Problema Solucionado
No Brasil, 6125 adolescentes entre 16 e 17 anos vivem em serviços de acolhimento, segundo dados do CNJ. Quando atingem a maioridade e saem das instituições, precisam enfrentar uma nova etapa da vida cheia de responsabilidades e com pouco suporte de políticas públicas, pessoas ou organizações. Quando o desligamento da instituição ocorre de forma repentina, com pouco acompanhamento e preparo, sem que o jovem tenha estabelecido planos e novas referências, coloca-o novamente em situação de desamparo e vulnerabilidade, direcionando-o, por vezes, para opções pouco produtivas de participação na sociedade. Estes jovens apresentam perfil caracterizado pelo longo período de acolhimento, por sentimentos de solidão e exclusão, baixa auto estima e pouca autonomia, questões que devem ser trabalhadas ao longo do acolhimento para que possam enxergar e construir camhttps://betaplataformats.fbb.org.br/instituicao/tecnologia/116#inhos para a realização pessoal saudável. Reflexões sobre autonomia e a vivência dela na prática (junto a adultos de referência e grupos de pertencimento que são um suporte para os desafios vividos após o desligamento do serviço de acolhimento) fortalecem a identidade do jovem e a construção de projetos potentes, com poucos riscos.
Descrição
A TS parte do princípio de que cada adolescente deve escolher participar ou não. Eles são informados sobre o projeto em um encontro grupal e depois passam por entrevistas individuais para tirar dúvidas e confirmar o interesse em participar. Os adolescentes são, desde o início, escutados em todas ações e responsabilizados por suas escolhas.
A primeira etapa desta tecnologia contempla os grupos de propósito: 6 oficinas para cada adolescente entrar em contato com suas qualidades e talentos, e começar a construir projetos de vida mais alinhados com seus propósitos. Após essa etapa inicial, cada um segue acompanhado por um adulto de referência de forma individual durante 3 anos, além de participar de grupos de reflexão e experimentação da autonomia. Todo mês, cada adolescente participa de 1 encontro temático e 1 saída cultural grupais e de dois encontros individuais junto ao seu adulto de referência.
Nos encontros temáticos mensais acontecem discussões grupais acerca de temas relevantes para construção de seus projetos de vida. Cada encontro é planejado considerando a especificidade do que se espera ser desenvolvido com os adolescentes. Exemplo de temas: uso consciente do dinheiro, sexualidade, sonhos, consumo, planejamento familiar, história de vida, autovalorização, uso de drogas, mercado de trabalho, apresentação em uma entrevista, disponibilidade de cursos e vagas de trabalho. Através de atividades dinâmicas e rodas de conversa os encontros trazem informações importantes, fazem refletir e favorecem o desenvolvimento de um lugar de pertencimento e fortalecimento de laços afetivos, contribuindo para a aquisição de habilidades necessárias nessa etapa da vida e construção da identidade, além de facilitar os vínculo e apoio entre pares na passagem para a vida adulta.
As saídas culturais mensais são realizadas em grupo para o mapeamento dos serviços presentes na comunidade (centros culturais, bibliotecas públicas, parques, cinemas, museus) e apresentação de lugares de pertencimento fora do espaço da instituição onde moram. A exploração dos territórios destes jovens contribui para a consolidação do direito à vida comunitária, além de ampliar o olhar a respeito das experiências cotidianas na cidade. As saídas culturais também desafiam os jovens a se locomover de forma autônoma através do transporte público, uma vez que muitos serviços de acolhimento ainda tem uma cultura de levá-los de peruas ou carros próprios a todos os lugares, não ensinando como podem ir de um lugar ao outro sozinhos.
Os encontros individuais são realizados por os adultos de referência (técnicos ou pessoas da comunidade formadas e acompanhadas para essa função), que se encontram quinzenalmente com os adolescentes e realizam ações em direção ao desenvolvimento da autonomia e realização dos projetos de vida relacionados à moradia, profissão, uso consciente do dinheiro e cidadania. O vínculo construído com esse adulto é o que possibilita e sustenta o trabalho, além de ser um forte apoio ao adolescente que completa 18 anos e se desliga do serviço de acolhimento. É importante que a relação seja pautada na franqueza, no respeito, confiança e afeto. O adulto precisa ter uma disponibilidade (objetiva e subjetiva) para entender o momento que o adolescente vive e suas principais questões, auxiliando-o a avaliar, discriminar e problematizar suas necessidades emergentes para construir caminhos para a efetivação de projetos de vida saudáveis.
