Problema Solucionado
Há 13 anos, o Instituto Consulado da Mulher se dedica à transformação social por meio do fomento ao empreendedorismo feminino. Sabe-se que 52,2% dos empreendimentos informais no Brasil são liderados por mulheres, em sua maioria com idade entre 25 e 44 anos. (Pesquisa GEM – Global Entrepreneurship Monitor–2013).
Neste cenário de atuação, verificamos a inexistência de ferramentas e indicadores que fossem utilizados com populações femininas de baixa renda que, além do resultado financeiro em si, considerassem também as diferentes perspectivas de gênero e seus impactos no dia a dia das mulheres.
Considerando a fragilidade da condição socioeconômica das mulheres que integram os empreendimentos populares, sentimos a necessidade de estabelecer um processo estruturado que pudesse garantir a ampliação da autonomia, o desenvolvimento de habilidades de gestão, bem como a sustentabilidade social e ambiental dos projetos por elas desenvolvidos.
Sendo nossa prioridade o estímulo à autonomia e emancipação das mulheres, constatamos a necessidade de desenvolver um sistema próprio, que pudesse estabelecer indicadores de processo e resultados nos empreendimentos populares liderados por mulheres.
Descrição
A metodologia em Gestão de Empreendimentos Solidários implementada pelo Instituto Consulado da Mulher está embasada nos princípios de Educação Popular e tem como temas transversais a Educação em Gênero, e o Trabalho em Rede, conceitos estes que, quando incorporados ao processo de assessoria, tornam questões relacionadas à transformação social - como autonomia, segurança no trabalho e resolução de conflitos - tão importantes quanto à geração de renda em si. Entende-se que o processo de aprendizagem e de gestão caminham juntos para desenvolver ciclos que possibilitem diagnosticar a situação atual em que se encontra o empreendimento e descrever a situação desejada, de maneira participativa, facilitando a compreensão de problemas e a definição das possíveis soluções.
A metodologia proposta articula os quatro passos que compõem o ciclo de planejamento conhecido como PDCA:
Planejar aonde quer chegar, definindo metas e objetivos; Desenvolver as ações necessárias para atingir os resultados desejados; Controlar e medir os resultados das ações realizadas;
Agir com base nos resultados, ajustando o Planejamento e redefinindo prioridades para assegurar o atingimento das metas.
Desta forma, o primeiro passo da metodologia consiste na realização de um auto-diagnóstico, que pode ter ou não o acompanhamento de um(a) educador(a) social, e que irá identificar a situação atual de cada empreendimento em relação aos indicadores propostos.
Os indicadores estabelecidos são tanto quantitativos como qualitativos e foram agrupados em 7 macro temas, chamados “Índices de Desenvolvimento”. A definição deste conjunto de indicadores pretende mapear e estimular o desenvolvimento de alguns dos principais fatores de sucesso ou fracasso para um empreendimento popular. A seguir listamos cada um dos macro temas e seus respectivos indicadores: 1) Organização do trabalho: Plano de Negócios, Gestão Financeira, Regras e Regimento Interno, Planejamento e Registro de Decisões.
2) Indicadores econômicos: Faturamento, Renda, Investimentos, Fundos Coletivos e Individuais e Trocas Solidárias.
3) Condições de Trabalho: Formalização, Seguridade Social, Certificação Social, Jornada de Trabalho, Segurança e Ergonomia.
4) Autogestão: Liderança, Processo Decisório, Divisão e Realização de Atividades, Articulação com Outros Empreendimentos e Entidades.
5) Gênero: Equidade de Gênero e Poder; Natureza de Conflitos.
6) Estrutura e emancipação: Acesso aos meios de Produção, Comercialização, Formação Profissional Continuada e Inovação.
7) Responsabilidade ambiental: Certificação e Gestão de Resíduos baseados nos princípios dos 3R’s.
Para cada indicador foram estabelecidas medidas qualitativas de evolução, cuja mensuração é realizada desde o diagnóstico inicial, e durante todo o processo de assessoria, que dura em média 2 anos, até a emancipação do empreendimento.
O estágio de evolução de cada um dos indicadores é definido em processos coletivos de reflexão e consenso, pelo próprio empreendimento e/ou em conjunto com o(a) educador(a) que o assessora. Foto 1- Aplicação da Metodologia, Foto 2 - Capacitação Prêmio Consulado da Mulher 2014, Foto 3 - Visita aos assentamentos.
