Problema Solucionado
O Guarda Parque Mirim nasceu da necessidade de fazer as pessoas compreenderem os benefícios e as responsabilidades de morarem em uma Unidade de Conservação (UC). A partir da sede da Unidade de Conservação, o Estado mantém a fiscalização sobre as ações de aterros, podas, caça e pesca, sem conseguir ter efetividade real, em face de recursos reduzidos e de cultura local não sensibilizada com a sustentabilidade.
Além do afastamento entre comunidade e natureza em uma Área de Proteção Ambiental com mais de 20 mil moradores, a realidade mostrava que o papel dos Guarda Parques estava distorcido junto à população. Segundo a Associação Brasileira de Guarda Parques, sua função está relacionada à execução de atividades de conservação e preservação dos recursos naturais e culturais, além de ser o elo entre as políticas públicas e as comunidades das unidades de conservação. Mas os moradores da APA Delta do Jacuí viam nesses profissionais apenas a responsabilidade de repreender, punir, multar e mandar prender.
Esses dois fatores foram essenciais para o nascimento do Guarda Parque Mirim que, a partir desse cenário, apostou nas crianças como elos transformadores da realidade.
Descrição
O Guarda Parque Mirim nasce da necessidade de contribuir com o desenvolvimento sustentável e a regeneração dos sistemas naturais da Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Jacuí. Trata-se de um programa social, de base ecológica, dirigido a estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental de escolas estaduais locais, entre os meses de julho e dezembro, através de encontros sistemáticos e de práticas ambientais. A escolha da série e faixa etária das crianças acompanha os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental que tem a intenção de fazer o estudante perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente. A base conceitual e filosófica para o Programa vem da Alfabetização Ecológica, de Fritjof Capra, que considera:
“Para ser ecologicamente alfabetizada, uma pessoa precisa ter no mínimo conhecimentos básicos de ecologia, de ecologia humana e dos conceitos de sustentabilidade, bem como dos meios necessários para a solução dos problemas. ” (STONE, Michael e BARLOW, Zenobia, Organizadores. Alfabetização Ecológica – A Educação das Crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006).
Fases do Projeto
O Guarda Parque Mirim possui um ciclo anual de planejamento e organização das ações, sendo que o trabalho com os estudantes ocorre no segundo semestre letivo. São três eixos de atuação:
- encontros para debates sobre Educação Ambiental com as Professoras das escolas, instrutores e oficineiros do Programa;
- projeto Meu Mundo Melhor, que é a parte prática do Programa, no qual as crianças detectam um problema do seu entorno e propõem uma solução para ele; durante o semestre planejam, executam e apresentam os resultados do seu trabalho;
- encontros de aprendizagem, ciclo de dez encontros quinzenais, nos quais são abordados temas do meio ambiente local e realizadas oficinas culturais (música, artes cênicas, dança, etc.).
A seguir a descrição das cinco fases principais do desenvolvimento do processo.
Fase 1 – Janeiro a Março
Planejamento do Guarda Parque Mirim, tendo como base a avaliação da edição anterior, com foco na captação de recursos e assinatura de contratos com investidores.
Fase 2 – Abril a Maio
Alinhamento do trabalho com escolas estaduais e municipais da Área de Preservação Ambiental. É importante a assinatura de termo de parceria entre as instituições para qualificar o trabalho do semestre seguinte. Neste período também se faz necessário o contato com fornecedores e seleção dos materiais a serem utilizados no programa. Prioridade para fornecedores locais.
Fase 3 – Maio a Junho
Início do contato com os estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental através das Oficinas de Ideação para os projetos Meu Mundo Melhor. A partir de encontros de ideação cada turma escolhe um problema para criar sua proposta de resolução e executá-la ao longo do semestre. Em 2016, foram escolhidos temas como Natureza, Lixo, Animais, Escola e Violência.
Nesse período também ocorrem os encontros de Educação Ambiental com as professoras, oficineiros e instrutores que estarão acompanhando o Guarda Parque Mirim no segundo semestre letivo. Durante o processo, o grupo participa de 24 horas/aula de formação.
É importante que as contratações necessárias para o desenvolvimento do Guarda Parque Mirim sejam feitas nesses meses, como lanches, transporte e oficineiros que trabalharão nas escolas.
Fase 4 – Julho a Novembro
Nesses meses ocorrem os trabalhos sistemáticos com os estudantes. Os projetos Meu Mundo Melhor são planejadas detalhadamente e executadas conforme organização de cada turma em sala de aula nas escolas, totalizando, em média, 24 horas de trabalho.
