Problema Solucionado
Historicamente mulheres têm assumido um papel econômico nas famílias brasileiras e geram novas formas de consumo e hábitos sociais. O PNAD 2016 mostra número de lares brasileiros chefiados por mulheres alcançou 41%, aumento gerado pela maior presença da mulher no mercado de trabalho. já de acordo o Censo IBGE 2010, a Maré possui cerca de 132 mil habitantes, distribuídos por 40 mil domicílios, configurando-se como a maior favela do município do Rio de Janeiro. As mulheres correspondem a 51% da população da Maré, em que 45% dos domicílios são chefiados por mulheres, as qua na maioria das vezes devem conciliar formação responsabilidades familiares, domésticas e profissionais. Esse dado nos dá a dimensão da enorme responsabilidade e desafios que as mulheres enfrentam para entrar no mercado de trabalho e da necessidade de ampliar suas habilidades e redes profissionais. O Maré de Sabores, projeto da Redes da Maré, OSCIP que atua na Maré há mais de 20 anos, nasce do entendimento que o trabalho voltado especificamente para mulheres é uma das estratégias fundamentais para o desenvolvimento de um projeto estruturante e de longo prazo para a melhoria da qualidade de vida do território.
Descrição
O Projeto Maré de Sabores criado em 2010 na Maré, a partir da iniciativa da Redes da Maré, a verificou a expressiva demanda local por qualificação profissional em gastronomia. Em seu momento incipiente, promoveu oficinas de gastronomia na escola Publica Vicente Mariano, na Baixa do sapateiro - uma das 16 comunidades da Maré. A partir de mobilização local e com ativa escuta à fala das moradoras da Maré, o Maré de Sabores passa a trabalhar a alimentação como instrumento essencial para a melhoria das qualidade de vida das mulheres da Maré. Esse arranjo passa a ser o ponto de partida para uma reflexão mais crítica do papel que mulher desempenha para a melhoria estrutural do território da Maré.
O Maré de Sabores desdobrou-se em duas ações: a primeira e ponto de partida - o buffet Maré de Sabores ainda em 2010. Catering de impacto social, que possibilita geração de renda direta para as mulheres qualificadas e integradas ao Projeto, o que é essencial para sustentabilidade da iniciativa. O segundo desdobramento, em 2016 a Casa das Mulheres da Maré - espaço qualificado e de referência para a mulher - tem com o objetivo fomentar o protagonismo feminino no território, ao passo que contribui para melhoria das condições de vida das mulheres e, consequentemente a todos que as cercam. A formação em gastronomia do Maré de Sabores já certificou em gastronomia cerca de 600 mulheres desde 2010, esse processo de qualificação profissional foi sendo ampliado com a construção da Casa das Mulheres em 2016, já que a experiências dos anos anteriores produziu uma reflexão prática que mulheres com maior nível de escolaridade e maior autonomia financeira representam possibilidades concretas para o desenvolvimento territorial, uma vez que responsáveis com maior nível de escolaridade ampliam as chances de aumentar o acesso à educação de seus filhos.
Em 2016, a Redes da Maré inaugurou a Casa das Mulheres, espaço que atua com atividades desenvolvidas para melhorar as condições profissionais e existenciais e ampliação o acesso à direitos das moradoras da Maré. Com a experiência do Maré de Sabores foi possível desenvolver um programa integral de educação profissionalizante para mulheres inserido no contexto social e econômico local capaz de enfrentar as múltiplas barreiras – objetivas e subjetivas – de inserção e manutenção no mercado de trabalho das mulheres da Maré através da oferta de (1) cursos profissionalizantes que buscam a ampliação da autonomia financeira e articulação com as dinâmicas econômicas do território; (2) acompanhamento individualizado para desenvolvimento de estratégias de inserção profissional e geração de renda; (3) atendimento interdisciplinar por uma equipe composta com profissionais do Direito, Serviço Social e Psicologia para ampliação da rede de apoio e acesso à direitos. A metodologia do projeto baseiase em um conjunto de ações complementares que busca o fortalecimento das trajetórias profissionais e existenciais de moradoras da Maré. O desafio de educação profissionalizante para mulheres que estabeleceram uma relação descontinuada com processos de aprendizagem e com o mercado de trabalho é desenvolver ações complementares que possam apoiar o enfrentamento de uma série de barreiras materiais e simbólicas e identificar demandas específicas para além da demanda de qualificação técnica.
