente na safra seguinte.
Para resolver isto, a Casa da Semente divulga a importância das sementes crioulas das famílias agroecológicas (ver cartilha anexa) e vídeo (ganhador de prêmio nacional da Articulação Nacional de Agroecologia – ver anexo).
Buscamos formar parcerias com outros grupos e organizações de agricultores, para compras coletivas, o que reduz bastante os gastos de montagem de pedido e envio. A Casa da Semente, com sua estrutura, também recebe sementes crioulas de outras organizações para testagem e boa conservação.
A AOPA faz parte da Rede Ecovida de Agroecologia, composta por cerca de 4 mil famílas agroecológicas do sul do país, organizadas em 32 núcleos e muitos grupos. Nesta rede temos feito a divulgação. Algumas compras coletivas já estão acontecendo. A pandemia adiou os planos de visita aos núcleos regionais, para explicar melhor o funcionamento da Casa da Semente e como todos podem participar.
O que buscamos no momento é o apoio financeiro para a implantação do campo de produção de semente. Os grupos e núcleos que fizerm está pré-compra terão um desconto no valor final da compra – agricultores apoiando agricultores, quem não produz semente apoia quem produz!
Recursos Necessários
Esta tecnologia social pode ser implantada conforme os recursos disponíveis em cada região. Também é possível começar com grãos –que exigem menos cuidados–, e depois passar para hortaliças.
É possível adaptar aos espaços e equipamentos que já existem no local. Os equipamentos podem ser substituídos por outros ou por outras formas de trabalhar (exemplo: secar as sementes ao sol ou com secadores feitos artesanalmente).
Elencamos alguns recursos materiais que fomos adquirindo (parcerias ou compra) ao longo do projeto:
Espaço físico
Energia solar
Câmara fria (ou geladeiras)
Analisador de umidade
Germinador
Balança de precisão
Balança até 40 kg
Termo higrômetro
Etiquetadora
Mobiliário (mesa de escritório; mesa reunião; balcão comprido; expositor; cadeiras; prateleiras; armários)
Computador
Impressora
Peneiras de diferentes malhas
Lonas
Bacias
Gerbox
Embalagens, fitas adesivas, etiquetas
Materiais de escritório
Também é possível aproveitar os recursos humanos e técnicos disponíveis através de parcerias com EMBRAPA, IDR e outros organismos, ONGs, guardiões de sementes, estudantes, estagiários, etc.
O importante é sensibilizar e ensinar os agricultores a colheita, limpeza e conservação das sementes, ter alguém que faça o processo de teste de umidade, germinação e secagem das mesmas, e um sistema de distribuição que faça chegar aos agricultores e viveiristas as sementes crioulas agroecológicas.
Em termos de recurso humanos, é necessário alguém que tenha feito alguma formação na área de produção, colheita, extração, limpeza e conservação das sementes para fazer a orientação dos guardiões. Alguém que se disponha (remunerado ou não) a realizar os testes de umidade e germinação e depois proceder a secagem e armazenamento. Pessoas que se disponham a fazer chegar nos agricultores as sementes já prontas para o cultivo.
Resultados Alcançados
Atualmente a Casa da Semente conta com 30 famílias agroecológicas produtoras de sementes. A lista está atualmente em 80 variedades de hortaliças crioulas, adubação verde e alguns grãos.
A produção de sementes de hortaliças chega perto de 200 kg/ano, vendidas em pacotes de 100g ou de cerca de 3 a 5 g.
A produção de sementes de adubação verde e grãos chega perto de 150kg/ano.
As sementes de baixa germinação não são comercializadas. São doadas para agricultores de baixa renda, com a orientação de usar três vezes a quantidade normal, para se ter uma colheita que poderá ser comercializada, consumida e guardada como sementes.
Estas sementes de baixa comercialização são pagas aos produtores pelo projeto, com um preço menor e orientações para solução das possíveis causas da baixa germinação.
O planejamento da produção de sementes, acompanhado pela coordenação da Casa, trouxe ferramentas interessantes para a gestão das unidades familiares não só para as sementes.
A adubação verde começou ser retomada pelos associados da AOPA em geral e a demanda tem sido maior do que a oferta, abrindo novas possibilidades para os produtores de semente.
Tanto a Casa quanto a produção de semente têm recebido visitas de intercâmbio de outras regiões e estados.
Público atendido
Agricultores
Agricultores Familiares
Assentados Rurais
Povos Tradicionais
Pequenos Produtores Rurais
Quilombolas
Trabalhadores Rurais
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