Problema Solucionado
O problema enfrentado se refere à dificuldade de inclusão social das mulheres via empreendedorismo, originada muitas vezes pela desigualdade de gênero e pela segregação social. De acordo com o The Global Gender Gap Report 2014, entre 2013 a 2014 o Brasil caiu nove posições no ranking internacional de igualdade de gênero, ficando em 71º entre 142 países. Esta pesquisa em parte reflete a precária qualidade imposta às mulheres no mercado de trabalho, especialmente aquelas que moram em comunidades de baixa renda e são negras. Segundo dados do SEBRAE (2013), é notório o crescimento da presença feminina no empreendedorismo no Brasil, porém este crescimento tem sido lento e com obstáculos históricos, tais como a desigualdade de gênero e o racismo. No Rio de Janeiro, cerca de dois milhões de pessoas residem em favelas, movimentando cerca de R$ 12,3 bilhões por ano (Instituto Data Favela, 2014). Nesses locais, são muitos os empreendimentos liderados por mulheres, porém a maioria não passa por uma fase mínima de planejamento e pesquisa, o que influencia diretamente nos resultados alcançados. Empurradas ainda mais pela recente crise econômica para a informalidade e para a abertura de pequ
Descrição
A tecnologia social de Redes Colaborativas entre Empreendedoras de Favelas e Periferias tem sido desenvolvida pela Asplande desde 1997. Sua base é a Metodologia de Desenvolvimento Integral e Harmônico, construída nos anos de 1980 por uma equipe interdisciplinar da Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (FUNDREM), junto a pequenos produtores da área rural de Paracambi. O grupo buscava ampliar a atuação dos produtores no mercado através de um planejamento participativo, descentralizado, com uma perspectiva humanista e de visão global. Tal metodologia compreende que é preciso um conjunto de informações organizadas que favoreçam a tomada de decisão de modo consistente e não aleatória, com uma abordagem centrada nas pessoas, na satisfação das necessidades coletivas e no bem comum, com a utilização dos recursos naturais de forma adequada e compatível com o meio ambiente. Posteriormente os técnicos que participaram desse trabalho levaram a proposta para o ambiente urbano, resultando na estruturação de uma metodologia capaz de atender as demandas do universo complexo da cidade do Rio de Janeiro – nasce daí a Asplande. O desenvolvimento do trabalho com pequenos grupos cooperativos em favelas se deparou com as demandas do universo plural e complexo que caracterizam essas regiões, apontando para a necessidade de fortalecimento do comércio local para além do empreendimento atendido. O caminho encontrado para superar essa questão foi a construção da Rede Cooperativa de Mulheres Empreendedoras da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que, só entre 2013 e 2016, agregou cerca de 800 empreendedoras divididas nas três redes regionais: Zona Oeste, Baixada Fluminense (Queimados, Nova Iguaçu e Duque de Caxias) e Grande Tijuca. Estas redes constituem um espaço de formação, articulação e troca de conhecimentos e experiências que estimula o potencial de mulheres de favelas e periferias que buscam criar ou consolidar seus negócios. Sua organização se dá através de encontros mensais, em espaços fixos cedidos por parceiros locais, como associações e sindicatos. O baixo custo financeiro da iniciativa possibilita a sua constância, tendo como motor da sua sustentabilidade o interesse e participação das participantes, permitindo a inserção de mulheres no contexto do trabalho, assessorando a criação de seus próprios empreendimentos, fomentando a circulação da informação e do conhecimento de forma dinâmica e estimulando a organização em redes sociais como espaços democráticos onde há uma convergência em torno dos mesmos valores e objetivos. Todos os encontros seguem um ritual: o café da manhã colaborativo, seguido da rodada de informes solidários (divulgação de feiras, eventos, financiamentos e etc.) e das apresentações, onde algumas participantes anunciam itens para doação ou venda, assim como o interesse em adquirir determinados artigos. Em seguida a formação é realizada através de palestras, oficinas, dinâmicas e diálogos, seguindo temáticas previamente levantadas junto às empreendedoras, constituindo um espaço que