Objetivo
Aproximar as crianças dos processos de planejamento, tomada de decisão, execução e gestão dos espaços públicos existentes no entorno das escolas, de forma a fortalecer a sua consciência cidadã e motivá-las a participarem na construção de soluções para os desafios existentes nas suas relações com os espaços públicos urbanos.
Problema Solucionado
No Brasil, verifica-se que 81% das crianças brasileiras vivem em áreas urbanas (IBGE, 2010). Além disso, as crianças que vivem nos centros urbanos passam 90% do tempo em ambientes fechados (UNILEVER, 2016) e 40% dessas crianças passam apenas uma hora ou menos do dia brincando ao ar livre (UNILEVER, 2016). Neste contexto, podemos destacar também, que os acidentes de trânsito são a causa líder de mortes por acidentes na faixa etária de zero a 14 anos no Brasil, segundo a Rede Nacional da Primeira Infância.
Esses dados refletem em como as crianças estão afastadas dos espaços públicos, os quais têm sido vistos como ambientes hostis e perigosos. Se por um lado, a ausência das crianças nos espaços públicos urbanos e nos espaços de tomada de decisão, torna nossas cidades cada vez mais distantes de garantir espaços adequados, inclusivos e vivos para todas, por outro lado, para as crianças, estar distante dos espaços públicos as impede de experimentarem gradualmente uma vivência autônoma de cidade e de exercerem seu direito à participação na sociedade em que estão inseridas.
Descrição
O Meu Bairro Brincante é um método colaborativo, vivo, aberto e em constante evolução para impulsionar a participação cidadã das crianças no planejamento, uso e gestão dos espaços públicos, fortalecendo uma cultura de cidadania ativa e uso do espaço público como ambiente pedagógico. O processo de implantação se dá através dos ciclos de engajamento, descritos abaixo:
Ciclo Aproximação
O ciclo de aproximação visa ativar uma rede de atores que estarão envolvidos no processo, de forma a estreitar o diálogo entre a comunidade, a escola, o poder público e a equipe de projeto, em um processo pedagógico para empoderamento da sociedade sobre temas que compõem a cidade. Assim, esta etapa tem como objetivo final realizar um diagnóstico coletivo, que irá embasar e subsidiar as intervenções futuras.
Articulação local - É feita a partir do mapeamento dos diversos atores locais com potencialidade de estar envolvidos na produção do espaço urbano com foco nas crianças e cuidadores. A articulação com esses atores permite traçar estratégias e atividades mais adequadas à realidade do território, das crianças e seus responsáveis, fazendo com que o projeto possa atingir os objetivos de forma efetiva. Para esse contato pode-se buscar: gestão pública, associação de moradores, comunidade escolar, creches, grupos culturais, ONGS, comerciantes, entre outros.
Diagnóstico territorial e coletivo - A partir da rede de atores criadas, busca-se identificar as camadas sensíveis existentes na relação das crianças e seus cuidadores com o espaço que habitam. Nesse sentido, busca-se identificar as principais rotas feitas pelas crianças e cuidadores para a escola e equipamentos urbanos junto ao que elas encontram pelo caminho, bem como os espaços livres que as atraem e que elas brincam e os principais desafios enfrentados por elas. Estes dados podem ser coletados através de rodas de conversas, caminhadas sensitivas, questionários, mapeamentos, desenhos, fotos, vídeos e diversas outras formas.
Ciclo Fazendo lugares juntos
O ciclo de Fazendo lugares juntos objetiva traçar alternativas criativas para fomento do uso e ocupação dos espaços públicos comunitários no entorno das escolas e da construção de novas perspectivas no que diz respeito ao cuidado e ao comprometimento coletivo com o ambiente em que vivemos.
Cocriação - Partindo de um entendimento do urbanismo enquanto cultura coletiva, a cocriação tem como objetivo produzir soluções para o espaço urbano com o uso de ferramentas que incluam os diversos atores envolvidos no processo de forma equitativa. Pode ser realizada através de atividades de ocupação do espaço urbano, maquetes, desenhos, brincadeiras, rodas de conversas, contação de histórias, entre outras atividades.
Validação - É o momento que se apresenta, através de maquetes, imagens, desenhos, etc as soluções elaboradas para intervenção no espaço. Este momento permite que as crianças, cuidadores e os demais atores envolvidos visualizem os espaços com as intervenções idealizadas para validação e/ou identificação de ajustes e considerações finais para execução.
Construção e acompanhamento - Após a validação, o projeto pode ser executado. A execução pode se dar de diferentes formas a depender das soluções apresentadas, seja em formato de mutirões com as crianças e moradores, como também a partir da contratação de profissionais terceirizados. Nesta etapa, assim como nas demais, é importante a valorização da mão de obra local e o acompanhamento técnico para garantir a qualidade das intervenções e solucionar desafios que possam surgir.
Ciclo Visão de futuro
Além de contar com um processo de análise e aprendizados sobre o processo, o ciclo Visão de Futuro objetiva a pactuação e a concretização dos diálogos produzidos durante todo o processo, a partir do engajamento dos atores locais e do incentivo à participação ativa dos moradores na gestão compartilhada do espaço e nas recomendações para a gestão pública.