Os 10 Encontros Educativos sobre ecologia e cultura ocorrem nesse período. Cada turma participante do Guarda Parque Mirim participa de 40 horas/aula de atividades específicas do programa, na sede da Unidade de Conservação.
Fase 5 – Dezembro
Dezembro é marcado pelo último encontro de alfabetização ecológica e também pela apresentação dos resultados dos projetos Meu Mundo Melhor, fatores centrais para a avaliação e replanejamento do Guarda Parque Mirim.
Tempos necessários para execução do Guarda Parque Mirim:
200 horas – Planejamento de ações e gestão do Guarda Parque Mirim
24 horas/aula – Formação com professoras, oficineiros e instrutores
24 horas/aula – Projeto Meu Mundo Melhor, por turma de 4º ano
40 horas/aula – Encontros de ecoalfabetização, por turma de 4º ano
Gestão de resíduos
O Guarda Parque Mirim é um Projeto Lixo Zero devido a sua vinculação com a educação ambiental. Os resíduos gerados são encaminhados para o descarte correto. Em 2016 desviamos dos aterros sanitários 19,750kg de resíduos.
Gestão de fornecedores
A gestão passa pelo envolvimento da comunidade. A alimentação dos encontros é de uma microempresa da Ilha da Pintada, com produtos orgânicos. O transporte das crianças é feito com motorista da região.
Recursos Necessários
- Ficha de Inscrição para as crianças, com coleta de dados sobre vida familiar, hábitos de alimentação e problemas de saúde, que também precisa da assinatura dos responsáveis (pais e mães) pelas informações.
- Autorização de uso de imagem assinada pelos responsáveis para registro de fotos e vídeos do processo.
- Aquisição de materiais didáticos para encontros e oficinas.
- Contratação de transporte para saídas de campo.
- Compra de uniformes para estudantes com identificação do Guarda Parque Mirim.
- Compra de alimentação para encontros.
Resultados Alcançados
Em 4 anos de existência foram atingidas 400 crianças moradoras da Área de Proteção Ambiental Delta do Jacuí. A iniciativa contou com atuação de 15 profissionais e 20 voluntários. Além disso, nesse período já foram plantadas mais de 400 mudas nativas na região.
Uma das metas do Guarda Parque Mirim em 2016 era obter 8,5% no índice de satisfação dos participantes, entre alunos e professoras, mas o processo desenvolvido superou esse índice, alcançando 9,45% de satisfação.
Em pesquisa realizada com as crianças, a maioria classificou o passeio de barco como a melhor atividade ecológica desenvolvida, com 22 escolhas, sendo que em segundo lugar ficou o conhecimento dos equipamentos e atividades dos Guarda-Parques, com 18 votos. Na área de fotografia, os estudantes gostaram de fotografar algo importante sobre o meio ambiente, com 37 votos. Quanto aos trabalhos de música, tocar bateria com materiais reciclados foi a melhor atividade para 38 participantes.
Em 2016 a gestão de resíduos do Guarda Parque Mirim totalizou 19,750kg de lixo, entre cascas de frutas, papéis e copos plásticos, que foram encaminhados para composteira e Cooperativa CEAR Sepé Tiaraju.
O depoimento da Professora Luciana Dalpiaz sintetiza alguns dos resultados do processo desenvolvido e demonstra as afetações que o Guarda Parque Mirim causas nas crianças, nas famílias e na comunidade: “Decidi colaborar com o Projeto Guarda- Parque Mirim porque acredito na potencialidade e nos efeitos positivos que ele gera nos alunos. As atividades pedagógicas são planejadas de maneira que as crianças se envolvam, se interessem e participem das atividades. Percebo em sala de aula que ocorrem constantes mudanças (positivas) de atitudes em relação ao meio ambiente (flora e fauna). Todos os anos o Guarda Parque traz inovações, com muitas propostas pedagógicas lúdicas e agradáveis. Os encontros possibilitam a educação ambiental com discussões paralelas à realidade local, complementando a reflexão sobre a importância da preservação da área em que os alunos e famílias vivem. A educação ambiental é um processo em constante construção e o Guarda Parque Mirim consegue envolver os alunos neste aprendizado. O trabalho leva o aluno à reflexão e ao compromisso tanto individual como coletivo na preservação do Delta do Jacuí e ao meio ambiente em geral.”
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