A formação acontece em 12 meses, com 6 módulos em 3 por semestre, com a carga horária obrigatória de 148 horas composto por: (1) 100h de curso profissionalizante nas áreas de Gastronomia com aulas teóricas e práticas com vistas à qualificação profissional de alta qualidade e certificação; (2) 40h de oficina “Gênero, Trabalho e Cidadania” com a qual buscamos criar um ambiente de diálogo e reflexão através de temas como equidade de gênero, sexualidade, racismo, numa perspectiva crítica sobre questões sociais que afetam o desenvolvimento econômico, profissional e existencial das mulheres; e ainda (3) 8h de atendimento oferecido pela equipe interdisciplinar ao inicio e fim dos ciclos para avaliação das diferentes dimensões objetivas e subjetivas das participantes, e avaliação de resultado da participação do ciclo, garantindo uma escuta qualificada e acesso a um conjunto de direitos. A metodologia do projeto prevê a alternativa de trabalho do Buffet Maré de Sabores, experiência desenvolvida dentro do escopo do projeto que tornou-se parte da qualificação, uma vez que promove trabalho e renta direta para mulheres qualificadas nas oficinas de gastronomia. A ação dentro do projeto, tem como objetivo estimular o empreendedorismo das mulheres qualificaatravés da pratica de um negócio em gastronomia. Assim, as mulheres podem acompanhar de perto o ritmo e os desafios de trabalhar na gastronomia.No buffet Maré de Sabores, as mulheres executam tarefas de produção à gerenciamento de eventos, sendo, assim, remuneradas diretamente por seu trabalho, o que lhes proporciona aumento de renda e possibilidade de autonomia econômica.
Recursos Necessários
Para implementar uma unidade de tecnologia social é necessário consolidar um espaço integral de formação e desenvolvimento para mulheres da Maré com uma cozinha industrial para as oficinas de gastronomia, com equipamentos de alta qualidade e infra estrutura que atenda às recomendações da Anvisa.A cozinha tem uma dupla função, pois o espaço abrigará, além das oficinas de gastronomia, um espaço para produção de alimentos para promover sustentabilidade ao projeto. A cozinha é composta por 1 forno de convecção, 1 forno industrial de 6 bocas, 5 bancadas de inox com geladeiras, 7 pias de inox, 1 multi processador, 4 liquidificadores, 4 batedeiras e diversos materiais de uso e louças das oficinas.
Utilizamos 4 salas para conduzir as oficinas de gênero, grupo terapêutico, atendimento jurídico e social. Em cada sala, utilizamos 20 cadeiras, 2 mesas, 1 projetor, 1 notebook e 1 quadro branco.
Para garantir o espaço comum das trabalhadoras da unidade, é necessário um escritório com 5 computadores, cinco mesas, 10 cadeiras, 5 armários organizadores para o material de uso e documentação. Para conduzir atividades como reuniões ou palestras utilizamos 3 microfones, 3 amplificadores de som. Já para receber o público usuário da unidade, provemos um espaço de recepção composto de 2 sofás, 1 poltrona, 12 cadeiras, além de 1 mesa, 1 computador para a recepcionista
Resultados Alcançados
Com a ampliação da metodologia, Maré de Sabores formou, anualmente, cerca de 90 mulheres moradoras da Maré, totalizando 180 mulheres certificadas por ações de qualificação profissional, formação política e atendimento interdisciplinar psicosociojurídico gratuito. O perfil educacional, econômico e profissional das mulheres atendidas pela Redes da Maré, por meio do Projeto Maré de Sabores demonstra que 40% têm ensino fundamental completo ou incompleto, 47% ensino médio completo ou incompleto; 28% se declara desempregada, 24% em situação de trabalho informal, apenas 19% possui vínculo de trabalho formal; 7% se declara do lar; 34% não possui renda fixa, 59% possui renda inferior a dois salários mínimos e 6% superior a dois salários mínimos.
O Projeto “Cidades Saudáveis, Seguras e com equidade de Gêneros: perspectivas transnacionais sobre Violência Urbana contra Mulheres no Rio de Janeiro e em Londres”, fruto da parceria internacional entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Redes de Desenvolvimento da Maré, o People’s Palace Projects (Queen Mary University of London) e a King’s College London University indica que o perfil de escolaridade e de empregabilidade é uma variável muito importante para a prevenção e enfrentamento da violência, o que confirma-se no contexto da Maré.
Em pesquisa recente desenvolvida pela Redes da Maré, observamos que quanto maior a escolaridade e o nível de autonomia financeira, menor a incidência de relatos de violência. Nesse sentindo, iniciativas de educação profissionalizantes também devem contemplar ações complementares de apoio, para além da dimensão técnica da formação, para interferir de forma efetiva nas trajetórias profissionais e existenciais de mulheres inseridas em contextos populares.O desafio do projeto foi consolidar estratégias concretas no contexto socioeconômico territorial das beneficiárias que garantam melhor qualificação profissional, inserção e manutenção no mercado de trabalho, criação de empreendimentos quando desejado, busca de estágio e ampliação do campo de formação. Nesse sentido, identificamos duas estratégias complementares a serem desenvolvidas para aumentar a efetividade em termos de empregabilidade e educação profissionalizante: a articulação e mobilização da rede de empreendimentos no território para alinhar os processos formativos às dinâmicas econômicas territoriais.
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