Problema Solucionado
A tecnologia social das Produtoras Culturais Colaborativas visa criar alternativas a múltiplos problemas interligados em um território: a subutilização de espaços comunitários de inclusão digital; a demanda por processos formativos em tecnologia, comunicação digital e audiovisual; a necessidade de produção cultural, registro e memória de artistas, mestres da cultura popular e empreendimentos locais.
Existe uma demanda de produção artística e cultural muito grande nas comunidades brasileiras não suprida apenas com o barateamento tecnológico e crescimento do número de pontos de inclusão digital.
Estes pontos podem ser lan houses, telecentros ou espaços multimídia de centros culturais que estão em boa parte ociosos ou limitados a atividades de lazer e trabalhos escolares pontuais.
A falta de metodologias de gestão de espaços de informática que propiciem formação em tecnologias livres multimídia e ofereçam produção e prestação de serviços impede que novos mercados locais se desenvolvam para atender artistas e empreendimentos usufruam de todo o potencial das tecnologias da informação disponíveis em seu território para produzir, divulgar e viver de sua produção.
Descrição
Podemos identificar a Produtora Cultural Colaborativa como uma frondosa árvore. Através dessa metáfora entendemos melhor seus componentes e os frutos que a mesma propicia. As raízes da árvore reúnem os princípios que orientam seu desenvolvimento e crescimento saudável, gerando um tronco estruturado em seis áreas interconectadas: Educação, Produção, Comunicação, Memória, Gestão e Economia. As raízes sustentam seu tronco, nutrindo seus galhos, folhas e frutos. Os galhos são comuns a todas as áreas e comportam os núcleos temáticos da organização, como por exemplo: fotografia, áudio, vídeo, informática, comunicação, produção cultural dentre outros. Apesar dos galhos terem temáticas específicas, muitos dos serviços envolvem uma convergência de atividades dos diferentes núcleos temáticos. As folhas são os produtos e serviços (Ex: videoclipe, registro fotográfico, curso de fotografia, mapeamento, customização de blogs, etc); os frutos representam a formação continuada, aquilo que cai e gera vida, replica, inova e recria; é também aquilo que também dá sentido a esta tecnologia social.
Como em uma árvore conseguimos enxergar mais facilmente o que nos é visível fora do solo, porém uma frondosa árvore para ficar de pé depende de fortes raizes que a segurem bem no seu local de fixação e garantam seus nutrientes diários para crescer e dar frutos. No caso das produtoras culturais colaborativas, consideramos as raízes desta tecnologia social a cultura popular existente no território; os softwares e hardwares livres disponíveis em todo mundo através da internet; o cooperativismo e o empreendedorismo que garantem uma gestão democrática da produção; as moedas sociais e a criatividade necessárias para buscar formas alternativas e inovadoras de sustentabilidade.
A qualificação de espaços de inclusão digital em produtoras culturais colaborativas é hoje praticada em quatro estados (BA, PA, PE e RS) de três regiões do país. Essas iniciativas de desenvolvimento local são realizadas em espaços de inclusão digital situados em pontos de cultura, telecentros, organizações da sociedade civil, universidades, grupos, coletivos e movimentos culturais com atuação social. O conjunto de atores mobilizados nessas experiências é variado, envolve jovens e adultos das comunidades, educadores, gestores públicos e artistas interessados em produzir conhecimento livre de forma coletiva e autogestionária; comercializar produtos e serviços e contribuir para o registro e a memória de suas comunidades.
A autogestão nas produtoras culturais colaborativas é vivenciada por meio de um conjunto de metodologias e tecnologias livres que podem ser adaptadas e ressignificadas de acordo com a realidade de cada território. Dentre as metodologias disponíveis na tecnologia social destacamos o uso da plataforma corais.org que possui uma segunda versão (corais.rios.org.br) utilizada para a gestão dos empreendimentos. Nessa plataforma são desenvolvidas ações de comunicação interna, agenda coletiva, divisão de tarefas, ensino à distância, reuniões virtuais e registro de transações em moedas sociais. A plataforma corais também é utilizada em metodologias de mapeamentos, inscrições, avaliações, pesquisas e formação quando existe disponibilidade de conexão com a internet pelos participantes.
A interação com a comunidade ocorre através de ações de formação tecnológica e comunicação comunitária com softwares livres em laboratórios de informática de escolas, universidades públicas, telecentros comunitários e pontos de cultura dos bairros do entorno da produtora, envolvendo a participação de jovens.
Outra metodologia sistematizada nesta tecnologia social consiste no uso de moedas sociais digitais para escambo de produtos e serviços entre empreendimentos, artistas e atores sociais dos territórios onde a mesma estão sendo implementadas. Essa prática contribui para a sustentabilidade dos grupos e coletivos que passam a desenvolver iniciativas empreendedoras utilizando software livres, da comunicação comunitária em moeda social e posteriormente em moeda corrente.