Celebração - Depois de tantos aprendizados compartilhados, laços criados, decisões tomadas e roupas sujas de tinta, é hora de celebrar o processo e ocupar o espaço com muita vida! A celebração é um momento festivo, tão importante quanto todas as outras etapas. É hora de reunir todas as pessoas que participaram do projeto, direta ou indiretamente, e também convidar outros atores engajados na causa.
Avaliação e aprendizados - Depois que os espaços são construídos, continuar a observá-los nos ensina ainda mais sobre como eles podem evoluir e ser gerenciados ao longo do tempo. Assim, esta etapa visa realizar observações e conversas em campo para avaliação dos resultados e produção do relatório final.
Gestão compartilhada - A última etapa do ciclo de engajamento objetiva desenvolver um modelo de gestão compartilhada a partir de ferramentas de monitoramento e avaliação do processo, a fim de que o projeto permaneça sendo cuidado no tempo.
Recursos Necessários
São definidos a partir de:
Pessoal (formado pela equipe do projeto e os diversos agentes urbanos que participam no processo)
Escola (professores, diretores, coordenadores, etc.)
Comunidade (moradores, comerciantes, etc.)
Poder Público (Prefeitura, secretarias, etc)
Crianças e Cuidadores (responsáveis pela criança)
Equipe do Projeto (Arquiteta, Profissional da educação, Articuladora Local)
Profissionais Terceirizados (marceneiro, serralheiro, pedreiro)
Material (materiais utilizados para as oficinas, reuniões apresentações e construção da intervenção)
Materiais de papelaria (papéis sulfite, papéis manteiga ou vegetal, papelão, lápis, borracha, caneta, apontador, prancheta)
Materiais de artes ( tinta, pincel, fitas, papelão, papel celofane, isopor, barbante, cola)
Materiais de construção (trena, cimento, material de marcenaria, material de serralharia, material de pintura, )
Materiais de jardinagem (plantas, terra, vasos ou pneus)
Equipamentos (formados pelos equipamentos utilizados pela equipe durante o projeto e pelos profissionais terceirizados)
Equipamento para registros (celular, câmera, gravador)
Equipamentos de construção (pá, enxada, carro de mão, serra, pincel, trincha)
Resultados Alcançados
Como forma de analisar, avaliar e aprender com os resultados do processo, de forma que o método esteja sempre em constante evolução, são realizadas etapas de levantamento de informações no ciclo de aproximação e no ciclo visão de futuro, nos âmbitos qualitativos e quantitativos. Esses dados possibilitam identificar se o objetivo central e os específicos foram alcançados, além de também oferecer dados que ampliam o conhecimento sobre o território. Para esta etapa são utilizadas as seguintes ferramentas: observação e mapeamento sobre o uso do espaço, questionário e entrevista.
Os resultados mais significativos observados com a implantação da tecnologia social Meu Bairro Brincante em suas três edições, foi a intensificação das relações de vizinhança, devido à presença das crianças nos espaços. Com a observação e mapeamento sobre o uso dos espaços antes e depois do processo, é possível perceber um aumento considerável na quantidade de pessoas que usam os espaços, especialmente as crianças, estando estas normalmente acompanhadas por seus cuidadores. Na Praça da Paz, pudemos observar um aumento de 350% no número de pessoas utilizando a praça para permanência e lazer, posto que a média das pessoas que permaneciam no espaço por dia antes do processo era de 14 pessoas e depois da intervenção 49, com um alcance de até 90 pessoas em dias de finais de semana. A presença de mais pessoas no espaço, também possibilitou o fim do fluxo de carros, motos e veículos de carga no local.
No Alto Santa Terezinha, a pesquisa de pós-ocupação retratou que 77% das crianças, entre as 38 contempladas na entrevista, brincam em algum dos espaços transformados pelo projeto e dessas crianças que utilizam o espaço para brincar, 55% utilizam mais de 3 vezes na semana e 45% entre 2 ou 3 vezes na semana. Sobre o processo de gestão, foi importante identificar a percepção das pessoas sobre as responsabilidades de gestão e manutenção do espaço, com respostas como: observar as crianças no local, manter o espaço limpo, usar de forma adequada o espaço, etc.
Espaços antes inutilizados e ociosos devido à carência de mobiliário, sentimento de insegurança e ausência de elementos atrativos às crianças e seus cuidadores funcionam como motor para a implantação da tecnologia e o desenvolvimento do processo de colaboração para a transformação desses espaços, fortalece uma cultura de cidadania ativa, em que a população passa a ter determinação e autonomia para transformar o lugar onde mora, na medida em que se fortalecem os vínculos e o propósito comum.
Público atendido
Adulto
Alunos do ensino fundamental
Crianças
Diretor escola
Gestores publicos
Famílias de baixa renda
Lideranças comunitarias
Organizacao nao governamental
Professores do ensino fundamental
Tecnologias Sociais Semelhantes
Adolescentes Protagonistas
Secador Solar De Madeira
Resgatando Gerações: Medidas Socioeducativas Aos Adolescentes Infratores
Licuri: Geração De Renda E Sustentabilidade Ambiental