Problema Solucionado
São vários problemas em um só... A atividade leiteira é muito complexa, pois além da grande importância social e econômica, exige profissionalismo e conhecimento técnico. Por outro lado, há escassez de assistência técnica atuante em algumas regiões do Paraná, além de sistemas de produção inadequados e pouco suporte tecnológico. Há falta de eficiência econômica na cadeia, com destaque para a sazonalidade da produção e despreparo para a garantia da qualidade. A complexidade do problema reside na somatória da falta de alimentos para o rebanho (em quantidade e qualidade), origem zebuína dos rebanhos (pouca duração da lactação) e doenças que impactam na reprodução (resultando em intervalo entre partos superior a 18 meses). O desafio é a obtenção de renda oriunda da atividade leiteira, pois a cadeia é organizada, de baixo risco e de renda mensal, além de ser uma atividade agropecuária que pode sustentar os produtores familiares. A questão tecnológica passa por uma visão clara dos problemas reais da cadeia: a indústria enxerga a sazonalidade e a baixa qualidade, enquanto os agricultores veem a renda baixa e insuficiente para a sobrevivência familiar e ainda garantir a qualidade do produto
Descrição
Desafiar os produtores em busca das respostas aos problemas identificados, melhorar a atividade, rompimento das barreiras das diferentes visões dos elos da cadeia produtiva do leite. Em 1998, no Instituto EMATER, a estratégia metodológica começou com o nome de Projeto Vitória. Fundamentada na ação e na prestação de assistência técnica completa a produtores de leite. O rigor metodológico tem suporte na pluralidade técnica (especialistas) e na estratégia de aplicação e difusão de tecnologias através de Unidades de Aprendizagem e Difusão (UADs). Para tal a seleção e o acompanhamento das UADs é um grande diferencial.
Na seleção usamos dois caminhos, o primeiro onde o produtor mostra interesse e quer a mudança com constituição de um grupo de vizinhança. O segundo, onde a seleção é feita pelos produtores do grupo de produtores (linha de leite, assentamento ou distrito), que passam a participar mais assiduamente das etapas de planejamento e execução as ações. As atividades são as mesmas, implantação de diferentes tecnologias de produção e avaliação da relação custo e beneficio. Inicialmente parceria com a AMUSEP (Associação do s Municípios do Setentrião Paranaense), com os Assentamentos da Reforma Agrária. Em 2013 a metodologia foi usada para assistência técnica a 1000 produtores da AMOCENTRO (Associação dos Municípios da Região Central do Paraná), através do edital do Ministério de Desenvolvimento Agrário. A partir de 2014 fundamenta as ações do Projeto Leite Competitivo Norte que abrange 100 municípios do Paraná.
A ação de assistir a produção de leite é realizada por uma equipe técnica multidisciplinar, composta por um gestor ou articulador local (responsável pelo acompanhamento das propriedades) e técnicos de execução de tarefas (qualidade, sanidade, reprodução, nutrição e alimentação), assessorada por especialistas (que participam da montagem dos planos, das avaliações periódicas e do repasse de conteúdos técnicos), coordenados por um grupo gestor, responsável pelo cronograma de ação, em conjunto com os produtores.
Na propriedade selecionada (UAD), as ações são fundamentadas na realidade encontrada, identificada no levantamento inicial (marco zero). A partir do marco zero, é elaborado um pré-plano, que é discutido com o produtor e, assim, transforma-se em um plano de intervenção, que será monitorado em momentos oportunos, com replanejamento, se for o caso, conforme esquema apresentado a seguir:
Seleção dos produtores; Marco Zero; Pré-plano; Plano de intervenção; Monitoramento; Avaliação e Reprogramação.
Nos grupos, a discussão dos problemas e as propostas de solução levam à elaboração de um cronograma de ações (imagem de um planejamento de grupo).
