Objetivo
Fomentar a produção familiar e agroecológica local pela criação de novos canais de comercialização direta em contraponto aos meios tradicionais, visando transformações culturais em relação ao consumo responsável, comércio justo, biodiversidade e segurança alimentar, alcançando valores sociais, ambientais e econômicos numa lógica social e igualitária.
Objetivos específicos:
- Criar uma rede de consumo responsável para a venda de produtos.
- Apoiar e fomentar a produção local e de base ecológica, por meio da capacitação e mobilização de produtores de Piracicaba e região;
- Disseminar práticas agroecológicas;
- Promover o consumo responsável por meio de atividades educativas e da promoção do contato entre produtores e consumidores;
- Produzir e distribuir materiais informativos.
- Investir em ações de marketing digital nas mídias sociais, a fim de conquistar novos consumidores, novas parcerias de vendas ao mercado organizacional, novos produtores interessados em associar à Rede Guandu.
- Ampliar o alcance e visibilidade da iniciativa, destacando-a como modelo de funcionamento e referência, passível a replicação por outro grupos e/ou indivíduos que desejem consolidar redes de consumo responsável.
Problema Solucionado
Piracicaba é uma região onde o monocultivo é predominante. Ao longo dos anos, os agricultores familiares foram fragilizados e pressionados pelo agronegócio, com baixo retorno, insegurança financeira e dificuldade de acesso aos canais tradicionais de comercialização. Assim, identificou-se a necessidade de inovar os canais de venda para que promovam o comércio justo e valorização do pequeno produtor.
Também fruto do modelo agrícola predominante, é a grande escala de impactos ambientais, uso crescente de agrotóxicos, além de não garantirem segurança alimentar à população. Na óptica do consumidor, é difícil o acesso a produtos agroecológicos e de venda direta, pelo seu alto custo ou falta de opção de locais de venda.
Logo, a Rede Guandu veio como uma estratégia de fomento à produção familiar agroecológica - pela geração de renda justa ou pela assessoria técnica – que além de promover a comercialização centrada na valorização do ser humano, garante o acesso à produtos saudáveis e de produção mais sustentável e se concretiza como um espaço de sensibilização e transformação social. A Rede Guandu pode ser replicada a partir de diferentes motivações e particularidades de cada região.
Descrição
A Rede Guandu foi criada em 2007 a partir da identificação da dificuldade de agricultores de Piracicaba e Americana em comercializar seus produtos pelos canais tradicionais de venda e, na outra ponta da cadeia, da falta de acesso aos produtos de origem agroecológica.
Caracterizada como um Grupo de Consumo Responsável (GCR), a rede funciona segundo os princípios da economia solidária, a partir da auto-gestão, promoção da relação direta entre consumidores e produtores e comércio justo. O grupo não tem fins lucrativos e seu funcionamento é apoiado em três elos: os consumidores; produtores (agricultores familiar e camponês, produtores locais, artesanais e de base ecológica) e, por fim, o grupo gestor, responsável pela organização de pedidos e entregas, gestão financeira e promoção de atividades educativas e de conscientização. Atualmente a rede conta com uma média de 40 consumidores semanais e 23 famílias de produtores.
A criação de um GCR se dá basicamente em 5 passos: 1. mobilização dos consumidores e determinação dos princípios comuns do grupo; 2. Mapeamento e contato com produtores; 3. Definir coletivamente o funcionamento do grupo, estrutura organizacional, logística de entrega, organização de pedidos etc; 4. Comunicação e desenvolvimento de atividades educativas; 5. A continuidade do grupo (balanço de seu funcionamento).
Neste modelo, para a criação da rede, foram feitos encontros a fim de se alinhar os princípios do grupo: comércio justo, respeito ao ambiente, valorização e fomento do pequeno produtor, promoção da biodiversidade e acesso a segurança alimentar, iniciando-se também o estabelecimento das primeiras redes de comunicação. Assim, foram mapeados e mobilizados os produtores interessados, buscando-se fortalecer as relações, entender a rotina de produção e comercialização de cada produtor (como quais dias vão a cidade, capacidade de produção, tipos de produtos etc.). A partir de tais informações, foi possível definir o funcionamento do grupo.
Atualmente as atividades são semanais: a gestão dos pedidos e das entregas de alimentos produzidos pelos membros da Rede é assumida por voluntários e estagiários. As entregas acontecem no espaço terra, um espaço de co-working e sede do Instituto Terra Mater, toda a sistematização de pedidos é feita através de um sistema digital de gestão e compras criado no início de 2009 – método que garante praticidade da realização e sistematização de pedidos, bem como traz vantagem para os produtores, pois se sabe a quantidade certa de produtos a serem entregues, evitando o desperdício.
Financeiramente, a Rede Guandu se mantém por meio de duas taxas sobre a comercialização dos produtos, estas sendo 10% sobre o preço final do produtor e 10% sobre o valor total do pedido do consumidor. Deste modo, é uma forma considerada por todos envolvidos como essencialmente justa e democrática, sendo que não há uma oneração excessiva ao produtor, com a desvalorização do seu trabalho, e nem uma inacessibilidade devido ao preço para os consumidores na aquisição dos produtos, o que é bastante comum nessa categoria de produtos nos canais convencionais (orgânicos, de base agroecológica e/ou artesanais).