Essa TS possui 2 instrumentos, um físico e outro virtual, para apoiar os jovens: a agenda nÓs e o Portal Nós no Mundo, que disponibilizam atividades e informações importantes sobre trabalho, moradia, dinheiro, cidadania e identidade para os jovens construírem seus projetos e caminharem para a vida adulta.
Além de todo trabalho direto com os jovens, o Grupo nÓs trabalha articulado com os profissionais dos serviços de acolhimento, realizando reuniões bimestrais de alinhamento das intervenções a serem realizadas junto aos adolescentes. Essas reuniões também são oportunidades de formação para as equipes dos serviços e compartilhamento das reflexões e metodologia do programa. Através dessa formação, ações que são realizadas pela equipe do nÓs podem ser replicadas autonomamente pela equipe do serviço de acolhimento, que recebe cotidianamente novos adolescentes em sua casa. Para auxiliar a replicação da tecnologia, o programa está sistematizado em um livro chamado "Adolescentes em Transição: o trabalho de preparação para a vida autônoma, fora das instituições", disponível no site do Instituto e impresso.
Outra ponta essencial do trabalho são as parcerias com voluntários, empresas e organizações sociais, que apoiam a construção empoderada dos projetos de vida dos adolescentes, através do oferecimento de empregos, cursos, estágios e atendimento a demandas pontuais, sempre supervisionadas pela equipe do nÓs. Assim, é criada uma rede de apoio que possibilita encaminhamentos consistentes.
Recursos Necessários
Para atender 30 adolescentes durante 3 anos (1 ciclo completo):
Bolsa para transporte dos adolescentes e projetos pessoais: R$ 108.000,00
Alimentação nos grupos e saídas culturais: R$ 21.600,00
30 agendas: R$ 900,00
100 livros de sistematização da metodologia: R$ 4.000,00
Portal Nos no Mundo: www.nosnomundo.org.br - está pronto
Total: R$ 134.500,00
Resultados Alcançados
Os resultados do programa foram obtidos a partir de avaliações realizadas a cada trimestre com base nas metas e indicadores desenvolvidos para cada ano e para cada objetivo específico do trabalho. O formulário de avaliação é digital, sendo facilmente compartilhado e preenchido pelos adolescentes.
No primeiro ano temos como indicadores o nível de autonomia da circulação dos adolescentes pela cidade, o grau de conhecimento de suas qualidades e talentos, o número de adolescentes que fez um mapeamento das oportunidades profissionais relacionadas ao seu perfil, o grau de organização para os compromissos diários, o mapeamento das possibilidades de moradia e o número de adolescentes que utiliza o dinheiro da bolsa para o transporte referente às atividades do projeto. No segundo ano, alguns dos indicadores presentes na avaliação são: o grau de conhecimento do adolescente das possibilidades de moradia e de desenvolvimento de habilidades necessárias para manter a casa, o número de adolescentes que faz anotações sobre o quanto de dinheiro ganha e gasta por mês, o grau de apropriação que o adolescente tem da cultura, quantos adolescentes estão envolvidos em atividade profissional e o nível de relacionamento do projeto profissional às habilidades e talentos. No terceiro e último ano, contamos com indicadores como o número de jovens que guardam ou investem seu dinheiro, quantos estão trabalhando, o grau de envolvimento com o trabalho, o número de jovens que permaneceram no trabalho por mais de três ou seis meses e o grau de referenciamento do adolescente a um CRAS ou CREAS da sua região.
Como resultados alcançados, em 2016 (com 54 adolescentes atendidos), 100% dos adolescentes que se formaram ao final de 3 anos de projeto permanecem em uma residência por mais de 6 meses e 70% permanecem em um trabalho por mais de 6 meses. 95% dos adolescentes que completaram 1 ano de projeto andam de transporte público sozinho e melhoraram a forma de lidar com dinheiro a partir das bolsas recebidas. Todos os adolescentes acompanhados consideram que estão mais seguros e amparados para viver a transição para a vida autônoma e inserida na comunidade, comparando com antes de participar do programa. Os vínculos de confiança e parceria desenvolvidos com os outros adolescentes do programa e com o adulto de referência são apontados como o grande diferencial da tecnologia.
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