Exemplos de empreendimentos criados a partir da multiplicação da metodologia são arranjos produtivos de pontos de cultura, produtoras de eventos culturais, universidade de teatro, jornais e revistas comunitários, portais de notícias, publicidade colaborativas nos bairros, dentre outros. Dessa forma atende-se uma demanda social de jovens e coletivos culturais por conhecimento tecnológico e geração de renda a partir da prestação de serviços de comunicação e tecnologia.
Através da implementação e adaptação deste conjunto de metodologias e tecnologias livres em diferentes realidades e territórios podemos aprimorar os métodos e trocar boas práticas em rede pelas plataformas e encontros nacionais realizados em torno da tecnologia. São exemplos: a Produtora Colabor@tiva.PE, a Umbigada no Ar e o Tear Audiovisual em Pernambuco; A Produtora Colaborativa de Belém e o Coletivo Puraqué, do Pará; A Universidade Livre de Teatro Vila Velha, o Centro do Empreendedor Cultural e a Colaborativa do Capão na Bahia; A Produtora Outros 500, A Casa de Cultura Digital e o Baixa Cultura no Rio Grande do Sul.
Recursos Necessários
Os materiais necessários para implementar uma produtora cultural colaborativa envolvem dois tipos: os bens permanentes como equipamentos e instrumentos de trabalho e os insumos como materiais de escritório, informática e limpeza.
Entre os materiais permanentes destacamos os equipamentos audiovisuais, como câmeras, scanners, impressoras, gilhotinas (para corte de impressos), torradeiras de CDs (que permitem gravar multiplas copias), storage para os brutos de video (multiplos discos rigidos para backup de videos em alta qualidade). Nem todos os itens acima são necessários mas tornam mais eficiente o trabalho profissional ofertado pelo empreendimento e podem ser adquiridos com o caixa coletivo do empreendimento de forma gradativa.
Os computadores e o acesso a internet bem como os softwares livres e o espaço do estúdio e/ou telecentro com projetor, caixa de som, microfone e telão são fundamentais para a organização inicial da produtora cultural colaborativa. Grande parte dos itens imprescindíveis são encontrados em pontos de inclusão digital fomentados por politicas públicas de cultura, educação e ciência e tecnologia em ações dos governos federais e estaduais
Entre os insumos destacamos os Materiais de escritório e de informática como por exemplo: papel reciclado, tinta de impressora, itens para arte gráfica e comunicação. Entre os materiais de limpeza é importante cuidar dos equipamentos, limpeza geral e de higiene para banheiros e áreas comuns do espaço de inclusão digital.
Resultados Alcançados
A Produtora Colabor@tiva.PE é constituida por um arranjo produtivo local formado por cinco pontos de cultura, um cineclube, um Centro de Recondicionamento de Computadores e uma Associação Cultural de Bairro. Somando forças em ações comuns consegue funcionar como um empreendimento criativo que requalificou a Concha Acustica da Universidade Federal de Pernambuco entre 2012 e 2016. Em 2018 constituiu o Polo de Formação e Reúsu de Eletroeletrônicos do Nordeste, junto com a tecnolgogia social do Centro de Tecnologias Livres do Recife. A Produtora Colabor@tiva.PE surgiu em 2010 prestando seviços e realizando formações em cultura digital em feiras e festivais da iniciativa pública e privada.
A Produtora Colaborativa do Pará realiza formações tecnológicas de cultura digital e comunicação comunitária nas universidades e escolas do Pará, destinadas a estudantes, professores e produtores culturais; presta serviços de produção de eventos acadêmicos, científicos e culturais e comunitários em âmbito local, regional, nacional e internacional nas áreas de: software livre, inclusão digital, ciência e tecnologia; comunicação comunitária; cultura digital; conhecimento aberto; antropologia e linguística.
O Tear Audiovisual desenvolve ações cineclubistas desde 2012 em Olinda/PE e também no Recife/PE. Até o momento foram exibidos cerca de 50 filmes, em sua maioria curta metragens de coletivos independentes. O Coletivo atua também com a ocupação de espaços públicos como MAC – Museu de Arte Contemporanea de Pernambuco, e ações educacionais junto a escolas de Recife.
A Produtora Outros 500 teve início em 2012, em Porto Alegre, a partir das demandas e oportunidades que surgiam através do Espaço Cultural 512. Uma das primeiras ações foi a abertura de um edital para projetos culturais para ocupação do Espaço 512 aos domingos, compondo a programação mensal do espaço. Destaque para o I Festival de Cachaças e Sabores do Sul realizado em setembro de 2014 em parceria com alambiques do RS e 14 bares e restaurantes de Porto Alegre.
A Colaborativa do Capão teve início em 2013 com a formação de jovens interessados em produção cultural multimídia no Circo do Capão. Atuando nas áreas de áudio, vídeo, jornalismo, design e gestão e da organização de palcos livres e prestação de serviços a pousadas e artistas de Palmeiras.
A Universidade LIVRE realiza desde 2013 realiza formação continuada em Teatro e possui um processo de gestão colaborativa e a moeda social digital Tempo que possibilita custear até 80% do valor da mensalidade em atividades complementares a formação e que garante o acesso a quem não pode pagar em moeda corrente.
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