Problema Solucionado
Analisando-se a evolução histórica do paisagismo, verifica-se que as funções dos jardins se modificaram ao longo do tempo, mas, de forma geral, no passado, não privilegiaram o acesso e o desfrute pelas pessoas portadoras de deficiência, principalmente os cegos. Os jardins mais antigos foram sempre concebidos mais para serem vistos do que sentidos e, infelizmente, ainda hoje, grande parte dos jardins brasileiros, tanto residenciais quanto públicos, não são adaptados aos portadores de deficiência (principalmente os cegos) e estes, muitas vezes, também não tem acesso à educação ambiental. Apesar do conceito de inclusão ser amplamente adotado, a sua vivência prática não tem sido respeitada. A conscientização da comunidade (crianças, jovens e adultos) sobre a necessidade de uma educação inclusiva é ainda insatisfatória. Tornar esses espaços, como o jardim sensorial, como uma importante ferramenta destas ações permitirá a toda comunidade local uma experiência sensorial reforçada, contribuindo uma abordagem inclusiva e sustentável, ao estimular que cada pessoa se permita se colocar “no lugar do outro” e perceber os desafios diários de pessoas com algum tipo deficiência.
Descrição
A ideia de implantar um Jardim sensorial no CCAB/UFCA aconteceu em 2017 através do projeto extensão “Grupo Sementes do amanhã (GSA) ” ao ser observado pelo grupo uma área ociosa do centro, onde estavam sendo jogados sobras de materiais da construção de um prédio. A orientadora alertou sobre a ociosidade e degradação desse espaço e a necessidade de fazer um uso adequado e útil a esse ambiente.
A partir disso foram feitos estudos e debates sobre o assunto, onde as palavras EDUCAÇÃO e CONCIENTICAÇÃO foram amplamente citadas. Houve relatos de diálogos que ocorreram durante visitas feitas pelo GSA ao Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) em Juazeiro do Norte, CE. Nas rodas de conversa com deficientes visuais e professores dessa instituição foi constata a incipiência de ações concretas de inclusão voltadas aos cegos e a falta de conhecimento da comunidade em geral sobre os desafios diários enfrentados por estes.
Por tudo isso houve consenso na equipe da necessidade de buscar ferramentas, tecnologias para alertar e conscientizar as pessoas (em especial as crianças e jovens) sobre essa realidade. A orientadora, que é professora das disciplinas de Horticultura e Plantas Medicinais e Aromáticas, sugeriu a instalação no espaço ocioso de um JARDIM SENSORIAL, que teria como foco a EDUCAÇÃO para inclusão e a CONSCIENTIZAÇÃO ambiental ao utilizar para instalação deste as sobras da construção do prédio novo e materiais reciclados.
O jardim então foi construído com os propósitos já relatados, mas também com a finalidade de estimular sentidos que se encontram adormecidos pela prioridade dada à visão. As primeiras atividades relacionadas à construção do jardim sensorial tiveram início no mês de março de 2017 e todo o projeto e reuniões de planejamento foram definidos ao longo deste ano.
Foram realizadas revisões de literaturas no que se refere às normativas de acessibilidade para os portadores de necessidades especiais e artigos que reforçavam a importância e forma de implantação de um jardim sensorial e características deste que propiciassem um melhor acesso e estruturação para facilitar a automação do deficiente visual.
De imediato se fez necessário croqui do jardim sensorial (anexo) e a partir de 2018 o terreno foi aplainado (anexo), foi feita retirada de pedras e entulhos, e estruturado as bancadas de sustentação (anexo) que tem como objetivo manter suspensos os vasos cultivados com plantas medicinais aromáticas e hortaliças (anexo).
Foram construídas bancadas de madeira onde foram instalados jarros de plantas medicinais aromáticas e hortaliças para estimular os quatro sentidos do corpo humano: o tato, através das texturas das plantas, a audição, com a fonte de água, a visão, através das cores exuberantes e, finalmente o olfato com os aromas das espécies e gustação, tão importante na formação do paladar junto com a olfação, a associação será feita através do gosto de algumas medicinais e hortaliças o jardim. O caminho entre as bancadas foi feito através de um piso tátil formado por pedrisco, areia, bambu etc. para que a percepção do tato também ocorresse por meio dos pés.
Foi plantado um gramado para facilitar a locomoção, amenizar o clima, amortecer possíveis impactos e deixar assim cada vez mais seguro as visitas no jardim sensorial além do cultivo de plantas ornamentais nas bordas que delimitam a área e também combatem a erosão.
Para garantir o acesso ao jardim foi construída uma rampa (opcional, dependendo do acesso ao espaço escolhido) em padrões oficiais regulamentados para esse propósito.
Na entrada do Jardim Sensorial foi colocada uma placa de identificação. As informações das plantas são apresentadas em placas individuais com descrição em braile. Futuramente, junto com os alunos, será elaborado um catálogo de identificação e classificação das plantas.
Como a tecnologia não tinha recursos próprios foi buscado com outras instituições para fazer croqui do espaço (paisagista e funcionários do IFCE, campus Crato), aplainamento do terreno (empresa de maquinas agrícolas), estruturação do corrimão (DINFRA/UFCA), doação de plantas ornamentais (jardins comerciais da região), auxílio financeiro para compra de grama (servidores e professores do CCAB), execução (estudantes do grupo e muitos voluntários), confecção de etiquetas em braile (professor do CEJA-JN), doação de material reciclável (comunidade externa), divulgação (jornalistas, egresso da UFCA).