estimula a aprendizagem permanente. A formação é geralmente conduzida pelos consultores da Asplande, mas também inclui convidados(as) e as próprias participantes. Alguns dos temas abordados envolvem: a importância de se criar um processo de gestão dos empreendimentos; a superação de conflitos nas relações interpessoais dentro e fora do ambiente de trabalho, levando sempre em consideração a diversidade humana em todos os seus aspectos; a importância de se participar da sociedade de forma propositiva através de temas como meio ambiente, comércio justo, consumo crítico, gênero e direitos humanos. Além disso, as atividades de formação são desenhadas de forma a decodificar esses tópicos para uma linguagem acessível e pragmática, facilitando assim o aprendizado de todas. Um ponto fundamental para o êxito da iniciativa é a identificação de empreendedoras que podem ser animadoras das redes. São empreendedoras que recebem formação como educadoras, tornando-se enzimas do processo de mobilização e organização das demais dentro das redes. Elas são formadas para catalisarem o potencial empreendedor das participantes e facilitarem o processo colaborativo entre todas elas. As participantes dessas redes regionais são congregadas na Rede Metropolitana, que também realiza um encontro mensal, no centro do Rio de Janeiro, para a troca de experiência entre as redes, planejamento das formações e organização do prêmio Dandara – criado em 2013, homenageia anualmente 25 mulheres empreendedoras fluminenses (em 2015 foi criado o prêmio Tia Angélica, dedicado exclusivamente para as empreendedoras da Baixada Fluminense). A tecnologia das Redes Colaborativas tem contribuído assim para a difusão de um modo holístico de compreender o empreendedorismo do ponto de vista da pessoa humana, contribuindo para a inclusão econômica e combatendo a desigualdade de gênero e a segregação social.
Recursos Necessários
Um espaço físico para o desenvolvimento dos encontros, constituído de cadeiras, mesas, computador e projetor. Ferramentas de contato e divulgação, como grupo em rede social (Facebook), boletins eletrônicos via e-mail e telefone celular (WhatsApp e SMS).
Resultados Alcançados
Na prática, ao longo dos últimos dezenove anos, a tecnologia tem se demonstrado uma estratégia eficaz para a superação dos problemas cotidianos dos negócios, resultando na busca por soluções conjuntas, além de empoderar as empreendedoras e apoiar a consolidação dos seus negócios. Adotamos um modelo de relação de trabalho que implica em mudanças imediatas, como a reformulação da divisão de tarefas e o gerenciamento participativo, democrático e transparente. Esses novos conceitos são assimilados através da aprendizagem significativa: mais do que intelectual a aprendizagem é visceral, pois envolve o organismo como um todo. São mudanças que contribuem para a quebra de valores que impedem o desenvolvimento da mulher e promovem a descoberta de novas formas de relações (não só de trabalho, mas também familiar, social e política). Outro resultado da tecnologia é o empoderamento individual e coletivo, alcançado através da atuação conjunta em busca de valorização da identidade, do fortalecimento do consumo local e da busca por soluções criativas para problemas diversos, tais como a divulgação e o escoamento da produção. Diversas mulheres após a participação nas Redes Colaborativas entre Empreendedoras de Favelas e Periferias passam a se articular com outros grupos, seja buscando outros processos de formação, seja como multiplicadoras dos conhecimentos apreendidos. Além disso, elas desenvolvem habilidades de comunicação e de planejamento, contribuindo para o aumento da autoestima e impactando no ambiente familiar e comunitário. O reconhecimento do trabalho da Rede tem gerado parcerias com instituições diversas. Na área de ensino destacamos a Fundação Getúlio Vargas, a Escola Superior de Propaganda e Marketing e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro – essas organizações têm designado seus estudantes para atividades de acompanhamento dos empreendimentos, bem como para a criação de ferramentas tecnológicas, como o Portal Mulheres em Rede Compartilhando Saberes (uma expansão das atividades da Rede para o ambiente virtual).
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