Problema Solucionado
A Organização Mundial da Saúde divulgou que cerca de 80% da população dos países em desenvolvimento não têm recursos para aquisição de medicamentos. No Nordeste do Brasil, quase 40 milhões de pessoas vivem nessa situação em consequência da insuficiência da atenção primária de saúde, restando como opção o emprego de plantas medicinais. Em geral o conhecimento dessas plantas é repassado de mãe para filha. Nos centros urbanos, não é mais possível para mulheres que guardam o saber popular cultivar ou coletar as próprias plantas, o que as leva a buscar nas feiras e mercados as ervas para suas preparações caseiras, indicadas e comercializadas pelos raizeiros, rezadeiras e meizinheiras.O número dessas plantas chega a mais de 500, cujas propriedades medicinais ainda não foram avaliadas sob o ponto de vista científico quanto à eficácia e segurança terapêuticas. A análise dessas condições permitiu definir problemas a serem solucionados e desenvolver um plano que levasse ao emprego correto, seguro e eficaz de plantas medicinais. Quais das plantas com qualidades atribuídas pela medicina popular podem ser usadas sem risco de intoxicação e como levar ao usuário a planta corretamente selecionada?
Descrição
A solução adotada no intuito de resolver os problemas apresentados foi a criação do Projeto Farmácias Vivas, baseado numa metodologia original elaborada no sentido de integrar as práticas da medicina tradicional nordestina com a utilização da fitoterapia científica, usando as plantas selecionadas disponíveis no Nordeste, especialmente no Ceará, com vistas a seu aproveitamento como realmente medicinais, na preparação de fitoterápicos com garantia de eficácia, segurança e qualidade. Para execução do projeto foi criado um plano a ser desenvolvido em etapas executáveis sequencialmente. A designação Farmácias Vivas é uma forma de distinguir o novo tipo de horta medicinal proposto para integrar o projeto das outras hortas medicinais preparadas pelo povo com as plantas de uso empírico da medicina popular. Discriminação das etapas:
Etapa 1 – Seleção das espécies:
a) Registro em tabelas dos nomes botânicos e vernaculares, com designação da parte usada e do uso feito pelo povo das plantas usadas nas práticas caseiras da medicina popular nordestina. Isso tudo conforme levantamento preliminar de informações etnofarmacológicas, feitas ao longo de 25 anos de coletas de plantas em todo o Nordeste;
b) Levantamento de dados científicos sobre as espécies, resultantes de pesquisas realizadas por pesquisadores em Botânica, Farmacognosia, Química e Farmacologia da Universidade Federal do Ceará e de outras universidades nacionais e estrangeiras, na bibliografia levantada na Biblioteca Central da UFC e nos programas de busca da internet, compreendendo dissertações de mestrado, teses e artigos em periódicos;
c) Análise das informações sobre constituintes químicos ou propriedades farmacológicas que possam justificar, no todo ou em parte, sua ação medicamentosa, concordante ou não com a informação popular.
Etapa 2 – Produção de mudas das plantas selecionadas:
Instalação do Horto de Plantas Medicinais do Projeto, no Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará, com as plantas medicinais selecionadas pela aplicação dos critérios descritos no item anterior, acrescidas das outras da medicina popular incluídas para fins de futuros estudos, com vista à sua validação. Nesse horto, mantém-se o germoplasma das plantas que ocorrem no Ceará, bem como se efetua- a identificação taxinômica para obtenção da certificação botânica, com registro fornecido pelo Herbário de Referência “Prisco Bezerra” do Departamento de Biologia da UFC. Preparam-se também as mudas destinadas às futuras hortas medicinais externas além de produzir matéria vegetal para estudos experimentais químicos e farmacológicos pelos parceiros do projeto.