A partir da inauguração, o jardim foi visitado por deficientes visuais, crianças, estudantes da Agronomia e de outros cursos da UFCA e por estudantes de escolas públicas do Crato, Juazeiro e outros municípios do cariri. Foi construído uma pequena mostra do jardim com a estruturação de uma mesa feita por pallets (jardim sensorial itinerante). As próximas ações serão a realização de oficinas, palestras, rodas de conversas etc. além da manutenção de percursos contínuos ao jardim sensorial e instalação do jardim em outros espaços demandados pela comunidade.
Recursos Necessários
A. FERRAMENTAS ()=QUANTIDADE
Boca de lobo - (1)
Enxada G com cabo de madeira (1)
Esquicho c/ engate rosqueado(1)
Esterco (scos de 40kg) (20)
Etiquetas identificação - 15cm -(50)
Mangueira (1/2’) - para irrigação (m) -(50)
Pá de bico (1)
Peneira grande (1)
Rastelo c/ cabo de madeira (1)
Regador manual – 5L (1)
Trena 30m (1)
B.BANCADAS-PLANTAS
Barrotes (1,20m cada) - (12)
Arcos de ferro (vara) - (2)
Caibro (5m) (12)
Grama (m3) (25)
Pallets (bancos e suporte) (8)
Placa de madeira c/nome do jardim (1)
Plantas medicinais, hortaliças e ornamentais (35)
Ripas de 1m (5)
Sombrite (1,5m Larg.) - (11)
Tintas Látex - 3 cores (1litro)- (3)
C.PISO TÁCTIL
Areia fina (m3) - (0,5)
Brita (m)- (0,5)
Corda de seda - auxilio percurso (m) - (6)
Pedras decoração (cariri) – m2 -(20)
Ripas de (2,5m)- (12)
D.VIVEIRO DE MUDAS
Arame liso Galv. (kg)
Areia fina (m3)
Bandeja isopor - 128 células
Barras de aço (12m)
Barrotes de 5,5 m (3)
Barrotes de 5,5 m - Bancadas (2)
Barrotes de 4m (4)
Brita (m) (1)
Cimento (50 kg) (1)
Esterco (sco de 40kg) (15)
Lona de estufa (m) (10)
Microasp.azud 100L (15)
Parafusos (tamanhos dif.) (30)
Pregos (Ripal e cabral) - pacote (1)
Ripas de 1m (10)
Rolo barbante (2)
Sacos plást. (10x20m) - milh. (1)
Sementes (envelopes) (20)
Sombrite (3m) (15)
Tijolos - blocos barro (50)
Vasos plást. mudas (50)
E.PERCURSO JARDIM SENSORIAL
Pranchetas (2)
Tapa-olho (30)
Resultados Alcançados
Os resultados começaram a serem percebidos na inauguração do jardim (anexo) onde mais 100 pessoas (cegos, instituições que trabalham com inclusão, estudantes cegos ou não, professores, etc.) e através das visitas ao jardim em função do público que fez o percurso:
CRIANÇAS: O jardim foi percorrido por mais de 150 crianças na faixa etária de 6 a 10 anos. Após este, e sem fenda, foi pedido para que observassem a área da bancada e cenários circunvizinhos. Em seguida foi feita uma roda de conversa sobre se tinham visitado outro jardim sensorial, o que acharam de fazer o percurso com os olhos vendados, as dificuldades que encontraram para percorrer, que plantas conheciam, se identificaram os materiais reciclados usados, se tem na família ou conhecem pessoas com deficiência visual, qual a importância de tratarmos a todos com igualdade e respeito. Foi observado que 100% das crianças nunca tinham visitado um espaço semelhante, demonstrando o caráter inovador do jardim. A totalidade das crianças realizaram espontaneamente o percurso. Mais de 50% das crianças já conheciam muitas das plantas expostas nas bancadas, e esse conhecimento anterior se deu principalmente pela família. Os temas mais citados para descrever as sensações que o jardim despertou foi: alegria, animação, surpresa, agitação e, sobre o sentimento/sensação de ficar olhos vendados (sentimentos de paz, medo de não saber onde caminhar). Foi pedido, para quem quisesse, que poderia fazer um desenho do jardim.
JOVENS E ADULTOS (com ou sem deficiência visual): para este público foi feito um questionário a ser respondido voluntariamente após o percurso pelo jardim: como você soube da existência do jardim sensorial? Quais os sentidos que percebeu mais fortemente durante o percurso? Sentimentos e sensações que mais afloraram? O que você mais gostou no jardim? Contribuiu para a transmissão de algum conhecimento? Em torno de 8 instituições visitaram o jardim, sendo a maioria voltadas à educação. A maioria soube do jardim pelas mídias e todos responderam que foi a primeira vez que visitavam esse tipo de espaço. 58% delas disseram que o tato e olfato foram os sentidos que perceberam mais fortemente. Dentre os sentimentos e sensações, a calma e alegria foram as mais citadas. Mas 24% (dos que não eram cegos) relataram que se sentiram “perdidos” com a ausência da visão (fenda nos olhos). 65,4% das pessoas citaram que a visita aumentou o conhecimento sobre as limitações da cegueira, seguido sobre educação ambien
Tecnologias Sociais Semelhantes
Adolescentes Protagonistas
Licuri: Geração De Renda E Sustentabilidade Ambiental
Barragem Subterrânea Transformando Vidas No Médio Sertão De Alagoas
Bioconstrução Comunitária Em Povos E Comunidades Tradicionais