O grupo também se destaca pelo seu caráter educativo, pois além de promover práticas mais ecológicas de produção e comércio, funciona como um espaço de reflexão. Desde o inicio das atividades da Rede Guandu, foram promovidas uma série de atividade educativas, como degustações, oficinas e rodas de conversas durante as entregas, visita dos consumidores aos produtores, reuniões de acolhida a novos produtores e/ou consumidores.
Ao longo de 12 anos de funcionamento, a Rede Guandu já passou por diversas mudanças no seu funcionamento para se adaptar a desafios, mudanças no cenário econômico, crescimento do grupo etc. O funcionamento e as decisões são tomadas de forma participativa, sempre ocorrendo a comunicação entre os membros em reuniões trimestrais.
Acreditamos que a Rede Guandu está próxima a alcançar um nível ideal de funcionamento quanto ao seu número de envolvidos (produtores e consumidores), uma vez que este perfil de iniciativa possui certos níveis limitantes de crescimento segundo a sua sistemática e disponibilidade de recursos humanos (respeitando as variáveis macroeconômicas), porém o objetivo máximo jamais há de se enquadrar nos ideais convencionais de competição de mercado e monopólio de clientela, mas sim na disseminação dos ideais propagados pela comunidade.
Desta forma, compete à Rede Guandu proporcionar um sistema sólido e eficiente que possa ser replicado por qualquer pessoa dentro de qualquer comunidade e proporcionar aos indivíduos inseridos na mesma a oportunidade de gerar renda justa e de adquirir alimentos saudáveis seguindo o que já foi construído em Piracicaba.
Recursos Necessários
Os recursos necessários para o funcionamento de uma Rede de Consumo Sustentável podem variar com o funcionamento de cada grupo:
- Local para a entrega, recebimento e armazenamento de produtos, o espaço pode ser alugado, ou cedido por possíveis parceiros da rede;
- Equipamentos de refrigeração, no caso do grupo comercializar alimentos perecíveis;
- Sistema de recebimento, controle e repasse de pedidos que pode ser pelo sistema digital, tal como o utilizado pela Rede Guandu, por mídia social , whatsapp, entre outros, de acordo com as possibilidades acessíveis pelo grupo de trabalho;
- Computador, impressora, sistemas de controle administrativo e contábil.
Não é necessário que o grupo gestor disponha de uma sede ou escritório de trabalho, as atividades de recebimento de controle de pedidos e contabilização das vendas podem ser realizadas a distância ou por homeoffice. O responsável precisará de acesso a um computador e internet para o controle administrativo das atividades da rede.
A divulgação do grupo é de extrema importância para seu funcionamento, bem como para as atividades informativas ou educativas. A mesma pode ser feita através de folders, banners, postagens em redes sociais, entre outros.
Resultados Alcançados
A gestão de pedidos através do sistema digital permite a sistematização do número de vendas, consumidores e movimentação financeira. Nas reuniões trimestrais com a equipe gestora e produtores, é possível realizar avaliações sobre o funcionamento da rede.
Atualmente a rede conta com a adesão de 23 famílias, sendo 65% mulheres, assim considera-se um canal que gera oportunidade de renda e mercado segundo os termos de igualdade de gênero. Ao que diz respeito às movimentações financeiras relativas ao funcionamento do grupo nos últimos 2 anos, a média do valor das vendas semanais realizadas neste intervalo é de R$ 1.738,47, atingindo no período o montante de R$ 179.062. Durante o tempo de existência da Rede Guandu (2007-2019), foram movimentados mais de R$ 800.000,00, circulados de forma local e direta, atingido cerca de 40 consumidores por entrega, para alguns produtores as vendas realizadas pela Rede alcançam até 80% da renda total.
A duradoura atuação na comunidade Piracicabana nutriu importantes parcerias com as iniciativas pública e privada: a rede ocupa duas cadeiras no Fórum Permanente de Gestão e Desenvolvimento Territorial Sustentável do poder legislativo municipal, sendo uma das fundadoras do Grupo Temático de Agroecologia que funciona paralelamente ao Fórum. A Rede Guandu também firmou parcerias com outras grandes instituições, como o Sesc, na promoção de feiras, eventos pedagógicos/temáticos e fornecimento de alimentos, e a Universidade de São Paulo, contribuindo na formação de estudantes, incentivo a pesquisas e desenvolvimento de projetos de capacitação técnica e apoio ao agricultor, através de programas de estágio
Por outra parte, a Rede Guandu participa desde 2011 da constituição de uma Rede Nacional de Grupos de Consumo Responsável, visando evidenciar o consumo responsável, através da ideia de que os consumidores, inclusive urbanos, através das suas escolhas alimentares e de consumo, também têm o poder e o dever de contribuir na superação dos desafios agroecológicos. Para auxiliar na replicação do modelo dos Grupos de Consumo Responsável (GCR), o Terra Mater, em parceria com o Instituto Kairós, Secretaria Nacional de Economia Solidária e o Ministério do Trabalho, elaborou uma cartilha com passo a passo para começar e estabelecer um GCR.
Público atendido
Agricultores
Agricultores familiares
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Adulto
Trabalhadores autonomos
Outros
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Adolescentes Protagonistas
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