O diferencial desta estratégia metodológica, onde agricultores e técnicos são vitoriosos, é a sequência de diagnosticar, programar, agir, monitorar e avaliar as atividades necessárias à produção de leite. A realidade dos grupos embasa e fundamenta o conteúdo técnico específico e o calendário de atividades de cada grupo garantindo assim soluções adequadas e no momento certo. A parceria entre Produtores, Técnicos, Universidades, Pesquisa e Indústria permitiu o exercício da pesquisa x ação, resultando no desenvolvimento e consolidação de Modelos de Negócios eficientes e sustentáveis com ênfase no aumento da renda e qualidade de vida das famílias envolvidas. Produziu-se, assim, um modelo de ATER (assistência técnica e extensão rural) diferenciado. Esse modelo, além de promover ajustes no processo de produção das UADs, proporcionou ganhos em produtividade e renda (desafio inicialmente proposto), possibilitou treinar mais de 650 produtores, vários profissionais da EMATER, auxiliou na formação acadêmica e de vivência profissional de muitos estudantes dos cursos de Ciências Agrárias das universidades parceiras, serviu de modelo de trabalho para profissionais da iniciativa privada, além de ter proporcionado, ao longo destes anos, um aprendizado em metodologia de intervenção e assistência técnica.
Recursos Necessários
Recursos humanos: Grupo de Especialistas nas áreas de solos, produção de forragens, nutrição e manejo de forrageiras de verão e de inverno. Manejo do rebanho, sanidade e reprodução. São necessários ainda, especialistas em manejo e higiene na ordenha. Profissionais que acompanhem os planos de trabalho e façam a articulação com os especialistas.
Materiais, insumos para a melhoria nas UADS. Veículos, combustíveis e material de apoio (analises de pastagens de leite, computadores e materiais diversos).
Resultados Alcançados
Consolidação de uma estratégia metodológica de ATER demonstrando a viabilidade do negócio leite. Conteúdo técnico suficiente, graças às eficientes parcerias com os produtores colaboradores, instituições de ensino e pesquisa aliado ao empenho, dedicação e persistência dos profissionais atuantes no projeto. Validação de sistemas de produção de leite (modelos de negócios consolidados e rentáveis) que foram utilizados como referência por outros produtores da região (copiar/colar/imitar). Destacamos o uso da gestão técnica pelo controle leiteiro, ferramenta em desenvolvimento com potencial de ajustes nas diferentes tecnologias e na gestão da atividade.
Até o ano de 2018 foram beneficiados pela metodologia do Projeto Vitória 521 propriedades, capacitados 1.580 agricultores e especializados 35 profissionais de diferentes áreas.
Ocorreram melhorias expressivas nos indicadores avaliados em 20 anos de acompanhamento computadas informações de 27 propriedades. A área média destinada para produção de leite diminuiu de 27,07 para 17,72 ha, a produção aumentou de 225,18 para 338,8 litros de leite por dia. Houve aumento de 6,31 para 12,41 litros de leite por vaca/dia, a porcentagem de vacas em lactação passou de 64 para 78% do total de vacas, determinando um salto de 2.441 para 8.994 litros de leite por ha/ano, representando aumento 368%. Os dois principais indicadores que a metodologia se propõe alterar, que é aumentar a renda bruta e o diminuir o custo operacional, apresentaram, mesmo a comparação ter sido feita após as correções pelo valor dólar, elevação de R$ 30.395,42 para R$ 191.190,90 (aumento de 200,3%) e diminuição de R$ 0,42 para 0,23 (redução de 44%).
Estes resultados permitem afirmar ser possível aumentar a produção regional de leite em 56%, utilizando apenas um terço da área atual com forragens, liberando terra para outros negócios, tais como a fruticultura e o cultivo florestal. Permitiria aos produtores gerar poupança e se capitalizar ao longo do tempo, rompendo com o círculo vicioso que compromete a estabilidade econômica de alguns municípios. Em propriedades de níveis mais elevados de tecnologias, alcançou-se 25.000 kg leite/ha/ano ou 70 l leite/ha/dia e renda de até R$ 407,00/dia, comparados com produtores de níveis tecnológicos mais baixos, que produzem 2.500 kg leite/ha/ano ou 7 l leite/ha/dia e renda de R$ 45,00/dia - inferior a uma diária de trabalho de um trabalhador rural da região.
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