Etapa 3 – Repasse das plantas e do conhecimento sobre seu emprego:
No intuito de desestimular o autodiagnóstico e a automedicação, a execução desta etapa do Projeto Farmácias Vivas é planejada para repassar plantas e as informações sobre seu emprego medicinal apenas para as comunidades organizadas, privadas ou governamentais, incluindo associações comunitárias, ONGS e Secretarias Municipais de Saúde. O contrato deve especificar, além das normas de funcionamento do projeto e, especialmente, os direitos e deveres assumidos, os tipos e quantidades de mudas, modelos para sua instalação em diferentes níveis de complexidade, data e duração do treinamento oferecido para as áreas agronômica e farmacêutica, a literatura especializada e o período destinado a prestação de assessoria, que é, geralmente, de dois meses. A grande inovação é caracterizada pelos seguintes aspectos do projeto:
a) uso exclusivo de plantas eficazes e seguras disponíveis localmente;
b) produção de plantas e fitoterápicos regionalizada e descentralizada;
c) orientação técnica da instalação das unidades de produção e do treinamento do seu pessoal;
d) coleta ética e minimização da automedicação.
Recursos Necessários
Material de Consumo
Mangueiras
Material hidráulico
Material agrícola (Adubo orgânico)
Material de marcenaria (uma porta e dez cadeiras ou bancos)
Material de informática (CDs, cartuchos etc)
Equipamentos e Material Permanente:
Ferramentas agronômicas: pás, carrinhos de mão, enxadas
1.projetor de multimídia
3 computadores, sendo um portátil
Resultados Alcançados
A coordenação do Projeto Farmácias Vivas registrou até 2010 a implantação de 79 unidades, sendo 70 no Ceará e 9 em outros estados. Entre essas unidades podemos distinguir os seguintes modelos: Modelo I - 50 unidades; Modelo II- 2 unidades, e Modelo III - 25 unidades (descrição dos modelos no item q), sendo que o Modelo I se distingue como uma tecnologia social mais facilmente aplicável, que gera contenção de despesas com outros tipos de medicamentos, além de estimular o cuidar de si e da saúde em cada membro da comunidade. Um valioso resultado foi a seleção das plantas medicinais cujas preparações artesanais ou farmacotécnicas permitem controlar cerca de 80% das doenças mais frequentes nas comunidades, a saber: a) Infestação por Ameba, Giárdia e Tricomonas - com Mentha x villosa Huds., tipo especial de hortelã rasteira. b) Gastrite, úlcera gástrica e gastroduodenal, ou em ginecologia em cervicites e cervicovaginites - com Myracrodruon urundeuva Freire Allemão, aroeira-do-sertão ou Egletes viscosa (L.) Less., macela ou Plectranthus barbatus Andr., malva-santa. d) Asma, bronquite simples ou asmática, tosse e cansaço - com qualquer uma destas três plantas: Amburana cearensis (Allemão) A.C.Smith, cumaru-do-nordeste ou imburana-de-cheiro, Justicia pectoralis var. stenophylla Leon, chambá ou “anador” e Mikania glomerata Sprend, guaco. e) Ferimentos simples ou infectados, caspa, impigens e outras micoses, mau cheiro nas axilas, pés e virilhas - com Lippia sidoides Cham., alecrim-pimenta que tem ação contra o caramujo vetor da esquistossomíase, larvas dos mosquitos da filariose ou elefantíase, dengue e febre amarela. f) Crises de aftas causadas por vírus, principalmente em crianças, ou de herpes labial - com folhas de Spondias mombim Jacq., cajazeira, ou de Punica granatum L., romã, nos casos de herpes genital. Com a repetição do tratamento o intervalo entre as crises é progressivamente aumentado. g) Nervosismo, insônia, irritação - com o quimiotipo limoneno-citral de Lippia alba (Mill.) N.E.Brown, cidreira-carmelitana. h) Queimaduras, raladuras e hemorroidas - com Aloe vera (L.) Burm. f., babosa i) Dores reumáticas - com Ageratum conyzoides L., mentrasto sem flor. j) Cálculo renal e hepatite B - com Phyllanthus amarus Sch. et Roem. e P. niruri L., quebra-pedra ou erva-tostão. k) Colesterol e triglicérides elevados - com Curcuma longa L., açafroa ou açafrão da terra, cujo uso rotineiro pode prevenir o desenvolvimento do câncer de colon.
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