Com a utilização desta metodologia, e a partir da compreensão clara da situação atual, tanto a equipe do Consulado da Mulher, como as entidades parcerias e principalmente o próprio público alvo possuem os elementos necessários para definir com assertividade as metas de desenvolvimento e estabelecer planos de ação para o atingimento destas metas e melhoria dos indicadores. Cada ciclo de planejamento dura em média seis meses. Ao final deste período os avanços são avaliados e aplica-se novo diagnóstico para avaliar avanços e redefinir prioridades de ação.
Esta tecnologia social vem sendo aplicada desde 2007, sendo que a partir de 2009 começou a ser compartilhada com outras entidades sociais sem fins de lucro alcançando abrangência nacional.
Anexo 1: Manual de Aplicação da Metodologia
Recursos Necessários
Os materiais utilizados para a implementação da tecnologia social estão relacionados principalmente à transferência de conhecimentos e treinamento do agente que irá realizar as assessorias, normalmente um(a) educador(a) social.
Os materiais utilizados para este treinamento são apostilas e conteúdos didáticos disponíveis em versão impressa ou eletrônica. Recursos são necessários para o deslocamento e alimentação quando da realização de atividades presenciais durante a fase inicial de treinamento.
O acompanhamento dos empreendimentos é baseado na interação com as comunidades, por meio da condução de atividades regulares de assessoria, que provem a realização de reuniões, oficinas temáticas e formações. Em alguns casos são necessários recursos relacionados à locomoção do agente de uma para outra comunidade, que pode ocorrer por via terrestre ou pluvial. A condição ideal para a realização das formações é a existência de espaço físico com cadeiras, mesas, papéis, canetas, lousa ou flipchart, além de alguns materiais de papelaria para condução de atividades lúdicas e dinâmicas.
O registro dos dados e a compilação de informações pode ser feito de duas formas:
1. Coleta Manual: demanda espaço físico e materiais de escritório (mesa, cadeira, papel, caneta, pastas, formulário e outros impressos); ou
2.Coleta Eletrônica: requer computador com acesso a internet.
Estabelecimento de parcerias locais para tornar a tecnologia social sustentável.
Resultados Alcançados
A partir da utilização desta metodologia tornou-se possível sistematizar processos e coletar informações relevantes para assegurar o desenvolvimento dos empreendimentos.
108 empreendimentos foram assessorados no ano de 2014, dos quais 59 diretamente pelo Consulado da Mulher e outros 49 por meio de entidades sociais parceiras. Anexo 3: Fechamento 2014.
Estes empreendimentos propiciaram a geração de renda para 1.570 pessoas, com um total de 6.314 beneficiários incluindo filhos e familiares que dependem economicamente da renda destas mulheres. A elevação média da renda foi de 21% entre o início e o final do ano.
Os 108 empreendimentos beneficiados faturaram em 2014 o equivalente a R$5 milhões, movimentando a economia e gerando riquezas em suas comunidades.
Desde sua fundação, o Instituto Consulado da Mulher beneficiou mais de 33 mil pessoas em 17 estados brasileiros. E desde 2013 tem ampliado o seu alcance, com a realização do Prêmio Consulado da Mulher cujo objetivo é identificar empreendimentos femininos de destaque, os quais são agraciados com: a) assessoria segundo a metodologia aqui descrita; b) eletrodomésticos utilizados como meios de produção(freezer, geladeiras e fogões); c) recursos em dinheiro para investir na melhoria do empreendimento. Mais de 500 mulheres em todo o Brasil já foram premiadas e reconhecidas. A diversidade cultural, os sotaques, e a singularidade de cada uma delas tornam o prêmio enriquecedor a cada ano. Com este incentivo a capacidade produtiva aumenta e o pequeno negócio se desenvolve, ampliando a renda e a qualidade de vida de muitas famílias e comunidades. (Foto 5 - Prêmio 2013 e Foto 6 - Prêmio 2014)
Além dos resultados financeiros temos a alegria de identificar muitos exemplos de superação como o caso de Francisca da Silva, uma das ganhadoras da edição de 2013. Por meio do empreendedorismo e da autonomia econômica encontrou caminhos para livrar-se de uma situação de violência doméstica. Tendo vivido em cárcere privado por 10 anos, ela se considera hoje uma mulher livre, e afirma que muito desta liberdade se deu por conta de seu envolvimento com a economia solidária. Hoje, a Xica como gosta de ser chamada é exemplo, para centenas de outras empreendedoras que buscam sua autonomia por meio do empreendedorismo. (Foto 7- Xica da Silva).
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