Problema Solucionado
A Educação Escolar Indígena é garantida por políticas públicas que asseguram o uso da língua materna e processos próprios de aprendizagem respeitando seu universo sociocultural. Entretanto ocorrem situações discriminatórias. Em Miranda os problemas são redundantes a outras regiões: a falta de metodologias para qualificação de professores específicas às demandas das comunidades; a ausência de materiais didáticos que valorizem a língua e conhecimentos tradicionais; a deficiência no incentivo a professores indígenas que buscam promover o conhecimento intercultural e interdisciplinar, restringindo-os aos modelos tradicionais de ensino, se contrapondo ao modo de ver, viver e conviver dos indígenas. A língua é fundamental para manutenção de outras manifestações culturais como cantos, mitos e rezas. Em MS,das 8 etnias existentes, três não falam mais sua língua. Em Miranda, considerado um dos municípios com maior proporção de indígenas em relação aos não índios (IBGE), apenas 17% das crianças Terena matriculadas na educação infantil possuem a língua indígena como língua materna, o que mostra que a língua não está sendo transmitida para as próximas gerações e corre sério risco de extinç
Descrição
A tecnologia foi originalmente aplicada para educadores do Ensino Fundamental da Escola Municipal Indígena “Polo Coronel Nicolau Horta Barbosa”, Aldeia Cachoeirinha. Ao reaplicarmos a metodologia para a Educação Infantil,não apenas apliamos o número de envolvidos (professores e alunos), como aperfeiçoamos práticas a fim de otimizar os resultados com base nos indicadores da ação pioneira. Neste sentido a reaplicação da tecnologia para a educação infantil se deu em 14 salas de aula de 11 escolas, alcançando a totalidade de alunos da educação infantil das escolas municipais indígenas de Miranda. A aplicação do trabalho segue o sistema que visa garantir, inicialmente, o envolvimento da comunidade. Para tanto, as ações são desenvolvidas nas próprias comunidades indígenas, onde acontece o primeiro passo: 1) Elaboração do projeto junto à comunidade. Esta etapa é muito importante para discussão dos pontos principais a serem abordados nas oficinas, garantindo que o projeto atenda as reais demandas dos professores indígenas. 2) Oficinas. Foram desenvolvidas oficinas de elaboração de material didático, importância da inserção e uso da língua Terena em ambiente escolar, interdisciplinaridade e interculturalidade, sequência didática e planejamento e politicas públicas. Nestas oficinas tivemos a adesão da totalidade dos professores, coordenadores, diretores e assistentes, graças a parceria institucional que formalizamos com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura que tornou possível que a participação dos profissionais ocorresse durante as atividades letivas, dando um caráter mais oficial às atividades, integrando, de fato, as capacitações como uma ação institucional da educação infantil escolar indígena. No total foram três oficias com a participação de todos. Este número de oficinas foi reduzido para que houvesse espaço para o próximo passo. 3) Acompanhamento de professores em sala de aula. Observamos que os professores muitas vezes têm dificuldades em aplicar a metodologia proposta (ensino intercultural), assim como muitos têm dificuldades ou receio de expor suas dificuldades em sala de aula, desta forma optamos por aplicar mais atendimentos individualizados. São oportunidades em que os profissionais do Ipedi oferecem, de forma individual, acompanhamento das atividades dos professor em sala de aula, orientando o planejamento e a execução de atividades interculturais. O trabalho do IPEDI consiste basicamente em sermos interlocutores de conhecimentos indígenas e não indígenas, apostamos que a única metodologia infalível é a mudança e melhoria contínua, desta forma ocorreram muitas alterações no modo de trabalharmos desde o primeiro projeto até agora, sempre buscando ouvir os anseios da comunidade e buscar conhecimentos científicos e universais que possam suprir as necessidades da escola e comunidade indígena. 4) Desenvolvimento de 21 projetos culturais: o fortalecimento da prática de uma educação intercultural passou a inspirar os professores que aplicaram as técnicas aprendidas na realização de projetos que visam o resgate cultural junto a seus alunos. No total foram 21 projetos que tiveram orientação, monitoramento, reflexão e registro de atividades culturais envolvendo escola e comunidade, As iniciativas partiram e foram organizadas pelos professores. Depois de desenvolvidas as iniciativas foram discutidas e adaptadas (quando necessário), para compor o próximo passo da tecnologia, a construção do livro, como proposta de atividade em sala e como registro cultural do povo Terena. 5) Elaboração do livro Kalivôno Kálihúnoe Ike Vó’um - volumes 1 e 2. Que consiste na sistematização de todo o processo em um livro didático de dois volumes que serve de material de apoio para educação intercultural nas salas de toda a educação infantil indígena da Rede Municipal de Educação de Miranda
Recursos Necessários
Para o desenvolvimento do projeto é necessário o apoio da comunidade e Secretaria de Educação de Miranda para cessão do espaço físico onde as oficinas são realizadas (salas de aula - escolas indígenas). As oficinas são realizadas em maior número aos sábados, para não interferir no calendário escolar e quinzenalmente, para que os professores não fiquem sobrecarregados. Para realização das oficinas são utilizados um projetor multimídia, um notebook, impressora com scanner, gravador digital, máquina fotográfica e materiais de consumo, tais como: papel sulfite, giz, lápis, EVA, cola quente, etc. As oficinas em geral foram ministradas por membros da equipe, parceiros ou ainda profissionais que precisam de remuneração a depender do tema definido. Há custos de deslocamento (combustível e alimentação) aos ministrantes. Para estruturação do livro didático foi necessário um notebook com programa Corel Draw, impressora com scanner, HD externo e pagamento de profissional capacitada em diagramação experiente em educação intercultural, isso permitiu a redução de custo e a estruturação do material de forma mais próxima à realidade da comunidade. Há os custos com gráfica para impressão dos livros e custos com a Coordenação, com a Gestão Administrativa do Projeto e com tradutores
Resultados Alcançados
Propomos, com este projeto, reaplicar tecnologia utilizada junto ao ensino fundamental, capacitando os professores indígenas da educação infantil tendo como produto material didático bilíngue, que serve de apoio para uma educação intercultural. Realizamos a capacitação, que juntamente com as reflexões sobre a elaboração do material didático e realização de projetos culturais possibilitaram um amadurecimento crítico e consciente sobre a Educação Escolar Indígena que se pretende A partir dessa formação e conscientização, os caminhos para a efetivação de uma Educação Escolar Indígena tornaram-se mais nítidos e possíveis, visto que estes profissionais se sentem motivados para a realização de novos materiais, a construção de um currículo para língua, arte e cultura terena e elaboração de uma metodologia específica para a escola terena. O livro para educação infantil, em 2 volumes, foi adotado como oficial nas escolas municipais indígenas de Miranda garantindo o incentivo ao uso da língua materna logo nos primeiros contatos da criança com o mundo letrado e considerando as dificuldades dos professores com salas multisseriadas e do ensino bilíngue.Surgiram outras iniciativas comunitárias inspiradas no trabalho desenvolvido com os professores: o projeto Cultura e Identidade Terena (aldeias Passarinho e Moreira); e o projeto Sons da Aldeia (aldeia Babaçú). Ambos oferecem atividades no contraturno dos alunos, resgatando saberes tradicionais. De mentoria do Ipedi, os projetos foram financiados pela Brazil Foundation, em 2016 e 2017. O projeto Sons da Aldeia venceu prêmio do Ministério da Cultura, sendo contemplado com recursos que foram utilizados para a construção de uma “Oca Cultural”, onde são realizadas atividades culturais do projeto. Indígenas de outras etnias já estão em contato com o Ipedi para reaplicar o sistema de formação de professores em outras comunidades. A tecnologia de formação de professores e construção de material didático bilíngue focado na educação intercultural já inspira outras comunidades: professores indígenas Apiakás, da Amazônia, estiveram em Miranda para conhecer como reaplicar a tecnologia em suas comunidades; indígenas terena do município de Sidrolândia já entraram em contato para buscar a mesma reaplicação, assim como indígenas kadiwéu da região dos municípios de Bodoquena e Bonito, em MS. A mesma tecnologia será aplicara no projeto Barco de Letras, iniciativa do Ipedi para construção de material didático para pescadores artesanais
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